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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Atacar "raízes" do estupro é a missão de especialista contratado pela Força Aérea dos EUA

Steubenville. Academia Naval. Universidade Vanderbilt. As histórias de homens jovens que atacam sexualmente mulheres jovens parecem nunca acabar, apesar de toda a educação que tivemos e de todo o progresso que supostamente fizemos, e há momentos em que eu me vejo questionando sombriamente se há algum traço predatório impossível de ser erradicado nos machos da nossa espécie.

Errado, disse-me Chris Kilmartin. Não é o DNA que estamos enfrentando; são os filmes, a educação e um conjunto de costumes, amplificados nos mundos das forças armadas e dos esportes, que atribuem papéis e valores diferentes para homens e mulheres. Se corrigirmos essa cultura, poderemos manter as mulheres muito mais seguras.

Procurei Kilmartin, professor de psicologia e autor do livro "The Self Masculine" ["O Self Masculino"], depois de saber que os militares o estão procurando com frequência. Agora ele está no Colorado, na Academia da Força Aérea, que o contratou por um ano para dar aulas no Departamento de Ciências Comportamentais e aconselhar a escola na prevenção da violência sexual.

Ele já trabalhou num currículo para a Academia Naval com esse objetivo e ajudou a escrever um filme de treinamento para o Exército. Num momento de preocupação crescente com o estupro e crimes relacionados nas forças armadas, ele está sendo recebido como alguém que tem boas ideias sobre o problema.

Suas raízes mais profundas, segundo ele, são o culto à hiper-masculinidade, que diz aos meninos que a agressão é natural e a conquista sexual é invejável, e um conjunto de leis e linguagem que coloca as mulheres como inferiores, dóceis, até mesmo descartáveis.

"Nós começamos como meninos numa idade muito precoce", Kilmartin disse durante uma recente conversa por telefone. "Quando a pior coisa a dizer a um menino no esporte é que ele joga 'como uma menina', ensinamos os meninos a desrespeitar o feminino e a desrespeitar as mulheres. Essa é a corrente cultural do estupro."

Meninos veem as mulheres transformadas em objetos no entretenimento popular e manipuladas como bonecas de pano na pornografia. Eles encontram menos mulheres do que homens em posições de liderança. Eles ouvem os políticos defenderem uma lei como o projeto anti-aborto da Virgínia, que exigiria das mulheres que quisessem encerrar a gestação que se submetessem a um invasivo ultrassom vaginal.

"Antes de fazer uma escolha reprodutiva, você será obrigada a passar por um procedimento em que alguém a penetra com um objeto", disse ele. "Isso é muito paternalista: nós sabemos o que é certo, você não está no controle de seu próprio corpo."

Ele observou que as discussões sobre violência doméstica incluem com mais frequência a questão de por que a mulher agredida ficou em casa do que a questão de por que o homem atacou, como se o ataque devesse ser esperado. Os homens são homens brutos, assim como os meninos são meninos fortes.

Se as observações de Kilmartin podem parecer em alguns momentos trechos sem humor de um livro sobre o politicamente correto, não é isso que ele transmite. Ele é solto, engraçado. Na verdade, ele tem como hobby se apresentar como humorista de stand-up. Não é uma piada.

E ele tem um repertório de piadas mais certeiras. Ele cita a Universidade de Iowa, que há décadas pinta o vestiário usado pelos times adversários de rosa para colocá-los "num clima passivo", com uma "cor efeminada", nas palavras de um ex-técnico de futebol, Hayden Fry.

Ele menciona o uso bizarro do termo "escândalos sexuais" para incidentes como o de Tailhook, décadas atrás, e as acusações recentes de que Bob Filner, prefeito de San Diego, passava a mão nas mulheres ao seu redor, entre outros delitos.

"São escândalos de violência", disse ele. "Se eu bater na sua cabeça com uma frigideira, não chamo isso de cozinhar."

As forças armadas são um desafio especial porque elas se resumem à agressão, evocar e cultivar Átila, o Huno, e depois pedir para que ele também seja um lorde e poeta inglês.

Mas Kilmartin disse que essa tensão tem solução se os homens forem condicionados a mostrar o mesmo autocontrole, em relação às mulheres, que eles demonstram, com sucesso, ao seguir inúmeros regulamentos militares; se eles forem incentivados a denunciar comportamentos sexistas; e se, acima de tudo, os comandantes monitorarem sua própria conduta, jamais sinalizando que as mulheres são cidadãs de segunda classe.

A integração das mulheres em tarefas de combate vai ajudar, reforçando a posição das mulheres e alterando o clima de desigualdade, diz Kilmartin.

Mas ele e o resto de nós recebemos tradições fortificadas e mentalidades calcificadas, e isso é evidente na matrícula para as duas matérias de Perspectivas Interdisciplinares sobre Homens e Masculinidade que ele começou a ministrar na sexta-feira. Embora as cadetes mulheres sejam cerca de 20% da Academia da Força Aérea, elas representam mais da metade dos alunos que se inscreveram para o curso de Kilmartin, disse ele.

Ele disse que uma delas, na primeira aula do curso, contou que alguém da escola de voo havia dito a ela que as mulheres não devem pilotar em aviões.

"Ah, então os homens pilotam o avião com o pênis?", Kilmartin perguntou à classe.

Um dos cadetes homens respondeu: "Parece que o senhor está lançando um desafio, senhor."

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