Oito anos atrás, ou na época em que o Hezbollah ainda gostava de mim, quis entrevistar um dos líderes da organização em Beirute e encontrei-me preso nas engrenagens burocráticas bem lubrificadas da organização.
quarta-feira, 31 de julho de 2013
Hezbollah entra na lista do terror da UE, mas prejuízos são improváveis
É um erro que muitos cometem quando chegam ao Líbano. Ao longo da estrada entre o aeroporto e o centro da cidade, veem retratos de um homem gordo pendurados em edifícios, outdoors e lâmpadas de rua. Ele usa um turbante preto e óculos, tem os lábios geralmente encurvados num sorriso sob sua espessa barba grisalha. Visitantes muitas vezes me perguntam se este é o presidente do Líbano.
"Reportagens antiéticas": político grego briga com jornal alemão
Veículo blindado russo "Krymsk" será silencioso e poderá ser operado remotamente
O novo veículo blindado russo, o "Krymsk", é capaz de se deslocar sem ruídos e, no futuro, poderá ser operado remotamente, comunicou terça-feira (30) a empresa VPK, desenvolvedora do novo veículo blindado.
Aumenta tensão entre o Sudão do Sul e a ONU
Muito antes de o Sudão do Sul conquistar sua independência, em 2011, a ONU já estava presente na região, alimentando os famintos, levando médicos e guiando a região para o rumo da autonomia.
As duras barganhas da diplomacia
Depois de seis viagens à região nos últimos meses, o secretário de Estado americano, John Kerry, acredita ter convencido israelenses e palestinos a sentar à mesa e se envolverem em negociações diretas. Será que a diplomacia, essa palavra quase antiquada, está de volta?
Armas, EUA e Américas
Brasil e EUA compartilham a responsabilidade de limitar o fluxo de armas leves nas Américas
Pouco depois de um adolescente massacrar 27 crianças e professores em Connecticut no ano passado, um estudante brasileiro me perguntou se eu achava que os EUA tinham uma "cultura de violência".
Pouco depois de um adolescente massacrar 27 crianças e professores em Connecticut no ano passado, um estudante brasileiro me perguntou se eu achava que os EUA tinham uma "cultura de violência".
Passam de R$ 4 bi cortes no orçamento da Defesa
O orçamento do Ministério da Defesa foi um dos mais prejudicados pelos ajustes fiscais de 2013. Em maio, a equipe econômica já havia feito um contingenciamento de R$ 3,67 bilhões nos recursos da pasta. O valor foi tão elevado que o ministro Celso Amorim procurou a presidente Dilma Rousseff para alertar sobre o risco de que projetos importantes de investimento ficassem comprometidos. Com isso, Amorim conseguiu a liberação de R$ 400 milhões.
Geopolítica e desenvolvimento
Na primeira década do século XXI, o Brasil começou a trilhar uma estratégia de afirmação internacional que retoma iniciativa proposta e interrompida na década de 60. De maneira ainda titubeante, o Brasil vem expandindo sua presença em alguns tabuleiros geopolíticos e vem tentando aumentar sua capacidade de defesa autônoma de suas reivindicações internacionais. A nova estratégia foi definida pelo Plano Nacional de Defesa, e pela Estratégia Nacional de Defesa, aprovados pelo Congresso Nacional, em 2005 e 2008, respectivamente. Nos dois documentos, o governo brasileiro propõe uma política externa que integre suas ações diplomáticas, com suas políticas de defesa e de desenvolvimento econômico e ao mesmo tempo introduz um conceito inovador na história democrática do país, o conceito de "entorno estratégico", onde o Brasil se propõe irradiar, de forma preferencial, a sua influência e a sua liderança, incluindo a América do Sul, a África Subsaariana, a Antártida, e a bacia do Atlântico Sul.
EUA espionaram Brasil sobre sanções ao Irã, afirma revista ÉPOCA
Praça Azadi, Teerã, Irã |
Brasil volta a negociar uso de base de Alcântara com os EUA
Após uma década, País retoma conversas e quer propor uma espécie de aluguel do local para lançamentos espaciais
O governo brasileiro retomou as negociações com os Estados Unidos para permitir o uso da base de Alcântara (MA) pelo serviço espacial americano. As conversas, sepultadas no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foram reiniciadas em termos diferentes e o Itamaraty espera ter um acordo pronto para ser assinado na visita da presidente Dilma Rousseff a Washington, em outubro.
Base de Alcântara |
domingo, 28 de julho de 2013
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Rússia modernizará 3 bombardeiros estratégicos Tu-160 Blackjack
O Ministério da Defesa da Federação Russa assinou um contrato de US$ 103 milhões com a Tupolev Design Bureau e a Kazan Aircraft Plan para a modernização de 3 bombardeiros estratégicos Tu-160 Blackjack.
Submarinos nucleares de ataque da classe Yasen e Yasen-M terão a supremacia sobre o inimigo
Projetistas russos desenvolvem mais uma versão do AK-74
Os projetistas russos apresentaram hoje uma nova versão do Kalashnikov AK-74.
A nova versão é conhecida como AK-74MB e se destaca por ser extremamente compacta e precisa, comunicou hoje Vitaliy Boyarkin, diretor da emprea NTF Medium, a qual desenvolvera tal versão modernizada.
A nova versão é conhecida como AK-74MB e se destaca por ser extremamente compacta e precisa, comunicou hoje Vitaliy Boyarkin, diretor da emprea NTF Medium, a qual desenvolvera tal versão modernizada.
"Não queremos lutar por lutar", diz novo líder do CNS
Ahmed Jarba |
Conflito armado na Colômbia deixa 220 mil mortos desde 1958
Os colombianos que nasceram nos últimos 60 anos o fizeram em um país em guerra. São poucos os que podem afirmar que lembram de uma Colômbia sem violência. Mas contar a história desse conflito não foi fácil e se fez de forma fragmentada. Por isso, há seis anos o Centro Nacional de Memória Histórica assumiu a tarefa de reconstruí-la, de explicar a origem e a evolução dos atores armados ilegais na Colômbia, para ter finalmente a memória de um conflito tão antigo que supera cinco décadas, mas também pela dignidade de suas vítimas.
Terror de extrema-direita: Hungria silencia sobre matança de ciganos
Cinco anos atrás, terroristas de extrema-direita assassinaram seis ciganos na Hungria. Agora, o julgamento contra eles está chegando ao fim. Mas a elite política tem expressado quase nenhuma simpatia pelas vítimas, e uma grande parte do público não está interessada no assunto.
Os assassinatos aconteceram a poucos metros de distância. Cada vez que sai pela porta de sua casa, Erzsébet Csorba vê as ruínas queimadas da casa onde seu filho, sua nora e seus netos moravam.
Todos os dias Csorba pensa sobre como ela encontrou seu filho Robert sangrando na neve e como, mais tarde, seu neto Róbi foi levado para casa, o corpo sem vida do menino de quatro anos e meio cheio de chumbo grosso. "Eu acordo com as memórias e vou dormir com elas", diz a mulher de 49 anos. "Como eles podem fazem isso, simplesmente matar pessoas inocentes?"
O vilarejo isolado de Tatárszentgyörgy está localizado a 55 km ao sul de Budapeste. Nos arredores, várias famílias ciganas vivem em casas precárias. Os Csorbas moram na última casa antes de chegar à floresta. Em 29 de fevereiro de 2009, extremistas de direita atearam fogo à casa de Robert Csorba e atiraram na família quando ela tentou escapar. Pai e filho morreram. Mãe e filha sobreviveram. A mãe sofreu ferimentos leves, enquanto a filha ficou mais gravemente ferida.
Seis meses depois, em agosto de 2009, os supostos autores foram presos: quatro extremistas de direita fanáticos da cidade de Debrecen, no sudeste da Hungria. Desde 2008, acredita-se que eles são os responsáveis pelo assassinato de seis ciganos e por ferir gravemente outras 55 pessoas, quase todas elas ciganas –em uma série de assassinatos racistas e terroristas de um tipo sem precedentes na história da Hungria no pós-guerra.
Ao longo dos próximos dias, depois de dois anos e 170 dias de processos judiciais, o julgamento contra os quatro suspeitos chegará ao fim. Os irmãos István e Árpád K., bem como Zsolt P. e Isvtán Cs. darão suas declarações finais. O veredito deve sair no início de agosto. Há pouca dúvida sobre a culpa dos acusados: eles admitiram estar presentes na cena do crime, mas negam a autoria dos assassinatos.
"Ninguém prestou homenagem"
Por brutais que tenham sido as mortes, entretanto, a reação do público na Hungria foi mínima, e quase não houve qualquer debate mais amplo por conta do julgamento.
"Esses assassinatos foram crimes contra a humanidade, mas não abalaram a sociedade húngara", diz Aladár Horváth, político cigano e ativista dos direitos civis. "Por parte do governo, da elite política, ninguém prestou suas homenagens às vítimas e suas famílias. Ninguém assumiu a responsabilidade, nem simbolicamente nem legalmente, nem politicamente, e a família não recebeu qualquer ajuda financeira significativa."
Na verdade, o ex-presidente László Sólyom, que estava no poder quando os crimes ocorreram e os suspeitos foram presos, não proferiu uma palavra de solidariedade para com as vítimas. Mesmo os socialistas, que estavam no poder durante os assassinatos de ciganos em 2008-2009 e valorizaram muito sua imagem antifascista, ofereceram apenas os clichês padrão.
Agora, a atual coalizão de governo conservador-nacionalista do primeiro-ministro Viktor Orbán não quer ter nada a ver com o tema. Eles não querem assustar seu eleitorado, que se estende bastante para a direita do espectro político. Somente o ministro da Cultura, Zoltán Balogh, conseguiu recentemente fazer um gesto: seu ministério pagou pelo enterro do marido de Erzsébet Csorba Csaba, que morreu em fevereiro deste ano, consumido pelo sofrimento pelos assassinatos.
A falta de preocupação do público também é evidente na investigação dos "assassinos de ciganos" e no próprio julgamento. Ficou claro que os terroristas de extrema-direita tiveram ajuda de pelo menos mais uma pessoa e provavelmente tinham vários cúmplices. No entanto, eles não estão presentes no tribunal e não está claro se os investigadores ainda procuram por eles. O julgamento está sendo mantido em segredo por motivos de segurança nacional.
É possível, inclusive, que alguns dos assassinatos pudessem ter sido prevenidos. Dois dos acusados haviam sido monitorados por agentes de inteligência por causa de atividade extremista de direita até 2008, pouco antes do início da matança, mas, em seguida, os funcionários arquivaram a operação. Outro acusado trabalhava como informante para uma unidade de inteligência militar, mas a comunidade de inteligência da Hungria permanece em silêncio sobre o papel dele nos assassinatos.
Negligência ultrajante
Houve também cenas ultrajantes que aconteceram quando as autoridades chegaram ao local do crime. Em Tatárszentgyörgy, na noite do crime, por exemplo, a polícia tentou dissuadir a família Csorba de relatar um ataque, e os policiais urinaram em provas na cena do crime.
Os observadores do julgamento, como o ex-parlamentar liberal József Gulyás, que foi autorizado a ver os arquivos da investigação secreta, acusam as autoridades húngaras de no mímino terem sido desleixadas --e Gulyás não descarta que tenha havido um encobrimento. Ele também critica o fato de os suspeitos só terem sido acusados de assassinato, e não por crimes de terrorismo. "Parece que o governo húngaro e as autoridades húngaras querem pôr fim ao caso embaraçoso atraindo o mínimo possível de atenção para si", diz Gulyás.
O jornalista e cineasta András B. Vágvölgyi, que participou de quase todas as audiências, critica a "conduta técnica" do juiz responsável László Miszori. "Questões políticas praticamente não tiveram papel no julgamento", diz ele. "Um tribunal tem a obrigação --especialmente num país como a Hungria, que está enraizado na confusão ideológica e moral-- de agir com um certo peso moral."
Erzsébet Csorba, por sua vez, espera que o acusado "nunca mais veja a luz do dia". Ela também está convencida de que há outros autores ainda livres --e ela, seus filhos e netos continuam vivendo com medo em sua casa na beira da floresta. O que ela mais quer é construir uma cerca alta em volta de sua propriedade, mas ela não tem dinheiro. Às vezes, seus filhos adolescentes e o neto pequeno acordam com medo no meio da noite porque ouvem ruídos. "Voltem a dormir", diz Erzsébet Csorba, "são só os arbustos e as árvores balançando ao vento." Mas ela se pergunta silenciosamente se os assassinos estão se escondendo lá fora mais uma vez.
Os assassinatos aconteceram a poucos metros de distância. Cada vez que sai pela porta de sua casa, Erzsébet Csorba vê as ruínas queimadas da casa onde seu filho, sua nora e seus netos moravam.
