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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A próspera China segue sob a mão de ferro do partido

A democracia não tem mistérios. Nem sequer os tem a invenção pós-soviética da democracia soberana, um grande cozido organizado por policiais e espiões do princípio ao fim. Tampouco os tem a monarquia, por mais que seu antigo perfume ainda possa embriagar alguns poucos. Nem a autocracia, idêntica a si mesma em sua arbitrariedade. Já faz tempo que o mistério da epifania do poder ficou destruído em quase todo o mundo, exceto em dois recintos peculiares, o Vaticano, em Roma, e Zhongnanhai, em Pequim, onde as sucessões ocorrem sob ritos e procedimentos que são subtraídos à visão dos mortais.

"Não é coincidência que o Vaticano seja um dos poucos Estados com os quais a China não foi capaz de estabelecer relações diplomáticas desde sua fundação em 1949. A cidade-estado, centro administrativo da Igreja Católica e residência do papa, é a única organização de dimensões comparáveis ao Partido Comunista Chinês, embora em escala global, e com uma afeição semelhante pelo ritual e o sigilo."

Esta é uma comparação de Richard McGregor - correspondente do "Financial Times" em Pequim durante uma década, em seu livro "O Partido. Os segredos dos líderes chineses" (ed. Turner), que tende a se tornar obsoleta, mas não pelo lado chinês, senão pelo do Vaticano, onde já sabemos quanto calça o papa Bergoglio e inclusive intuímos o que vai acontecer com os mistérios mais terrestres do poder eclesiástico.

No caso do novo papa do Partido Comunista da China, Xi Jinping, eleito formalmente há um ano, em 15 de novembro, no primeiro plenário do Comitê Central saído do 18º Congresso, mas cozido em fogo baixo desde o Congresso anterior que o projetou, junto com o atual primeiro-ministro e nº 2 Li Keqiang, como um dos nove membros do Comitê Permanente.

A lentidão do processo permite conhecer e familiarizar-se com o novo mandatário muito antes de sua elevação ao posto, mas os arcanos de sua eleição, tão impenetráveis quanto os vaticanos, continuam pesando até o momento crucial da nova e secreta reunião plenária do Comitê Central, que se realiza no próximo fim de semana.

Devemos esclarecer que o Comitê Central, a peça legendária nos partidos comunistas, é o órgão que reúne entre congressos pelo menos uma vez por ano os 205 titulares e 171 suplentes que dirigem o partido no papel: uma tarefa que na realidade está nas mãos dos 25 membros do Birô Político, órgão eleito pelos anteriores que abriga em seu interior, como as "matrioschkas" russas, o Comitê Permanente, o órgão supremo, agora de sete membros, encabeçados por Xi Jinping.

Suas duas primeiras sessões plenárias servem para a eleição de cargos: os do partido na que se realiza imediatamente depois de sua eleição; e os da administração e do governo, na que se reúne antes da Assembleia do Povo, semelhante a um Parlamento que elegeu Xi presidente da República em março de 2013.

Do terceiro plenário, o de agora, espera-se que marque a linha política da nova presidência, sobretudo em questões econômicas e sociais. Assim está pautado no entediante manual de funcionamento da maior máquina política do mundo, que é o PC da China (80 milhões de militantes e um inexplicável sistema de seleção e ascensão para a teia de organismos que o compõem). Contam os antecedentes: do terceiro plenário de 1978, com Deng Xiaoping, saíram as reformas e a abertura econômica, e do de 1993, com Jiang Zemin, a economia socialista de mercado.

O que se sabe do atual plenário de 2013 é menos do que se espera, que sempre costuma ser muito em um regime tão alérgico a mudanças. O aparelho de propaganda fez sua tarefa, que se resume a um par de slogans. O mais engenhoso é o do sonho chinês, implicitamente oposto ao sonho americano, que Xi transformou em seu lema. E o mais burocrático, a ideia que vai servir como objetivo do terceiro plenário, de "reformas e abertura integrais e profundas", que abarcarão desde o sistema financeiro até a propriedade agrária.

De Xi Jinping, sua personalidade, sua família e inclusive algumas de suas ideias, sabem-se muitas outras coisas. François Godement, do Centro Europeu para Relações Exteriores, considera que ninguém acumulou mais poder desde Mao Tse-Tung. A época dos homenzinhos cinzentos representados por Hu Jintao e seu primeiro-ministro, Wen Jiabao, protagonistas de uma década que quase todos, reformistas e conservadores, consideram perdida, ficou para trás se levarmos em conta os modos do novo imperador vermelho.

