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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

El País: Ditador do Cazaquistão gosta de festas e enriquece às custas da população

Nursultan Nazarbayev
Todos os embaixadores credenciados em Astana, representantes das grandes companhias internacionais que operam no Cazaquistão e um grupo de jornalistas europeus convidados pelo governo cazaque, incluindo de "El País", assistiam no último 25 de novembro ao discurso de Nursultan Nazarbayev diante das hostes de seu partido, Nur Otan (Luz da Pátria). "Chegamos aonde nunca havíamos sonhado", arengava o presidente a seus seguidores entregues. "Somos um partido de ações concretas." "Precisamos ganhar", bradava Nazarbayev entre os aplausos e a agitação de centenas de bandeirolas dos congregados, como se todos tivessem se esquecido de que seu partido era o único presente no Parlamento.

O centro de Astana tinha sido fechado ao tráfego para facilitar a chegada dos convidados, e permitia contemplar em todo o seu esplendor o vizinho Palácio da Paz e da Reconciliação, a pirâmide projetada por Norman Foster, em cujos vidros se chocavam os flocos de neve soprados pela forte ventania, na segunda capital mais fria do mundo depois de Ulan Bator, na Mongólia.

Terminado o evento, nada melhor para escapar dos 12 graus negativos reinantes que entrar em outro dos símbolos de Astana, a gigantesca "yurta", uma tenda de campanha onde os nômades se refugiam nas estepes da Ásia Central, também obra do arquiteto britânico. Esta cobre um luxuoso centro comercial, cuja parte superior abriga uma praia artificial com areia trazida das ilhas Maldivas e que, a uma temperatura de 30 graus, permite, por 8 mil tengues por pessoa (42 euros), que adultos e crianças desfrutem do banho. Mas, embora artificial, esse paraíso tropical é inatingível para a imensa maioria dos habitantes do Cazaquistão, cujo salário médio não chega a 80 mil tengues (420 euros) mensais.

Astana é o exemplo mais nítido da megalomania do ditador, cuja fortuna estimada fora do Cazaquistão supera US$ 1 bilhão (750 milhões de euros), além das muitas empresas e bens que sua família possui no interior do país. Em 1994, Nazarbayev decidiu transferir a capital de Alma Ata, no sul, para o norte, um lugar no meio da estepe. O arquiteto japonês Kisho Kurokawa desenhou os planos da que se transformaria em 1998 na nova capital, com uma projeção de 800 mil habitantes para 2030. Mas em 2011 já havia alcançado 750 mil habitantes, e, sem uma rede de transporte público, Astana é um caos de tráfego e edifícios e monumentos faraônicos.

Naqueles dias se aproximavam as eleições legislativas sob a nova lei eleitoral aprovada em 2009, e o Nur Otan sabia que deixaria de ser o "único" partido. Para mostrar sua vontade democratizante, antes de exercer em 2010 a presidência da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) - o que Nazarbayev, obcecado por hospedar cúpulas e eventos internacionais, obteve porque é "nosso ditador mais querido", segundo um diplomata europeu -, a lei eleitoral foi modificada de maneira a que se nenhum partido passasse a barreira de 7% do total dos votos o segundo mais votado entraria de qualquer forma no Parlamento. Não foi preciso aplicar a emenda.

As eleições de 15 de janeiro passado projetaram resultados muito animadores para a democracia cazaque: o Nur Otan obteve 81% dos votos e superou a barreira de 7% dos partidos afins. A oposição ficou fora. O segundo grupo com assentos no Parlamento é o AK-47 Zhol (Caminho Claro), que representa os interesses dos empresários e é dirigido por Timur Kulikayev, casado com uma das três filhas de Nazarbayev e já colocado à frente do Samruk-Kazyna, o fundo soberano de riqueza do Cazaquistão. E o terceiro é o Partido Comunista do povo, formação saída do aparelho do Partido Comunista que Nazarbayev chefiou em 1989. À frente deste, se transformaria no último presidente do Soviete Supremo da República Socialista Soviética do Cazaquistão, até que em 24 de abril de 1990 assumiu a presidência do novo país independente da Ásia Central.

