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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Com 51 anos de atraso, Espanha reconhece primeira vítima de terrorismo no país


Acima os inconfundíveis milantes do ETA


Mais de 51 anos tiveram que se passar para que o governo espanhol reconhecesse que Begonia Urroz Ibarrola, de apenas 22 meses, foi a primeira vítima do terrorismo na Espanha desde o fim da Guerra Civil. Isso acaba de ser feito pelo Ministério do Interior, que entrou em acordo para conceder uma indenização de 250 mil euros, segundo confirmaram fontes do departamento dirigido por Antonio Camacho.

A menina inaugurou assim uma trágica lista na qual até hoje estão os nomes de mais de mil pessoas, assassinadas pelo ETA, os Comandos Autônomos Anticapitalistas, os GRAPO, os GAL, o terrorismo islâmico, diversos grupos de ultradireita e outras organizações e grupos já desaparecidos.

A pequena Begonia morreu em 27 de junho de 1960 como consequência da explosão de uma maleta incendiária depositada em um dos armários guarda-volumes da estação de Amara, em San Sebastian. O atentado, que teve pouca repercussão social, só mereceu nos jornais da época uma breve nota do Ministério da Governança na qual dava conta da explosão de cinco artefatos: um num furgão do trem-correio Barcelona-Mari, entre os municípios de Quinto e Pina de Ebro, e os outros quatro em outros guarda-volumes de Barcelona, Madri e San Sebastian (um na estação do Norte e outro na de Amara).

O de Amara foi o mais grave de uma série de atentados incomum até então sob a férrea ditadura do general Francisco Franco. Além de Begonia, que sofreu queimaduras em 90% de seu corpo, também ficaram feridos pelo mesmo artefato o estudante Valeriano Bakaikoa Azurmendi, de 15 anos, que voltava a San Sebastian depois de passar uns dias de férias com familiares em Renteria; a encarregada do guarda-volumes, Soledad Arruti, de 60 anos; Pascual Ibanez Martin, de 29; Francisco Sanchez Bravo, de 42, e Maria Garcia Moras, de 49.

Durante meio século, Juan Urroz, um funcionário na fábrica de eletrodomésticos Moulinex, e sua esposa Jesusa Ibarrola digeriram sua dor com descrição, sem ajuda e em silêncio. Um silêncio que Jesusa rompeu pela primeira vez em janeiro do ano passado, quando, já octogenária, aceitou falar com o El País.

"Nós estávamos convencidos de que a bomba de Amara foi colocada por alguém do ETA. E muita gente também pensava isso. Mas era algo do que ninguém falava. Naqueles anos, ninguém falava dessas coisas", disseram Jon e Begonia, irmãos da menina assassinada. O ETA, que naquela época tinha apenas um ano de existência, nunca reivindicou a autoria do atentado. Há estudiosos que imputam a explosão de Amara, bem como outras que aconteceram na mesma época, ao Diretório Revolucionário Ibérico da Libertação (DRIL), de ideologia anarquista.

Nenhuma autoridade nunca entrou em contato com os Urroz, exceto no ato do funeral, para oferecer ajuda. Eles tampouco pediram nada a ninguém. Só contrataram há alguns anos um advogado para que cuidasse do assunto, mas não conseguiram nada, acabaram se cansando e desistiram de tudo.

Entretanto, logo depois da história esquecida ser publicada, a Direção Geral de Apoio a Vítimas do Terrorismo entrou em contato com a família Urroz. Ofereceu a eles as indenizações previstas pela legislação. "Falaram conosco e sei que solicitaram uma série de documentos para minha mãe poder receber esse tipo de benefício", conta Jon Urroz.

Em setembro passado, o Parlamento aprovou a Lei de Reconhecimento e Proteção Integral às Vítimas do Terrorismo. O artigo 7 dessa lei estabelece que será de aplicação aos atos terroristas cometidos desde 1º de janeiro de 1960, com a intenção de poder incluir entre os prejudicados a família de Begonia Urroz. Até então, ele estava aplicado a uma lei de 1999, que contemplava os afetados pelo terrorismo desde 7 de junho de 1968, data em que morreu assassinado o guarda civil José Pardines, considerado a primeira vítima do ETA.

O expediente aberto pelo caso Begonia Urroz exigiu vários meses de tramitação. Por fim, José Manuel Rodríguez Uries, diretor-geral de Apoio a Vítimas do Terrorismo, assinou esta semana a concessão de uma indenização de 250 mil euros. Para o governo, não importa qual organização foi responsável pela bomba que matou a menina. Basta saber que, à luz das investigações policiais, está claro que ela foi vítima de um atentado desse tipo, independentemente de seu autor ser o ETA, o DRIL ou outro grupo desconhecido.

"Não sei nada sobre o Interior ter aprovado a indenização. Acredito que minha mãe também não comunicou nada. Mas se é como você está dizendo, suponho que não demorarão a nos dizer", declarou Jon Urroz. "O dinheiro é secundário. O que nós desejamos é que essa situação não tivesse acontecido e que minha irmã não tivesse morrido", acrescentou.

A indenização será recebida por Jesusa Ibarrola, a octogenária mãe da menina, moradora de Lasarte (Guipúzcoa), que recentemente sofreu vários infartos. Seu marido morreu em 2008. "Para nós, o dinheiro não faz falta. Não sei o que minha mãe fará. Ela é muito religiosa e está voltada para ações beneficentes. Tenho ouvido que se lhe dessem algo, ela doaria tudo ou uma parte para organizações de caridade vinculadas à Igreja", explica Jon Urroz.

O dia 27 de junho, a data em que a menina foi assassinada, ficou instituída como Dia de Homenagem às Vítimas do Terrorismo. Desde o ano passado, a Câmara dos Deputados celebra essa data com uma sessão solene com o objetivo de "perpetuar a memória das vítimas na memória coletiva dos espanhóis".

No ano passado, o tributo foi celebrado pela primeira vez, presidido pelos reis. Don Juan Carlos pronunciou um discurso no qual, entre outras coisas, disse: "todo nosso carinho, respeito e solidariedade para as vítimas e seus próximos para fazer com que eles sintam – hoje e sempre – nossa proximidade de seus corações. Para dizer-lhes que toda Espanha está e estará em todo momento com elas". Durante 50 anos, a família Urroz não sentiu esse carinho nem essa solidariedade, mas só solidão.

Um comentário:

  1. Ignoraba que el capitán portugués Henrique Galvao hubiera sido de ETA: "DIARIO VASCO", San Sebastián, 10-2-1961, pág.1, noticia "Galvao reconoce haber tenido una participación directa en los actos terroristas de 1960, en Madrid, Barcelona y San Sebastián". En Google: "hemeroteca ABC 1961/01/28 galvao DRIL maletas explosivas", "hemeroteca ABC 1961/02/10 galvao terrorismo san sebastian" y "hemeroteca ABC 1962/12/04 petardistas DRIL niña guipuzcoana".

    ¿Desde el 1 de enero de 1960? Pues qué curioso: de las 4 ó 5 víctimas mortales de atentados antifranquistas entre 1960 y 1962 (la primera de ellas el 3 de enero de 1960), sólo a Begoña Urroz se la considera víctima del terrorismo.

    "MUNDO OBRERO", Partido Comunista de España, 1-11-1960, pág.1: "...pocos ignoran que las bombas del DRIL llevan el marchamo de la DGS [Dirección General de Seguridad]".

    Valeriano (Baleren) Bakaikoa, herido en Amara en 1960, aún vive. Dice que fue el DRIL, y que el DRIL tenía conexiones con los servicios secretos franquistas.

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