O líder do grupo rebelde M23, o brigadeiro-general Sultani Makenga (sentado) |
Depois de se retirar da capital provincial de Goma na segunda-feira (3), o grupo rebelde M23 deveria se reunir para negociações com autoridades congolesas em Uganda na sexta (7). Apesar de terem desfrutado uma rara semana de paz, os moradores do leste do Congo estão temerosos do que poderá acontecer se as negociações fracassarem.
Sentado no bem cuidado jardim do Hotel Caritas, o oficial rebelde Amani Kabasha estava de bom humor, desfrutando sua vitória contra o exército congolês. "Só no porto de Goma, 500 toneladas de equipamento militar estão agora em nossas mãos", gabou-se o homem do grupo rebelde conhecido como M23. "Agora temos mísseis, muita munição, até um tanque." Kabasha deixou seu olhar percorrer o terreno do hotel, que seus homens controlam desde que tomaram a cidade de Goma, e depois seguir para longe, na direção do lago Kivu e das montanhas Virunga.
Os membros destacados do M23, sob o coronel Sultani Makenga, montaram residência nesse paraíso depois de capturar Goma em 20 de novembro. A ONU se referiu a Makenga e aos outros comandantes do grupo como "assassinos notórios". Em 3 de dezembro esses rebeldes na República Democrática do Congo recuaram de Goma, levando seus espólios para as montanhas circundantes e marchando para o norte. Eles fizeram isso sob a condição de que o governo do Congo negociasse com eles, mas teriam recuado para posições a apenas 3 quilômetros da capital da província, em vez dos 20 quilômetros que haviam acordado.
Lá eles podem esperar para ver que concessões o presidente Joseph Kabila, na distante capital, Kinshasa, está disposto a fazer para restaurar a paz na parte leste do país, rica em minérios. Os rebeldes ainda não sabem exatamente como o conflito poderá continuar, mas suas exigências são claras: eles querem dinheiro, e querem terra.
As negociações entre o M23 e o governo congolês estavam marcadas para começar em Kampala, a capital de Uganda, na sexta-feira (7). No entanto, o presidente do M23, Jean-Marie Runiga, disse à AFP na sexta-feira que eram esperados atrasos e que na verdade as negociações poderiam começar no domingo (9).
Um pesadelo confuso
"Mais de 200 mil tutsis tiveram de fugir da violência no Congo e agora vivem em acampamentos em Ruanda, Uganda e Tanzânia", alegou Kabasha. Ninguém pode verificar esse número. O oficial afirmou que os campos existem e que os tutsis de lá "querem retornar ao Congo - é por isso que estamos lutando". O objetivo é ganhar mais terra a oeste, principalmente em benefício dos tutsis que hoje vivem na densamente povoada Ruanda.
A República Democrática do Congo cobre uma área enorme, comparada com seu pequeno vizinho a oeste, Ruanda, que esteve sob o firme controle de Paul Kagame, um tutsi, desde 1994. A guerra arrasa a parte leste do Congo há cerca de 15 anos. Milícias tutsis percorrem a área procurando recursos naturais e milícias inimigas hutus. Os inimigos das milícias tutsis incluem membros do exército desmoralizado do governo e vários grupos de milícias mai-mais.
O Congo pode ser um pesadelo confuso. O país é tão grande quanto a Europa ocidental, mas abriga apenas 70 milhões de pessoas, que por sua vez pertencem a 400 grupos étnicos e falam quase o mesmo número de línguas diferentes. As pessoas aqui lutam por suas vidas, e as alianças mudam tão rapidamente quanto os nomes das milícias. O M23, por exemplo, antes pertenceu a um grupo rebelde dirigido pelo general Laurent Nkunda, então se tornou parte do exército congolês, mas agora está novamente lutando contra o exército.
Na maioria dos casos, porém, as linhas divisórias jogam os hutus contra os tutsis. E em tudo isso há uma constante: as pessoas que mais sofrem são os civis, que muitas vezes nem sequer sabem quem está atacando quem.
