segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Sem equipamento, rebeldes sírios produzem armas com ajuda de muitos
Enquanto o sol de verão queimava nesta cidade parcialmente deserta na Síria numa tarde recente, dois jovens apareceram numa camionete numa rua perto de várias oficinas mecânicas. Projetando-se da base da camionete havia um cano de aço com cerca de 90 centímetros de comprimento e 6 centímetros de diâmetro, descansando sobre uma moldura.
O cano não era para construção. Era um pequeno canhão caseiro que havia sido usado em julho na batalha por Azaz, uma cidade no norte da Síria onde guerrilheiros antigoverno expulsaram o exército do presidente Bashar al Assad.
“Agora temos três ou quatro desses, mas precisamos fazer mais”, disse Mustafa, um dos homens que montou as armas em pequenas lojas de equipamentos onde desde o ano passado um aspecto fundamental da revolução contra o governo da Síria vem sendo realizado por homens que normalmente não carregam armas.
O trabalho de Mustafa, que também inclui a manufatura de bombas caseiras (“podemos fazer, todos os dias, 25 bombas”, disse ele), faz parte de uma iniciativa de base para criar o arsenal diverso e idiossincrático dos guerrilheiros. Este é um componente essencial da sobrevivência dos rebeldes e de seu recente sucesso contra o exército treinado profissionalmente com o qual eles estão presos numa disputa pelo futuro da Síria.
Trabalhando juntos e com o encorajamento de guerrilheiros antigovernistas, empresários e comerciantes locais organizaram uma rede para produzir armas, em parte delegando tarefas entre os vários setores. Algumas lojas produzem explosivos e propulsores, uma tarefa que um organizador, Ahmed Turki, diz que é melhor realizada por um pintor local com experiência em misturar químicos. Outros, que têm habilidades como eletricistas, preparam os circuitos para bombas improvisadas.
Especialistas em máquinas e metalúrgicos montam foguetes e morteiros, bem como as carcaças para bombas e artilharia ou os cilindros largos normalmente usados para guardar a pólvora nas bombas de caminhões ou de estrada. (Esses homens também fabricam as bases para camionetes abrigarem as metralhadoras capturadas das forças do governo; um novo desenho inclui um freio de moto para parar o movimento da arma enquanto o operador ajusta sua altura.)
Outros homens retiram o propulsor de tanques e peças de artilharia capturadas, que depois é adaptado nas armas dos rebeldes.
Como as forças contrárias a Assad não tiveram muito sucesso ao pedir armas para o Ocidente e apoio aéreo estrangeiro, os rebeldes criaram seu próprio projeto, desenvolvendo as artes obscuras da fabricação de armas com uma velocidade surpreendente.
Sob vários aspectos, as armas reunidas pelo levante aqui lembram aquelas da insurgência dos iraquianos contra as forças ocidentais, ou dos palestinos contra Israel. Isso se deve em parte, dizem os participantes, porque eles foram capazes de criar suas armas baseadas nos modelos usados em outros levantes do Oriente Médio.
“Nós copiamos os foguetes originais palestinos”, disse Turki, que desde então projetou sete estilos de foguetes de médio alcance.
Ele também desenhou planos para uma peça de artilharia de 62 milímetros que está em desenvolvimento e que foi mostrada, entre os testes, para dois jornalistas do The New York Times.
Misturando armas capturadas de seus inimigos com armas contrabandeadas pelas fronteiras, e acrescentando outras fabricadas pelos apoiadores dos rebeldes numa infinidade de lojas escondidas, as brigadas da guerrilha síria conseguiram retirar as forças armadas convencionais do país de áreas do interior no norte e, em outras áreas, cercaram o governo.
Esta indústria obscura – dinâmica e eficiente, mas também perigosa – serve como mais do que um fornecedor. É também um indicador tanto da organização local dos rebeldes quanto da falta de apoio logístico de fora.
O sucesso dos rebeldes com as bombas improvisadas foi bem documentado e vem sendo essencial para negar território às tropas do governo e às milícias leais a ele. Exames recentes do equipamento e entrevistas com contrabandistas e trabalhadores que ajudaram as unidades antigovernistas revelam uma indústria popular de armas ainda maior e enérgica fora do alcance e das vistas do governo.