Todos os dias Csorba pensa sobre como ela encontrou seu filho Robert sangrando na neve e como, mais tarde, seu neto Róbi foi levado para casa, o corpo sem vida do menino de quatro anos e meio cheio de chumbo grosso. "Eu acordo com as memórias e vou dormir com elas", diz a mulher de 49 anos. "Como eles podem fazem isso, simplesmente matar pessoas inocentes?"
O vilarejo isolado de Tatárszentgyörgy está localizado a 55 km ao sul de Budapeste. Nos arredores, várias famílias ciganas vivem em casas precárias. Os Csorbas moram na última casa antes de chegar à floresta. Em 29 de fevereiro de 2009, extremistas de direita atearam fogo à casa de Robert Csorba e atiraram na família quando ela tentou escapar. Pai e filho morreram. Mãe e filha sobreviveram. A mãe sofreu ferimentos leves, enquanto a filha ficou mais gravemente ferida.
Seis meses depois, em agosto de 2009, os supostos autores foram presos: quatro extremistas de direita fanáticos da cidade de Debrecen, no sudeste da Hungria. Desde 2008, acredita-se que eles são os responsáveis pelo assassinato de seis ciganos e por ferir gravemente outras 55 pessoas, quase todas elas ciganas –em uma série de assassinatos racistas e terroristas de um tipo sem precedentes na história da Hungria no pós-guerra.
Ao longo dos próximos dias, depois de dois anos e 170 dias de processos judiciais, o julgamento contra os quatro suspeitos chegará ao fim. Os irmãos István e Árpád K., bem como Zsolt P. e Isvtán Cs. darão suas declarações finais. O veredito deve sair no início de agosto. Há pouca dúvida sobre a culpa dos acusados: eles admitiram estar presentes na cena do crime, mas negam a autoria dos assassinatos.
"Ninguém prestou homenagem"
Por brutais que tenham sido as mortes, entretanto, a reação do público na Hungria foi mínima, e quase não houve qualquer debate mais amplo por conta do julgamento.
"Esses assassinatos foram crimes contra a humanidade, mas não abalaram a sociedade húngara", diz Aladár Horváth, político cigano e ativista dos direitos civis. "Por parte do governo, da elite política, ninguém prestou suas homenagens às vítimas e suas famílias. Ninguém assumiu a responsabilidade, nem simbolicamente nem legalmente, nem politicamente, e a família não recebeu qualquer ajuda financeira significativa."
Na verdade, o ex-presidente László Sólyom, que estava no poder quando os crimes ocorreram e os suspeitos foram presos, não proferiu uma palavra de solidariedade para com as vítimas. Mesmo os socialistas, que estavam no poder durante os assassinatos de ciganos em 2008-2009 e valorizaram muito sua imagem antifascista, ofereceram apenas os clichês padrão.
Agora, a atual coalizão de governo conservador-nacionalista do primeiro-ministro Viktor Orbán não quer ter nada a ver com o tema. Eles não querem assustar seu eleitorado, que se estende bastante para a direita do espectro político. Somente o ministro da Cultura, Zoltán Balogh, conseguiu recentemente fazer um gesto: seu ministério pagou pelo enterro do marido de Erzsébet Csorba Csaba, que morreu em fevereiro deste ano, consumido pelo sofrimento pelos assassinatos.
A falta de preocupação do público também é evidente na investigação dos "assassinos de ciganos" e no próprio julgamento. Ficou claro que os terroristas de extrema-direita tiveram ajuda de pelo menos mais uma pessoa e provavelmente tinham vários cúmplices. No entanto, eles não estão presentes no tribunal e não está claro se os investigadores ainda procuram por eles. O julgamento está sendo mantido em segredo por motivos de segurança nacional.
É possível, inclusive, que alguns dos assassinatos pudessem ter sido prevenidos. Dois dos acusados haviam sido monitorados por agentes de inteligência por causa de atividade extremista de direita até 2008, pouco antes do início da matança, mas, em seguida, os funcionários arquivaram a operação. Outro acusado trabalhava como informante para uma unidade de inteligência militar, mas a comunidade de inteligência da Hungria permanece em silêncio sobre o papel dele nos assassinatos.
Negligência ultrajante
Houve também cenas ultrajantes que aconteceram quando as autoridades chegaram ao local do crime. Em Tatárszentgyörgy, na noite do crime, por exemplo, a polícia tentou dissuadir a família Csorba de relatar um ataque, e os policiais urinaram em provas na cena do crime.
Os observadores do julgamento, como o ex-parlamentar liberal József Gulyás, que foi autorizado a ver os arquivos da investigação secreta, acusam as autoridades húngaras de no mímino terem sido desleixadas --e Gulyás não descarta que tenha havido um encobrimento. Ele também critica o fato de os suspeitos só terem sido acusados de assassinato, e não por crimes de terrorismo. "Parece que o governo húngaro e as autoridades húngaras querem pôr fim ao caso embaraçoso atraindo o mínimo possível de atenção para si", diz Gulyás.
O jornalista e cineasta András B. Vágvölgyi, que participou de quase todas as audiências, critica a "conduta técnica" do juiz responsável László Miszori. "Questões políticas praticamente não tiveram papel no julgamento", diz ele. "Um tribunal tem a obrigação --especialmente num país como a Hungria, que está enraizado na confusão ideológica e moral-- de agir com um certo peso moral."
Erzsébet Csorba, por sua vez, espera que o acusado "nunca mais veja a luz do dia". Ela também está convencida de que há outros autores ainda livres --e ela, seus filhos e netos continuam vivendo com medo em sua casa na beira da floresta. O que ela mais quer é construir uma cerca alta em volta de sua propriedade, mas ela não tem dinheiro. Às vezes, seus filhos adolescentes e o neto pequeno acordam com medo no meio da noite porque ouvem ruídos. "Voltem a dormir", diz Erzsébet Csorba, "são só os arbustos e as árvores balançando ao vento." Mas ela se pergunta silenciosamente se os assassinos estão se escondendo lá fora mais uma vez.
Escola Naval aceitará mulheres a partir de 2014
Conhecida por aceitar somente homens em seus concursos públicos e processos seletivos, a Escola Naval, instituição de ensino superior destinada a formar oficiais da Marinha, vai começar a aceitar mulheres a partir de 2014. No entanto, as candidatas apenas terão acesso à carreira do Corpo de Intendentes, com habilitação em administração. As demais carreiras da corporação (Corpo da Armada e de Fuzileiros Navais) seguem restritas aos interessados do sexo masculino. Segundo a assessoria de imprensa da Marinha, o edital está sendo finalizado e deverá ser divulgado em breve.
São 12 vagas específicas para o Corpo de Intendentes da Marinha, destinadas a candidatas com idade entre 18 e 23 anos e que tenham concluído o ensino médio. As jovens ingressarão no 1º ano e, ao longo de quatro anos, estudarão disciplinas correspondente às áreas de administração, contabilidade geral e de custo, orçamento, finanças, abastecimento, logística, auditoria, entre outras.
Além da formação profissional-militar, as aspirantes receberão aulas de educação física e de acordo com seu desempenho poderão integrar uma das equipes esportivas, como esgrima, vela, remo, vôlei, basquete, orientação, atletismo, judô e tiro. Ao final do curso, serão declaradas guardas-marinha e realizarão uma viagem de instrução de duração aproximada de seis meses e complementarão sua formação profissional e cultural, tendo a oportunidade de visitar países das Américas, Europa, percorrendo os oceanos Atlântico e Pacífico e o Mar Mediterrâneo.
São 12 vagas específicas para o Corpo de Intendentes da Marinha, destinadas a candidatas com idade entre 18 e 23 anos e que tenham concluído o ensino médio. As jovens ingressarão no 1º ano e, ao longo de quatro anos, estudarão disciplinas correspondente às áreas de administração, contabilidade geral e de custo, orçamento, finanças, abastecimento, logística, auditoria, entre outras.
Além da formação profissional-militar, as aspirantes receberão aulas de educação física e de acordo com seu desempenho poderão integrar uma das equipes esportivas, como esgrima, vela, remo, vôlei, basquete, orientação, atletismo, judô e tiro. Ao final do curso, serão declaradas guardas-marinha e realizarão uma viagem de instrução de duração aproximada de seis meses e complementarão sua formação profissional e cultural, tendo a oportunidade de visitar países das Américas, Europa, percorrendo os oceanos Atlântico e Pacífico e o Mar Mediterrâneo.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Americanos noticiam o ataque de um submarino israelense à Síria e irritam autoridades israelenses
Fontes do Pentágono informaram a imprensa americana de que Israel tinha atacado no último dia 5 de julho o porto Sírio de Latakia, o que destruíra um carregamento de mísseis anti-navio de fabricação russa. Isso causa muita irritação no governo israelense, bem como nas Forças Armadas daquele país.
Altos funcionários do Pentágono, incluindo o vice-secretário de Defesa, Aston Carter, que está atualmente visitando Israel, discutiram o vazamento durante reuniões com autoridades israelenses esta semana. Os israelenses argumentaram em reuniões privadas que o vazamento desse tipo de notícia poderia levar a Síria contra-atacar Israel.
O secretário de imprensa do Pentágono, George Little, se recusou a comentar quando perguntado se Carter discutiu os vazamentos da notícia em reuniões com autoridades israelenses na segunda-feira.
O ataque militar de Israel foi incomum porque se tratava de um ataque com mísseis de cruzeiro lançados por submarinos na cidade síria de Latakia, um importante porto.
O ataque secreto destruiu um estoque do que se acreditava ser de 50 novos mísseis anti-navio de fabricação russa, os temidos Yakhont que as autoridades dos EUA disseram que poderia ser usado contra navios que fornecem armas paras os rebeldes.
De acordo com as autoridades americanas, o governo israelense censuriu a imprensa nacional sobre o ataque devido a preocupações de que qualquer discussão pública pode provocar contra-ataques sírios contra o Estado judeu.
Israel também temiam que os mísseis Yakhont fossem transferidas para o Hizbollah. O grupo libanês em 2006 recebera alguns mísseis anti-navio chineses da Força Quds, uma força de elite Pasdaran (Corpo dos Guardiões da Revolução Islâmica do Irã).
Durante a Guerra do Líbano de 2006, um míssil anti-navio C-802 disparado pelo Hizbollah quase afundou uma corveta israelense na costa do Líbano. Os C-802 foram vendidos para o Irã na década de 1990 e transferido para o Hizbollah.
Altos funcionários do Pentágono, incluindo o vice-secretário de Defesa, Aston Carter, que está atualmente visitando Israel, discutiram o vazamento durante reuniões com autoridades israelenses esta semana. Os israelenses argumentaram em reuniões privadas que o vazamento desse tipo de notícia poderia levar a Síria contra-atacar Israel.
O secretário de imprensa do Pentágono, George Little, se recusou a comentar quando perguntado se Carter discutiu os vazamentos da notícia em reuniões com autoridades israelenses na segunda-feira.
O ataque militar de Israel foi incomum porque se tratava de um ataque com mísseis de cruzeiro lançados por submarinos na cidade síria de Latakia, um importante porto.
O ataque secreto destruiu um estoque do que se acreditava ser de 50 novos mísseis anti-navio de fabricação russa, os temidos Yakhont que as autoridades dos EUA disseram que poderia ser usado contra navios que fornecem armas paras os rebeldes.
De acordo com as autoridades americanas, o governo israelense censuriu a imprensa nacional sobre o ataque devido a preocupações de que qualquer discussão pública pode provocar contra-ataques sírios contra o Estado judeu.
Israel também temiam que os mísseis Yakhont fossem transferidas para o Hizbollah. O grupo libanês em 2006 recebera alguns mísseis anti-navio chineses da Força Quds, uma força de elite Pasdaran (Corpo dos Guardiões da Revolução Islâmica do Irã).
Durante a Guerra do Líbano de 2006, um míssil anti-navio C-802 disparado pelo Hizbollah quase afundou uma corveta israelense na costa do Líbano. Os C-802 foram vendidos para o Irã na década de 1990 e transferido para o Hizbollah.
Especialista chinês explica porque a China tem interesse no caça russo Su-35
Desde que se deu a conhecer o interesse da China pela aquisição dos caças multifuncionais russos Su-35, o caça passou a ser o centro de atenção do recente concluindo Salão Aeronáutico de Paris, fazendo com que especialistas chineses falassem sobre o tema.
Nesse sentido, o especialista militar chinês Liu Linchuan, concedeu uma extensa entrevista a qual explicou a aquisição de caças Su-35 para Força Aérea do Exército de Libertação Popular, informa o portal militar chinês mil.news.sina.com.cn.
