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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

China anuncia revisão e incerteza paira sobre política nuclear do país

Usina nuclear de Qinshan ainda em construção 


Menos de uma semana após o desastre de Fukushima, a China suspendeu as autorizações para a construção de novas usinas nucleares e anunciou que fará uma ampla análise e revisão das leis e regulamentações referentes à energia atômica e à segurança nuclear no país.

A decisão representou uma virada abrupta por parte dos líderes tecnocratas chineses, um grupo formado em sua maioria por engenheiros que tradicionalmente apoiam a energia nuclear como uma solução para as necessidades energéticas da China.

Essa medida por parte da China se constituiu em um forte golpe para o setor nuclear global, já que na década anterior o país desempenhou um papel fundamental para o renascimento da energia nuclear mundial. Atualmente existem 27 usinas nucleares em construção na China, o que representa mais de 40% do total em todo o mundo, de acordo com dados da Associação Nuclear Mundial. Além disso, outras dez estavam prestes a ser aprovadas neste ano antes da suspensão.

Agora a incerteza paira sobre o setor nuclear da China. O governo afirma que voltará a aprovar a construção de novas usinas nucleares assim que aprovar a Lei de Energia Atômica, bem como novos códigos de segurança, mas poucos destalhes relativos a essas políticas foram divulgados durante o processo de elaboração dessas regulamentações.

Zhang Guobao, uma autoridade graduada do setor de energia chinês, afirmou que as novas regras poderão ficar prontas no segundo trimestre do ano que vem.

“É preciso não esquecer que a China não abandonou a energia nuclear”, disse ele recentemente à mídia estatal. “A partir de março do ano que vem nós esperamos que a postura em relação à energia nuclear, tanto no exterior quanto na China, se torne mais positiva, e que o setor até recomece a crescer”.

Apesar das tentativas das autoridades chinesas de reduzir as preocupações quanto ao setor, os analistas reajustaram discretamente para baixo os números contidos nas suas previsões relativas à quantidade de instalações nucleares da China no decorrer da próxima década.

“Nós reduzimos a nossa meta de capacidade de energia nuclear em 2020 de cerca ade 86 gigawatts para 56 gigawatts”, afirma Rajesh Panjwani, analista da CLSA em Hong Kong.

Outros observam que a pausa ocorrida no processo de construção de usinas nucleares chinesas poderá criar uma oportunidade para que tecnologias mais avançadas penetrem no mercado do país.

“As suspensões de novas autorizações provavelmente farão com que diminua a velocidade prevista de construção de novas usinas nucleares, e isso poderá fazer com que haja uma certa mudança dos tipos de tecnologias de energia utilizadas pela China. Isso poderia favorecer tecnologias de terceira geração que são intrinsecamente mais seguras”, afirma Zhou Xizhou, diretor da IHS Cambridge Energy Research Associates, em Pequim.

Os chamados “reatores de terceira geração” são considerados mais seguros do que os reatores anteriores, já que empregam sistemas de resfriamento passivo, fazendo com que seja muito menos provável a ocorrência de um derretimento nuclear ou de um vazamento radioativo.

Tanto o AP1000 da Westinghouse quanto o EPR da Areva – modelos concorrentes de “terceira geração” - estão sendo construídos na China. O AP1000 serve como base para um modelo de reator de terceira geração construído pela China, o CP1000, que deverá se tornar o padrão para a construção de novas usinas nucleares chinesas na próxima década.

A China está também desenvolvendo uma outra tecnologia nuclear promissora: os reatores do tipo “pebble bed” (“cama de pedregulhos”), assim chamados porque são alimentados por partículas de tório ou urânio no formato de pedregulhos esféricos. Esses reatores são bem menores do que os reatores tradicionais e são considerados bem mais seguros para se operar.

No último verão chinês, teve início sem alarde a construção de um projeto de reator desse tipo para fins de demonstração, de acordo com a Associação Nuclear Mundial. Esse é o mais avançado projeto modular do mundo e no futuro ele será composto de 18 reatores pequenos na província de Shandong.

A Corporação Nuclear Nacional da China e o Grupo de Energia Nuclear China Guangdong, as principais companhias de energia nuclear do país, pouco falaram a respeito da suspensão das autorizações. Elas anunciaram apenas que concluíram o processo de revisão de segurança obrigatório nas suas usinas após o acidente de Fukushima.

Mas elas continuam confiantes em relação ao futuro nuclear da China. Conforme disse recentemente em um discurso Su Qin, o presidente da Corporação Nuclear Nacional da China, “Para a China, o desenvolvimento e a utilização da energia nuclear não se constitui em uma escolha, mas sim em uma necessidade”.

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