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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Argélia é único país do Magreb que se recusa a reconhecer o governo rebelde na Líbia

Abdelaziz Bouteflika é quem das as cartas
atualmente na Argélia
Um após o outro os vizinhos da Líbia no norte da África foram reconhecendo nos últimos dias o Conselho Nacional de Transição (CNT), que depois de seis meses de guerra civil derrubou o regime de Gaddafi. Só há uma exceção: a Argélia. A bandeira do CNT flutua desde segunda-feira (22) na embaixada da Líbia em Argel, mas o governo argelino continua sem reconhecê-lo.

O tratamento informativo da queda de Gaddafi na televisão pública argelina, a única que existe, ilustra o mal-estar do regime. A notícia da conquista na segunda-feira da maior parte de Trípoli por milicianos do CNT só apareceu no 20º minuto do telejornal vespertino, o de maior audiência. Na imprensa escrita privada foi primeira página.

De todos os países da região, a Argélia foi o único que preferia Gaddafi no poder em Trípoli, e não os rebeldes. "Apoiou com discrição o coronel Gaddafi, apesar de ele não ter qualquer possibilidade de sobreviver", lembrou ontem o professor Rachid Tlemsani, da Universidade de Argel, em uma declaração ao site Tout sur l'Algérie.

O que mais aborrecia Gaddafi na região era o governo de transição da Tunísia, país que o líder líbio prometeu desestabilizar depois da derrubada em janeiro do presidente Ben Ali. A rebelião de Benghazi o impediu. Mesmo assim, o primeiro-ministro Beji Caid Essebsi manteve uma cautelosa neutralidade até domingo, quando deu o passo do reconhecimento. A Tunísia abriga mais de 100 mil refugiados líbios. O Egito seguiu o exemplo e na segunda-feira o Marrocos somou-se à onda de reconhecimento. Ontem seu ministro das Relações Exteriores, Taieb Fassi-Fihri, viajou para Benghazi com uma mensagem do rei Mohamed 6º para o CNT.

Ao longo de todos esses meses os ministros argelinos justificaram a atitude de Argel e sua oposição à intervenção da Otan descrevendo Gaddafi como um dique contra o terrorismo, evocando o risco de transformar a Líbia em um segundo Afeganistão. Também desmentiram de modo contundente os rumores sobre sua ajuda a Gaddafi permitindo o trânsito de armas ou o envio de mercenários saharauis para lutar ao lado do ditador. Nenhuma prova confirma esta acusação.

Mesmo assim, a embaixada da Argélia em Trípoli foi atacada na segunda-feira, provavelmente por elementos ligados ao CNT. Na imprensa de Argel há muitos depoimentos de cidadãos argelinos residentes na Líbia ameaçados de morte nos últimos dias. "Depois da queda do regime de Gaddafi, a Argélia vai enfrentar sérias dificuldades de vizinhança e de inserção regional", prevê o cientista político argelino Mohamed Chafik Mesbah, autor do ensaio "Argélia Problemática". Argel mantém péssimas relações com Rabat por causa do contencioso do Saara Ocidental. Sua fronteira comum está fechada desde 1994.

A Argélia também é a única das repúblicas norte-africanas em que persiste o antigo sistema político, embora o presidente Abdelaziz Buteflika prepare medidas de abertura. "A queda do clã de Trípoli coloca as autoridades argelinas no olho do furacão", salientou ontem em seu editorial Omar Belhouchet, diretor do jornal "El Watan", de Argel.

"Carentes de legitimidade, isoladas internacionalmente, nossas autoridades jogaram com fogo ao propor leis (sobre partidos, informação, etc.) que não correspondem às exigências de abertura e às expectativas da sociedade", prosseguiu. "A 'rentrée' social e política corre o risco de ser muito agitada."

O que aconteceu em países de seu entorno deve representar um sinal para Argel, segundo o cientista político Mesbah: "Nenhum regime despótico sobrevive eternamente. Existe uma dinâmica política e social impelida pela história que o poder argelino deveria levar em conta".

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