A seguir apresentarei fragmentos da entrevista concedida por Liu Linchuan:
Manobrabilidade
"O Su-35 não tem capacidades furtivas, não possibilidade de realizar um vôo de cruzeiro a velocidades supersônicas, mas dispõe de uma super-manobrabilidade graças as seus motores 117-S (AL-41F1S) com empuxo vetorial. Nesse aspecto supera qualquer caça de 4ª geração".
Tecnologias furtivas
"O Su-35 está dotado de um potente radar PESA Irbis (Radar Passivo de Varredura Eletrônica). A Rússia afirma que o radar é capaz de detectar um alvo com seção transversal de radar (RCS, por sua sigla em inglês) de 0,01 metros quadrados a uma distância de 90 km. Os EUA anunciaram que em alguns ângulos o RCS do F-35 é do mesmo valor, e o RCS do F-22 equivale a 0,001 metros. A empresa Lockheed Martin afirma que o RCS do F-22 frontal é de 0,0001 metros. Mas em alguns países se informa que o RCS do F-35 é de 0,05 metros e do F-22 é de 0,01 metros. Se o radar do Su-35 detecta alvos com RCS de 0,01 metros a uma distância de 90 km, ele pode detectar o F-22, ou na pior das hipóteses o F-35. Por tanto, isso compensaria em grande medida a vantagem da tecnologia furtiva de caças americanas.
Motores
"A China está muito interessada em conseguir os motores 117-S. Será para nós uma vantagem adicional. A Rússia não vende esses motores sem os Su-35, percebemos isso. A China, no entanto, ainda necessita de motores russos".
Radar
"Também temos um grande interesse no radar Irbis. Na atualidade, a China domina a tecnologia de fabricação de radares AESA (Radar de Varredura Eletrônica Ativa), mas isso não quer dizer que fechamos as portas para tecnologia estrangeira. O Irbis tem coisas únicas, como avançados algoritimos de software. O equipamento russo em muitas vezes é feito de uma forma muito simples, mas rem um bom desempenho. O conhecimento no Irbis nos ajudaria a entender o desenvolvimento de tecnologia chave nessa aérea; devemos esclarecer os pontos e frágeis de oturos equipamentos para melhor nossos sistemas.
Armas
"O arsenal do Su-35 incluem mísseis de longo alcance com motores ramjet (motores a jato que faltam compressores e turbinas). Estamos também a desenvolver tais mísseis, mas por que não olhar para os desenvolvimentos dos outros, se possível? ".
Por que não PAK-FA?
"Talvez o caça russo T-50 (PAK-FA) é tecnologicamente mais avançado do que o J-20, e, claro, melhor do que o Su-35. Porém, ele ainda é 'verde' e ainda está em testes. Se comprarmos ou que participarmos do programa T-50, perderemos a independência nessa área. Eu acho que a escolha do Su-35 foi um sucesso, e até certo ponto esta aeronave é capaz de lidar com o F-22 e F-35 ".
Nesse sentido, o especialista militar chinês Liu Linchuan, concedeu uma extensa entrevista a qual explicou a aquisição de caças Su-35 para Força Aérea do Exército de Libertação Popular, informa o portal militar chinês mil.news.sina.com.cn.
A seguir apresentarei fragmentos da entrevista concedida por Liu Linchuan:
Manobrabilidade
"O Su-35 não tem capacidades furtivas, não possibilidade de realizar um vôo de cruzeiro a velocidades supersônicas, mas dispõe de uma super-manobrabilidade graças as seus motores 117-S (AL-41F1S) com empuxo vetorial. Nesse aspecto supera qualquer caça de 4ª geração".
Tecnologias furtivas
"O Su-35 está dotado de um potente radar PESA Irbis (Radar Passivo de Varredura Eletrônica). A Rússia afirma que o radar é capaz de detectar um alvo com seção transversal de radar (RCS, por sua sigla em inglês) de 0,01 metros quadrados a uma distância de 90 km. Os EUA anunciaram que em alguns ângulos o RCS do F-35 é do mesmo valor, e o RCS do F-22 equivale a 0,001 metros. A empresa Lockheed Martin afirma que o RCS do F-22 frontal é de 0,0001 metros. Mas em alguns países se informa que o RCS do F-35 é de 0,05 metros e do F-22 é de 0,01 metros. Se o radar do Su-35 detecta alvos com RCS de 0,01 metros a uma distância de 90 km, ele pode detectar o F-22, ou na pior das hipóteses o F-35. Por tanto, isso compensaria em grande medida a vantagem da tecnologia furtiva de caças americanas.
Motores
"A China está muito interessada em conseguir os motores 117-S. Será para nós uma vantagem adicional. A Rússia não vende esses motores sem os Su-35, percebemos isso. A China, no entanto, ainda necessita de motores russos".
Radar
"Também temos um grande interesse no radar Irbis. Na atualidade, a China domina a tecnologia de fabricação de radares AESA (Radar de Varredura Eletrônica Ativa), mas isso não quer dizer que fechamos as portas para tecnologia estrangeira. O Irbis tem coisas únicas, como avançados algoritimos de software. O equipamento russo em muitas vezes é feito de uma forma muito simples, mas rem um bom desempenho. O conhecimento no Irbis nos ajudaria a entender o desenvolvimento de tecnologia chave nessa aérea; devemos esclarecer os pontos e frágeis de oturos equipamentos para melhor nossos sistemas.
Armas
"O arsenal do Su-35 incluem mísseis de longo alcance com motores ramjet (motores a jato que faltam compressores e turbinas). Estamos também a desenvolver tais mísseis, mas por que não olhar para os desenvolvimentos dos outros, se possível? ".
Por que não PAK-FA?
"Talvez o caça russo T-50 (PAK-FA) é tecnologicamente mais avançado do que o J-20, e, claro, melhor do que o Su-35. Porém, ele ainda é 'verde' e ainda está em testes. Se comprarmos ou que participarmos do programa T-50, perderemos a independência nessa área. Eu acho que a escolha do Su-35 foi um sucesso, e até certo ponto esta aeronave é capaz de lidar com o F-22 e F-35 ".
Ucrânia desenvolve sistema portátil de míssil anti-tanque "único" às bases do ATGM "Corsar"
A Ucrânia conduziu testes com um novo sistema portátil de mísseis anti-tanque "Corsar" e um polígono de testes próximo a Kiev, revelou nesta quinta-feira (25) o projetista chefe da Luch State Design Bureau, Oleg Korostelev.
O sistema Corsar é destinado a alvos blindados imóveis e móveis como tanques, IFV, APC, navios de assalto de alta velocidade, bem como pequenos objetivos como fortificações, helicópteros, UAVs, disse Korostelev.
"O alcance de tiro é de cerca de 2,5 km, ou seja, duas vezes maior que as armas anti-tanques leves. Mísseis guiados trabalhando segundo a luz refletida de um laser. O míssil pode ser disparado desde o ombro. O preço do sistema Corsar é quase três vezes menor que dos concorrentes estrangeiros: Ele custa US$ 13 mil.
O sistema Corsar é destinado a alvos blindados imóveis e móveis como tanques, IFV, APC, navios de assalto de alta velocidade, bem como pequenos objetivos como fortificações, helicópteros, UAVs, disse Korostelev.
"O alcance de tiro é de cerca de 2,5 km, ou seja, duas vezes maior que as armas anti-tanques leves. Mísseis guiados trabalhando segundo a luz refletida de um laser. O míssil pode ser disparado desde o ombro. O preço do sistema Corsar é quase três vezes menor que dos concorrentes estrangeiros: Ele custa US$ 13 mil.
Comissão Europeia quer fomentar programa de drones
Financiar pesquisas em conjunto para facilitar a formação de um programa europeu de drones: a Comissão dirigida por José Manuel Barroso deve sugerir que se unam mais os esforços para concretizar a defesa da Europa. Ela pretende lançar um projeto piloto --uma centena de milhões de euros em três anos-- para apoiar diferentes tecnologias de uso militar e civil, como os aviões não tripulados, os equipamentos de comunicação ou a detecção de armamentos químicos, bacteriológicos e nucleares, segundo um documento que prepara um Conselho Europeu sobre a Defesa previsto para dezembro. "A Europa deve assumir maiores responsabilidades para sua segurança doméstica e externa", alega esse texto, neste momento em que "os Estados Unidos estão reconsiderando suas prioridades estratégicas para a Ásia".
A iniciativa de Bruxelas é inédita na medida em que a Comissão havia evitado até então intensificar esforços em matéria de defesa, um domínio onde teoricamente ela não possui nenhuma competência específica. Essas sugestões deram lugar a um esforço sem precedentes de diálogo nesse domínio entre os diferentes serviços de Bruxelas, comandado pelos comissários Antonio Tajani (indústria) e Michel Barnier (mercado interno).
"A ideia é ir até o fundo das competências da Comissão sem ultrapassá-las, em matéria de espaço, de pesquisa, de energia ou de mercados públicos para estarmos prontos a agir em outros assuntos concretos se houver uma vontade comum de avançar em matéria de defesa, em dezembro," explica Michel Barnier.
Mercados fragmentados
Barnier e Tajani propõem destinar, dentro de 15 anos, parte do orçamento europeu --cujo tamanho ainda não foi especificado-- para a compra coletiva de material militar. A ideia seria adquirir cerca de quinze aparelhos de transporte A400M, laboratórios anti-bacteriológicos ou navios-hospitais que seriam disponibilizados para os Estados-membros, em função de suas necessidades, ou destinados a intervenções sob bandeira europeia. Uma abordagem que Michel Barnier já havia defendido sem sucesso no domínio da segurança civil, quando ele havia proposto, em 2006, dividir as compras da Canadair ou de barcos anti-incêndio.
A Comissão também está incentivando os Estados a aplicarem as diretivas sobre os mercados públicos militares e as transferências de tecnologias adotadas nos últimos anos. Para ela, os mercados europeus da Defesa estão fragmentados e divididos demais, em detrimento das indústrias. Para reforçar os atores europeus, a Comissão pleiteia a criação de programas conjuntos de equipamentos, como o que ela deseja em matéria de drones. Esse assunto foi conversado entre Michel Barnier e o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, ele também preocupado em iniciar uma dinâmica europeia nesse domínio.
"Será dada prioridade aos setores onde capacidades europeias seriam mais necessárias, procurando sinergias com os programas de pesquisa nacionais," explica a Comissão. Para ela, seria ainda mais urgente agira coletivamente pelo fato de que o orçamento militar dos Estados europeus passou de um total de 251 bilhões de euros em 2001 para 194 bilhões em 2010. Os 28 Estados-membros destinariam somente 9 bilhões por ano à pesquisa militar, ou seja, sete vezes menos que os Estados Unidos.
A iniciativa se se aproxima dos trabalhos de Catherine Ashton, a alta representante para as relações exteriores, que no entanto tem pouco interesse no desenvolvimento da defesa europeia. Em um projeto de relatório que ela pretende apresentar em setembro aos Estados, a britânica, que também é diretora da Agência Europeia da Defesa, vai direto ao ponto: "Nenhum governo europeu pode se lançar sozinho em novos programas: os investimentos necessários são elevados demais, e os mercados nacionais são modestos demais".
A iniciativa de Bruxelas é inédita na medida em que a Comissão havia evitado até então intensificar esforços em matéria de defesa, um domínio onde teoricamente ela não possui nenhuma competência específica. Essas sugestões deram lugar a um esforço sem precedentes de diálogo nesse domínio entre os diferentes serviços de Bruxelas, comandado pelos comissários Antonio Tajani (indústria) e Michel Barnier (mercado interno).
"A ideia é ir até o fundo das competências da Comissão sem ultrapassá-las, em matéria de espaço, de pesquisa, de energia ou de mercados públicos para estarmos prontos a agir em outros assuntos concretos se houver uma vontade comum de avançar em matéria de defesa, em dezembro," explica Michel Barnier.
Mercados fragmentados
Barnier e Tajani propõem destinar, dentro de 15 anos, parte do orçamento europeu --cujo tamanho ainda não foi especificado-- para a compra coletiva de material militar. A ideia seria adquirir cerca de quinze aparelhos de transporte A400M, laboratórios anti-bacteriológicos ou navios-hospitais que seriam disponibilizados para os Estados-membros, em função de suas necessidades, ou destinados a intervenções sob bandeira europeia. Uma abordagem que Michel Barnier já havia defendido sem sucesso no domínio da segurança civil, quando ele havia proposto, em 2006, dividir as compras da Canadair ou de barcos anti-incêndio.
