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quarta-feira, 6 de julho de 2011

As dificuldades do Egito para se reinventar após a revolução popular de janeiro

Um novo estado está nascendo no Egito logo após a revolução. Enquanto a velha guarda está batalhando para preservar sua influência, vários partidos novos estão competindo pelo poder, inclusive a Irmandade Muçulmana, que está recorrendo a táticas maliciosas para cimentar seu poder político.

Às margens do Nilo, políticos de todos os tipos estão competindo por poder num concurso democrático do tipo que o Egito não testemunhava em gerações. A severidade de seus choques mostra o quão rapidamente a liberdade de opinião se desenvolveu – e o quão sem limites é a liberdade hoje. Mas os sonhos dos manifestantes destemidos que tomaram as ruas em janeiro correm o risco de serem esmagados numa luta de poder entre a velha guarda ressurgente do Egito.

Cinco meses depois que Hosni Mubarak, que governou o país por 30 anos com um único partido político e um pequeno grupo de líderes corporativos corruptos, deixou o poder aos 83 anos, a população de cerca de 80 milhões do Eito está atolada num pântano político. É difícil discernir as reformas democráticas, a melhoria das condições de vida há muito prometidas e a ordem social mais justa que os manifestantes egípcios pediam. “Tudo está como antes”, escreveu o jornal semanal popular “Al-Fagr” (A Aurora) num comentário resignado. “Os velhos poderes ainda estão no controle”.

Muito poucos tomadores de decisão chaves do Egito tiveram de entregar seus cargos. Apenas um punhado de oficiais importantes, como o ministro da Informação Anas el-Fiqqi e o antigo e duradouro secretário-geral e conselheiro de Mubarak, Safwat el-Sherif, foram substituídos. Sua corrupção alarmante e nepotismo descarado os deixaram sem defesa.

A limpeza necessária para um recomeço tem sido lenta, embora os partidos políticos egípcios tenham pressionado gradualmente o conselho militar governante do país. Entretanto, mesmo os críticos reconhecem que algum progresso foi feito: os filhos de Mubarak foram detidos, e os ex-ministros de moradia e turismo foram sentenciados a cinco anos de prisão cada. O governotambém pediu à Interpol para ajudar a localizar ex-oficiais que fugiram do Egito – outro passo adiante. Mas as tentativas de encobrir transgressões do passado, e os constantes adiamentos para julgar Mubarak – que tem autorização para pedir que seu cabeleireiro pessoal vem do Cairo até sua casa na cidade turística de Sharm el-Sheikh – entregam a relutância do conselho militar e do sistema de justiça de lidar com o legado do velho regime.

O Egito logo poderá ter mais de 45 partidos políticos

A segurança também deixa muito a desejar. O crime está por toda parte por conta da falta de operações policiais. Gangues desconhecidas desmantelaram meticulosamente e roubaram cerca de 300 quilômetros de trilhos de trem ao longo de uma rota importante que cruza o Canal de Suez em direção à Palestina e Israel.

Durante semanas, a paisagem política esteve em estado de transformação surpreendentemente intensa. O país poderá ter em breve mais de 45 partidos políticos, se todos os anúncios forem levados a cabo. O processo de aprovação é simples. O conselho militar só proíbe partidos políticos que são baseados em religião. Os partidos religiosos são proibidos.

Essa regra não é mais cumprida ao pé da letra. Mas o líder da Igreja Cóptica, Shenouda III, proibiu seus 10 milhões de seguidores de estabelecerem partidos cristãos. E até o morador mais rido da Península Arábica, o bilionário egípcio e líder empresarial Naguib Sawiris, aderiu à esse pedido e limitou sua atividade política a fornecer ajuda financeira e de pessoal para os partidos liberais. Seu “In-TV” se tornou o canal de televisão apartidário mais popular. Ele não transmite propaganda pró-cristã.

O bastante tradicional Partido Wafd, que durante décadas incorporou valores modernos seculares, também se absteve de qualquer simbolismo religioso – com a exceção da lua crescente e da cruz que formam o emblema do partido. Para enfatizar sua abertura a todas as religiões, o Wafd estabeleceu uma aliança de pouca credibilidade com a Irmandade Muçulmana, o movimento islamista mais poderoso do Egito. Mas poderosos membros do partido Wafd como o membro do comitê executivo Mohammed Sarhan logo se rebelaram contra a aliança, e o braço jovem anti-islamista do partido planeja estabelecer um partido Neo-Wafd “completamente liberal” dentro de alguns dias.

Como os novos políticos do Egito estão disputando o poder

Muitos dos novos partidos liberais formaram alianças eleitorais, e alguns deles até compartilham membros. O objetivo é um novo estado democrático com uma estrutura social civil protegida pela constituição. É assim que o Egito planeja driblar o termo “laicismo” que os representantes do Islã político denunciaram como um “ataque contra Deus e o Islã”.

O Partido da Liberdade e da Justiça da fundamentalista Irmandade Muçulmana, que, desde sua fundação em 1928, nunca deteve o poder do governo, comanda uma rede de propaganda que nenhum outro grupo político possui. Especialistas em Internet, Facebook e YouTube estão trabalhando para vender a Irmandade como um poder democrático normal com uma ideologia islâmica.

