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quinta-feira, 28 de março de 2013

Patrulha de cossacos ressurge na Rússia


Em frente à sede municipal da Polícia, um padre com chapéu de veludo roxo e estola dourada ia de homem a homem oferecendo uma cruz para ser beijada e encharcando os rostos com água benta.

Assim começou mais uma noite de patrulha policial para os cossacos, os ferozes cavaleiros que outrora protegiam as fronteiras do Império Russo.

O presidente Vladimir Putin oferece uma clara direção para o seu país: o desenvolvimento de uma ideologia conservadora e nacionalista. Os cossacos emergiram como uma espécie de mascote, com crescente apoio.

Os cossacos são reverenciados aqui por sua bravura e por seu código de honra pré-moderno, mas seu legado está vinculado a batalhas e à violência de estilo justiceiro, incluindo campanhas contra turcos, judeus e muçulmanos.

Hoje em dia, as tempestuosas ações de homens fardados como cossacos fazem aparições em exposições de arte, museus e teatros de toda a Rússia, como porta-estandartes de uma igreja em renascimento. Mas aqui, no flanco sul da Rússia, líderes regionais estão lhes dando um papel cada vez maior no policiamento, em alguns casos lhes pedindo explicitamente para que contenham um afluxo de minorias étnicas, principalmente muçulmanos do Cáucaso, para territórios tradicionalmente dominados por eslavos ortodoxos.

"Vivemos cara a cara com eles e às vezes lutamos contra eles. Provavelmente os entendemos melhor do que um russo de Moscou", disse o capitão Vadim Stadnikov, chefe de segurança do Exército Cossaco Terek. "Eles respeitam a força aqui."

Episódios violentos mostram o potencial para problemas. Neste mês, um chefe cossaco foi morto a tiros tentando prender um bêbado que havia feito reféns. No seu funeral, cossacos vestindo casacos vermelhos e portando chicotes e sabres seguiam atrás de um cavalo sem cavaleiro, uma imagem que poderia datar do século 16.

Depois, uma autoridade defendeu que os patrulheiros cossacos sejam autorizados a portar pistolas traumáticas, armas não letais que são capazes de infligir ferimentos graves a curta distância.

Os historiadores ainda discutem sobre quem são os cossacos -descendentes de servos fugitivos ou guerreiros tártaros, um grupo étnico à parte ou uma casta de cavaleiros. Eles desempenharam um papel crucial na colonização do sul da Rússia para o império e depois desencadearam revoltas camponesas e operárias ao defenderem o czar.

Os bolcheviques deportaram dezenas de milhares deles, num processo que chamaram de "descossaquização", mas a imagem do cossaco, selvagem e livre, já era parte permanente do imaginário russo.

Cerca de 81% da população de Stravropol é etnicamente russa, mas essa parcela encolhe há décadas, segundo a consultoria International Crisis Group.

Isso preocupa alguns moradores de etnia russa. Gennadi Ganopenko, 42, disse ter crescido numa cidade tão homogênea que "o som de uma língua não russa era motivo de briga".

"Antes, aqui era o portal do Cáucaso", disse ele. "Abrimos o portal, e aí o portal saltou das dobradiças."

O renascimento cossaco busca desacelerar essa tendência.

No ano passado, Aleksandr Tkachev, governador da região de Krasnodar, a oeste, criticou seus vizinhos da região de Stavropol, dizendo que tantos muçulmanos haviam se instalado lá que os russos não se sentiam mais em casa. A região, afirmou, não servia mais à sua função tradicional de "filtro" étnico.

Ele anunciou a criação de uma força assalariada com mil patrulheiros cossacos que não teria as mesmas restrições legais da polícia. Ele explicou assim: "O que você não pode fazer, um cossaco pode."

O apoio oficial aos cossacos perturba alguns muçulmanos.

"Uma classe está se tornando de certa forma privilegiada", disse Zainudin Azizov. "Por que eles não apoiam todo o povo russo? Por que apoiam só essa pequena classe?"

Azizov representa famílias daguestanenses que predominam em aldeias do extremo leste da região de Stavropol. Embora alguns cossacos locais sejam velhos amigos, disse ele, outros "sentem que podem fazer o que quiserem".

Um comentário:

  1. Mais do que a volta dos Cossacos, é a religião cada dia mais entranhando no aparelho de Estado russo via cerimônias oficiais.

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