Saif al-Adel |
No entanto, após 11 de setembro de 2001, ele simplesmente desapareceu. Mais tarde foi revelado que ele estava em um lugar ao norte de Teerã, a capital do Irã, sob uma espécie de prisão domiciliar protetora, juntamente com dezenas, ou possivelmente centenas, de combatentes da Al Qaeda e suas famílias, que fugiram do Afeganistão após a invasão por tropas norte-americanas em dezembro de 2001, e que desde então foram impedidos pelas autoridades iranianas de viajarem para outros lugares.
Mas agora Saif al-Adel está de volta. “Temos quase certeza de que Saif al-Adel foi libertado e está atualmente na província paquistanesa do Waziristão do Norte, atuando como chefe militar da Al Qaeda”, afirma Noman Benotman, analista da Fundação Quilliam, uma organização de pesquisas em contra-extremismo com sede em Londres. Benotman, nascido na Líbia, é um dos principais especialistas do mundo em ações da Al Qaeda. Antes da sua espetacular mudança de ideologia em 2002, o próprio Benotman foi instrutor em campos militares jihadistas no Afeganistão, onde ele liderava os mujahidins líbios. Ele garante que as suas fontes de informações sobre Saif al-Adel são confiáveis.
E Benotman não é o único a expressar tal opinião. “Said al-Adel deixou o Irã e encontra-se atualmente na região de fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão”, disse a “Spiegel Online” um oficial de inteligência europeu. “É provável que ele tenha se juntado a estruturas terroristas”.
A maior conquista da Al Qaeda em uma década
No último verão do hemisfério norte, um jornal afegão especulou que Saif al-Adel foi libertado em troca de diplomatas iranianos sequestrados. No entanto, naquela época esse boato não pôde ser confirmado. Mas Benotman diz que as suas fontes na região confirmaram que essa troca de fato ocorreu.
O retorno de Saif al-Adel é provavelmente a maior conquista da Al Qaeda em uma década. De fato, Saif al-Adel é considerado uma ameaça potencial tão grande que, segundo informações recebidas por “Spiegel Online”, os serviços de inteligência dos Estados Unidos analisaram regularmente o quão perigoso seria um quadro em que o Irã o recrutasse para organizar ataques retaliatórios em resposta a um potencial bombardeio contras as suas instalações nucleares.
“Em se tratando de uma pessoa como Saif al-Adel, nem é preciso que ele próprio desempenhe tais ações. O que ele tem dentro da cabeça já é suficiente”, adverte Benotman. Os especialistas acreditam que al-Adel tenha ajudado a organizar ataques terroristas na Arábia Saudita quando se encontrava no Irã – comprovando não apenas o seu grande raio de ação, mas também a liberdade que aparentemente lhe foi concedida durante a suposta prisão domiciliar em território iraniano.
“Uma nova era de cooperação”
A especialista australiana em terrorismo Leah Farrall, que está redigindo a sua dissertação de doutorado sobre as estruturas de comando da Al Qaeda, disse a “Spiegel Online”: “O retorno de Said al-Adel ao campo de operações incrementaria a capacidade operacional da Al Qaeda e faria com que houvesse mais rigor nas operações externas da rede. E as suas antigas conexões com grupos cujas relações com a Al Qaeda têm sido marcadas por tensões poderiam pressagiar uma nova era de cooperação operacional entre essas organizações para a realização de ataques contra o Ocidente”.
Saif al-Adel tem a reputação de ser um pragmático que não está particularmente preocupado com diferenças ideológicas. Tendo em vista a ameaça de ataques desfechados com drones, ou veículos aéreos não tripulados, da Agência Central de Inteligência (CIA), essa característica de Saif al-Adel poderia contribuir para facilitar a colaboração para o planejamento de ataques, diz Farrall.
A Al Qaeda ainda não fez nenhum comentário a respeito do retorno do seu comandante militar – possivelmente para evitar que ele seja transformado em um alvo de ataques de veículos aéreos não tripulados. Atualmente a organização está se empenhando em proteger as suas lideranças. Afinal, os veículos aéreos não tripulados e os seus foguetes literalmente abriram enormes buracos na estrutura de comando da Al Qaeda.
Segundo Benotman, as sua fontes confirmaram que um desses ataques aéreos matou o ideólogo da Al Qaeda, Attiyat Allah, no início deste mês. Essa foi uma perda da qual a organização terá dificuldade em se recuperar. O líbio era um dos poucos intelectuais dentre os membros graduados da Al Qaeda, e ele era extremamente influente. Attiyat Allah mediava frequentemente conflitos que eram importantes para os membros da Al Qaeda e os simpatizantes da rede terrorista.
O mensageiro de Bin Laden está morto
Um veículo aéreo não tripulado matou também Mohammed Uthman neste mês. Este indivíduo do Punjab era o mensageiro pessoal de Osama Bin Laden e provavelmente era uma das poucas pessoas que sabiam onde o líder da Al Qaeda estava escondido, observa Benotman. Não se sabe se os Estados Unidos sabiam quem eles estavam atacando nesta operação. Um ataque similar em maio deste ano matou Mustafa Abu al-Yazid, o comandante da Al Qaeda no Afeganistão, que tinha um cargo na organização terrorista equivalente ao de chefe de gabinete.
