sábado, 10 de dezembro de 2011
Divisão da UE ameaça o euro
Os líderes europeus iniciaram nesta quinta-feira a cúpula em que se depositaram todas as esperanças para salvar o euro, com quase todas as frentes abertas. Apesar do que foi dito nos últimos dias, existem certas discrepâncias na zona do euro entre França e Alemanha, e mais sérias entre os países do euro e o Reino Unido.
As diferentes opções de reforma do Tratado para fortalecer a disciplina fiscal com vistas a facilitar uma maior atuação do Banco Central Europeu (BCE) no mercado de dívida continuavam na quinta à noite pendentes de acordo. As possibilidades de ampliar a capacidade de ação do fundo de resgate, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEDE), também aumentaram, mas continuam existindo discrepâncias sobre os detalhes entre Paris e Berlim, o núcleo duro em que se alavanca a reforma.
A nota mais positiva foi um amplo consenso sobre a proposta de aumentar os recursos do Fundo Monetário Internacional com uma dotação de 200 bilhões de euros - dos quais 150 bilhões correspondem à zona do euro -, que serão fornecidos pelos bancos centrais europeus em forma de empréstimos bilaterais. Isso permitirá que o FMI tenha uma presença mais ativa nas possíveis ajudas de que possam precisar os países com dificuldades no mercado de dívida.
Diante das insistentes ameaças do primeiro-ministro britânico, David Cameron, de vetar um acordo entre os 27 se não conseguisse mais poderes para proteger sua indústria financeira, a chanceler alemã, Angela Merkel, quase descartou a possibilidade de chegar a um acordo entre os 27.
Com isso, somava-se às advertências expressas pouco antes pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, que defende uma maior integração dos países da zona do euro para sair rapidamente do atoleiro se Londres insistir em manter suas reservas.
A questão de fundo da cúpula, conseguir um maior envolvimento do BCE no mercado de dívida, foi abordada em uma reunião restrita anterior entre o presidente do BCE, Mario Draghi, e os principais mandatários europeus: o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, o do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, e Sarkozy e Merkel. Junto com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, formam o chamado Grupo de Frankfurt, que se transformou no verdadeiro governo à sombra da UE no que se refere à solução dos problemas bancários.
Na reunião Draghi foi pressionado por um maior envolvimento do BCE, mas o presidente da entidade já havia advertido poucas horas antes em Frankfurt que o havia interpretado erroneamente quem deduziu que um maior rigor orçamentário permitiria uma maior intervenção.
Draghi apontou o MEDE como o mecanismo adequado para ajudar os países em apuros. Mas também não houve boas notícias para o MEDE. A proposta de Van Rompuy e Barroso, que apostava em transformar esse fundo permanente em uma instituição financeira que pudesse receber fundos do BCE, continua tropeçando com o muro da Alemanha, com o consequente desgosto de Sarkozy.
O presidente francês, que não fez declarações ao chegar a Bruxelas, aproveitou sua presença no congresso do Partido Popular Europeu em Marselha para instar os sócios comunitários a fazer um acordo para salvar o euro. Do contrário, "não haverá uma segunda oportunidade", havia advertido.
As discrepâncias entre Paris e Berlim se materializaram na insistência de Merkel em atacar a reforma do Tratado da forma mais profunda possível. Merkel insistiu na via da penitência pelos pecados do passado. "O euro perdeu credibilidade e é preciso recuperá-la dentro da zona do euro", disse. "Mas para isso é preciso deixar claro que aceitamos mais disciplina. São os 17 que devem fazer um favor aos 27. Se conseguirmos que sejam 17 mais X se verá nas negociações. O importante é que consigamos avançar para uma união mais estável."
A reforma do Tratado despertou entretanto numerosas críticas entre os setores socialistas e a esquerda. A oposição socialista francesa e alemã mostraram-se contra, e no Parlamento Europeu surgiu uma rebelião encabeçada pelo heterogêneo grupo Spinelli, formado por diversas famílias políticas, que ameaçou levar a reforma ao Tribunal de Justiça.
Existem sérias dúvidas sobre a forma final em que se colocará a reforma do Tratado. A proposta de reforço da disciplina fiscal através de um primeiro pacote de medidas pela via rápida defendida por Van Rompuy topou com a rejeição da Alemanha. Berlim defende uma reforma profunda dos tratados para apostar em uma união fiscal e laboral e para que o euro tenha um presidente permanente.
"O risco de explosão da Europa nunca foi tão grande", afirmou Sarkozy. "Temos poucas semanas para decidir por que o tempo corre contra nós. Se não entrarmos em acordo nisto, temo que não haverá acordo em nada", disse. "Devemos reformar a Europa e devemos repensá-la. Se não tivermos a coragem de fazê-lo, as pessoas se rebelarão contra nós", acrescentou.
Barroso mostrou-se aberto à reforma, mas sempre que os Estados estejam preparados, porque um processo de revisão é sempre complexo, ele disse. E insistiu que "é essencial garantir o papel da Comissão Europeia, do Tribunal de Justiça e do Banco Central Europeu".
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