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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Morte de Kim Jong-il gera "clima de incerteza" na Coreia do Norte

Em um chat, Philippe Mesmer, correspondente do "Le Monde" no Japão, fala sobre as consequências da morte do dirigente norte-coreano Kim Jong-il.


Televisão pública norte-coreana mostra corpo de Kim Jong-Il sendo velado em caixão de vidro


Pode-se esperar por uma abertura internacional da Coreia do Norte?
Mesmer: É um pouco cedo para saber. Deve-se esperar primeiro pela sucessão. Kim Jong-un, que deve ascender ao poder normalmente, é jovem, e a priori deverá continuar sob tutela. Ele não terá o poder imediatamente, então as mudanças não deverão ocorrer tão rápido.
Ao mesmo tempo, no ano que vem, 2012, será o centenário do nascimento de Kim Il-sung, o fundador da República Popular Democrática da Coreia, e é um ano importante para os norte-coreanos. Talvez aconteça alguma coisa.


Quais são as consequências imediatas no plano geopolítico da região asiática?
Mesmer: A primeira coisa que se segue a essa morte é um clima de incerteza. Embora ele não fosse um interlocutor privilegiado, ele era um interlocutor "um pouco conhecido". Conhecíamos as posições de Kim Jong-il. Não é garantido que sua sucessão dê certo, há muitas questões para as quais não temos a resposta: como vão reagir a população, o Exército, os dirigentes? Isso não criará divisões dentro da direção do partido ou dentro da direção do Exército? Além disso, Washington, Seul, Paris e Londres reagiram com cautela, pois estão esperando para ver o que vai acontecer.


O que o Exército norte-coreano pensa de Kim Jong-un?
Mesmer: A única coisa que se pode dizer é que Kim Jong-il tomava cuidado com os militares. Então talvez ele tenha uma boa imagem dentro do Exército, o que poderá beneficiar Kim Jong-un.


É possível que o Exército assuma o comando e afaste o “jovem dirigente”?
Mesmer: O problema é que o Exército é um dos pilares do regime na Coreia do Norte, como em todas as ditaduras. Um dirigente certamente não pode se colocar contra ele. Não sei se ele conseguirá assumir as rédeas do país, pois sua estabilidade também depende da dinastia dos Kim, de certa forma. É mais provável que o Exército procure usar Kim Jong-un do que afastá-lo.


O sr. acredita que os estudos do filho de Kim Jong-il na Suíça podem tê-lo tornado mais aberto ao mundo?
Mesmer: O próprio Kim Jong-il estudou no exterior. Ele aprendeu inglês em Malta nos anos 1970. Não acredito que isso seja o que determinará a política a ser seguida por Kim Jong-un. Digamos que talvez ele tenha um melhor conhecimento do mundo exterior.


Como é possível que se tenham tão poucas informações sobre esse filho, apesar de ele ter estudado na Suíça?
Mesmer: Porque se trata da Coreia do Norte! Tudo é tão vigiado, monitorado, fechado, que não se sabem muitas coisas de lá. Ele certamente tinha colegas de classe, mas não se sabe quem eles eram, como eles foram escolhidos – se é que foram.


O sr. acredita que as grandes potências vão tentar exercer pressão sobre o novo dirigente, por mais democracia?
Mesmer: Acho que é preciso lembrar que a Coreia do Norte é um país muito fechado que possui contatos limitados com o exterior e que é pouquíssimo permeável a pressões externas. Até a China, que é sua aliada “tradicional”, tem dificuldades para passar suas mensagens. Então, evidentemente, as grandes potências podem tentar pressionar por mais democracia, mas elas não o fazem, e não é prioridade para elas.


