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terça-feira, 1 de março de 2011

O regresso dos antigos camaradas de Gaddafi

A festa nacional da Líbia é em 1º de setembro, aniversário do golpe de Estado contra o rei Idris, em 1969. Um levante tranquilo que foi liderado por Muammar Gaddafi aos 27 anos, o mais jovem dos 12 oficiais que o conduziram. Alguns daqueles antigos camaradas - eram companheiros em uma escola militar de Benghazi - morreram, outros se afastaram do regime, outros foram afastados. Algum permaneceu ao seu lado nestas quatro décadas. Mas inclusive entre estes a lealdade tem limites.

Pelo menos dois deles, Abdel Fatah Yunis e Abdel Monem al Houni, uniram-se à revolta rebelde na semana passada. Ambos, junto com Abdusalam Jalloud, purgado nos anos 1990 e afastado da vida pública desde então, poderão ser chaves no "day after" Gaddafi. O exército, embora frágil, é possivelmente o mais parecido com uma instituição que resta neste país sem partidos, sindicatos, poder legislativo ou sociedade civil.

Na semana passada Yunis deixou seu cargo de ministro do Interior e Houni, o seu de representante na Liga Árabe. Ambos participaram daquele golpe que teve de ser adiado duas vezes porque as datas escolhidas coincidiam com vários concertos da venerada cantora Um Kulzum.

Os especialistas mais pessimistas temem que no dia depois de Gaddafi comece uma sangrenta caça às bruxas. "Haverá um vazio de poder", explicou ao jornal "The New York Times" Lisa Anderson, uma especialista em Líbia. "Não acho muito factível que a população queira abandonar as armas e voltar a seus trabalhos de burocrata", acrescentou.

O coronel Gaddafi desmontou cada estrutura que pudesse representar um desafio a seu poder. Igualmente, se certificou de que ninguém lhe fizesse sombra. Inclusive enfrentou seus filhos sem citar oficialmente nenhum herdeiro. Nenhuma das tribos tem poder em todo o país porque Gaddafi se encarregou de inimizá-las, mas alguns daqueles que se levantaram contra o monarca são pessoas respeitadas, embora ao redor dos 70 anos.

"O exército é frágil. Não é o guardião do Estado, como o era na Tunísia e no Egito. Gaddafi o manteve submisso porque não queria ser derrubado por um golpe militar como o que o levou ao poder", explicou o especialista do Conselho de Relações Exteriores Robert Danin ao jornal "The Globe and Mail".

A filóloga árabe Mercedes Fonte Cuy, que viveu 27 anos na Líbia, não se surpreende que Yunis e Houni abandonem agora o regime. "O que se levantava um pouco nos quartéis era derrubado, mas em particular os militares insultavam Gaddafi", afirma essa espanhola de 53 anos casada com um ex-militar líbio, com o qual tem cinco filhos. Afirma que o mal-estar era grande, sobretudo entre os militares do discriminado leste do país. Os uniformizados embarcaram no carro revolucionário lançado pelos jovens, segundo Fonte. "Sentiam-se muito controlados, ressentidos, humilhados."

Ela relata que não era raro que algum filho do coronel se apresentasse em um quartel e tratasse com atitude despótica os comandantes, incluindo antigos camaradas de seu pai. Os militares tinham de engolir.

Yunis ostentava nos últimos tempos o cargo de ministro do Interior - o que também não significa muito em um país onde só o Ministério do Petróleo tem poder -, mas antes dirigiu a Escola Militar de Comandantes e Paraquedismo em Benghazi. Fonte afirma que "é um homem estrito, sério, que mantém as distâncias".

Houni, o ex-chefe da delegação na Liga Árabe, supostamente participou de um golpe contra Gaddafi em 1975, segundo o grupo de pensadores Starfor. Esteve exilado no Egito até que, dez anos atrás, o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak convenceu Gaddafi a permitir sua volta. Houni deve ter recuperado a confiança do déspota, para ser embaixador.

"Outro homem-chave é Jalloud, que foi número 2 do coronel até 1993, quando o afastou. Fonte conta que "era muito bom orador, tinha muito boa presença e muita relação com o Egito". Acrescenta que viveu ao sul de Trípoli. Sua tribo, a dos maqarha, deu as costas ao ditador, segundo a televisão Al Jazira.

Mustafá al Kharubi e Al Khwaidi al Hmaidi, que também participaram daquela rebelião que aproveitou que o rei Idris tinha viajado para a Turquia por motivos de saúde, provavelmente continuam ao lado do líder, porque não há notícias de que tenham desertado. Há rumores de que o coronel Abu Baker Yunis Jaber, chefe do estado-maior do exército durante 40 anos, está sob prisão domiciliar.

Emhemmed al Mghariaf morreu em um acidente de carro e vários outros daqueles oficiais que se levantaram em armas e derrubaram o rei sem derramar sangue, em poucas horas, se afastaram (ou foram afastados) do regime e vivem na Líbia discretamente.

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