A China tem agora um presidente com forte vocação de liderança, justamente no momento em que se desenham com mais clareza os limites do poder presidencial nos EUA. Vai fazer reformas, sim. Mas segundo o esquema mais ortodoxo, que Deng Xiaoping instalou no coração do sistema: tanta liberdade econômica e sobretudo financeira quanto seja possível, mas sem perder nem um átimo do férreo controle político que o Partido Comunista proporciona.A democracia não tem mistérios. Nem sequer os tem a invenção pós-soviética da democracia soberana, um grande cozido organizado por policiais e espiões do princípio ao fim. Tampouco os tem a monarquia, por mais que seu antigo perfume ainda possa embriagar alguns poucos. Nem a autocracia, idêntica a si mesma em sua arbitrariedade. Já faz tempo que o mistério da epifania do poder ficou destruído em quase todo o mundo, exceto em dois recintos peculiares, o Vaticano, em Roma, e Zhongnanhai, em Pequim, onde as sucessões ocorrem sob ritos e procedimentos que são subtraídos à visão dos mortais.

"Não é coincidência que o Vaticano seja um dos poucos Estados com os quais a China não foi capaz de estabelecer relações diplomáticas desde sua fundação em 1949. A cidade-estado, centro administrativo da Igreja Católica e residência do papa, é a única organização de dimensões comparáveis ao Partido Comunista Chinês, embora em escala global, e com uma afeição semelhante pelo ritual e o sigilo."

Esta é uma comparação de Richard McGregor - correspondente do "Financial Times" em Pequim durante uma década, em seu livro "O Partido. Os segredos dos líderes chineses" (ed. Turner), que tende a se tornar obsoleta, mas não pelo lado chinês, senão pelo do Vaticano, onde já sabemos quanto calça o papa Bergoglio e inclusive intuímos o que vai acontecer com os mistérios mais terrestres do poder eclesiástico.

No caso do novo papa do Partido Comunista da China, Xi Jinping, eleito formalmente há um ano, em 15 de novembro, no primeiro plenário do Comitê Central saído do 18º Congresso, mas cozido em fogo baixo desde o Congresso anterior que o projetou, junto com o atual primeiro-ministro e nº 2 Li Keqiang, como um dos nove membros do Comitê Permanente.

A lentidão do processo permite conhecer e familiarizar-se com o novo mandatário muito antes de sua elevação ao posto, mas os arcanos de sua eleição, tão impenetráveis quanto os vaticanos, continuam pesando até o momento crucial da nova e secreta reunião plenária do Comitê Central, que se realiza no próximo fim de semana.

Devemos esclarecer que o Comitê Central, a peça legendária nos partidos comunistas, é o órgão que reúne entre congressos pelo menos uma vez por ano os 205 titulares e 171 suplentes que dirigem o partido no papel: uma tarefa que na realidade está nas mãos dos 25 membros do Birô Político, órgão eleito pelos anteriores que abriga em seu interior, como as "matrioschkas" russas, o Comitê Permanente, o órgão supremo, agora de sete membros, encabeçados por Xi Jinping.

Suas duas primeiras sessões plenárias servem para a eleição de cargos: os do partido na que se realiza imediatamente depois de sua eleição; e os da administração e do governo, na que se reúne antes da Assembleia do Povo, semelhante a um Parlamento que elegeu Xi presidente da República em março de 2013.

Do terceiro plenário, o de agora, espera-se que marque a linha política da nova presidência, sobretudo em questões econômicas e sociais. Assim está pautado no entediante manual de funcionamento da maior máquina política do mundo, que é o PC da China (80 milhões de militantes e um inexplicável sistema de seleção e ascensão para a teia de organismos que o compõem). Contam os antecedentes: do terceiro plenário de 1978, com Deng Xiaoping, saíram as reformas e a abertura econômica, e do de 1993, com Jiang Zemin, a economia socialista de mercado.

O que se sabe do atual plenário de 2013 é menos do que se espera, que sempre costuma ser muito em um regime tão alérgico a mudanças. O aparelho de propaganda fez sua tarefa, que se resume a um par de slogans. O mais engenhoso é o do sonho chinês, implicitamente oposto ao sonho americano, que Xi transformou em seu lema. E o mais burocrático, a ideia que vai servir como objetivo do terceiro plenário, de "reformas e abertura integrais e profundas", que abarcarão desde o sistema financeiro até a propriedade agrária.

De Xi Jinping, sua personalidade, sua família e inclusive algumas de suas ideias, sabem-se muitas outras coisas. François Godement, do Centro Europeu para Relações Exteriores, considera que ninguém acumulou mais poder desde Mao Tse-Tung. A época dos homenzinhos cinzentos representados por Hu Jintao e seu primeiro-ministro, Wen Jiabao, protagonistas de uma década que quase todos, reformistas e conservadores, consideram perdida, ficou para trás se levarmos em conta os modos do novo imperador vermelho.

A China tem agora um presidente com forte vocação de liderança, justamente no momento em que se desenham com mais clareza os limites do poder presidencial nos EUA. Vai fazer reformas, sim. Mas segundo o esquema mais ortodoxo, que Deng Xiaoping instalou no coração do sistema: tanta liberdade econômica e sobretudo financeira quanto seja possível, mas sem perder nem um átimo do férreo controle político que o Partido Comunista proporciona.

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