Nazarbayev candidatou-se em 1991 nas eleições presidenciais e as ganhou com 91,5% dos votos. Era o único candidato. Nas eleições posteriores, deixou de competir contra si mesmo e permitiu que alguns figurantes - políticos sem a menor relevância - se apresentassem como adversários, de maneira que seu grau de popularidade se mantivesse inalterado graças às artes fraudulentas de seus incondicionais. Nas últimas eleições, em 2011, apresentaram-se quatro candidatos, e o presidente foi reeleito com 95,54% dos votos. Fazia muito tempo que, por motivos diversos, haviam desaparecido os concorrentes que pudessem representar um desafio a seu mandato.

Com uma presença amordaçada, a internet controlada e uma lei que facilita o fechamento de jornais e proíbe que os jornalistas que tenham colaborado com alguma publicação suspensa trabalhem por três anos, Nazarbayev, de 71 anos, decidiu gozar até sua morte do culto à personalidade que encheu o país de seus retratos e bustos. Para tanto, estabeleceu penas de prisão por qualquer insulto a sua "honra" e a sua "dignidade", ao mesmo tempo em que uma lei lhe concedeu imunidade vitalícia.

Magnífico e discreto anfitrião, Nazarbayev gosta de convidar os amantes da caça, desde o rei Juan Carlos até o príncipe Andrés, da Espanha, passando por Vladimir Putin, além de emires e sultões. Todos parecem se render aos encantos desse homem que controla com mão de ferro seu povo, e ao qual George Bush recebeu com grandes honras na Casa Branca por sua contribuição à luta contra o terrorismo e seu apoio à guerra do Afeganistão.

Com uma extensão de 2,5 milhões de km2 (cinco vezes a Espanha), e o sexto país do mundo em recursos naturais, o Cazaquistão guarda em seu subsolo enormes reservas de petróleo, gás, urânio, volfrâmio, zinco, prata e muitos outros minerais. Com as portas abertas ao investimento estrangeiro, uma situação estratégica - tem fronteiras com a Rússia, a China sedenta de recursos para seu veloz desenvolvimento, Turcomenistão, Usbequistão e Quirguistão - e sem querer se casar com ninguém, o Cazaquistão é a noiva de todos e a mais cobiçada.

Nazarbayev, com sonhos imperiais, casou sua filha mais moça, Aliya, com Aidar Akayev, filho do então presidente do Quirguistão, Askar Akayev, expulso do poder em 2005 pela chamada Revolução das Tulipas. O casamento não funcionou, e a mais empreendedora das três filhas do ditador se divorciou para casar-se depois com um importante empresário cazaque, enquanto seu ex-marido se desforrava em um livro sobre nepotismo, corrupção e a ditadura de Nazarbayev. Aliya também escalou os cumes do mundo empresarial e - assim como Gulnara Karimova, a filha do ditador usbeque - criou com os joalheiros italianos Damiani uma coleção exclusiva de joias chamada Alsara.

Nazarbayev, que se trata em segredo na Alemanha de câncer de próstata, também não teve sorte com o marido de Dariga, sua filha mais velha: Rajat Aliyev, exilado na Áustria, onde foi embaixador, e condenado em ausência a 20 anos de prisão pelo sequestro de dois banqueiros até agora desaparecidos. Aliyev alegou que foi um julgamento político por criticar a tentativa de Nazarbayev em 2007 de nomear-se presidente vitalício. Em 2008 foi condenado em ausência por um tribunal militar a mais 20 anos, por tentativa de golpe de Estado. A Áustria sempre rejeitou a extradição. Sem tê-lo pedido e sem que sua esposa lhe dissesse nada, Aliyev recebeu em junho de 2007 por fax o comunicado de seu divórcio.

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