A Coreia do Norte era o braço armado da China. Isso pode colocar em xeque o apoio da China ao país?
Mesmer: Não acredito que se possa dizer que a Coreia do Norte é o braço armado da China. A China não precisa disso. Ela continuará apoiando a Coreia do Norte porque esta serve como uma zona de segurança em relação à Coreia do Sul, e, portanto, aos Estados Unidos, uma vez que há 28 mil soldados americanos na Coreia do Sul. E se a Coreia do Norte entrasse em colapso, esses 28 mil soldados americanos estariam na fronteira chinesa e talvez seriam mais numerosos também. A menos que os coreanos peçam para eles partirem, o que é outra questão. Isso os chineses não querem, certamente.

Digo ainda que no plano econômico, a Coreia do Norte é um país rico em recursos naturais que interessam muito os chineses. Então não é à toa que a China é o principal parceiro comercial da Coreia do Norte. E acho que ela ainda o seria, mesmo se não houvesse sanções internacionais.


No nível comercial, a Coreia do Norte possui indústrias importantes? Ela pode exercer pressões sobre seus vizinhos em caso de necessidade?
Mesmer: Na verdade, a Coreia do Norte não tem meios de pressão econômica. Ela possui uma indústria mineradora, um pouco de indústria pesada, mas é só.


Como a mídia japonesa está recebendo a notícia da morte de Kim Jong-il?
Mesmer: Um pouco como no resto do mundo. A mídia japonesa não é muito expansiva, então o discurso é um pouco o mesmo que se ouve em outros lugares: “É o fim de uma época difícil para os norte-coreanos, esperamos que melhore no futuro”.
Mas ela lembra as brigas que existem entre o Japão e a Coreia do Norte, que são a posição oficial do governo, ou seja, o problema dos sequestros de cidadãos japoneses por agentes de Pyongyang nos anos 1970-1980. O segundo problema é o programa nuclear, e o terceiro são os mísseis, pois os japoneses estão na zona de alcance dos mísseis da Coreia do Norte.


A França possui relações – sobretudo diplomáticas – com a Coreia do Norte?
Mesmer: A França não tem relações diplomáticas com a Coreia do Norte. Ela abriu um escritório de cooperação em Pyongyang em setembro, após uma visita de Jack Lang à Coreia do Norte, que ele havia efetuado a pedido de Nicolas Sarkozy. O objetivo oficial, segundo o Ministério das Relações Exteriores, é trabalhar junto com as ONGs francesas que estão na Coreia do Norte e difundir a cultura francesa. A França espera por um gesto positivo para poder decidir relançar suas relações diplomáticas com a Coreia do Norte. Ela não pode decidir sem mais nem menos, é necessário haver um elemento desencadeador.


“Elemento desencadeador”, de que tipo, por exemplo?
Mesmer: Se a Coreia do Norte abandonar seu programa nuclear ou se houver uma abertura democrática, por exemplo. São elementos políticos que demonstram uma vontade de abertura, uma vontade de sair do isolamento. Uma espécie de mão estendida.


Na sua opinião, qual o futuro das conversas de seis lados [duas Coreias, Rússia, EUA, China e Japão] sobre a questão nuclear?
Mesmer: Até essa manhã, estávamos nos orientando para uma retomada das conversas a seis, uma vez que os americanos e os norte-coreanos devem se encontrar daqui a três dias, em 22 de dezembro, em Pequim, e deverão falar normalmente sobre isso, ou até decidir retomá-las. Havia um certo otimismo, pois há um acordo que deveria ser anunciado hoje pelos americanos que previa a volta do auxílio alimentar para a Coreia do Norte, em troca da suspensão do enriquecimento de urânio por esta última. Talvez nem tudo isso seja perdido, mas pelo menos será suspenso provisoriamente. Não sei como isso vai mudar. Acho que devemos ter pistas após o funeral de Kim Jong-il.


Em que consiste o “luto” decretado pelas autoridades?
Mesmer: O corpo de Kim Jong-il foi transportado para o palácio de Kumsusan, onde jaz seu pai Kim Il-sung. O povo pode visitar seus restos morais até o dia 27 de dezembro. O funeral está previsto para 28 de dezembro, e o luto nacional terminará em 29 de dezembro.