A Comissão também está incentivando os Estados a aplicarem as diretivas sobre os mercados públicos militares e as transferências de tecnologias adotadas nos últimos anos. Para ela, os mercados europeus da Defesa estão fragmentados e divididos demais, em detrimento das indústrias. Para reforçar os atores europeus, a Comissão pleiteia a criação de programas conjuntos de equipamentos, como o que ela deseja em matéria de drones. Esse assunto foi conversado entre Michel Barnier e o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, ele também preocupado em iniciar uma dinâmica europeia nesse domínio.
"Será dada prioridade aos setores onde capacidades europeias seriam mais necessárias, procurando sinergias com os programas de pesquisa nacionais," explica a Comissão. Para ela, seria ainda mais urgente agira coletivamente pelo fato de que o orçamento militar dos Estados europeus passou de um total de 251 bilhões de euros em 2001 para 194 bilhões em 2010. Os 28 Estados-membros destinariam somente 9 bilhões por ano à pesquisa militar, ou seja, sete vezes menos que os Estados Unidos.
A iniciativa se se aproxima dos trabalhos de Catherine Ashton, a alta representante para as relações exteriores, que no entanto tem pouco interesse no desenvolvimento da defesa europeia. Em um projeto de relatório que ela pretende apresentar em setembro aos Estados, a britânica, que também é diretora da Agência Europeia da Defesa, vai direto ao ponto: "Nenhum governo europeu pode se lançar sozinho em novos programas: os investimentos necessários são elevados demais, e os mercados nacionais são modestos demais".
Ataques a prisões geram temores quanto à força da Al-Qaeda no Iraque
Os ataques ousados a duas prisões no Iraque nesta semana foram importantes não só pelas centenas de prisioneiros libertados, mas também por que indicaram a capacidade crescente do braço iraquiano da Al-Qaeda, disseram as autoridades americanas e especialistas de fora do governo nesta terça-feira (23).
Os ataques contra as prisões de Abu Ghraib e Taji foram operações cuidadosamente sincronizadas, nas quais os membros da Al-Qaeda utilizaram morteiros para deter as forças iraquianas, enviaram suicidas para furar suas defesas e, em seguida, enviaram uma força de assalto para libertar os detentos, segundo especialistas ocidentais.
"Estamos preocupados com o aumento do ritmo e da sofisticação das operações da Al-Qaeda no Iraque", disse um alto funcionário do Departamento de Estado, que pediu anonimato por não querer comentar publicamente assuntos internos do Iraque.
James F. Jeffrey, que era o embaixador dos EUA em Bagdá quando as últimas tropas dos Estados Unidos partiram em dezembro de 2011, disse que as forças iraquianas têm tido um desempenho fraco e que ficou claro que suas habilidades se deterioraram com a partida das tropas de treinamento americano.
"Este é o primeiro exemplo que vi do impacto no campo de batalha gerado pela ausência das tropas norte-americanas, que teriam fornecido treinamento tático", disse Jeffrey, que atualmente é professor visitante no Instituto Washington para Política do Oriente Próximo.
A audácia dos ataques marcou a deterioração das condições no Iraque, onde a estabilidade tem sido prejudicada por carros-bomba e outros tipos de violência ligados a um ressurgimento das tensões sectárias, principalmente entre a maioria xiita e a minoria sunita.
A filial da Al-Qaeda no Iraque é uma organização de militantes extremistas sunitas, em sua maioria locais, mas que inclui combatentes estrangeiros e tem alguns líderes estrangeiros. "Este ataque é diferente dos outros, que em geral têm como alvo um café ou um mercado público", disse Hamid Fadhil, professor de ciência política na Universidade de Bagdá. "Eles atacaram o lugar mais seguro, com grandes números de forças de segurança".
Outros iraquianos disseram que a fuga das prisões intensificou seus temores de serem mortos ou feridos apenas se aventurarem fora de casa na hora errada. "Se a Al-Qaeda pode atacar uma prisão, isso significa que eles podem fazer o que quiserem quando quiserem", disse o advogado Meluk Abdil Wahab, 45.
Milhares de detentos estavam em Taji e Abu Ghraib, a prisão que se tornou infame pelo escândalo de tortura de prisioneiros iraquianos durante os oito anos de ocupação dos EUA. Houve relatos conflitantes quanto ao número de fugitivos e de baixas entre os membros da Al Qaeda e os oficiais de segurança.
Contudo, ninguém parece discordar que centenas de prisioneiros, alguns dos quais capturados pelas forças norte-americanas antes de sua retirada, agora estão à solta, um resultado que atiçou o medo em Bagdá e além.
A Al Qaeda disse que 500 presos escaparam das duas prisões, todos mujahedins, ou guerreiros sagrados. As autoridades iraquianas disseram que 800 prisioneiros haviam fugido de Abu Ghraib, mas 400 tinham sido recapturados ou mortos.
Eles disseram que nenhum prisioneiro havia escapado de Taji, mas que um certo número havia morrido.
Há outros sinais da ameaça crescente da filial da Al-Qaeda. Cerca de 80 carros-bomba e ataques suicidas foram realizados em maio, um tipo de assalto geralmente associado à organização. Esse foi o maior número de tais ataques desde março de 2008.
Mas Jeffrey considerou a fuga da prisão especialmente preocupante, pois reforçará os combatentes extremistas na região e incentivará alguns iraquianos em áreas sunitas a assumirem uma postura mais militante, pois o episódio será visto como um sinal de que o ramo da Al-Qaeda está ficando mais forte e que as forças do governo são ineficazes.
"Isso vai proporcionar líderes experientes e um impulso moral à Al Qaeda e seus aliados no Iraque e na Síria", disse Jeffrey. "E deve ter um impacto eletrizante sobre a população sunita no Iraque, que estava em cima do muro".
É provável que a fuga dos prisioneiros da Al-Qaeda também aumente a ameaça aos líderes tribais sunitas que se alinharam com as tropas americanas durante o aumento das forças estrangeiras, em 2007 e 2008, e lutaram contra o grupo extremista.
Kirk Sowell, editor do boletim "Inside Iraqui Politics", disse que o episódio danificou ainda mais a imagem cuidadosamente promovida do primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki de homem que trouxe ordem ao Iraque -ainda mais porque al-Maliki controlou a nomeação de altos oficiais militares e manteve um firme controle dos ministérios da defesa e do interior.
"O verniz que Maliki tinha de líder forte que reconstruiu o Iraque se foi", disse Sowell.
Segundo o relato da Al Qaeda, os planejadores dos ataques iniciados no domingo à noite coordenaram a detonação de 12 carros-bomba e uma rodada de morteiros e foguetes para matar sentinelas do lado de fora das prisões, enquanto grupos de militantes fortemente armados, que tinham jurado não saírem vivos até que os prisioneiros fossem libertados, invadiram as entradas.
Um comitê de emergência formado por al-Maliki para investigar os ataques declarou que suas informações iniciais sugeriam que "alguns guardas estavam envolvidos nos ataques terroristas".
Os ataques contra as prisões de Abu Ghraib e Taji foram operações cuidadosamente sincronizadas, nas quais os membros da Al-Qaeda utilizaram morteiros para deter as forças iraquianas, enviaram suicidas para furar suas defesas e, em seguida, enviaram uma força de assalto para libertar os detentos, segundo especialistas ocidentais.
"Estamos preocupados com o aumento do ritmo e da sofisticação das operações da Al-Qaeda no Iraque", disse um alto funcionário do Departamento de Estado, que pediu anonimato por não querer comentar publicamente assuntos internos do Iraque.
James F. Jeffrey, que era o embaixador dos EUA em Bagdá quando as últimas tropas dos Estados Unidos partiram em dezembro de 2011, disse que as forças iraquianas têm tido um desempenho fraco e que ficou claro que suas habilidades se deterioraram com a partida das tropas de treinamento americano.
"Este é o primeiro exemplo que vi do impacto no campo de batalha gerado pela ausência das tropas norte-americanas, que teriam fornecido treinamento tático", disse Jeffrey, que atualmente é professor visitante no Instituto Washington para Política do Oriente Próximo.
A audácia dos ataques marcou a deterioração das condições no Iraque, onde a estabilidade tem sido prejudicada por carros-bomba e outros tipos de violência ligados a um ressurgimento das tensões sectárias, principalmente entre a maioria xiita e a minoria sunita.
A filial da Al-Qaeda no Iraque é uma organização de militantes extremistas sunitas, em sua maioria locais, mas que inclui combatentes estrangeiros e tem alguns líderes estrangeiros. "Este ataque é diferente dos outros, que em geral têm como alvo um café ou um mercado público", disse Hamid Fadhil, professor de ciência política na Universidade de Bagdá. "Eles atacaram o lugar mais seguro, com grandes números de forças de segurança".
Outros iraquianos disseram que a fuga das prisões intensificou seus temores de serem mortos ou feridos apenas se aventurarem fora de casa na hora errada. "Se a Al-Qaeda pode atacar uma prisão, isso significa que eles podem fazer o que quiserem quando quiserem", disse o advogado Meluk Abdil Wahab, 45.
Milhares de detentos estavam em Taji e Abu Ghraib, a prisão que se tornou infame pelo escândalo de tortura de prisioneiros iraquianos durante os oito anos de ocupação dos EUA. Houve relatos conflitantes quanto ao número de fugitivos e de baixas entre os membros da Al Qaeda e os oficiais de segurança.
Contudo, ninguém parece discordar que centenas de prisioneiros, alguns dos quais capturados pelas forças norte-americanas antes de sua retirada, agora estão à solta, um resultado que atiçou o medo em Bagdá e além.
A Al Qaeda disse que 500 presos escaparam das duas prisões, todos mujahedins, ou guerreiros sagrados. As autoridades iraquianas disseram que 800 prisioneiros haviam fugido de Abu Ghraib, mas 400 tinham sido recapturados ou mortos.
Eles disseram que nenhum prisioneiro havia escapado de Taji, mas que um certo número havia morrido.
Há outros sinais da ameaça crescente da filial da Al-Qaeda. Cerca de 80 carros-bomba e ataques suicidas foram realizados em maio, um tipo de assalto geralmente associado à organização. Esse foi o maior número de tais ataques desde março de 2008.
Mas Jeffrey considerou a fuga da prisão especialmente preocupante, pois reforçará os combatentes extremistas na região e incentivará alguns iraquianos em áreas sunitas a assumirem uma postura mais militante, pois o episódio será visto como um sinal de que o ramo da Al-Qaeda está ficando mais forte e que as forças do governo são ineficazes.
"Isso vai proporcionar líderes experientes e um impulso moral à Al Qaeda e seus aliados no Iraque e na Síria", disse Jeffrey. "E deve ter um impacto eletrizante sobre a população sunita no Iraque, que estava em cima do muro".
É provável que a fuga dos prisioneiros da Al-Qaeda também aumente a ameaça aos líderes tribais sunitas que se alinharam com as tropas americanas durante o aumento das forças estrangeiras, em 2007 e 2008, e lutaram contra o grupo extremista.
Kirk Sowell, editor do boletim "Inside Iraqui Politics", disse que o episódio danificou ainda mais a imagem cuidadosamente promovida do primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki de homem que trouxe ordem ao Iraque -ainda mais porque al-Maliki controlou a nomeação de altos oficiais militares e manteve um firme controle dos ministérios da defesa e do interior.
"O verniz que Maliki tinha de líder forte que reconstruiu o Iraque se foi", disse Sowell.
Segundo o relato da Al Qaeda, os planejadores dos ataques iniciados no domingo à noite coordenaram a detonação de 12 carros-bomba e uma rodada de morteiros e foguetes para matar sentinelas do lado de fora das prisões, enquanto grupos de militantes fortemente armados, que tinham jurado não saírem vivos até que os prisioneiros fossem libertados, invadiram as entradas.
Um comitê de emergência formado por al-Maliki para investigar os ataques declarou que suas informações iniciais sugeriam que "alguns guardas estavam envolvidos nos ataques terroristas".
Iraque sofre onda de violência inédita desde a retirada americana
A Al-Qaeda no Iraque pode comemorar. O ataque de grande magnitude, conduzido na segunda-feira (22) contra duas prisões de Bagdá, que permitiu que centenas de detentos fugissem, remete às horas mais sombrias do país. Reivindicado pelo Estado Islâmico no Iraque e no Levante, a franquia local da rede jihadista, o duplo ataque fez cerca de 40 mortos e mostrou mais uma vez a negligência do governo do primeiro-ministro Nouri al-Maliki. Esse xiita, no poder há sete anos, parece incapaz de conter o surto de violência que fez mais de 620 mortos em julho, um dos saldos mais sangrentos desde que os americanos se retiraram, em dezembro de 2011.
