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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

El País: Na Espanha, quase 2 milhões de jovens não estudam nem trabalham

Praça Puerta del Sol, Madrid - Os jovens espanhóis constituem um grande número do Movimiento 15-M

"Eu gostaria de ter mais oportunidades e de terminar de estudar", diz Nara Raiis, uma madrilenha de 24 anos. Ela está há dois anos e meio sem trabalho e nunca deixou de procurar. Na adolescência, abandonou os estudos por causa da "situação econômica familiar" e sabe que a falta de diplomas além da escola obrigatória é um obstáculo. Quer se matricular em formação profissional (FP), mas é difícil, pois ainda precisa trabalhar. "É lamentável como há poucas facilidades para quem quer progredir", queixa-se.

Entre os jovens de 15 a 29 anos na Espanha, 23,7% nem estudam nem trabalham (29% entre 25 e 29 anos), a cifra mais alta da Europa e quase 8 pontos acima da média dos países desenvolvidos (15,8%), segundo os dados de 2010 publicados nesta semana dentro do Panorama da Educação 2012 da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE). A cifra cresceu 7 pontos entre 2008 e 2010. Cada um desses jovens em que se pendurou o rótulo de "nini" ["nem-nem" em espanhol], cerca de 1,9 milhão de pessoas, é a encarnação de um acúmulo de defeitos no sistema produtivo e educativo.

Por um lado, trata-se de um setor produtivo muito dependente dos serviços e da construção na última década, com pouca oferta para titulados superiores e muito emprego não qualificado. E por outro lado, de uma escola que não pôde reter uma alta porcentagem de jovens em época de bonança (a desistência precoce beirou os 30% na última década, mas baixou para 26,5% em 2011) e agora não é capaz de recuperá-los quando esses jovens passaram maciçamente para as listas de desemprego.

"Neste momento o acesso ao mercado de trabalho é muito complicado, além disso o recrutamento no sistema educacional também não é fácil, seja porque os que o abandonaram prematuramente não desejam voltar, ou pela escassa relevância dos programas de segunda oportunidade", diz o professor da Universidade de Vigo Alberto Vaquero. As escolas de adultos estão saturadas em muitos pontos da Espanha e a oferta de FP não é mais suficiente: cresceu em 127 mil alunos nos últimos três semestres e "cerca de 80 mil jovens vão ficar sem o lugar solicitado", disse o responsável por Educação do sindicato CCOO, José Campos.

E, com um desemprego geral de 25% e juvenil superior a 50%, também se podem encontrar entre os "nini", embora em menor medida, muitos universitários. Laura B. tem 25 anos e há um terminou a carreira de publicidade e relações públicas. Desde então só teve trabalhos de estagiária e em uma agência de recepcionistas e relações-públicas que pretendia lhe pagar com "a roupa dos eventos e sessões de cabeleireiro". Quer fazer um mestrado em publicidade criativa, mas atualmente não tem "nem auxílio-desemprego nem nada", porque não cotizou o suficiente. Laura teve de voltar de Madri para Cáceres para morar com seus pais. Não se considera uma nini, jovem pintado muitas vezes no imaginário coletivo como uma espécie de indolente. "Eu estudei, fui a muitas entrevistas e nada. Se sou nini, não é por gosto", queixa-se.

Mas, apesar de tudo, a edição atual do compêndio estatístico da OCDE (provavelmente o mais completo publicado no mundo) reflete novamente que, com maior formação, mais possibilidades de ter trabalho e ganhar mais: enquanto o desemprego dos adultos que só estudaram o ensino básico passou de 9%, em 2007, para 24,7%, em 2010, para os que têm título universitário ou de FP de grau superior passou de 4,8% para 10,4%. Entre os formados em bacharelado e FP de grau médio, de 7,16% a 17,4%. Hoje, no final de 2012, com um desemprego que não se contém, provavelmente os números serão outros, mas essas enormes diferenças entre ter e não ter formação serão muito parecidas.

Um maior nível de educação também permite reduzir a brecha salarial entre gêneros. Assim, as mulheres que só estudaram o ensino básico ganham 66% da renda dos homens com o mesmo nível educacional; a porcentagem sobe para 68% quando se cursou o secundário superior e alcança 83% entre as mulheres com educação universitária.

E se individualmente a formação é muito rentável, também o é socialmente: a OCDE calcula que cada euro investido em alguém que curse educação superior reverte multiplicado por quatro na sociedade. Assim, em um contexto de crise internacional como o atual, o diretor-geral do órgão pediu a todos os países que não cortem e mantenham o financiamento adequado, sobretudo no início e final da cadeia, na educação infantil e na universidade, mantendo os preços das matrículas em níveis razoáveis.

Na Espanha as matrículas universitárias estão subindo enquanto as bolsas diminuem, ao endurecer os requisitos de acesso. "Creio que é muito importante o resultado no infantil [a OCDE destaca que na Espanha a maioria dos alunos começa a escola aos 3 anos], que agora poderia ver-se questionada pelo corte nos serviços de refeitório e outros, e a supressão do programa Educa3 [para criar creches]", diz o catedrático de sociologia Mariano Fernández Enguita. "Há uma evidência contundente de que um ano ou 1 euro de diferença no infantil produzem efeitos muito mais amplos que em níveis superiores, e isso é especialmente verdade para famílias, comunidades e entornos em desvantagem."

A secretária de Estado da Educação, Montserrat Gomendio, lembra, porém, que a Espanha gastou por aluno quase 8 mil euros em 2009, acima da média da OCDE e da UE (cerca de 6.500). Os cortes importantes que se iniciaram em 2010 e que significarão entre 10 e 11 bilhões de euros a menos em 2015, não provocarão, segundo prevê Gomendio, um atraso da Espanha nessa estatística, pois a vantagem era grande.

Os sindicatos educacionais, que se reuniram nesta semana para anunciar mobilizações contra a redução de professores neste semestre (cerca de 80 mil profissionais na escola pública, calcula a UGT), responderam que Gomendio não tem credibilidade quando diz isso. Tampouco quando afirma que os cortes não afetarão a qualidade, afirmou José Campos, do CCOO.

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