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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Lembranças da Segunda Guerra Mundial e uma conexão instantânea

Benjamin Klein em Wesel, na Alemanha, em abril de 1945
Pouco antes da cirurgia de coração aberto de Benjamin Klein, seu cirurgião lhe disse para que não tivesse medo. Klein, que tem 90 anos, ridicularizou.

“Ele disse: ‘Não há nada que você possa fazer que eu não possa superar – eu estive na Normandia’”, lembrou o cirurgião, o dr. Leonard Girardi.

Isso poderia parecer um exagero para alguns civis, mas não para o homem no leito ao lado, Victor Allegretti, 86 anos, que posteriormente ouviu Klein contar aos funcionários do hospital sobre seu serviço na guerra.

“Meus ouvidos ficaram em pé”, disse Allegretti, que se interessou porque ele também lutou na Normandia durante a Segunda Guerra Mundial.

Os dois soldados começaram a conversar e perceberam que tinham mais em comum do que isso. Ambos integravam a 82ª Divisão Aerotransportada do Exército americano e ambos voaram – com intervalo de várias horas– em planadores naquela batalha do Dia D, em 6 de junho de 1944.

Aqueles frágeis planadores eram cruciais para o sucesso das forças de invasão na Praia de Utah. Eles eram rebocados por avião da Inglaterra, sobrevoando as praias da Normandia, e soltos sob fogo inimigo pesado para deslizar perigosamente sobre os campos manchados de sangue e ingressar nos combates ferozes daquela batalha histórica.

Assim os caminhos de dois soldados que invadiram a Normandia, há 65 anos, se cruzaram por acaso em uma sala de pré-operatório do NewYork-Presbyterian Hospital/Weill Cornell Medical Center, em Manhattan, aguardando outra situação intimidante: uma cirurgia de coração aberto, que pode ser particularmente arriscada para idosos.

Naquela sala, eles compartilharam lembranças do Dia D e perceberam que “podíamos ter estado literalmente a menos de uma milha um do outro”, disse Klein.

Allegretti chamou aquilo de “uma chance em um milhão” de encontrar outro homem de planador do Dia D tantos anos depois.

“E ele pilotava um planador”, Allegretti se maravilhou. “Eu senti como se ele fosse o piloto que me levou naquele dia.”

Ao se encontrarem pela primeira vez na semana passada, eles criaram uma ligação imediata, tendo ambos enfrentado algumas das batalhas mais sangrentas da história militar.

“Surgiu uma camaradagem instantânea”, disse Allegretti. “Eu segurei a mão dele.”

Os dois homens começaram a conversar e se viram instantaneamente transportados para a Normandia, onde foram designados para a aeronave leve, sem motor, que era rebocada até além das linhas inimigas para levar tropas, equipamento e munição. Eles viram combates pesados naquele dia e receberam medalhas: uma Estrela de Bronze para Klein e o Coração Púrpura para Allegretti, que foi baleado no joelho.

Eles permaneceram acordados até tarde da noite antes da cirurgia, compartilhando lembranças e, OK, talvez exercitando alguns poucos nervos testados em batalha. Na manhã seguinte, 24 de setembro, eles entraram em cirurgia ao mesmo tempo em salas adjacentes. Cada um foi conectado e equipamentos e cada um recebeu um a válvula substituta com exatamente 23 milímetros de diâmetro. A de Allegretti foi retirada de um coração de porco, a de Klein de uma vaca.

“Eu fiquei pasmo” com o encontro por acaso, disse Klein. Ele estava sentado em seu quarto, com seu monitor cardíaco bipando em um tela acima da cama. “O simples fato de estarmos lá juntos, aquele foi o elo.”

Klein disse que sentiu que Allegretti estava levemente nervoso a respeito do procedimento. “Eu apenas disse: ‘Se você quiser conversar, sou todo ouvidos’”, ele disse. “Há uma camaradagem que você nunca perde. Você dá sua vida pela do próximo. Assim qualquer ajuda que eu pudesse dar a ele, eu daria. É uma regra não escrita.”

Na quinta-feira, eles se recuperavam no hospital em quartos próximos, com pontos quase idênticos no peito.

Klein era um de seis filhos, Allegretti um de cinco. Ambos cresceram um pouco ao norte de Nova York: Allegretti em Harrison, em Westchester County, Klein em Woodbridge, Nova York.

Ambos serviram no Exército de 1943 a 1945 e se casaram com suas namoradas locais logo depois. Allegretti passou sua vida como trabalhador de construção, especializado em telhados e instalação de paredes de gesso. Klein ganhou a vida como atacadista de joias, especializado em pérolas.

Essas vidas ficaram de lado enquanto conversavam na semana passada. Eles conversavam sobre a guerra e planadores, que eram aeronaves frágeis, feitas com estruturas de tubos de aço e lonas, com revestimentos e assoalhos de compensados de madeira. Eles carregavam tropas e várias toneladas de equipamento, e eram úteis para lançá-los além das linhas inimigas.

Eles eram rebocados por aviões maiores e, assim que eram soltos, tinham apenas momentos para serem levados pelos ventos sem caírem. Os homens nos planadores geralmente não usavam pára-quedas e tinham apenas instantes para encontrar um lugar seguro de pouso. Isso era difícil nas terras agrícolas da Normandia, com seus campos margeados por árvores e suas cercas vivas altas.

Ambos realizaram pousos difíceis no Dia D. Allegretti foi lançado por volta das 2 horas da manhã em um planador Waco CG-4A. Ele e sua equipe atiravam com uma pesada arma antitanque, mirando os tanques alemães que seguiam para a Ponte Fiere.

Klein voou horas depois em um grande planador Horsa britânico, carregado com 10 toneladas de equipamento – dois jipes e sete homens – que era rebocado por um C-47. Eles deixaram o campo militar de Aldermaston na Inglaterra e sobrevoaram o Canal da Mancha e a Praia de Utah, no flanco direito do ataque.

Assim que foram soltos do cabo, talvez tenha sido uma descida de 300 metros em 90 segundos até o chão, em um campo perto de St. Marie du Mont. Havia cercas vivas altas e eles caíram no maior espaço que encontraram. O planador saiu de controle e se chocou contra uma árvore, que ele disse ter despedaçado a asa direita e cortado a aeronave frágil até poucos centímetros de seu rosto.

“Foi um pandemônio, disparos de todas as direções”, ele disse. A regra era fugir das rajadas das metralhadoras Schmeisser alemãs, e correr na direção dos disparos mais lacônicos das metralhadoras do Exército.

Que fique registrado que não ocorreu nervosismo pré-cirurgia, disse Klein, que atualmente vive em Middletown, Nova York.

“Após conseguir sair da Segunda Guerra Mundial”, ele disse, “eu não tenho medo de nada e não me impressiono com nada”.

Girardi considera essa uma característica de todos os veteranos da Segunda Guerra Mundial que ele já operou.

“Todos eles têm essa postura”, disse Girardi, que juntamente com o dr. Karl H. Krieger, que operou Allegretti, trabalha para o Instituto do Coração Ronald O. Perelman do hospital. O instituto é especializado em cirurgia para pacientes idosos.

Para Klein, a ligação entre os dois homens se resumia a uma coisa.

“Nós estivemos lá”, disse Klein. “Nós estivemos lá.”

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