O caráter niilista desses atentados, que atingiram tanto comboios militares quanto campos de futebol ou cafés, lembra os anos de guerra civil, entre 2006 e 2009, quando milicianos xiitas e combatentes da Al-Qaeda cometiam massacres aleatoriamente e em sequência. "Voltamos à estaca zero", analisa Pierre-Jean Luizard, historiador do CNRS. "O país voltou a ser prisioneiro de grupos que querem fazer dele terra arrasada, propagar o caos, com o único intuito de comprometer a potência americana".
A Al-Qaeda tomou como alvo as duas maiores prisões do Iraque: a de Taji, no subúrbio norte de Bagdá, e a de Abu Ghraib, na periferia oeste, que ficou famosa pelas torturas cometidas ali por soldados americanos em 2004 contra detentos iraquianos. Os ataques, que começaram simultaneamente no domingo à noite e continuaram até a manhã seguinte, mostraram um raro grau de sofisticação. Barreira de foguetes contra os estabelecimentos, explosão de homens-bomba e carros-bomba em frente às suas portas, tudo combinado com presos amotinados, em colaboração com carcereiros.
Revés devastador para Maliki
Planejada há meses, a operação permitiu a evasão de pelo menos 500 prisioneiros, entre eles vários membros sêniores da Al-Qaeda condenados à morte. Um revés devastador para o primeiro-ministro Nouri al-Maliki, que há seis meses enfrenta protestos da minoria sunita, que se julga discriminada. "O fato de as duas prisões mais bem protegidas do país, situadas a alguns quilômetros da sede do governo, terem sido bombardeadas durante horas não é mais um erro, é o sinal de uma disfunção estrutural do Estado", afirma Hosham Dawod, um pesquisador residente no Iraque.
Essa operação de impacto ocorreu em um contexto de recrudescimento muito forte da violência. Quase todos os dias trazem algum atentado ou emboscada. No sábado (20), a explosão de dez carros-bomba nas ruas comerciais de Bagdá, de maioria xiita, fez 60 mortos e 190 feridos, ou seja, a ofensiva mais sangrenta na capital desde o início do ramadã. As deflagrações ocorreram no início da noite, após o iftar, a refeição de quebra do jejum, enquanto a multidão andava pelas ruas para fazer compras ou aproveitar um pouco de frescor depois de um dia escaldante. Na véspera, vinte pessoas haviam morrido em um atentado perpetrado em uma mesquita sunita em Wadjihiya, uma cidade ao norte de Bagdá.
Os cafés e os campos de futebol, que eram os raros lugares de coexistência entre comunidades, não são mais poupados. Segundo contagem da AFP, cerca de 50 pessoas morreram nos últimos meses em uma dezena de ataques contra jogadores. Em fevereiro, a irrupção de um homem-bomba no estádio de Shoula, no norte de Bagdá, custou a vida de 18 pessoas, em sua maior parte jovens jogadores de futebol. O ataque a cafés tem o mesmo objetivo: semear pânico entre a população e aumentar a raiva da opinião pública contra o governo. Em meados de julho, cerca de quarenta clientes de um café de Kirkouk, no norte do país, morreram em um atentado suicida enquanto jogavam dados, após o iftar. Os cafés, que costumam ficar lotados, sobretudo nessa época de ramadã, hoje estão abandonados, sinal do medo e da desconfiança que corroem a sociedade iraquiana.
"Cada lado está se entrincheirando"
A radicalização do lado sunita, como mostra a volta da Al-Qaeda, e que está sendo combatida pelo despertar das milícias xiitas, é alimentada pelo conflito na Síria. "O desencadeamento da revolta contra o regime Assad foi visto pelos sunitas iraquianos como o sinal da revanche, a prova de que eles podem escapar de seu status de minoria marginalizada", explica Pierre-Jean Luizard.
Estaria o país fadado a mergulhar novamente na guerra civil? O nível de violência por ora continua abaixo do registrado nos anos de 2006 e 2007, quando ocorreram mais de 3 mil mortes por mês. Mas a galopante confessionalização do cenário político, que pode ser vista no fim das chapas que reúnem diversas etnias, desperta muita preocupação, assim como a intransigência de Nouri al-Maliki, contrário a qualquer ideia de demissão.
"Cada lado está se entrincheirando", observa Hosham Dawood. "O pouco de Estado que foi construído nesses últimos anos está ruindo. Al-Maliki fracassou em produzir uma alternativa ao sectarismo e em unir a população em torno de valores em comum".
O caráter niilista desses atentados, que atingiram tanto comboios militares quanto campos de futebol ou cafés, lembra os anos de guerra civil, entre 2006 e 2009, quando milicianos xiitas e combatentes da Al-Qaeda cometiam massacres aleatoriamente e em sequência. "Voltamos à estaca zero", analisa Pierre-Jean Luizard, historiador do CNRS. "O país voltou a ser prisioneiro de grupos que querem fazer dele terra arrasada, propagar o caos, com o único intuito de comprometer a potência americana".
A Al-Qaeda tomou como alvo as duas maiores prisões do Iraque: a de Taji, no subúrbio norte de Bagdá, e a de Abu Ghraib, na periferia oeste, que ficou famosa pelas torturas cometidas ali por soldados americanos em 2004 contra detentos iraquianos. Os ataques, que começaram simultaneamente no domingo à noite e continuaram até a manhã seguinte, mostraram um raro grau de sofisticação. Barreira de foguetes contra os estabelecimentos, explosão de homens-bomba e carros-bomba em frente às suas portas, tudo combinado com presos amotinados, em colaboração com carcereiros.
Revés devastador para Maliki
Planejada há meses, a operação permitiu a evasão de pelo menos 500 prisioneiros, entre eles vários membros sêniores da Al-Qaeda condenados à morte. Um revés devastador para o primeiro-ministro Nouri al-Maliki, que há seis meses enfrenta protestos da minoria sunita, que se julga discriminada. "O fato de as duas prisões mais bem protegidas do país, situadas a alguns quilômetros da sede do governo, terem sido bombardeadas durante horas não é mais um erro, é o sinal de uma disfunção estrutural do Estado", afirma Hosham Dawod, um pesquisador residente no Iraque.
Essa operação de impacto ocorreu em um contexto de recrudescimento muito forte da violência. Quase todos os dias trazem algum atentado ou emboscada. No sábado (20), a explosão de dez carros-bomba nas ruas comerciais de Bagdá, de maioria xiita, fez 60 mortos e 190 feridos, ou seja, a ofensiva mais sangrenta na capital desde o início do ramadã. As deflagrações ocorreram no início da noite, após o iftar, a refeição de quebra do jejum, enquanto a multidão andava pelas ruas para fazer compras ou aproveitar um pouco de frescor depois de um dia escaldante. Na véspera, vinte pessoas haviam morrido em um atentado perpetrado em uma mesquita sunita em Wadjihiya, uma cidade ao norte de Bagdá.
Os cafés e os campos de futebol, que eram os raros lugares de coexistência entre comunidades, não são mais poupados. Segundo contagem da AFP, cerca de 50 pessoas morreram nos últimos meses em uma dezena de ataques contra jogadores. Em fevereiro, a irrupção de um homem-bomba no estádio de Shoula, no norte de Bagdá, custou a vida de 18 pessoas, em sua maior parte jovens jogadores de futebol. O ataque a cafés tem o mesmo objetivo: semear pânico entre a população e aumentar a raiva da opinião pública contra o governo. Em meados de julho, cerca de quarenta clientes de um café de Kirkouk, no norte do país, morreram em um atentado suicida enquanto jogavam dados, após o iftar. Os cafés, que costumam ficar lotados, sobretudo nessa época de ramadã, hoje estão abandonados, sinal do medo e da desconfiança que corroem a sociedade iraquiana.
"Cada lado está se entrincheirando"
A radicalização do lado sunita, como mostra a volta da Al-Qaeda, e que está sendo combatida pelo despertar das milícias xiitas, é alimentada pelo conflito na Síria. "O desencadeamento da revolta contra o regime Assad foi visto pelos sunitas iraquianos como o sinal da revanche, a prova de que eles podem escapar de seu status de minoria marginalizada", explica Pierre-Jean Luizard.
Estaria o país fadado a mergulhar novamente na guerra civil? O nível de violência por ora continua abaixo do registrado nos anos de 2006 e 2007, quando ocorreram mais de 3 mil mortes por mês. Mas a galopante confessionalização do cenário político, que pode ser vista no fim das chapas que reúnem diversas etnias, desperta muita preocupação, assim como a intransigência de Nouri al-Maliki, contrário a qualquer ideia de demissão.
"Cada lado está se entrincheirando", observa Hosham Dawood. "O pouco de Estado que foi construído nesses últimos anos está ruindo. Al-Maliki fracassou em produzir uma alternativa ao sectarismo e em unir a população em torno de valores em comum".
Diretor da NSA faz lobby na Câmara na véspera de votação decisiva sobre espionagem
O governo Obama agiu rápido na terça-feira passada para diminuir a oposição do Congresso em relação às operações de espionagem internas da Agência de Segurança Nacional (NSA, a National Security Agency), num momento em que a Câmara dos Deputados se preparava para votar uma legislação que impediria a coleta, pela NSA, dos registros relacionados a todas as chamadas telefônicas feitas ou recebidas dentro dos Estados Unidos.
O general Keith B. Alexander, diretor da NSA, reuniu-se com democratas e republicanos para fazer lobby contra uma proposta de emenda a um projeto de lei de dotações militares que suspenderia o financiamento para o programa de coleta de dados telefônicos da NSA. A legislação, apresentada pelos republicanos, é um dos primeiros esforços do Congresso dos EUA para restringir as atividades de espionagem interna realizadas pela agência, que foram expostas por Edward J. Snowden, o ex-técnico terceirizado da NSA.
Posteriormente, ainda na terça-feira passada, a Casa Branca emitiu um comunicado elogiando a proposta para a realização de um debate sobre as atividades de monitoramento, mas denunciando "os atuais esforços da Câmara para desmontar de maneira apressada" o programa de monitoramento de chamadas. O governo também exortou os parlamentares a votarem contra a legislação e a realizarem uma "análise bem fundamentada sobre quais ferramentas são capazes de proteger melhor o país".
"Esta abordagem abrupta não é produto de um processo bem informado, aberto ou deliberativo", afirmou o comunicado da Casa Branca.
A visita de Alexander ao Capitólio ocorreu enquanto um dos principais críticos no Senado sobre a coleta de dados telefônicos em larga escala dos norte-americanos realizada pela NSA opinava sobre a extensa operação de monitoramento praticada pelo governo dos EUA. O senador democrata Ron Wyden, do Oregon, declarou que os recentes vazamentos de Snowden relacionados à espionagem interna criaram um "momento único em nossa história constitucional" para reformar o que, segundo ele, se transformou em um "estado de vigilância onipresente e constantemente em expansão".
Wyden, que é o principal crítico das operações de espionagem dentro do Senado e membro da comissão de inteligência da casa, também deu a entender que a coleta realizada pelo governo dos registros de todas as chamadas telefônicas realizadas nos EUA não constitui o único e extenso programa desse tipo. E ele criticou as autoridades do setor de segurança nacional do governo Obama, dizendo que elas enganaram "ativamente" o público norte-americano em relação ao monitoramento interno que estava sendo realizado.
"Conforme temos visto nos últimos dias, a liderança da área da inteligência está determinada a se agarrar a esse poder", disse Wyden. "Aliar a capacidade de realizar um monitoramento que revele todos os aspectos da vida de uma pessoa à capacidade de evocar a autoridade legal para executar esse tipo de vigilância e, por fim, eliminar qualquer tipo de supervisão judicial que seja sujeita à prestação de contas, cria a oportunidade para uma influência sem precedentes sobre o nosso sistema de governo".
Wyden falou no Center for American Progress, local que abriga um grupo de pesquisa liberal. Ele foi um dos poucos senadores que alertaram --anos antes dos vazamentos de Snowden-- que o governo estava interpretando de maneira sigilosa e alarmante os poderes concedidos a ele pelo Patriot Act (Lei Patriota).
Embora Wyden tenha adotado há muito tempo uma postura crítica em relação às autoridades responsáveis pelo monitoramento interno do governo e em relação à confiança delas no que ele chama de lei secreta --memorandos sigilosos e decisões judiciais que interpretam leis como o Patriot Act--, o discurso do senador foi mais longe ao criticar o governo e pedir mudanças.
Entre outras coisas, Wyden sugeriu que a coleta indiscriminada de todos os registros telefônicos internos dos EUA não é o único exemplo de esforço de monitoramento desse tipo em vigor atualmente e afirmou que as informações divulgadas por Snowden significam que o público finalmente será capaz de conhecer "parte" das questões sobre as quais ele tem alertado. Wyden disse ainda que a mesma teoria legal foi considerada para autorizar "programas de vigilância secreta" --no plural--, "que eu e meus colegas acreditamos que vão muito além da intenção da lei".
