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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Moscou inicia um retorno ao Afeganistão e reforça seu papel na Ásia Central

Da esquerda para a direita: o presidente do Tadjiquistão, Emomali Rahmon;
Hamid Karzai, presidente do Afeganistão; o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari e o residente russo Dmitri Medvedev, em encontro na Rússia

Preocupado em reforçar o peso da Rússia na Ásia Central, o presidente Dmitri Medvedev recebeu, na quarta-feira (18), em sua residência de Sochi, à beira do Mar Negro, os presidentes do Afeganistão, Hamid Karzai, e do Paquistão, Asif Ali Zardari.

“Nós apoiamos a luta do governo afegão contra o terrorismo e estamos prontos para ajudar”, declarou Medvedev, recebendo seus convidados, entre os quais também se encontrava Emomali Rakhmonov, presidente do Tadjiquistão, ex-república soviética da Ásia Central, vizinha do Afeganistão.

Claramente, o encontro estava centrado no Afeganistão e na luta contra os talebans. O presidente paquistanês, cuja presença em Sochi ocorreu após um exaltado diálogo diplomático em julho com seu colega afegão, manifestou seu apoio a Cabul. “Nós devemos apoiar o povo afegão”, declarou. Em julho, Karzai criou uma saia justa ao acusar seu vizinho de abrigar “refúgios terroristas”. Em Sochi, os dois homens se falaram, mas nada vazou de sua conversa.

Com essa cúpula, a segunda desse tipo, Moscou quer reforçar seu papel na região. Acima de tudo, a ideia é trabalhar para a “estabilização do Afeganistão”. A Rússia está preocupada com uma contaminação da guerra afegã na zona centroasiática, e ainda mais com o tráfico de entorpecentes. O Afeganistão produz 90% da heroína consumida no mundo e o grosso dessa produção é escoada para a Ásia Central e para a Rússia, onde o índice de toxicômanos contaminados pelo vírus da Aids atingiu ápices. “É um problema comum a nós, um problema que atinge todos os Estados da região”, declarou Dmitri Medvedev a seu colega Hamid Karzai.

Na quarta-feira, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, afirmou que a Rússia estava em negociações para a venda de vinte helicópteros Mi-26 ao Afeganistão, dentro de uma licitação. Moscou também propõe armar e formar gratuitamente 200 policiais afegãos durante esse ano.

A grande novidade é que a parte russa considera restaurar 140 instalações (estradas, pontes, usinas, sistemas de irrigação) construídas na época soviética, um contrato de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 1,76 bilhão).

Se a proposta for aceita, engenheiros russos poderão voltar para o Afeganistão pela primeira vez desde a saída do contingente soviético em 1989, após dez anos de guerra e 13.500 mortos.

Marcada por esse episódio, a Rússia está convencida de que seus erros poderiam servir de lição aos ocidentais. “Nossa experiência pode ser útil, com certeza. Na época, não havíamos considerado a dos britânicos. E a coalizão internacional, por sua vez, ignora a nossa”, lamenta o general Ruslan Aushev, 55.

Moscou, que não esqueceu sua humilhante retirada, quer cooperar, mas descarta um envio de tropas para apoiar a coalizão dirigida pelos Estados Unidos. Até aqui, o apoio russo havia se limitado a uma cooperação para o trânsito por via férrea ou por voos aéreos de suprimentos destinados às forças trabalhando no Afeganistão.

A Rússia, o Paquistão e o Tadjiquistão se comprometeram a apoiar juntos projetos de reconstrução de infraestrutura no Afeganistão. A prioridade deverá ser dada às obras do túnel rodoviário de Salang, que liga o norte ao sul do Afeganistão, bem como a projetos de petróleo e gás no norte do país, segundo o comunicado comum.

Além disso, Moscou gostaria de reforçar o papel de duas organizações militares, a Organização de Cooperação de Xangai (OCS), uma associação regional de combate contra o terrorismo, e a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (ODKB), uma espécie de Otan dos Estados do antigo bloco soviético. Para o Kremlin, essas duas alianças, nas quais a Rússia tem um importante papel, devem estar mais envolvidas.

Motivada por considerações securitárias e geopolíticas, a Rússia também está interessada nos dividendos econômicos que ela poderia retirar dessa cooperação. Com o PIB russo tendo sofrido uma retração de 8% em 2009, novos contratos podem ser buscados no Afeganistão, cujo potencial minerador é descrito como promissor.

Em rivalidade com Moscou pela exploração dos recursos naturais da ex-região soviética da Ásia Central, a China já deu o primeiro passo. Pequim recentemente decidiu investir US$ 3 bilhões em uma mina de cobre no sul de Cabul.

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