O que pensar desse tiro de míssil de curto alcance?
Mesmer: Não sei por que a Coreia do Norte realizou um teste de míssil. Em Seul, o governo parece dizer que não há ligação com a morte de Kim Jong-il, e não estou longe de pensar como eles.


Um novo conflito entre as duas Coreias é possível depois que Kim Jong-un assumir o poder?
Mesmer: É difícil dizer. Acho que a Coreia do Norte não queria um novo conflito com a Coreia do Sul e continua não querendo. Então, se o governo não se desestabilizar, a princípio, o risco é mínimo.


Após 70 anos de divisão entre as duas Coreias, ainda há esperança de uma reunificação? Agora quase não há ninguém que tenha conhecido uma Coreia “unida”...
Mesmer: Podemos dizer até que faz 160 anos que as pessoas não veem uma Coreia unida e livre, uma vez que, antes da separação, houve a colonização japonesa, que começou oficialmente em 1905.

Evidentemente, uma mudança de regime sempre suscita esperanças. E, de qualquer forma, Kim Jong-un não é Kim Jong-il. Se ele se estabelecer no poder, acabará imprimindo sua própria marca. Inevitavelmente será diferente. Depois, a questão é saber como isso evoluirá.

A esperança de uma reunificação existe, é claro. São coreanos de cada lado do Paralelo 38, e acredito que, do Norte e do Sul, cada coreano lá no fundo espera que um dia a península seja reunificada. Essa continua sendo uma das feridas mais dolorosas da História. Então, sim, ainda há esperanças, e, conhecendo os coreanos, posso dizer que continuará havendo.


E a Rússia, em tudo isso? Ela terá um novo papel? Pode-se esperar por uma nova aliança?
Mesmer: Uma nova aliança é inútil, uma vez que as relações entre a Rússia e a Coreia do Norte não são ruins.  Kim Jong-il já encontrou Medvedev diversas vezes. Este ano foi fechado um acordo para a passagem do gasoduto pela Coreia do Norte que viria da Rússia, indo até a Coreia do Norte. As relações entre os dois países são, se não cordiais, pelo menos pragmáticas.


Considerando que a morte de Kim Jong-il já vinha sendo esperada há alguns anos, o sr. não acredita que novas disposições políticas em termos de relações diplomáticas já podem ter sido planejadas, discutidas ou até negociadas com a Coreia do Sul, bem como com outros países envolvidos na região?
Mesmer: Certamente que, a partir do momento em que o processo de sucessão foi iniciado, todos os países interessados – americanos, chineses, japoneses, russos, sul-coreanos – começaram a imaginar possíveis cenários. Mas realmente acredito que a morte de Kim Jong-il surpreendeu. Não acho que tenham sido feitos planos com antecedência.


Haverá consequências diretas (econômicas, demográficas, etc.) desse falecimento sobre a região?
Mesmer: Se a sucessão ocorrer bem, sem incidentes, a princípio nada demais deverá mudar a curto prazo. As duas fronteiras da Coreia do Norte, com a China e com a Rússia ao norte, e ao sul com a Coreia do Sul, a zona desmilitarizada, são extremamente vigiadas. Portanto, um êxodo não me parece possível se não houver uma desestabilização do regime. O mesmo vale para as consequências econômicas, não haverá nenhuma se não houver percalços. Pelo menos não a curto prazo.

2 comentários:

  1. é informante, o que será do mundo agora?
    bom, se a CN deixar seus programa nuclear de lado, vai ser invadida e dizimada;
    se o mundo -- ONU E OTAN -- nao fizerem nada, mais norte-coreanos irao morrer;
    se a CN e CS entrarem numa nova guerra, é provavel que haja algum tipo de desastre nuclear -- nao duvido que nao estrem;

    sao nessas horas q agradeço a Deus por nao ter poder-politico...
    e vc infor. o que acha?
    Abraços.

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  2. A grosso modo a Coréia do Norte pode mudar sua postura, continuar com suas armas nucleares e não ser um capacho dos EUA.

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