Wyden não explicou que outras decisões ou programas se basearam nessa interpretação legal, mas se queixou e disse que suas mãos estão atadas por normas referentes a informações sigilosas. O governo Obama realizou um programa de coleta de dados de e-mail nos mesmos moldes e dimensões do programa de coleta de dados telefônicos, mas autoridades disseram que esse programa foi encerrado em 2011.
Wyden disse que o governo dos EUA considera os poderes concedidos a ele pelo Patriot Act para coletar registros sobre pessoas de outros países ou organizações "essencialmente ilimitados", pois a Casa Branca alega que poderá usar essa autoridade para reunir registros médicos, financeiros, de cartão de crédito e dados sobre porte de armas de fogo em massa ou listas dos "leitores de livros e revistas considerados subversivos". O senador também se debruçou sobre o potencial dos celulares de atuarem como dispositivos secretos de vigilância, uma vez que todas as pessoas carregam consigo "uma escuta telefônica com código, um fone, um dispositivo de monitoramento da localização geográfica e uma câmera oculta".
O discurso do senador Wyden ajudou a moldar o debate relacionado à votação, prevista para ocorrer esta quarta-feira, sobre uma emenda ao projeto de lei das dotações da área de defesa da Câmara dos Deputados, que foi apresentada pelo deputado republicano do Michigan, Justin Amash, que pretende suspender o programa de coleta de registros telefônicos da NSA.
Na noite de segunda-feira passada, a Comissão de Normas Internas da Câmara votou e aprovou uma permissão para que a emenda fosse votada no plenário da Câmara, o que provocou a decisão de Alexander de pressionar pessoalmente os membros da Casa. Em apoio a Alexander, a senadora Dianne Feinstein, democrata da Califórnia e presidente da Comissão de Inteligência do Senado, e o senador Saxby Chambliss, republicano da Geórgia, membro minoritário mais sênior do painel de inteligência, emitiram uma declaração conjunta de oposição à legislação da Câmara.
Amash disse em entrevista que não acredita que o encontro de Alexander com os deputados tenha mudado a opinião dos parlamenteares e acrescentou que, para ele, sua legislação tem uma boa chance de ser aprovada.
"Eu acredito que o povo norte-americano é esmagadoramente favorável ao controle da vigilância generalizada e indiscriminada realizada pela NSA", disse Amash.
O general Keith B. Alexander, diretor da NSA, reuniu-se com democratas e republicanos para fazer lobby contra uma proposta de emenda a um projeto de lei de dotações militares que suspenderia o financiamento para o programa de coleta de dados telefônicos da NSA. A legislação, apresentada pelos republicanos, é um dos primeiros esforços do Congresso dos EUA para restringir as atividades de espionagem interna realizadas pela agência, que foram expostas por Edward J. Snowden, o ex-técnico terceirizado da NSA.
Posteriormente, ainda na terça-feira passada, a Casa Branca emitiu um comunicado elogiando a proposta para a realização de um debate sobre as atividades de monitoramento, mas denunciando "os atuais esforços da Câmara para desmontar de maneira apressada" o programa de monitoramento de chamadas. O governo também exortou os parlamentares a votarem contra a legislação e a realizarem uma "análise bem fundamentada sobre quais ferramentas são capazes de proteger melhor o país".
"Esta abordagem abrupta não é produto de um processo bem informado, aberto ou deliberativo", afirmou o comunicado da Casa Branca.
A visita de Alexander ao Capitólio ocorreu enquanto um dos principais críticos no Senado sobre a coleta de dados telefônicos em larga escala dos norte-americanos realizada pela NSA opinava sobre a extensa operação de monitoramento praticada pelo governo dos EUA. O senador democrata Ron Wyden, do Oregon, declarou que os recentes vazamentos de Snowden relacionados à espionagem interna criaram um "momento único em nossa história constitucional" para reformar o que, segundo ele, se transformou em um "estado de vigilância onipresente e constantemente em expansão".
Wyden, que é o principal crítico das operações de espionagem dentro do Senado e membro da comissão de inteligência da casa, também deu a entender que a coleta realizada pelo governo dos registros de todas as chamadas telefônicas realizadas nos EUA não constitui o único e extenso programa desse tipo. E ele criticou as autoridades do setor de segurança nacional do governo Obama, dizendo que elas enganaram "ativamente" o público norte-americano em relação ao monitoramento interno que estava sendo realizado.
"Conforme temos visto nos últimos dias, a liderança da área da inteligência está determinada a se agarrar a esse poder", disse Wyden. "Aliar a capacidade de realizar um monitoramento que revele todos os aspectos da vida de uma pessoa à capacidade de evocar a autoridade legal para executar esse tipo de vigilância e, por fim, eliminar qualquer tipo de supervisão judicial que seja sujeita à prestação de contas, cria a oportunidade para uma influência sem precedentes sobre o nosso sistema de governo".
Wyden falou no Center for American Progress, local que abriga um grupo de pesquisa liberal. Ele foi um dos poucos senadores que alertaram --anos antes dos vazamentos de Snowden-- que o governo estava interpretando de maneira sigilosa e alarmante os poderes concedidos a ele pelo Patriot Act (Lei Patriota).
Embora Wyden tenha adotado há muito tempo uma postura crítica em relação às autoridades responsáveis pelo monitoramento interno do governo e em relação à confiança delas no que ele chama de lei secreta --memorandos sigilosos e decisões judiciais que interpretam leis como o Patriot Act--, o discurso do senador foi mais longe ao criticar o governo e pedir mudanças.
Entre outras coisas, Wyden sugeriu que a coleta indiscriminada de todos os registros telefônicos internos dos EUA não é o único exemplo de esforço de monitoramento desse tipo em vigor atualmente e afirmou que as informações divulgadas por Snowden significam que o público finalmente será capaz de conhecer "parte" das questões sobre as quais ele tem alertado. Wyden disse ainda que a mesma teoria legal foi considerada para autorizar "programas de vigilância secreta" --no plural--, "que eu e meus colegas acreditamos que vão muito além da intenção da lei".
Wyden não explicou que outras decisões ou programas se basearam nessa interpretação legal, mas se queixou e disse que suas mãos estão atadas por normas referentes a informações sigilosas. O governo Obama realizou um programa de coleta de dados de e-mail nos mesmos moldes e dimensões do programa de coleta de dados telefônicos, mas autoridades disseram que esse programa foi encerrado em 2011.
Wyden disse que o governo dos EUA considera os poderes concedidos a ele pelo Patriot Act para coletar registros sobre pessoas de outros países ou organizações "essencialmente ilimitados", pois a Casa Branca alega que poderá usar essa autoridade para reunir registros médicos, financeiros, de cartão de crédito e dados sobre porte de armas de fogo em massa ou listas dos "leitores de livros e revistas considerados subversivos". O senador também se debruçou sobre o potencial dos celulares de atuarem como dispositivos secretos de vigilância, uma vez que todas as pessoas carregam consigo "uma escuta telefônica com código, um fone, um dispositivo de monitoramento da localização geográfica e uma câmera oculta".
O discurso do senador Wyden ajudou a moldar o debate relacionado à votação, prevista para ocorrer esta quarta-feira, sobre uma emenda ao projeto de lei das dotações da área de defesa da Câmara dos Deputados, que foi apresentada pelo deputado republicano do Michigan, Justin Amash, que pretende suspender o programa de coleta de registros telefônicos da NSA.
Na noite de segunda-feira passada, a Comissão de Normas Internas da Câmara votou e aprovou uma permissão para que a emenda fosse votada no plenário da Câmara, o que provocou a decisão de Alexander de pressionar pessoalmente os membros da Casa. Em apoio a Alexander, a senadora Dianne Feinstein, democrata da Califórnia e presidente da Comissão de Inteligência do Senado, e o senador Saxby Chambliss, republicano da Geórgia, membro minoritário mais sênior do painel de inteligência, emitiram uma declaração conjunta de oposição à legislação da Câmara.
Amash disse em entrevista que não acredita que o encontro de Alexander com os deputados tenha mudado a opinião dos parlamenteares e acrescentou que, para ele, sua legislação tem uma boa chance de ser aprovada.
"Eu acredito que o povo norte-americano é esmagadoramente favorável ao controle da vigilância generalizada e indiscriminada realizada pela NSA", disse Amash.
Esquadrão usa óculos de visão noturna para resgate em Corumbá
Uma senhora, que sofreu uma queda, foi resgatada pelo Esquadrão Pelicano da Base Aérea de Campo Grande nesta segunda-feira (22). O resgate só foi possível graças ao uso de óculos de visão noturna que permitiu a localização da vítima.
Segundo informações da assessoria de comunicação da Base Aérea de Campo Grande, no último domingo, Nilcéia Gomes, de 59 anos, moradora da Fazenda Boa Vista, próxima de Corumbá, na beira do rio Taquari, sofreu uma queda de cavalo e fraturou a bacia. O Esquadrão Pelicano foi acionado por volta das 23 horas, do mesmo dia, mas devido ao mau tempo, o helicóptero do Esquadrão não pode decolar.
No dia seguinte, o Esquadrão não conseguiu decolar devido às más condições do tempo, por volta das 11 horas, houve nova tentativa, frustrada por causa do tempo. Somente por volta das 16 horas da segunda-feira, o Esquadrão conseguiu decolar rumo à Fazenda. Ao chegar ao local, já anoitecendo, os militares foram informados que os familiares da vítima, na tentativa de auxiliar Nilcéia, a colocaram na carroceria de uma pick-up e andaram por cerca de 15 km.
Os militares que estavam no helicóptero traçaram a rota do veículo e conseguiram interceptar perto do rio. Os familiares iriam levar a vítima de barco até Corumbá. Segundo a Base Aérea de Campo Grande, os agentes usaram óculos de visão noturna, um equipamento moderno, norte-americano e que permite visualização com pouca ou nenhuma visibilidade.
O Esquadrão está há quatro nãos treinando o uso dos óculos, e por isso, realiza constantemente manobras à noite nos bairros próximos a Base. O resgate de Nilcéia Gomes foi a primeira missão real de resgate que contou com o auxílio dos óculos de visão noturna.
Segundo a assessoria, este é um resultado positivo dos constantes treinamentos realizados à noite, perto da Base Aérea. Nilcéia pode ser resgatada e levada até o município de Corumbá e passa bem.
Segundo informações da assessoria de comunicação da Base Aérea de Campo Grande, no último domingo, Nilcéia Gomes, de 59 anos, moradora da Fazenda Boa Vista, próxima de Corumbá, na beira do rio Taquari, sofreu uma queda de cavalo e fraturou a bacia. O Esquadrão Pelicano foi acionado por volta das 23 horas, do mesmo dia, mas devido ao mau tempo, o helicóptero do Esquadrão não pode decolar.
No dia seguinte, o Esquadrão não conseguiu decolar devido às más condições do tempo, por volta das 11 horas, houve nova tentativa, frustrada por causa do tempo. Somente por volta das 16 horas da segunda-feira, o Esquadrão conseguiu decolar rumo à Fazenda. Ao chegar ao local, já anoitecendo, os militares foram informados que os familiares da vítima, na tentativa de auxiliar Nilcéia, a colocaram na carroceria de uma pick-up e andaram por cerca de 15 km.
Os militares que estavam no helicóptero traçaram a rota do veículo e conseguiram interceptar perto do rio. Os familiares iriam levar a vítima de barco até Corumbá. Segundo a Base Aérea de Campo Grande, os agentes usaram óculos de visão noturna, um equipamento moderno, norte-americano e que permite visualização com pouca ou nenhuma visibilidade.
O Esquadrão está há quatro nãos treinando o uso dos óculos, e por isso, realiza constantemente manobras à noite nos bairros próximos a Base. O resgate de Nilcéia Gomes foi a primeira missão real de resgate que contou com o auxílio dos óculos de visão noturna.
Segundo a assessoria, este é um resultado positivo dos constantes treinamentos realizados à noite, perto da Base Aérea. Nilcéia pode ser resgatada e levada até o município de Corumbá e passa bem.
Congresso discute espionagem
O escândalo de espionagem entrou na agenda das disputas partidárias em Washington e abriu outra frente de atrito entre o governo de Barack Obama e o Congresso. Um representante da oposição republicana levou ontem a votação, na Câmara dos Deputados, uma proposta que impediria a Agência de Segurança Nacional (NSA) de continuar a monitorar indiscriminadamente os dados sobre telefonemas dentro dos Estados Unidos. Esse foi o primeiro programa de vigilância revelado pelo americano Edward Snowden, ex-funcionário da agência retido desde 23 de junho em um aeroporto de Moscou. A situação criou um impasse diplomático, e a Casa Branca pediu explicações a Moscou sobre informações de que Snowden teria recebido asilo temporário e deixaria em breve o terminal.
