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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Acordo de paz entre Israel e Egito pode ser comprometido com resultado das eleições egípcias


Anwar El Sadat, Jimmy Carter e Menachem Begin assinam o Tratato de Paz entre Egito e Israel em 26 de março de 1979

No Egito há grande euforia. Pela primeira vez os egípcios vão eleger livremente seu presidente, o homem encarregado de pilotar a complexa transição egípcia para a democracia. Do outro lado da fronteira, em Israel, porém, a alegria se transforma em profunda preocupação. O Egito foi para Israel nos tempos de Hosni Mubarak um aliado com o qual esteve garantida certa estabilidade durante os mais de 30 anos que já dura a chamada paz fria.

A partir de agora as regras do jogo não serão as mesmas. A revolução que destronou o ditador também pôs de pernas para o ar os delicados equilíbrios regionais. Um islâmico supostamente revolucionário e um militar continuísta disputarão o segundo turno das eleições presidenciais egípcias no próximo fim de semana. Israel por enquanto segura a respiração e deposita suas esperanças nas relações comerciais que os dois países mantêm.

"Prestando atenção, desde o início da revolução não houve declarações bombásticas por parte de Israel. Esperamos que termine o processo das presidenciais", explica Itzhak Levanon, o embaixador israelense que teve de sair correndo do país quando atacaram sua embaixada no Cairo em setembro passado.

Fontes oficiais israelenses esperam que, uma vez concluído o período eleitoral, "o novo presidente encontre a dura realidade econômica. Esperamos que então optem por uma linha mais pragmática em vez do populismo". Depositam suas esperanças nos acordos econômicos entre os dois países e na aguda crise econômica que o Egito atravessa. As mesmas fontes indicam, porém, que Israel se prepara para qualquer cenário. "No Egito democrático tudo está sendo inventado em tempo real. Há uma enorme incerteza", estimam.

As relações entre os dois países que assinaram a paz em 1979 atravessam momentos baixos. Em setembro de 2011, uma multidão assaltou a embaixada israelense na capital egípcia. Desde então a bandeira israelense não voltou a tremular no Cairo. Um embaixador vai dois dias e meio por semana e trabalha em sua casa.

Mesmo assim, uma coisa é que as relações atravessem um momento delicado e outra que o acordo de paz vá se romper. A questão israelense foi um dos grandes temas da campanha eleitoral. O acordo de paz que custou a vida ao presidente egípcio Anuar Sadat nunca foi do agrado da maioria dos egípcios, emocionalmente mais próximos dos palestinos.

Para os israelenses não há comparação entre os dois candidatos que disputarão a presidência no segundo turno neste fim de semana: Mohamed Morsi, o candidato da Fraternidade Muçulmana, e Ahmed Shafiq, o último primeiro-ministro de Mubarak. As posições de Morsi sobre Israel até agora não foram nada conciliadoras. Na Fraternidade Muçulmana também estão os pais espirituais do Hamas, movimento islâmico que governa Gaza, arqui-inimigo de Israel. Uma vitória de Morsi representaria um balão de oxigênio para as autoridades da Faixa.

Mas Shafiq representa a continuidade com o antigo regime, e, portanto, um desafio muito menor para Israel, apesar de na campanha ter explorado, como os demais, o sentimento anti-israelense que abriga a maioria dos egípcios, segundo inúmeras pesquisas. Shafiq, único candidato militar na disputa, alardeou, por exemplo, que derrubou um avião israelense nos anos 1970.

Os israelenses creem, entretanto, que a retórica anti-israelense não é necessariamente um reflexo do que acontecerá depois. "O que se diz agora faz parte da campanha, não quer dizer que depois vão cumpri-lo", acredita Levanon, que pensa que em todo caso "a comunidade internacional não vai permitir que se rompa o acordo de paz". O embaixador refere-se a que os EUA prestam ajuda econômica ao Egito em crise e poderão exercer a pressão necessária  caso o novo presidente abrigue tentações de ruptura.

A espionagem egípcia é o tradicional mediador entre israelenses e palestinos. Israel confia que a atividade diplomática não será interrompida porque, afinal, também interessa ao Egito que o conflito palestino não se expanda, sobretudo na Faixa de Gaza, com a qual tem fronteira. Mas será difícil para um presidente eleito livremente manter o impopular bloqueio de Gaza.

A questão que mais preocupa os israelenses é o território sem lei no qual se transformou o Sinai, e que pensam que pode explodir a qualquer momento. O contrabando de drogas e pessoas faz parte da rotina comercial da região, e segundo as autoridades israelenses grupos ligados à Al Qaeda já operam no Sinai.

Mas apesar dos desafios que se acumulam, Israel confia na economia como uma força de paz superior à política e aos sentimentos. Sobretudo em um momento em que o Egito se encontra mergulhado em uma severa crise econômica, agravada pela fuga de investidores e turistas. Por um lado, a manutenção do acordo de paz contribuiu para garantir os US$ 1,3 bilhão de ajuda militar americana.

Camp David também deu origem à criação de uma zona franca industrial que permite ao Egito exportar até US$ 1 bilhão em produtos livres de impostos para os EUA por ano, com um investimento de US$ 100 milhões por parte de Israel. Além disso, Israel importa três vezes mais produtos do Egito do que exporta, e empresas israelenses empregam milhares de trabalhadores egípcios. Trata-se de um pacote econômico ao qual, fora a retórica anti-israelense mais ou menos intensificada, o novo presidente talvez não tenha condições de renunciar.

Leia também: Para Egito, acordo com Israel "não é sagrado"

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