segunda-feira, 12 de novembro de 2012
A guerra de facções no Partido Republicano
Será que o Partido Republicano vai se recuperar? Dois dias após a derrota de Mitt Romney na corrida à Casa Branca, o movimento conservador passa por tendências centrífugas. A guerra das facções voltou, trazendo um risco de cisão. Em uma coletiva de imprensa, seis dirigentes do Tea Party pediram pela demissão de toda a cúpula republicana. “A briga pelo controle do Partido Republicano começa hoje”, anunciou Richard Viguerie, diretor do ConservativeHQ.com, um portal para os grupos “anti-big government”. Furiosos, os militantes acusaram Karl Rove, o ex-guru de George Bush, e seu super-PAC [comitê de ação política] de serem totalmente ineficientes. O establishment “conseguiu o impossível: perder duas cadeiras no Senado”, esbravejou Brent Bozell, fundador de um centro de pesquisa sobre a mídia, pedindo para que os apoiadores suspendam as contribuições financeiras.
Para eles, Mitt Romney não defendeu suficientemente os princípios fundamentais. “Nunca mais os conservadores designarão um candidato do establishment”, jurou Viguerie, com tons que lembram a rebelião de Barry Goldwater nos anos 1960. O partido “deverá talvez mudar o modo de designação de seu candidato em vez de escolher o velho homem branco que é o próximo na lista de espera”, lançou Matt Kibbe, presidente da FreedomWorks, a associação que apoiou as primeiras manifestações do Tea Party, no canal público PBS.
Já outras personalidades defendem uma recentralização do partido. Sean Hannity, apresentador de um talk-show na Fox News, grande opositor das ideias “radicais” de Barack Obama, surpreendeu ao anunciar que ele havia “mudado” de ideia quanto à imigração, um assunto que divide há anos o partido e que influenciou na derrota de Mitt Romney. Agora ele apoia a regularização dos clandestinos. “Precisamos nos livrar do problema da imigração”, ele explicou. “Isso não pode continuar. Primeiro, é preciso proteger a fronteira. Depois, oferecer um caminho para a cidadania. Pronto”.
O apresentador convidou seus espectadores desencorajados a considerar a realidade. E “a realidade”, ele disse, “é que os Estados Unidos estão mudando”. Se ele continuar a perder o apoio das mulheres, dos latinos e dos homossexuais, o Partido Republicano corre o risco de “ter o mesmo destino que os dinossauros”, alertou David Johnson, um dirigente do Partido Republicano na Flórida.
Os resultados da eleição trouxeram para a consciência nacional aquilo que era evidente nas estatísticas: a evolução sociológica do país agora tem um resultado político. “Ainda mais do que a eleição que fez de Barack Obama o primeiro presidente negro, sua reeleição foi o sinal evidente de que a hegemonia do homem branco heterossexual acabou nos Estados Unidos”, escreveu o jornalista Paul West no “Chicago Tribune”. Só que o homem branco heterossexual constitui a base tradicional do partido. Para Juan Williams, analista político na Fox News, o Partido Republicano está se tornando “o partido de um número cada vez menor de eleitores que estão envelhecendo, moram no Sul e no interior”. Se ele não diversificar seus candidatos, seu futuro estará “ameaçado”. Pelo menos a curto prazo. A médio prazo, não há certeza de que a coalizão instaurada por Obama sobreviva a ele, e que os negros, por exemplo, continuem a se mobilizar em um índice de 96% por um candidato.
Para Brad Dayspring, membro do comitê de ação política dos Young Guns, um grupo de jovens membros do partido, trata-se sobretudo de um problema de geração. E de comunicação. “Como podemos falar em cerca eletrificada quando se fala de imigração?” As mesmas diferenças se encontram na questão do aborto. “As mulheres entendem que estamos contra elas. Todo mundo tem alguém que é contra o aborto em sua família. O que as revolta são as pessoas que falam sobre isso em uma linguagem de homens das cavernas”.
O partido não aprendeu com a derrota. Alguns membros, como o ex-governador Haley Barbour, tinham certeza de que Mitt Romney venceria e que foi o furacão Sandy que fez a balança pender a favor do presidente. Ele reconhece, no entanto, que o partido “não está em sua melhor forma”. Karl Rove acredita que foi a máquina de Obama que superou a organização republicana nos Estados indecisos.
O sistema de “microtargeting” [microssegmentação] dos eleitores, implementado seguindo o modelo da equipe democrata, e chamado de Orca, aparentemente saiu de controle muito rápido. As informações obtidas estavam erradas. “Como é possível que os figurões do partido tenham se enganado tanto sendo que todas as pesquisas, ou quase todas, apontavam Obama na liderança?”, argumenta Brent Bozell.
Segundo a rede CBS, os caciques republicanos se auto-envenenaram. Desde o primeiro debate, eles acreditavam ver no público crescente dos comícios do candidato um sinal de uma dinâmica que levava à vitória. Quando os canais anunciaram o resultado do presidente, um incrédulo Karl Rove pediu à Fox News que adiasse a divulgação do resultado, até que fossem obtidos os resultados completos de Ohio. Foi preciso esperar 90 minutos para que Mitt Romney, que havia preparado somente um discurso de vitória, admitisse a derrota. “Ele entrou em estado de choque”, disse um de seus conselheiros à CBS.
Os republicanos, apesar de tudo, mantiveram seu bastião na Câmara de Representantes, graças sobretudo à reconfiguração das circunscrições. O Tea Party já apresentou suas exigências: recusa imediata ao financiamento da reforma da saúde, promessa solene de não aumentar os impostos...
Em agosto de 2011, a intransigência desses representantes causou o fracasso do acordo que Barack Obama havia negociado diretamente com John Boehner, o presidente da Câmara, sobre a dívida pública e o déficit orçamentário. Mas dessa vez, com um presidente que não pode se recandidatar e um partido ameaçado de se marginalizar, talvez sejam reunidas as condições para recriar uma coalizão centrista que consiga chegar à “grande negociação” que o meio empresarial vem exigindo com cada vez mais insistência.
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