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No entanto, ao longo de dez meses o ex-chefe de Estado deu várias declarações sugerindo um possível retorno. Através da voz de seus mais fiéis seguidores ou de entrevistas à imprensa, ele não se absteve de criticar a política instaurada pelo novo governo e, em particular, a suposta ação ou inação de seu sucessor, François Hollande. O apoio que ele continua a ter dentro da UMP é prova do vazio que ele deixou para trás, com um partido dividido em busca de um novo líder.
Primeiras críticas sobre a Síria
Dois meses após sua derrota, Nicolas Sarkozy quebrou pela primeira vez seu silêncio, no dia 7 de agosto, para exigir uma ação da comunidade internacional na Síria. Em um comunicado conjunto com o presidente do Conselho Nacional Sírio, Abdelbasset Sieda, ele fez um paralelo com a crise na Líbia, dando a entender que uma intervenção militar seria necessária.
Primeira crítica frontal à política internacional de seu sucessor – que, no entanto, foi inspirada na diplomacia de Alain Juppé - , esse comunicado foi uma reprise de declarações relatadas em julho pelo "Le Parisien". Segundo esse jornal, o ex-chefe do Estado havia declarado: "Fui criticado na questão da Líbia, mas pelo menos eu agi. É preciso ser mais firme contra o regime de Damasco, muito mais firme".
Essas declarações deram o pontapé inicial em uma campanha da direita contra a política externa iniciada pelo novo governo. Uma revolta conduzida principalmente por Jean-François Copé, que criticou o "silêncio ensurdecedor" do governo quanto à questão síria, e pelo secretário da UMP, Philippe Juvin, que condenou o silêncio "criminoso" de François Hollande.
Crise na UMP
Até o outono, Jean-François Copé e François Fillon, os dois candidatos à presidência da UMP, bem como seus seguidores, trocavam farpas publicamente. Pouco antes de sua intervenção, Alain Juppé – que fora um fiasco como mediador – havia considerado que Sarkozy era o único a ter "autoridade suficiente para propor uma possível solução" para a crise.
Excepcionalmente, aquele que reinou durante mais de dez anos sobre a direita fez uma intervenção excepcional. Nos últimos dias de novembro, Nicolas Sarkozy interveio de forma discreta nos bastidores para persuadir Copé e Fillon a acabarem com essa guerra de trincheiras entre duas alas.
Foi um envolvimento comemorado por seus amigos políticos, a exemplo de Brice Hortefeux. "O ex-presidente da República só fez seu dever. Sua vontade não é mais exercer um papel. Embora ele esteja atento e preocupado com a sobrevivência de sua família política, hoje ele está acima das contingências e divisões partidárias".
Essa discreta mediação ilustrou, mais uma vez, o problema causado pela presença de ex-presidentes da República no Conselho Constitucional. Na condição de "sábio", Sarkozy deve "se abster de tudo aquilo que poderia comprometer a independência e a dignidade da função". Um ponto levantado pela maioria socialista que lembrou o ex-presidente sobre seu dever de manter discrição.
Crítica à intervenção no Mali
A intervenção militar no Mali foi a oportunidade para os seguidores sarkozystas de desencavarem um velho refrão: teria sido melhor se Nicolas Sarkozy estivesse no comando. Na mídia, Valérie Pécresse, Françoise Grossetête, Pierre Lellouche, mas também o centrista Jean-Louis Borloo, acusam François Hollande de não ter conseguido se cercar de parceiros internacionais, deixando subentendido que Nicolas Sarkozy teria conseguido.
Diferentemente da questão síria, o ex-presidente não se manifestou diretamente sobre o assunto, mas Brice Hortefeux serviu como seu porta-voz extra-oficial na imprensa. Em entrevista ao "Le Figaro", o ex-ministro afirmou que Nicolas Sarkozy respeitava "escrupulosamente seu compromisso de não falar publicamente, exceto sobre assuntos graves como a Síria, no verão passado".
Mas, algumas frases mais tarde, ele soltou que "os apoios diplomáticos e logísticos [empregados no Mali] mostraram um verdadeiro despreparo". O jornal interpreta essa frase como "uma forma de divulgar a crítica feita em off pelo ex-presidente da República, que acha que a França está isolada demais".
Amigos que lhe querem bem
Embora as declarações sarkozystas tenham rareado repentinamente após a eleição de François Hollande, os autoproclamados "Amigos de Nicolas Sarkozy" nunca deixaram de lembrar seus feitos e gestos a serviço da França, sua parcimônia, sua magnitude, sua influência etc. Presidida por Brice Hortefeux, a associação conta também com Christian Estrosi, Claude Guéant e Christine Boutin.
"Seus amigos, reunidos em uma associação, respeitarão essa opção [de silêncio] escrupulosamente: não falaremos em seu nome e não instrumentalizaremos a força política que ele representa. Em compensação, não deixaremos que ninguém ameace os resultados de seu mandato sem responder imediatamente", consta entre os objetivos dessa associação.
Portanto, oficialmente os "Amigos" celebram e defendem o mandato do ex-chefe de Estado. Mas como as pesquisas ainda o apontam como extremamente popular entre seus seguidores, a possibilidade de uma volta de Nicolas Sarkozy ao cenário político nunca está muito distante. "Entre a direita, ele aparece primeiramente como um refúgio, talvez a solução. Se ele decidir voltar, será em 2015-2016, através das primárias ou de algum outro mecanismo", revelou Nadine Morano ao "Journal du Dimanche".
E todos aqueles que possuem ambições presidenciais para 2017 tiveram de esclarecer sua posição, caso o ex-presidente queira se recandidatar em 2017. Jean-François Copé "estará ao lado de Nicolas Sarkozy, independentemente de sua decisão". "Se ele estiver em melhores condições do que eu para recuperar a França, eu me retirarei. Mas o contrário também vale", relativizou Fillon, que não é mais colaborador de Sarkozy e faz questão de dizê-lo.
Voltar "por dever"
O ápice dessa dissimulada campanha de retorno político foram as declarações, citadas pelo semanário de direita "Valeurs Actuelles", no dia 6 de março, nas quais Nicolas Sarkozy afirma que ele poderia ser "obrigado" a voltar à política, "não por vontade", mas "por dever", "unicamente porque se trata da França". O ex-presidente chega a afirmar que não quer "lidar com o mundo político, que lhe dá um tédio mortal".
Essa fala já surgira em uma entrevista de Bruno Le Maire, publicada em outubro no jornal satírico "Le Canard Enchaîné", na qual o ex-ministro da Agricultura revelava uma confidência de Nicolas Sarkozy. "Considerando o desastroso estado no qual a França pode se encontrar daqui a cinco anos, não terei escolha em 2017. [...] A questão não é saber se vou voltar, mas se do ponto de vista moral em relação à França tenho a opção de não voltar. Moralmente, não posso descartar os franceses", teria declarado o ex-presidente.
Dentro da UMP, as reações são variadas. Enquanto Alain Juppé afirma ao canal RTL que uma volta de Nicolas Sarkozy não está na ordem do dia, Brice Hortefeux diz "que hoje nenhuma das condições necessárias para a volta de Nicolas Sarkozy é preenchida".
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