Crianças soldados
A 300 quilômetros ao norte de Goma, longos comboios militares atravessam ruidosamente Beni. A pequena cidade comercial é importante para o exército congolês porque os caminhões que transportam o rico suprimento de recursos naturais do país - ouro, diamantes, columbita-tantalita. cassiterita, níquel, cobre e madeiras tropicais - passam por aqui a caminho das montanhas Rwenzori e depois Uganda.
Para Elvis Sikiline, um morador de Beni de 17 anos, parecia que a guerra o havia encontrado de novo. Há um ano, Sikiline participou de um programa dirigido pela organização World Vision que ajuda crianças que já foram soldados. Juntamente com Jonathan Kibondo, outro ex-menino-soldado, Sikiline dirige uma pequena carpintaria, onde os dois jovens constroem camas e mesas. Agora Sikiline está consumido pelo medo de que as milícias voltem, o sequestrem e o obriguem a lutar de novo - como fizeram sete anos atrás.
Sikiline tinha apenas 10 anos na época, vendia amendoim em um pequeno cinema na cidade de Butembo. "Certa noite, homens armados o invadiram e levaram todas as crianças", ele disse. Junto com outros 20 meninos, Sikiline foi atirado na carroceria de um caminhão e levado para a floresta.
"Soubemos que estávamos sob o controle de uma milícia mai-mai que lutava contra os tutsis", disse Sikiline. "Depois de uma semana tivemos de tomar uma decisão: se nos uníssemos aos combatentes eles mais tarde nos libertariam". Dois meninos recusaram e foram mortos na frente dos outros: um enforcado e o outro a tiros. Então o grupo seguiu a marcha com seus novos recrutas.
Nos três meses seguintes os meninos aprenderam a disparar rifles de assalto e foguetes antitanques. Então já eram membros plenos da milícia, 19 crianças em guerra. Elas viajaram através da floresta, atacaram aldeias, roubaram gado e estupraram mulheres. Antes de cada batalha, membros da milícia esfregavam em sua pele plantas que supostamente os tornariam invulneráveis, ou os meninos bebiam uma poção amarga que serviria para melhorar sua mira.
Às vezes eles lutavam contra o governo e às vezes a favor dele, mas quase sempre contra os odiados tutsis. "Eu matei muitos tutsis", disse Sikiline - tutsis como os que formam a maioria do M23. À noite o menino era perseguido por pesadelos. Ele pensava em seu pai, um soldado do exército do governo. Talvez ele tivesse sido obrigado a lutar contra seu próprio pai? "Nós bebíamos muita cerveja e fumávamos maconha para afastar esses pensamentos", ele disse.
Jonathan Kibondo, o amigo de Elvis Sikiline, se uniu voluntariamente aos mai-mais quando tinha 10 anos. Seu pai havia morrido pouco antes, o que "tornava a vida difícil", ele disse. Por isso, um dia o menino embalou algumas roupas e partiu para se juntar à milícia. Sua história não é incomum no Congo, onde os líderes mai-mais prometem a seus combatentes comida, dinheiro, armas e aventura. Muitas famílias enviam voluntariamente seus filhos para unir-se a esses bandos, que em troca prometem um pouco de proteção na guerra interminável.
O principal trabalho de Kibondo era cozinhar para os combatentes, mas ele também lutava. Essa experiência confusa e terrível durou seis anos. Um dia, enviado para buscar água em um rio, ele simplesmente fugiu. Conseguiu voltar a sua cidade encontrou a casa de sua mãe. Ela pensava que ele tivesse morrido. Na semana passada os dois rezavam para que a guerra os poupasse desta vez.
Que se sentem e resolvam entre suas diferenças ideológicas. P o próprio bem deles, ou às potencias hodiernas vão voltar a dominar eles e seus bens...Parecem semitas, só sabem se matar.sds.
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