O líder da Irmandade, Mohammed Badie, estabeleceu o objetivo ambicioso de tomar 50% das cadeiras do parlamento. Ele quer instituir a Sharia, o código islâmico de justiça que é visto como “a primeira fonte de jurisprudência” desde a era do ex-presidente Anwar al-Sadat. Para ganhar aceitação social e na esfera política internacional, a Irmandade Muçulmana, entre cujos objetivos declarados estão o estabelecimento de um califado, diz que concorda com os princípios do governo civil. Mas a falha pode ser encontrada nos detalhes. Porta-vozes proeminentes e membros da liderança da Irmandade Muçulmana, como o Professor Salih, revelaram em entrevistas o quão longe suas concessões à uma sociedade de múltiplas fés de fato vão: “até o estado do Profeta Mohammed era baseado numa sociedade civil”, disse o eloquente Salih.

A Irmandade se opôs a sugestões de que as eleições parlamentares atualmente planejadas para setembro sejam postergadas. Isso poderia, e poderá, ajudar os novos partidos liberais, especialmente a juventude revolucionária politicamente inexperiente, ao dar-lhes mais tempo para cultivar sua imagem – em detrimento ao Islã político.

Os fiéis estão lutando por seu futuro e não têm pudores em relação às táticas que consideram necessárias para vencer. A Irmandade ofereceu ao advogado cristão Rafiq Habib o posto de vice-presidente do partido. Ele aceitou. Muitos na comunidade cristã criticaram a atitude como um ato de traição.

Os candidatos presidenciais ainda estão longe de atingir avanços políticos.

• O ranking compilado pela mídia egípcia neutra é encabeçado por Amr Moussa, ex-ministro de exterior que foi secretário-geral da Liga Árabe até a semana passada. Muitos egípcios, tanto muçulmanos quanto cristãos, estão depositando suas esperanças nele. Eles ficaram impressionados por seu apoio aberto aos revolucionários desde o começo, sua distância política do presidente Mubarak que o retirou do cargo de ministro de exterior por causa de sua popularidade crescente, e suas críticas à política norte-americana no Oriente Médio.

• No final da lista está Ayman Nour, o fundador do pequeno, liberal e camaleônico partido El Ghad (Ghad significa amanhã). Washington há muito o descreve como o candidato mais promissor. Mas mesmo a pesquisa do exército de possíveis presidentes publicada esta semana deu a ele apenas 1%.

• Mahamed ElBaradei continua sendo um candidato importante. Ele fez campanha por mudanças democráticas, que rederam-lhe apoio principalmente no Ocidente. Ele está trabalhando com centros políticos para esboçar propostas para uma nova constituição democrática. Mas outros já fizeram isso antes dele, como membros do Partido Wafd e vários fóruns da juventude logo após o início da revolução. O primeiro bravo egípcio a pedir democracia e liberdade de opinião foi o fundador católico do movimento de massa Kefaya, George Ishak.

Enquanto isso, a Irmandade Muçulmana está liderando em sua campanha nos vilarejos e favelas onde os imãs estão tentando persuadir os fiéis de que todos que negam seu voto ao partido da Irmandade Muçulmana estão traindo o Islã.

Partidos liberais também estão entrando em ação

Mas os partidos liberais estão agora se engajando numa agitação similar, e não estão indo mal, mesmo tendo entrado para a batalha bem tardiamente. Os partidos liberais querem exercer controle sobre a Irmandade, que os coloca em perigo. Eles entraram numa aliança eleitoral com a Irmandade na qual todos os participantes precisam se comprometer a não fazer propaganda eleitoral religiosa, a discriminação baseada em gênero e pertencimento a um grupo social é proibida e todos os princípios políticos que se aplicam ao Ocidente democrático precisam ser seguidos. “Nós damos muita atenção a isso”, disse Ishak, líder do Kefaya, à “Spiegel Online”. “Qualquer um que não queira aderir a essas regras não é mais nosso parceiro.”

Esta terça-feira várias organizações revolucionárias jovens anunciarão a formação de um “Partido da Mudança Revolucionária”. O popular político de Mu'adh, de 24 anos, diz: “Nós colocaremos nossas feluccas (tradicionais barcos a vela do Nilo) para navegar com o vento certo. Novos protestos de milhões na praça Tahrir são possíveis.”

Se o exército cumprir o cronograma, haverá um Egito democrático em menos de um ano, mesmo se as eleições parlamentares forem postergadas por vários meses. A questão de se deve haver uma nova constituição antes que o parlamento e o presidente sejam eleitos não é tão crucial quanto dizem os críticos. Os elementos básicos da nova constituição já foram estabelecidos desde março: eleições livres, um mandato presidencial limitado a cinco anos, a retirada da religião de toda propaganda partidária, direitos iguais para todos os cidadãos, e a construção de uma sociedade civil livre.

Que Alá forneça um vento forte para as velas triangulares dessas feluccas.

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