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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

El País: Com a questão da Catalunha, visão de uma Espanha "extremista" é intensificada

Em protestos em favor da independência da Catalunha eis que surge uma faixa com o seguinte dizer em catalão: "Catalunha, novo estado da Europa"

O presidente da Generalitat, Artur Mas, tem o incômodo hábito de apresentar continuamente a Espanha como se fosse uma das partes de um confronto entre dois princípios absolutos opostos entre si. Mas essa imagem maniqueísta é falsa, porque a Espanha não é unânime nem uniforme, como tampouco a Catalunha.

É quase insultante essa vontade de identificar a Espanha com a posição política mais extremista, como se não existissem vozes que defendem coisas diferentes, como se não existissem espanhóis federalistas assim como existem espanhóis centralistas, ou como se a Catalunha e a Espanha fossem assuntos de natureza única. Como se a Andaluzia fizesse parte da Castela de Felipe 2º e a Comunidade Valenciana fosse uma excrescência de Madri.

É Artur Mas quem se empenha em ver uma Espanha unânime, assim como vê uma Catalunha unânime, onde existem sociedades complexas e múltiplas. A manifestação realizada em Barcelona é um sintoma importantíssimo do estado de ânimo de uma parte decisiva da sociedade catalã. Mas é um sintoma, e não substitui nem se traduz automaticamente em processos políticos institucionais. Quem dá o passo nessa direção é Artur Mas, pondo a Generalitat à frente de uma estratégia muito complicada que arrasta seu partido.

O presidente precisa urgentemente encontrar etapas intermediárias se não quiser ser responsável por uma dinâmica insensata, que deixe nas mãos dos mais radicais a legitimidade, sem a possibilidade de acordar uma paz intermediária que não seja a independência. Afirmar que se não conseguir o pacto fiscal (impossível de encaixar na atual Constituição) "abre-se o caminho para a liberdade da Catalunha" é uma metáfora infeliz, primeiro porque implica que os catalães não são livres (o que pode ser uma notícia inesperada para a maioria deles) e segundo porque vincula "liberdade" a financiamento.

Quanto mais os políticos fugirem das metáforas nestes dias, melhor para todos.  Alguns de nós estão fatigados não é da relação entre Catalunha e Espanha, por mais tensa que seja, senão da vontade de mascarar um problema político em uma linguagem metafórica de afetos, nos quais é impossível acordar nada,  porque tão legítimo seria o sentimento do catalão independentista que quer um Estado próprio, quanto o do espanhol centralista que "sente" que a Espanha inclui a Catalunha. Tão legítima seria a falta de afeto dos catalães pela Espanha quanto a inclinação dos espanhóis pela Catalunha. Com isso não vamos a lugar nenhum.

Do que deveríamos tentar falar é do financiamento de que necessita e que deve receber a Catalunha e, é claro, de um problema de clara raiz política: o encaixe da Catalunha no Estado espanhol. Se o encaixe vigente não serve para uma maioria da população catalã, o apropriado é que iniciem os procedimentos para mudar o pacto atual. O apropriado, exceto em momentos revolucionários, que não vêm ao caso, é abrir essa discussão dentro da legalidade e das instituições, conscientes de que a Constituição foi um processo pactuado e de que nos pactos não se trata só de obter a própria satisfação, senão de admitir a dos outros.

A Espanha não é nem deve ver a si mesma como a guardiã do pote das essências, nem tem por que defender a Constituição atual como se fosse uma obra própria assediada por inimigos externos. Todos concordamos com esse pacto, todos metemos as essências nesse texto, incluindo os catalães.

Como disse muito bem Jordi Pujol em seu discurso em defesa do texto constitucional: "Esta Constituição não deve ser apresentada como algo pobre ou avaro, quando na realidade se baseia na generosidade de todos". O método para reformá-la passa por recuperar a Catalunha e a Espanha diversas dentro do respeito ao processo institucional. E os cidadãos, catalães ou espanhóis em seu conjunto, deveríamos desconfiar cada vez mais daqueles que, em todo lugar, entorpecem esse caminho com populismos e dos que querem nos fazer crer que existe outra legitimidade que não seja o pacto.

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