O número de baixas provocadas pela ação das aeronaves guiadas por controle remoto fez com que um grupo de membros de escalão secundário fosse alçado a postos de comando da Al Qaeda. Benotman chama isso de “evolução forçada”, um sinal de declínio da rede terrorista.
Mas a Al Qaeda ainda é capaz de recrutar vários combatentes experientes. Nos últimos meses, houve indicações crescentes de que a rede terrorista se reorganizou. No entanto, essa poderá ser a última chance da Al Qaeda: se esses homens morrerem, há apenas umas poucas pessoas bem conhecidas que poderiam ocupar os seus lugares. Mesmo assim, a Al Qaeda ainda se constitui em um grupo temível.
Um novo papel para a Brigada 313?
Segundo Benotman, as suas fontes dizem que Ilyas Kashmiri é uma das figuras mais importantes a ter ascendido aos escalões superiores da Al Qaeda. Kashmiri, nascido em 1964, é um especialista em combates de guerrilha que obteve a sua experiência como jihadista como jovem combatente na Caxemira, a disputada província de fronteira entre a Índia e o Paquistão. Atualmente, este homem de um olho só e barba tingida de ruivo é considerado o mentor intelectual de alguns dos mais mortíferos ataques terroristas já perpetrados na Índia e no Paquistão. Ele também atua como comandante da sigilosa Brigada 313, uma unidade que é às vezes descrita como o braço paquistanês da Al Qaeda, outras vezes como uma força especial de combate e ainda como uma unidade jihadista secreta que coopera com a Al Qaeda mas que não tem vínculos como as estruturas de comando da rede terrorista.
Benotman afirma que a Al Qaeda decidiu agora dar um papel mais importante à Brigada 313, encarregando-a do planejamento de operações fora do Afeganistão e do Paquistão, mais especificamente na Índia e em outros países do sudeste asiático, bem como na Europa.
Kashmiri é considerado um indivíduo brutal e com objetivos definidos. Da mesma forma que Saif al-Adel, ele pouco se importa com diferenças ideológicas e tem uma experiência considerável em cooperação com outros grupos militantes. No caso de Kashmiri, esses grupos incluem o Lashkar-i-Taiba (o grupo terrorista responsável pelos ataques em Bombaim, em 2008) e o Taleban Paquistanês (que ordenou o fracassado ataque a bomba em Nova York, em maio deste ano). “Eu não sou um clérigo jihadista tradicional que se envolve com propagandas e slogans”, declarou ele em uma entrevista em 2009. “Como comandante militar, eu diria que todo alvo está vinculado a momentos e motivos específicos”.
Promovendo o experiente número dois
Adnan al-Shukri Juma é uma outra figura que parece ter ascendido na hierarquia devido à perda de membros mais graduados da organização terrorista. Al-Shukri Juma morou muito tempo nos Estados Unidos. Ele é também considerado o mentor intelectual de um ataque fracassado contra o metrô de Nova York. Portanto, as autoridades norte-americanas nutrem uma desconfiança especial em relação a ele. É mais do que provável que Al-Shukri Juma esteja também no Waziristão. O blog “Jornal da Grande Guerra” o classifica de “comandante de operações da Al Qaeda para a América do Norte”, sugerindo que, embora Kashmiri ocupe uma posição secundária na hierarquia da rede, ele seja responsável por atividades de importância fundamental.
Al-Shukri Juma foi auxiliado no planejamento dos ataques a Nova York por um homem cujo papel pode ter sido também significativo: Embora Rashid Rauf pertença ao grupo paquistanês Jaish-i-Mohammed, ele é considerado atualmente uma das lideranças da Al Qaeda. Rashid Rauf é suspeito de envolvimento com os ataques frustrados contra uma aeronave de passageiros em 2006, em Londres.
Um outro membro dessa ramificação da Al Qaeda poderia ser Saad Bin Laden, o filho mais velho do líder da Al Qaeda, que teria ido do Irã para o Waziristão a fim de poder estar ao lado do pai.
É difícil dizer qual será o efeito real dessa reestruturação. A pressão sobre a Al Qaeda e outras organizações similares aumentou, os ataques com veículos aéreos não tripulados estão se tornando cada vez mais frequentes e os terroristas têm pouco espaço de manobra e contam com recursos limitados. Entretanto, não existe uma carência grave de recrutas – alguns deles ocidentais –, e agências de inteligência de todo o mundo estão convencidas de que esses indivíduos estão mais do que dispostos a tentar um outro ataque espetacular contra o Ocidente.
Os analistas acreditam que a probabilidade de sucesso de um ataque desse tipo depende em grande parte de dois fatores: da qualidade do treinamento que os assassinos receberiam, e da cooperação entre diferentes grupos com o objetivo de maximizar os seus recursos. Em tese, Saif al-Adel e Ilyas Kashmiri estão perfeitamente preparados para implementar ambos os fatores. Na prática, porém, o céu do Waziristão do Norte está tomado pelo zumbido constante dos motores dos veículos aéreos não tripulados.
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