A iniciativa, do deputado Justin Amash, foi derrubada por 217 votos contra 205. Ela determinava que a NSA pudesse invocar a Lei Patriota — aprovada depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 — apenas para obter informações reservadas sobre pessoas que sejam objeto de investigação. Trata-se do primeiro esforço do Congresso para restringir a atuação da agência desde que Snowden denunciou os programas de espionagem da telefonia e da internet. A Casa Branca contra-atacou antes mesmo de o projeto ir a votação. O diretor de Inteligência Nacional, James Clapper, afirmou em comunicado que a emenda "desmantelaria uma ferramenta crítica na luta contra o terrorismo".
Na frente diplomática, a Casa Branca trava há semanas uma queda de braço com a Rússia. Ontem, a imprensa russa noticiou que Snowden se preparava para deixar a área de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo, depois de ter recebido do advogado, Anatoly Kucherena, um documento que lhe permitiria circular por áreas determinadas pelas autoridades de segurança.
Questionado por um batalhão de jornalistas, depois de se encontrar com Edward Snowden, Kucherena afirmou que o documento seria entregue apenas "nos próximos dias". O defensor levou para o americano uma muda de roupas e um exemplar de Crime e castigo, romance clássico de Fiódor Dostoiévski. Ao tomar conhecimento da situação, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, telefonou para o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, para pedir explicações.
A iniciativa, do deputado Justin Amash, foi derrubada por 217 votos contra 205. Ela determinava que a NSA pudesse invocar a Lei Patriota — aprovada depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 — apenas para obter informações reservadas sobre pessoas que sejam objeto de investigação. Trata-se do primeiro esforço do Congresso para restringir a atuação da agência desde que Snowden denunciou os programas de espionagem da telefonia e da internet. A Casa Branca contra-atacou antes mesmo de o projeto ir a votação. O diretor de Inteligência Nacional, James Clapper, afirmou em comunicado que a emenda "desmantelaria uma ferramenta crítica na luta contra o terrorismo".
Na frente diplomática, a Casa Branca trava há semanas uma queda de braço com a Rússia. Ontem, a imprensa russa noticiou que Snowden se preparava para deixar a área de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo, depois de ter recebido do advogado, Anatoly Kucherena, um documento que lhe permitiria circular por áreas determinadas pelas autoridades de segurança.
Questionado por um batalhão de jornalistas, depois de se encontrar com Edward Snowden, Kucherena afirmou que o documento seria entregue apenas "nos próximos dias". O defensor levou para o americano uma muda de roupas e um exemplar de Crime e castigo, romance clássico de Fiódor Dostoiévski. Ao tomar conhecimento da situação, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, telefonou para o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, para pedir explicações.
quarta-feira, 24 de julho de 2013
NPO Saturn começou a produção dos motores definitivos para o PAK-FA T-50
Começou na República do Bascortostão a produção dos motores definitivos para o caça de 5ª geração russo, o T-50 (PAK-FA), aeronave que substituirá os caças multifuncionais da família Su-27.
O novo motor, mais potente, aumentará ainda mais a excepcional manobrabilidade do T-50. Além do mais, é um marco que fará a indústria aeronáutica entrar em uma nova era.
O motor instalado nos primeiros protótipos do T-50 fora o AL-41F1. Esse motor turbofan, que tem empuxo vetorial controlado e pós-combustor, fora criado pela empresa NPO Saturn. Com o AL-41F1, a aeronave pode desempenhar maiores velocidades sem a utilização de pós-combustão. No cockpit, há um sistema de controle totalmente digital implementado para o gerenciamento do motor, bem como um sistema de ignição de plasma.
No futuro, cerca de 10 anos, o T-50 será equipado com um novo motor, bem mais sofisticado do que esse que está sendo produzido no momento. O novo motor está sendo desenvolvido sob o codinome "Artigo 129".
O novo motor, mais potente, aumentará ainda mais a excepcional manobrabilidade do T-50. Além do mais, é um marco que fará a indústria aeronáutica entrar em uma nova era.
O motor instalado nos primeiros protótipos do T-50 fora o AL-41F1. Esse motor turbofan, que tem empuxo vetorial controlado e pós-combustor, fora criado pela empresa NPO Saturn. Com o AL-41F1, a aeronave pode desempenhar maiores velocidades sem a utilização de pós-combustão. No cockpit, há um sistema de controle totalmente digital implementado para o gerenciamento do motor, bem como um sistema de ignição de plasma.
No futuro, cerca de 10 anos, o T-50 será equipado com um novo motor, bem mais sofisticado do que esse que está sendo produzido no momento. O novo motor está sendo desenvolvido sob o codinome "Artigo 129".
Desafio para o Egito
Mesmo em um país tão turbulento quanto o Egito atualmente, algumas tradições transcendem as divisões mais profundas e fornecem breves períodos de calma.
Na semana passada, em meu trajeto pelo Cairo, nós vimos muito poucos carros. Os lendários congestionamentos da cidade tinham desaparecido. Era pouco depois do anoitecer. As pessoas estavam em casa com suas famílias, quebrando o jejum diário durante o Ramadã. Por algumas poucas horas preciosas, grupos rivais colocavam suas diferenças de lado.
O desafio para o Egito é tornar permanente essa pausa na turbulência, Dizer que encontrei um país dividido é declarar o óbvio. O problema é que a natureza e profundidade das divisões estão obstruindo o progresso.
A democracia exige um entendimento compartilhado de como as decisões nacionais devem ser tomadas, um grau de respeito mútuo entre aqueles que disputam o poder e uma disposição da maioria de respeitar os direitos das minorias em qualquer questão. No Egito de hoje, isso levará tempo para ser construído.
A União Europeia quer ajudar para que isso aconteça. Um Egito democrático, estável, é vital não apenas para seus 84 milhões de habitantes, mas para o Oriente Médio e o mundo, incluindo a Europa. Eu encontrei profunda desconfiança entre grupos diferentes. Para alguns, a mudança recente é um levante popular, para outros é um golpe.
Para explorar como avançar eu me reuni com os principais elementos de todos os lados: líderes do governo interino, jovens do movimento Tamarrod, representantes do Partido Liberdade e Justiça, da Irmandade Muçulmana e da sociedade civil. Nós discutimos a perspectiva de eleições serem realizadas nos próximos meses e o papel que a UE pode exercer em ajudar a monitorar e observar essas eleições.
Como então o Egito pode voltar à democracia? Aqui estão seis passos que a União Europeia está pronta a apoiar.
O Egito precisa de um processo político inclusivo. As pessoas precisam sentir que são participantes plenas no futuro desse grande país. Todo grupo significativo deve ser incluído. Os liberais urbanos merecem ser ouvidos tanto quanto aqueles que desejam combinar as tradições islâmicas com princípios democráticos; homens e mulheres devem compartilhar a responsabilidade do governo cívico. Mas a democracia também exige o desenvolvimento de confiança, estender a mão um ao outro e, acima de tudo, entender um ao outro.
O país precisa de uma Constituição dotada de controles para assegurar o respeito pelos direitos de todos os cidadãos egípcios. Ele precisa de um governo plenamente civil.
A violência das últimas três semanas deve acabar. Controvérsia política não pode ser resolvida pela força; vidas demais já foram perdidas na busca pela democracia. Os relatos de violência sexual durante as manifestações são especialmente apavorantes.
Prisões arbitrárias e outras formas de molestamento devem parar. Elas não têm lugar em uma sociedade democrática. Os detidos, incluindo o ex-presidente Mohamed Morsi e seus principais associados, devem ser soltos e os casos criminais devem ser revistos de modo rápido e transparente. Igualmente, uma imprensa livre é vital. Jornalistas não devem ser penalizados em consequência de seu trabalho profissional, e as empresas de radiodifusão devem operar sem serem molestadas ou fechadas arbitrariamente.
Eleições livres nos próximos meses devem ser realizadas segundo esses princípios. O momento é crucial. Progresso substancial é necessário nos primeiros cinco passos para que as eleições produzam não apenas candidatos vitoriosos, mas a base para um futuro democrático e estável.
A União Europeia está dispostas a ajudar o Egito a dar esses passos; mas as decisões cabem ao povo egípcio e não a pessoas de fora. O presidente Adli Mansour e eu concordamos na semana passada que uma Constituição viva exige mais do que as palavras certas. Uma democracia profunda também precisa de uma reconciliação nacional e das instituições certas, independentes e respeitadas, que possam defender os direitos humanos e o Estado de direito.
O progresso não é apenas vital; também é urgente, e eu estou encorajada com o cronograma apresentado pelo presidente interino.
Uma cultura democrática e instituições independentes terão dificuldade para se enraizarem em meio a uma crise econômica. Hoje, os turistas foram afugentados; os investidores estrangeiros estão se contendo. No ano passado, nós estabelecemos uma Força-Tarefa UE-Egito para mobilizar a comunidade internacional, o setor privado e a sociedade civil em apoio à economia egípcia. Para que isso tenha um impacto real, e ajude a liberar o imenso potencial do país e de seu povo, o Egito deve voltar rapidamente à democracia.
Progresso político e econômico são inseparáveis e são a resposta ao clamor ruidoso durante a revolução de janeiro de 2011 por dignidade, justiça social e uma vida decente. Um clamor que ainda está reverberando por todo o Egito.
A União Europeia é uma parceira de longo prazo e uma amiga do Egito. Em todas as discussões de que participei na semana passada, eu confirmei que nosso apoio e amizade continuarão. Eu fiquei encorajada por cada grupo com que me encontrei, quaisquer que fossem suas outras diferenças, ter apreciado esse compromisso. Mas cabe aos próprios egípcios promover a transição democrática. Eles, e não nós, devem ser donos de seu futuro.
*Catherine Ashton é a Alta Representante da União Europeia para Relações Exteriores e Políticas de Segurança
Na semana passada, em meu trajeto pelo Cairo, nós vimos muito poucos carros. Os lendários congestionamentos da cidade tinham desaparecido. Era pouco depois do anoitecer. As pessoas estavam em casa com suas famílias, quebrando o jejum diário durante o Ramadã. Por algumas poucas horas preciosas, grupos rivais colocavam suas diferenças de lado.
O desafio para o Egito é tornar permanente essa pausa na turbulência, Dizer que encontrei um país dividido é declarar o óbvio. O problema é que a natureza e profundidade das divisões estão obstruindo o progresso.
A democracia exige um entendimento compartilhado de como as decisões nacionais devem ser tomadas, um grau de respeito mútuo entre aqueles que disputam o poder e uma disposição da maioria de respeitar os direitos das minorias em qualquer questão. No Egito de hoje, isso levará tempo para ser construído.
A União Europeia quer ajudar para que isso aconteça. Um Egito democrático, estável, é vital não apenas para seus 84 milhões de habitantes, mas para o Oriente Médio e o mundo, incluindo a Europa. Eu encontrei profunda desconfiança entre grupos diferentes. Para alguns, a mudança recente é um levante popular, para outros é um golpe.
Para explorar como avançar eu me reuni com os principais elementos de todos os lados: líderes do governo interino, jovens do movimento Tamarrod, representantes do Partido Liberdade e Justiça, da Irmandade Muçulmana e da sociedade civil. Nós discutimos a perspectiva de eleições serem realizadas nos próximos meses e o papel que a UE pode exercer em ajudar a monitorar e observar essas eleições.
Como então o Egito pode voltar à democracia? Aqui estão seis passos que a União Europeia está pronta a apoiar.
O Egito precisa de um processo político inclusivo. As pessoas precisam sentir que são participantes plenas no futuro desse grande país. Todo grupo significativo deve ser incluído. Os liberais urbanos merecem ser ouvidos tanto quanto aqueles que desejam combinar as tradições islâmicas com princípios democráticos; homens e mulheres devem compartilhar a responsabilidade do governo cívico. Mas a democracia também exige o desenvolvimento de confiança, estender a mão um ao outro e, acima de tudo, entender um ao outro.
O país precisa de uma Constituição dotada de controles para assegurar o respeito pelos direitos de todos os cidadãos egípcios. Ele precisa de um governo plenamente civil.
A violência das últimas três semanas deve acabar. Controvérsia política não pode ser resolvida pela força; vidas demais já foram perdidas na busca pela democracia. Os relatos de violência sexual durante as manifestações são especialmente apavorantes.
Prisões arbitrárias e outras formas de molestamento devem parar. Elas não têm lugar em uma sociedade democrática. Os detidos, incluindo o ex-presidente Mohamed Morsi e seus principais associados, devem ser soltos e os casos criminais devem ser revistos de modo rápido e transparente. Igualmente, uma imprensa livre é vital. Jornalistas não devem ser penalizados em consequência de seu trabalho profissional, e as empresas de radiodifusão devem operar sem serem molestadas ou fechadas arbitrariamente.
