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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Promovendo uma versão mais branda das calamidades de Mao

Mao Tsé-tung
A fome que tomou conta da China de 1958 a 1962 é amplamente considerada como a mais mortífera na história registrada, matando de 20 milhões a 30 milhões de pessoas ou mais, e é uma das calamidades definidoras do governo de Mao Tsé-tung. Desde então, o partido encobre esse desastre com censura e eufemismos, buscando manter uma aura de reverência em torno do líder fundador do Estado comunista.


Mas com a proximidade das celebrações do 120º aniversário do nascimento de Mao, em 26 de dezembro, alguns de seus apoiadores e polemistas do partido estão dando um passo além da antiga reticência oficial sobre a fome, apresentando sua própria versão mais branda do desastre e atacando os historiadores que discordam. Eles negam que dezenas de milhões morreram na fome –foram no máximo poucos milhões, dizem alguns deles– e acusam os acadêmicos que apoiam estimativas mais altas de alimentarem o sentimento antipartido.

"Há um grande rumor de que 30 milhões de pessoas morreram de fome nos três anos de dificuldades", dizia a manchete em setembro do "The Global Times", um influente tabloide controlado pelo partido. Ela foi acompanhada de um comentário de um matemático, Sun Jingxian, que ganhou notoriedade por sua alegação de que no máximo 2,5 milhões de pessoas morreram por "fatalidades nutricionais" durante o Grande Salto à Frente. Ele argumenta que estimativas maiores são uma ilusão baseada em estatísticas falhas.

Sun afirma que a maioria das aparentes mortes foi uma miragem de estatísticas caóticas: as pessoas se mudavam das aldeias e eram dadas como mortas, porque não se registravam em seus novos lares.

Um novo livro, "Alguém Finalmente Deve Falar a Verdade" (em tradução livre), se tornou um marco para os apoiadores de Mao, que negam que a fome matou dezenas de milhões. O autor, Yang Songlin, uma autoridade aposentada, defende que no máximo 4 milhões de "fatalidades anormais" ocorreram durante a fome. Ele reconhece que foi de fato uma tragédia, mas uma que ele atribui em grande parte ao clima ruim, não a políticas ruins. Ele e outros revisionistas de mentalidade semelhante acusam pesquisadores rivais de inflarem a magnitude da fome para desacreditar Mao e o partido.

"Algumas pessoas acham que têm uma oportunidade, que desde que possam provar que dezenas de pessoas morreram no Grande Salto à Frente, então o Partido Comunista, o partido do governo, nunca poderá ser absolvido", disse Yang por telefone, de sua casa em Zhengzhou, uma cidade na região central da China.

Desde o início dos anos 80, começaram a ser afrouxadas as restrições ao estudo da fome. Historiadores passaram a ter acesso limitado aos arquivos, e conjuntos de censos e outros dados populacionais gradualmente se tornaram disponíveis, permitindo aos pesquisadores construir um entendimento mais detalhado, apesar de ainda incompleto, do que aconteceu.

Alguns acadêmicos concluíram que aproximadamente 17 milhões de pessoas morreram, enquanto outros levantamentos chegaram a até 45 milhões, refletindo várias suposições sobre a taxa de mortalidade em tempos normais assim como outras incertezas, incluindo o quanto as estatísticas oficiais subestimaram as mortes durante os anos de fome.

"Os acadêmicos discordam, mas se a estimativa deles for um pouco mais alta ou um pouco mais baixa, isso não afeta o fato de que o Grande Salto à Frente criou um desastre imenso", disse por telefone Lin Yunhui, um historiador aposentado do partido da Universidade de Defesa Nacional, em Pequim, que dedicou grande parte de sua carreira ao estudo do período de Mao. "Minha própria estimativa é de que ocorreram cerca de 30 milhões de mortes anormais."

Poucos historiadores dão qualquer credencial às alegações dos revisionistas, mas eles expressam alarme pelo partido, que nas últimas décadas  tolerou uma pesquisa mais aberta do período, parecer estar encorajando uma volta às ortodoxias enganadoras.

"Eu há muito sou caluniado e atacado por minha pesquisa, mas agora há pessoas que basicamente negam que tenha ocorrido uma fome em massa", disse por telefone Yang Jisheng, 72 anos, um historiador e ex-jornalista da agência de notícias "Xinhua" em Pequim, que tem sido um grande alvo de ataques. Ele não tem parentesco com Yang Songlin.

"Tombstone", o estudo de referência de Yang Jisheng da fome do Grande Salto à Frente –publicado em chinês em Hong Kong em 2008 e em uma edição modificada e resumida em inglês em 2012– é proibido na China continental, mas é lido amplamente por meio de cópias contrabandeadas e pirateadas.

Yang Jisheng estima que 36 milhões de pessoas morreram por causa da brutalidade e escassez de alimentos causadas pelo Grande Salto à Frente. Ele chamou a negação da ocorrência da fome há mais de meio século de um sintoma perturbador das ansiedades políticas atuais.

"Para defender a legitimidade do poder do Partido Comunista, eles precisam negar que dezenas de milhões morreram de fome", disse Yang Jisheng. "Há um senso de crise social na liderança do partido, e proteger seu status se tornou mais urgente, de modo que se tornou ainda mais necessário evitar confrontar a verdade sobre o passado."

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