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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Itinerário de um jihadista libanês morto na Síria e a "internacionalização" da rebelião


Abdel Ghani Jawhar 

Na foto mostrada pelo pai em seu vilarejo natal de Bebnine (norte do Líbano), Abdel Ghani Jawhar aparece criança posando como emir árabe diante de um cenário de estúdio, vestido com um casaco bordado de ouro e um keffieh branco. Alguns anos mais tarde, esse libanês se tornou “Abou Hajar”, um jihadista entre os mais procurados, especialista em explosivos. Acusado de atos terroristas no Líbano e alvo de mandados de prisão, ele partiu para combater na Síria, nesta primavera, com vários de seus colegas, onde morreu, aos 29 anos.

Abdel Ghani Jawhar pertencia ao grupo jihadista sunita Fatah al-Islam, que ficou conhecido pelo sangrento combate (mais de 400 mortos) de vários meses contra o exército libanês no acampamento palestino de Nahr al-Bared (região de Trípoli, norte) em 2007, bem como por vários atentados mortíferos no mesmo ano. Esse grupo, que tinha em suas fileiras ex-combatentes do Iraque e reunia sírios e palestinos, mas também libaneses, passou para a clandestinidade depois do verão de 2007. Alguns de seus membros foram presos ou mortos. O Fatah al-Islam nunca obteve o endosso da Al-Qaeda, apesar de suas tentativas.

A morte de Abdel Ghani Jawhar em Qusair (vilarejo sírio próximo do Líbano e de Homs) foi anunciada no fim de abril por vários veículos de comunicação. Diversos relatos foram apresentados para explicar sua morte: um acidente fatal durante uma manipulação de explosivos, um confronto com o exército sírio... Seu falecimento foi confirmado ao “Le Monde” por uma fonte segura no início de maio.

A notícia fora recebida com cautela por várias autoridades da área de segurança: o indivíduo já havia sido dado como morto no passado. E o caso traz de volta para primeiro plano um partido cuja origem continua sendo um enigma até hoje. Criação de Damasco para desestabilizar o Líbano? Esforços libaneses e estrangeiros para conter o Hezbollah xiita? Extremistas alvos de manipulações diversas?

Junto com Abdel Ghani Jawhar, outros membros do Fatah al-Islam se juntaram ao jihad na Síria. Um deles, Walid Boustani, que fugiu da prisão no Líbano em 2010, foi morto pelos rebeldes após um “julgamento” sumário, consequência de uma discussão, segundo a mídia libanesa. “Abou Hajar”, formado em química, teria ido até a Síria para ali distribuir seu conhecimento em matéria de fabricação de bombas. Os dois homens foram embora do acampamento palestino de Ain el-Heloue (sul do Líbano), onde eles haviam se refugiado --o acesso a ele é proibido para as forças de segurança libanesas.

Esse caso confirma uma “internacionalização” em andamento da rebelião na Síria. Outro exemplo: a nacionalidade líbia, segundo uma fonte fidedigna, de um ferido hospitalizado em abril em Trípoli, cujo quarto era vigiado por membros das forças de segurança libanesas como o “Le Monde” pôde constatar. Mas, embora tenha se revelado que jihadistas estrangeiros têm dado reforços aos insurgentes, seu número permanece limitado. Esses combatentes podem seduzir parte dos rebeldes, por sua experiência; mas também suscitam constrangimento e rejeição entre eles.

No Líbano, ninguém quer falar em ligações passadas com Abdel Ghani Jawhar. Entre os sunitas da região de Trípoli --de onde este último é originário--, a Jamaa Islamiya (braço libanês da Irmandade Muçulmana) e os salafistas desmentem as informações segundo as quais ele teria pertencido a seus movimentos. Nabil Rahim, figura salafista de Trípoli, ex-intermediário entre jihadistas do Fatah al-Islam e emissários da Al-Qaeda, se mantém distante.

Segundo esse religioso, detido em 2008 e preso durante mais de três anos, o combatente era “muito próximo de Chaker al-Abssi”, o fundador do Fatah al-Islam dado como desaparecido no final de 2008.

“Foi sob suas ordens que ele atacou o exército libanês [em vários atentados no ano de 2008], afirma Rahim. Para nosso interlocutor, Abdel Ghani Jawhar entrou para o Fatah al-Islam em 2008. Segundo os sírios, ele também foi o responsável por um atentado perpetrado em Damasco no mesmo ano. Muito inteligente, ele teve um papel importante dentro do Fatah al-Islam.”

Que interesse tinha esse jovem libanês em combater na Síria? “Não é uma questão de interesse, mas de crença e de convicção”, responde Rahim. “Ele queria estar próximo dos inocentes”. Próximo dos inocentes, não é assim que o descreveria nossa fonte, que afirma que o jihadista falecido “tinha as mãos sujas de sangue desde a batalha de Nahr al-Bared, da qual ele participou”. Em Bebnine, o pai do combatente, Ali Saad Jawhar, de silhueta longilínea e emaciada, se diz “aliviado que Abdel Ghani, vítima da pobreza, tenha morrido como mártir pela causa síria”.

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