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segunda-feira, 11 de março de 2013

Hong Kong vê com preocupação a chegada de uma nova liderança em Pequim

Porto de Victoria Harbour, um dos principais cartões-postais de Hong Kong

Com risadas ruidosas, uma fila de chineses espera para se sentar na cadeira de diretor de cinema, entre câmeras e luzes, que formam o conjunto escultórico da rua das estrelas, em pleno passeio marítimo de Kowloon, diante da espetacular profusão de arranha-céus na baía de Hong Kong.

São turistas ansiosos para ser fotografados antes de embarcar nos ônibus de volta para casa. Seu número se multiplica a cada ano. Em 2012 cruzaram a fronteira que separa a invenção de "um país, dois sistemas", 30 milhões dos chamados "mainlanders" [continentais], o que promoveu a economia desta Região Administrativa Especial (RAE) da China, enquanto cresce o temor entre os 7 milhões de habitantes de Hong Kong de ser engolidos por essa massa e pelo governo de Pequim.

Para os comerciantes, a chegada de milhões de chineses ávidos para comprar tudo representa muitos lucros, mas os habitantes da antiga colônia britânica se veem deslocados dentro de seu próprio território por uma multidão com educação e hábitos diferentes, que invade desde os espaços públicos até os restaurantes. Por isso, diversas associações de cidadãos não param de engrossar as vozes que pedem um freio ao fluxo de turistas chineses.

Depois de salientar que é "normal" que os chineses queiram visitar uma parte integrante do território nacional, Lu Xinhua, porta-voz da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, principal órgão assessor do governo central, fez no último sábado um apelo a "não exagerar as diferenças entre as duas partes", informa o jornal "South China Morning Post", de Hong Kong.

"Devido às instalações ou às infraestruturas inadequadas para tantos visitantes, houve alguns problemas que geraram queixas tanto dos moradores locais quanto dos turistas de outras partes da China", disse Lu, que até janeiro passado foi o comissário do Ministério das Relações Exteriores chinês na RAE. Sob a direção de Xi Jinping, que nesta semana se transformará no novo presidente da República Popular, depois de assumir em novembro passado a Secretaria Geral do Partido Comunista Chinês (PCCh), os moradores de Hong Kong devem eleger em 2017 por sufrágio universal seu chefe de governo.

Assim foi estabelecido na Lei Básica - uma espécie de constituição pactuada com Pequim em 1997 para assegurar a transição pacífica para a soberania chinesa. Ninguém discute esse princípio, mas nas fileiras democratas aumentou o medo das manipulações dos novos dirigentes chineses, animados por um nacionalismo que em Hong Kong, assim como em outros países, desperta uma séria preocupação.

Se quanto aos turistas as palavras de Lu Xinhua não acalmaram os ânimos, tampouco o fizeram sobre o avanço de Hong Kong para a democracia: "As medidas concretas para o sufrágio universal requerem discussões nacionais entre o governo da RAE e os diversos setores da comunidade, para buscar o consenso de acordo com a Lei Básica e a decisão da Assembleia Popular Nacional", disse o porta-voz do órgão assessor, reunido antes da sessão plenária da assembleia que se realizou esta semana em Pequim.

Para que o chefe do Executivo de Hong Kong seja eleito por sufrágio universal - e em 2020 todos os deputados -, é preciso elaborar a Lei Eleitoral, que exige para sua aprovação uma maioria de dois terços da Câmara, hoje controlada pelos eleitos e de forma indireta por instituições e associações favoráveis ao PCCh. A minoria eleita (40% da Câmara) teme que Pequim inclua no processo de nomeação dos candidatos para dirigir o governo da RAE alguma cláusula que garanta que não entrará na corrida eleitoral nenhum inimigo do PCCh, nem alguém que questione a integridade da China, da qual Hong Kong é uma parte inalienável.

Emily Lau, presidente do Partido Democrático, de oposição, anunciou na semana passada que denunciará à Comissão de Direitos Humanos da ONU o governo de Hong Kong por "não defender o princípio de um país, dois sistemas". Lau afirmou que a autonomia da região "está sendo atacada".

Deng Xiaoping (1904-1997) - o arquiteto da reforma chinesa, cuja política transformou o país na segunda potência econômica mundial - optou por estabelecer uma administração diferente para as colônias de Hong Kong e Macau, de forma que a primeira mantivesse sua liderança de centro financeiro asiático e a segunda, as receitas do jogo, quando em 1997 e 1999, respectivamente, se reintegraram à mãe pátria.

Submetidas a "um país dois sistemas", as duas RAE se beneficiaram notadamente da integração, mas a incerteza sobre o futuro se intensificou diante da mudança de chefia em Pequim. Mas o que mais prejudicou as relações bilaterais foi o escândalo que representou a tentativa de incluir no sistema educacional uma matéria chamada "educação nacional", com a qual se pretendia elevar o patriotismo dos habitantes de Hong Kong. As grandes manifestações e greves de fome realizadas na RAE forçaram o governo em setembro passado a recuar.

Entretanto, a retirada da "educação nacional" não conseguiu acalmar a ansiedade provocada entre muitos democratas sobre as tentativas do PCCh de doutrinar os moradores de Hong Kong. O receio parece ter-se instalado nessas pessoas, orgulhosas de sua liberdade de imprensa e de seus direitos civis. Muitos democratas que sonharam em "hongkonizar" a China despertaram em meio à irresistível "sinização" de sua região.

As declarações de Xi Jinping sobre a necessidade de estreitar o abismo entre ricos e pobres também dispararam os alarmes, depois que Cingapura, o modelo que inspira os líderes de Pequim desde Deng Xiaoping, decidiu aplicar uma nova taxa de 1% sobre os bens dos mais ricos. Segundo o Fundo Monetário Internacional, a renda per capita de Hong Kong em 2012 foi de US$ 36.218, enquanto no resto da República Popular da China alcançou a apenas US$ 5.899.

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