Margaret Thatcher |
A ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher nasceu e foi criada na cidade inglesa de Grantham. A câmara municipal local faz pouca coisa para se lembrar de sua filha famosa, apesar de a cidade ter recebido a oferta de uma estátua da Dama de Ferro, que atualmente está juntando poeira em um porão de Londres.
"O fotógrafo está esperando", diz Ray Wootten enquanto abre a porta de seu carro. "Fotógrafo?", eu pergunto, perplexo. Estou em Grantham, Lincolnshire, para explorar a cidade natal da primeira – e única – premiê do sexo feminino da Grã-Bretanha. Mas antes que eu possa começar, sou enredado em uma campanha local liderada por Ray Wootten, ex-prefeito de Grantham. Ele quer erigir uma estátua de Thatcher no centro da cidade, e aproveita todas as oportunidades para promover sua causa. "O jornal local quer escrever um artigo sobre a sua visita", ele me diz.
Poucos minutos depois, estamos no gabinete do prefeito, dentro do prédio de arquitetura vitoriana e neogótica da prefeitura. Os fotógrafos nos pedem um aperto de mão para uma foto. Atrás de nós há uma parede cheia de retratos de ex-prefeitos de Grantham, além do retrato da filha mais famosa da cidade, Margaret Thatcher. Um repórter do Jornal Grantham está esperando no prédio ao lado, no Museu Grantham. Ele quer saber como Thatcher é vista na Alemanha.
A maneira como ela é vista localmente talvez seja mais importante. Aqui em Grantham, município que abriga 35 mil habitantes, há poucos vestígios da política famosa. Thatcher pode ter moldado a Grã-Bretanha moderna, mas "o povo Grantham nunca teve orgulho dela", diz sua ex-colega de colégio, Christine Mary Cooper, de 90 anos. "Eles apontam para todos os erros que ela cometeu. Eu sempre tenho que defendê-la".
Margaret Hilda Roberts nasceu em North Parade, onde seu pai, Alfred Roberts, era dono de uma mercearia. Hoje, sua antiga casa abriga uma clínica de quiropraxia e um retiro holístico. A única lembrança de sua antiga e estimada moradora é uma placa na parede, que identifica a casa como o local de nascimento da "Ilustre Margaret Thatcher". No centro médico, eles reagem com desagrado diante dos turistas que querem ver o quarto da infância da Dama de Ferro. Hoje, o cômodo é usado para massagens terapêuticas.
Não há muito mais a ser descoberto no Museu Grantham. Apenas um armário é dedicado à vida e à era de Margaret Thatcher. Entre os itens expostos está um par de sapatos de salto azuis, que datam de 1985, aproximadamente, e uma autobiografia assinada com uma inscrição manuscrita: "Aprendi muito nessa cidade e me orgulho de ser uma de suas cidadãs". E, claro, uma bolsa.
Thatcher nunca foi vista sem uma, e seu hábito de bater a bolsa na mesa ficou famoso – costume que legou ao mundo o termo "handbagging" (que significa atacar verbalmente ou subjugar uma pessoa ou ideia impiedosamente e com força). A ex-primeira-ministra provavelmente nunca usou a bolsa que está exposta para atacar ou subjugar ninguém, pois ela é feita de crepe.
Uma figura impopular
Como eleitor do Partido Conservador que é, Wootten acredita firmemente que Thatcher merece mais reconhecimento local. Conhecida como "a filha do dono da mercearia de Grantham", ela viveu aqui até deixar a cidade para estudar química na Universidade de Oxford. Wootten, que é membro da câmara da cidade, quer ver Grantham erigir uma estátua grandiosa para Thatcher na praça do mercado.
cidade já conta com uma estátua do físico Isaac Newton, que estudou em Grantham. Mas o plano de Wootten encontrou resistência até mesmo por parte de membros do Partido Conservador da câmara da cidade. A maioria dos moradores não gosta muito da ex-primeira-ministra, diz Wooten.
A estátua em questão já existe. A Câmara dos Comuns quer entregar a Grantham uma escultura de 2,5 m de altura, feita em mármore, que atualmente está armazenada em Londres.
Mas o conselho da cidade está preocupado com as possíveis despesas. "O mármore branco pode nos causar problemas", diz Jayne Robb, diretora do Museu de Grantham. "Se nós colocássemos a estátua em um lugar público, teríamos que pintá-la todos os dias".
Com suas superfícies brancas, ressalta ela, o monumento seria um convite aos vândalos – e certamente há muita gente em Grantham que odeia Thatcher, o que transformaria a exibição pública da estátua em um problema potencial. Robb preferiria que a estátua fosse colocada no átrio do museu – embora mesmo nesse local a estátua tivesse que ser vigiada.
Todo o cuidado de Robb não é desmedido. A estátua de mármore já foi vandalizada no passado. Ela foi inaugurada em maio de 2002 pela própria Thatcher, na Galeria de Arte Guildhall, em Londres, e sobreviveu apenas dois meses antes de um produtor de teatro decapitá-la com um cano de metal. O produtor disse posteriormente que a estátua ficava melhor sem cabeça. Hoje a cabeça já está de volta em seu lugar, mas a estátua ficou sem-teto desde então.
"A estátua será colocada aqui", disse Robb. "Quando Thatcher morrer, haverá o clamor por uma estátua". Primeira-ministra de 1979 a 1990, a Baronesa Thatcher tem hoje 87 anos e leva uma vida reclusa em Londres. Ela sofre de demência e é internada com frequência.
"Quando ela morrer, o interesse em Grantham será enorme", diz Robb. A diretora do museu já está planejando uma grande exposição. "Temos muitos objetos de Thatcher armazenados", diz ela, mas o museu não tem recursos para montar uma exposição e exibi-la. No entanto, Robb lançou recentemente um projeto de história oral, no qual as pessoas que conheceram Thatcher podem gravar suas memórias. Ela também começou a estocar souvenires de Thatcher na loja do museu.
"Nós não queremos um santuário", diz Robb. "Mas queremos despolitizá-la e apresentá-la como uma figura local". No momento, esta pioneira britânica do neoliberalismo continua polarizando opiniões. As pessoas a amam ou a odeiam. Na opinião de Jayne Robb, o trabalho do museu é simplesmente mostrar a vida e a era de Thatcher da forma mais objetiva possível.
"Nós temos Newton e temos Thatcher. Precisamos promover os dois", diz ela.
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