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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Autoridades brasileiras querem reconquistar as zonas fora-da-lei, como o Morro Santa Marta

Thiago Firmino ainda não consegue acreditar! Ver meninos jogando futebol com um policial militar uniformizado no gol... Aqui, no ponto mais alto de sua favela, a Santa Marta, na "zona sul" do Rio de Janeiro, sob os braços do Cristo Redentor, onde há dois anos se travavam furiosos combates entre "tiras" e bandidos. Os muros próximos, esburacados por armas pesadas, ainda dão testemunho disso. Aquele canto era chamado de "Vietnã". Thiago, 29 anos, alto, postura atlética, nativo do lugar, fala de seu filho Gabriel, que, ele espera, não ouvirá mais os silvos de balas a não ser nos videogames. Ele se lembra das crianças que voltavam da escola e eram revistadas pela polícia na entrada da favela. E dos meninos que os malfeitores obrigavam a empinar seus papagaios para avisá-los do perigo.

Santa Marta surgiu nos anos 1940. Setenta anos depois, é a primeira favela livre dos bandos armados. Em uma manhã de novembro de 2008, o Bope - batalhão de choque da polícia militar - a conquistou durante uma batalha renhida. Uma operação preparada durante oito meses de trabalho de informações: escutas telefônicas, identificação dos traficantes, localização das "bocas de fumo" (os pontos de venda de drogas).

Em 2008 foi feita a maior apreensão já realizada no Rio: uma tonelada de maconha e dezenas de fuzis. Um mês depois, uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) se instalou no Santa Marta "limpo": 123 homens e mulheres comandados pela capitã (hoje major) Priscilla Azevedo, 32 anos, que se tornou a mais famosa policial feminina do Brasil. Eles ocupam quatro postos fixos, cujo QG, no topo, é um grande prédio de onde se tem uma vista sublime da cidade.

As UPP são jovens, bem formadas, pagas corretamente. Uma polícia de proximidade cuja missão é "ajudar" os 9 mil habitantes da favela. Em 21 meses eles não deram um único tiro. Os corredores e as escadas do QG estão cheios de crianças. Um policial judoca ensina golpes para cerca de dez alunos. Também dão aulas de guitarra e violão.

Thiago é um animador cultural dinâmico e dedicado. Ele conhece sua favela como ninguém, até as estreitas vielas onde duas pessoas não podem se cruzar, algumas das quais foram batizadas de "avenidas", por zombaria, ou "rua da Paciência" ou "beco dos Prazeres" por humor. Ele desce com frequência os 788 degraus, os quais não é mais preciso subir desde a abertura para a população de um "bondinho" (funicular) em maio de 2008.

No topo ele cruza com Manoel Isidoro Ferreira, o mais antigo residente do Santa Marta: 78 anos, 56 dos quais passados no morro. Chegou jovem do nordeste, depois de uma semana de ônibus, e ajudou a construir a capela e a caixa d'água. Visivelmente feliz por ver o Santa Marta tornar-se uma comunidade "normal", livre do núcleo duro dos traficantes - os outros foram esquecidos -, Thiago se felicita por esse renascimento coletivo. Ele aprecia moderadamente as câmeras de segurança instaladas nas ruas e detesta o muro pretensamente ecológico, levantado pela prefeitura para conter a expansão da favela.

Mas orgulha-se de quase todo o resto. As antenas que captam o Wi-Fi gratuito; a iluminação pública, mesmo que agora seja preciso pagar contas de eletricidade; a rádio comunitária; o centro cultural, em vias de acabamento; as cerca de 40 fachadas pintadas em cores vivas com a ajuda de dois artistas holandeses; e os cerca de 50 bares e lanchonetes, as salas de bilhar, as mesas de pingue-pongue, a escola de samba, a quitanda, instalada ao lado de um buraco chamado de "QG" na época do tráfico. Thiago lembra: "Na época havia até 30 traficantes armados que atendiam aos clientes".

Seu lugar preferido é o Terraço Michael Jackson, no meio da encosta - uma laje de concreto onde o ídolo, que desembarcou de um helicóptero, gravou o clipe "They don't care about us" depois de negociar com o chefe dos bandidos na época. Uma lembrança de adolescente, cuja data ele sabe de cor: 11 de fevereiro de 1996. Uma estátua de bronze dourado e um retrato no muro comemoram o acontecimento.

O Santa Marta torna-se um destino turístico. Na entrada, jovens funcionárias do Estado do Rio distribuem rosas brancas e mapas do morro. Algumas agências organizam visitas personalizadas. "Queremos ajudar a conhecer a favela e seus moradores", afirma Gabriel Leveau, um brasileiro, guia da Top Tours. Thiago não gosta que se apresente o Santa Marta como uma favela modelo. Ainda há tanta pobreza e tantos problemas em todos os campos: saneamento, higiene, educação, saúde, cultura.

Ele deseja principalmente que os habitantes façam ouvir suas vozes para que sejam os principais beneficiários da volta da segurança. As autoridades estaduais não estão extremamente preocupadas. Dez favelas foram "pacificadas" até hoje por 2 mil policiais. Dez entre mil.

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