Esses esforços variados são vistos localmente como um ingrediente essencial para derrubar o governo de Assad, e um meio pelo qual os homens que não são capazes nem têm inclinação para lutar com rifles podem contribuir com a revolta.
“Estamos sofrendo com a falta de equipamento”, disse Mustafa, que, como vários homens entrevistados para este artigo, pediu para que seu último nome não fosse publicado por motivos de segurança. “Então começamos a fazer nosso trabalho dessa forma.”
Turki organiza testes para armas que exigem um grau de constância e precisão, como foguetes e bazucas, cujo alcance pode ser determinado e cuja trajetória dos projéteis deve ser estabilizada com abas ou rotação. A peça de artilharia que ele ajudou a retirar da prancheta de desenho foi testada 20 vezes, mas seu alcance até agora não foi o ideal.
“Ainda estamos trabalhando nos projéteis”, disse Badr, que fez a arma com a ajuda de um assistente de 15 anos, Mohammed.
A arma foi apelidada de “Dadool”, disse Badr, gíria síria para um homem enérgico e acima do peso. Questionado se a arma estaria pronta para ser usada em batalha, ele apontou para uma caixa cheia de bombas caseiras.
Cada uma havia sido montada com canos e componentes fabricados na China, e coberta com um fio de estopim feito de malha de alumínio. Um detonador de ponto único foi montado a partir de um recipiente oco cheio de explosivo volátil. Isso serve para dar a ignição na carga principal do projétil quando ocorre o impacto com o solo.
“Com a ajuda de Deus estaremos usando essas em breve”, disse Badr.
Os rebeldes também compraram muitas armas e componentes de contrabandistas. Entre elas estão cápsulas de explosão para bombas e componentes de telefonia usados para fabricar detonadores remotos. E os rebeldes dizem que foram ajudados por o que antes pareceria uma fonte improvável: a distribuição de armas do Pentágono para as forças de segurança do Iraque.
Dois dias antes de Mustafa mostrar seu morteiro, um membro de uma tribo sunita que usa o nome de Abu Khaled chegou numa camionete num complexo residencial usado como base rebelde. Abu Khaled, que tem familiares na província de Anbar, Iraque, e no leste da Síria, estava contrabandeando armas.
Nesse dia ele tinha três metralhadoras leves RPD, um morteiro de 60 milímetros, quatro munições para morteiro e um saco de cartuchos de rifle 7.62x54R. Os rebeldes disseram que Abu Khaled era um de seus fornecedores fixos e que vinha trazendo armas do Iraque desde que a revolta começou no ano passado.
Numa entrevista, Abu Khaled disse que adquiriu suas armas do exército iraquiano e de policiais, que vendem livremente as armas velhas fornecidas pelos Estados Unidos.
“Eles vendem tudo”, disse ele, referindo-se às forças de segurança iraquianas como corruptas.
Ele apontou para as munições de morteiro.
“Comprei essas de xiitas que haviam recebido de soldados norte-americanos”, disse ele.
Abdul Hakim Yasin, comandante rebelde que o recebeu no complexo, pagou-o com um bolo de notas sírias.
Depois de uma refeição com os guerrilheiros e seu comandante, Abu Khaled e os dois homens que viajavam com ele foram embora. Eles estavam munidos de uma nova lista de compras, incluindo um pedido de mísseis antiaéreos com um lança-mísseis de ombro – um tipo de arma que os rebeldes dizem precisar com frequência, mas que não conseguem produzir nas garagens.
Todos os homens estão tentando fazer sua parte para alcançar o mesmo objetivo, disse Abu Khaled.
“Nunca vamos ter prazer em comer, dormir ou beber, ou viver como seres humanos, até que esse regime caia”, disse ele.
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duvido que possas derrubar o assad sem ajuda ocidental...
ResponderExcluirse nao fosse a otan que destruiu tanques blindados e veiculos do gadaffi ele estaria no poder ate hoje...
mas nao a otan foi la e derrubou um ditador..
agora a libia e terra de ninguem,varias milicias contralam pedaços do pais...
parabens Eua!!!