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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Le Monde: No segundo mandato, Barack Obama terá de lidar com a provável ascensão iraniana no campo nuclear

Da esquerda para direita: Michele Obama, Barack Obama, Joe Biden (vice-presidente dos EUA) e Jill Tracy Biden

A questão está no topo da pilha de assuntos urgentes na escrivaninha do presidente. É a prioridade do Pentágono, do Departamento de Estado e da CIA. É uma batata quente política, um quebra-cabeça diplomático e um pesadelo estratégico. Vem com os carimbos “perigo”, “explosivo” – e pode ser a fonte de uma nova guerra no Oriente Médio. Seu nome: Irã.

A perspectiva de ver a República Islâmica se tornar uma potência nuclear militar assombra as margens do rio Potomac. A questão é complexa, uma partida de xadrez com três protagonistas: os Estados Unidos, um dos países mais próximos deles, Israel, e um outro, que é o mais hostil a eles, o Irã.

Nessa questão, não há certezas. Nem de que o amigo, que tem suas próprias preocupações, será muito colaborativo; nem que o inimigo, contanto que não seja desmoralizado, não esteja disposto a algum tipo de acordo. Em torno da mesa há bons especialistas em armadilhas. E, para acrescentar um pouco de charme à história, ainda se observa o seguinte: os israelenses não parecem entrar em um acordo entre si, tampouco os iranianos.

A campanha nos Estados Unidos na verdade endureceu as posições de Washington, pelo menos as que se publicam. Barack Obama defendeu a mesma linha que Romney. Os dois concordavam com a mesma fórmula. Os Estados Unidos afirmam que não permitirão que o Irã se muna da bomba nuclear.

Eles veem ali a porta aberta para uma onda de proliferação que transformaria o Oriente Médio em arsenal nuclear. Estão convencidos de que os países árabes, assim como a Turquia, não deixarão o monopólio da arma suprema à República Islâmica. Um Oriente Médio de três ou quatro potências nucleares? Fora de cogitação para Washington e outros, como Londres e Paris.

Para esse segundo mandato, Barack Obama prestará juramento no dia 20 de janeiro. Dois dias depois, Israel terá eleições. Provável hipótese: Binyamin Netanyahu, o atual premiê, é reeleito. Ele fundiu seu partido, o Likud, da velha direita israelense, com Yisrael Beitenu, o partido ultranacionalista de Avigdor Lieberman, atual ministro das Relações Exteriores.

Em Jerusalém, onde a política, pelo menos tanto quanto as três religiões abraâmicas, é uma paixão cotidiana, a imprensa distila rumores e contra-rumores.

Netanyahu escolheria Lieberman, extremista de tendência xenófoba, como ministro da Defesa, porque este último é partidário convicto de ataques unilaterais contra o Irã. O primeiro-ministro se separaria de Ehud Barak, o ex-líder trabalhista, que estaria convencido de que Israel não pode agir sem os Estados Unidos.

Não é tão simples assim, disse esta semana a cadeia de TV israelense Channel 2. Netanyahu e Barak enfrentariam a oposição dos chefes do exército e dos serviços de inteligência. Esses acreditariam que Israel não tem condições de conduzir sozinho grandes ataques contra instalações nucleares iranianas.

“É um problema simples de física”, diz Bruno Tertrais, da Fundação para Pesquisa Estratégica. Israel dispõe de bombas penetrantes americanas, destruidoras de bunkers, as GBU [Guided Bomb Unit] 27 e 28, mas não aviões capazes de levar a mais poderosa desse tipo de munição, a GBU 57. Só que boa parte das centrífugas iranianas, as máquinas de enriquecer urânio, seria agora enterrada profundamente na montanha, nas instalações de Fordow, perto da cidade de Qom.

Para ter uma boa chance de destruir a sala das centrífugas, acredita Tertrais, provavelmente o uso de GBU 57 seria necessário – a menos que fosse idealizada uma operação, muito mais ambiciosa, combinando bombardeios e forças especiais.

Netanyahu deu a si mesmo alguns meses. No ritmo atual em que o Irã está enriquecendo urânio, disse o primeiro-ministro no dia 27 de setembro, à ONU, a República Islâmica terá ultrapassado “no mais tardar até o verão” aquilo que Israel estabelece como sua “linha vermelha”.

Nessa data, o Irã, que jura não querer a bomba, também estará em campanha. A eleição presidencial está prevista para o mês de junho. Ela já está dando lugar a uma das ferozes disputas de clãs tão familiar à República Islâmica. O grupo dominante, do Líder Ali Khamenei, pretende aniquilar o do presidente, Mahmoud Ahmadinejad, que não pode se recandidatar mas quer ter um representante para essa eleição.

Convocado recentemente a vir se explicar diante do Parlamento, que tem três quartos favoráveis ao Líder, Ahmadinejad é acusado de má gestão da economia. Talvez ameaçado de destituição, o presidente se defende: ele atribui as dificuldades do país às sanções americanas e europeias. No círculo de Khamenei, suspeita-se que Ahmadinejad seja a favor de conversas diretas com o “Grande Satã”.

Os Estados Unidos provavelmente só usarão a força se o Irã continuar sendo um país do “limiar” – um Irã que teria a capacidade de se munir da bomba nuclear, mas não teria tomado a decisão de executar. A “linha vermelha” americana, tal como definida por Obama, é a fabricação de uma arma. Se as sanções não levarem Teerã a suspender seu programa, a opção militar é considerada, repetiu o presidente. Nessa última hipótese, é difícil imaginar que o Irã não vá retaliar. Isso significa guerra, com garantida extensão regional.

Que margem de manobra há para Obama? “É ele que definirá concretamente o que significa exatamente a fabricação de uma arma nuclear”, observa Tertrais; “e é desejável que os iranianos tenham a boa percepção dessa linha vermelha americana”.

Os dois países vêm se ignorando há 32 anos. Eles praticamente não tiveram mais contatos desde 4 de novembro de 1979, dia em que foram feitos reféns na embaixada americana em Teerã. Os Estados Unidos têm uma ideia bastante precisa daquilo que é o Irã. Não faltam especialistas em Irã bem informados em Washington. Mas e o contrário? O Líder só visitou três países estrangeiros, modelos de democracia: o Iraque, a China (em 1989) e a Coreia do Norte, sua preferida.

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