Eleições livres nos próximos meses devem ser realizadas segundo esses princípios. O momento é crucial. Progresso substancial é necessário nos primeiros cinco passos para que as eleições produzam não apenas candidatos vitoriosos, mas a base para um futuro democrático e estável.
A União Europeia está dispostas a ajudar o Egito a dar esses passos; mas as decisões cabem ao povo egípcio e não a pessoas de fora. O presidente Adli Mansour e eu concordamos na semana passada que uma Constituição viva exige mais do que as palavras certas. Uma democracia profunda também precisa de uma reconciliação nacional e das instituições certas, independentes e respeitadas, que possam defender os direitos humanos e o Estado de direito.
O progresso não é apenas vital; também é urgente, e eu estou encorajada com o cronograma apresentado pelo presidente interino.
Uma cultura democrática e instituições independentes terão dificuldade para se enraizarem em meio a uma crise econômica. Hoje, os turistas foram afugentados; os investidores estrangeiros estão se contendo. No ano passado, nós estabelecemos uma Força-Tarefa UE-Egito para mobilizar a comunidade internacional, o setor privado e a sociedade civil em apoio à economia egípcia. Para que isso tenha um impacto real, e ajude a liberar o imenso potencial do país e de seu povo, o Egito deve voltar rapidamente à democracia.
Progresso político e econômico são inseparáveis e são a resposta ao clamor ruidoso durante a revolução de janeiro de 2011 por dignidade, justiça social e uma vida decente. Um clamor que ainda está reverberando por todo o Egito.
A União Europeia é uma parceira de longo prazo e uma amiga do Egito. Em todas as discussões de que participei na semana passada, eu confirmei que nosso apoio e amizade continuarão. Eu fiquei encorajada por cada grupo com que me encontrei, quaisquer que fossem suas outras diferenças, ter apreciado esse compromisso. Mas cabe aos próprios egípcios promover a transição democrática. Eles, e não nós, devem ser donos de seu futuro.
*Catherine Ashton é a Alta Representante da União Europeia para Relações Exteriores e Políticas de Segurança
Moscou, meu lar
Eu estava me sentindo meio para baixo no fim de semana em Budapeste, onde passei mais da metade da minha vida, sem nenhum motivo aparente. Mas, assim que o avião pousou no Aeroporto Sheremetyevo, em Moscou, fui tomado quase que instantaneamente por sentimentos de alegria, otimismo e empolgação por voltar para casa.
É preciso notar que não sou moscovita de nascença e nunca vivi um dia nesta cidade até dez meses atrás.
É uma cidade onde o clima é severo demais, os preços são caros demais e as pessoas são rudes demais, mas também é uma cidade à qual sou intimamente ligado pela língua, cultura e história comuns.
Repentinamente me ocorreu que vivi no exterior por mais de 20 anos da minha vida --por quase toda a minha vida, na verdade. E agora está aparente que essa vinha sendo a fonte da melancolia o tempo todo --algo presente ali no fundo, mas constante.
Fui deslocado por grande parte da minha vida, assim como um judeu pré-1948 ou um palestino pós-1948 --ou a jovem mulher imigrante em Paris da canção de Oleg Mityaev: "Apesar de ser uma ex-russa, uma russa ela é. Ela é a mesma moscovita que sempre foi".
Eu falo três línguas diferentes e tenho amigos e conhecidos em cerca de 100 países, muitos dos quais eu visitei. Minha educação é exclusivamente americana. E, etnicamente, sou apenas meio russo. Por que então esse senso de identidade, enraizado em nacionalismo cívico, é tão profundo e definidor?
É por poder desfrutar de Bulgakov ou Griboyedov em qualquer um de uma dúzia de teatros, todos globalmente competitivos? Por poder encontrar a prosa e a poesia de Dmitri Bykov, um candidato potencial ao Prêmio Nobel, em qualquer livraria da cidade? Ou porque posso puxar conversa com um motorista de táxi (na verdade raramente russo) em minha própria língua, o que costuma terminar com algum tipo de revelação?
Ou veja meus compatriotas. Eles são inicialmente frios e distantes, mas simpáticos, cativantes e leais 30 minutos depois de conhecê-los. Em resposta ao seu estado padrão de agressão, eu descobri um quebra-gelo eficaz: a cortesia.
Há muita coisa para ser grato aqui. Eu moro em uma área bonita de Moscou, em um triângulo entre o parque Gorki, a catedral de Cristo Salvador e a Universidade Estadual de Moscou. Eu posso escolher acompanhar a rica vida cultural, política e social que abunda ao meu redor. Eu posso comer pão (de centeio) Borodinsky, bacon bielorrusso e queijo Suluguni georgiano.
Eu tenho alguns poucos amigos próximos nesta cidade que não vejo com a frequência que deveria, mas a simples possibilidade de poder me encontrar com eles é reconfortante. E, talvez mais importante, minha adorável namorada está ao meu lado. Como eu, ela é uma siberiana --de um tipo muito especial.
Todas essas coisas são motivos válidos para gostar da vida em Moscou. Mas, ao mesmo tempo, a Rússia não vem à mente como um país particularmente suportável. Sergey Brin, o cofundador do Google, chamou a Rússia de "Nigéria com neve". Minha mãe a chama de "um país inerentemente de gângsteres", o que significa um país tomado por nepotismo, corrupção e violência.
Em 1.150 anos de história, nossa única experiência com democracia real durou apenas cinco anos (1991-1996).
No momento, o país está profundamente dividido politicamente, com dezenas de milhares de manifestantes ocupando regularmente o centro de Moscou.
As relações com os Estados Unidos, outro país próximo do meu coração, estão em baixa por causa de irritações mútuas sistêmicas, como a lei de adoção, a lei do "agente estrangeiro" e o caso Snowden.
Crime, poluição e inconveniência estão por toda parte. Os preços dos imóveis são duas vezes mais caros que em Berlim. Ninguém está seguro comprando alimentos sem checar as datas de validade.
Mas os pontos positivos de viver em Moscou superam em muito os pontos negativos. Ela é facilmente uma das cidades mais dinâmicas do mundo, talvez comparável apenas a Londres, Nova York e Tóquio. Porém, mais fundamentalmente, ela é a capital do meu país natal. Ela pode ser falha e imperfeita, mas é minha.
*Vladislav Shayman é sócio-diretor de uma consultoria de relações governamentais
É preciso notar que não sou moscovita de nascença e nunca vivi um dia nesta cidade até dez meses atrás.
É uma cidade onde o clima é severo demais, os preços são caros demais e as pessoas são rudes demais, mas também é uma cidade à qual sou intimamente ligado pela língua, cultura e história comuns.
Repentinamente me ocorreu que vivi no exterior por mais de 20 anos da minha vida --por quase toda a minha vida, na verdade. E agora está aparente que essa vinha sendo a fonte da melancolia o tempo todo --algo presente ali no fundo, mas constante.
Fui deslocado por grande parte da minha vida, assim como um judeu pré-1948 ou um palestino pós-1948 --ou a jovem mulher imigrante em Paris da canção de Oleg Mityaev: "Apesar de ser uma ex-russa, uma russa ela é. Ela é a mesma moscovita que sempre foi".
Eu falo três línguas diferentes e tenho amigos e conhecidos em cerca de 100 países, muitos dos quais eu visitei. Minha educação é exclusivamente americana. E, etnicamente, sou apenas meio russo. Por que então esse senso de identidade, enraizado em nacionalismo cívico, é tão profundo e definidor?
É por poder desfrutar de Bulgakov ou Griboyedov em qualquer um de uma dúzia de teatros, todos globalmente competitivos? Por poder encontrar a prosa e a poesia de Dmitri Bykov, um candidato potencial ao Prêmio Nobel, em qualquer livraria da cidade? Ou porque posso puxar conversa com um motorista de táxi (na verdade raramente russo) em minha própria língua, o que costuma terminar com algum tipo de revelação?
Ou veja meus compatriotas. Eles são inicialmente frios e distantes, mas simpáticos, cativantes e leais 30 minutos depois de conhecê-los. Em resposta ao seu estado padrão de agressão, eu descobri um quebra-gelo eficaz: a cortesia.
Há muita coisa para ser grato aqui. Eu moro em uma área bonita de Moscou, em um triângulo entre o parque Gorki, a catedral de Cristo Salvador e a Universidade Estadual de Moscou. Eu posso escolher acompanhar a rica vida cultural, política e social que abunda ao meu redor. Eu posso comer pão (de centeio) Borodinsky, bacon bielorrusso e queijo Suluguni georgiano.
Eu tenho alguns poucos amigos próximos nesta cidade que não vejo com a frequência que deveria, mas a simples possibilidade de poder me encontrar com eles é reconfortante. E, talvez mais importante, minha adorável namorada está ao meu lado. Como eu, ela é uma siberiana --de um tipo muito especial.
Todas essas coisas são motivos válidos para gostar da vida em Moscou. Mas, ao mesmo tempo, a Rússia não vem à mente como um país particularmente suportável. Sergey Brin, o cofundador do Google, chamou a Rússia de "Nigéria com neve". Minha mãe a chama de "um país inerentemente de gângsteres", o que significa um país tomado por nepotismo, corrupção e violência.
Em 1.150 anos de história, nossa única experiência com democracia real durou apenas cinco anos (1991-1996).
No momento, o país está profundamente dividido politicamente, com dezenas de milhares de manifestantes ocupando regularmente o centro de Moscou.
As relações com os Estados Unidos, outro país próximo do meu coração, estão em baixa por causa de irritações mútuas sistêmicas, como a lei de adoção, a lei do "agente estrangeiro" e o caso Snowden.
Crime, poluição e inconveniência estão por toda parte. Os preços dos imóveis são duas vezes mais caros que em Berlim. Ninguém está seguro comprando alimentos sem checar as datas de validade.
Mas os pontos positivos de viver em Moscou superam em muito os pontos negativos. Ela é facilmente uma das cidades mais dinâmicas do mundo, talvez comparável apenas a Londres, Nova York e Tóquio. Porém, mais fundamentalmente, ela é a capital do meu país natal. Ela pode ser falha e imperfeita, mas é minha.
*Vladislav Shayman é sócio-diretor de uma consultoria de relações governamentais
Decisões judiciais sobre Guantánamo alteram pouco a vida dos prisioneiros
Ao longo das últimas duas semanas, três juízes federais dos Estados Unidos emitiram decisões judiciais sobre a legitimidade do tratamento violento que recentemente tem sido dispensado aos detentos da prisão Baía de Guantánamo, em Cuba. Em circunstâncias normais, duas dessas sentenças representariam uma vitória retumbante para os detentos. Mas, em Guantánamo, nada é "normal".
As decisões judiciais começaram a ser emitidas em 8 de julho, quando a juíza Gladys Kessler opinou que a alimentação forçada dos detentos que estavam em greve de fome é "dolorosa, humilhante e degradante" --o que equivale a dizer, precisamente, aquilo que os prisioneiros e seus advogados vem afirmando há meses. Ela desdenhou da argumentação do governo, segundo a qual os detentos estavam recebendo "assistência médica oportuna, compassiva e de qualidade".
Três dias depois, Royce C. Lamberth, juiz que preside o Tribunal Distrital dos EUA no Distrito de Columbia, determinou que os guardas da prisão teriam que parar de tocar os genitais dos prisioneiros como parte dos novos e mais rígidos protocolos de revista. Desde o início deste ano, as reuniões e até mesmo os telefonemas entre os presos e seus advogados tinham que acontecer fora do "acampamento" do prisioneiro. Isso significava que os presos tinham que ser revistados de maneira ofensiva tanto na ida quanto na volta desses encontros com seus advogados. Como muitos detentos apresentavam objeções religiosas em relação às revistas genitais, eles estavam se recusando a falar com seus advogados.
A terceira decisão judicial, emitida em 16 de julho passado pela juíza Rosemary Collyer, do Tribunal Distrital dos EUA, discorda da decisão de Kessler. Collyer escreveu que a alimentação forçada é um tratamento humanitário e que os prisioneiros "não têm o direito de cometer suicídio".
Será que alguma coisa mudou como resultado das opiniões de Kessler e Lamberth? Não.
Apesar de sua óbvia consternação em relação ao tratamento concedido aos prisioneiros, Kessler concluiu que não tem capacidade para fazer nada a respeito da situação, pois, segundo ela, o Judiciário não tem autoridade para intervir nas condições de encarceramento dos presos.
Lamberth, por outro lado, decidiu que tem o direito de intervir. E essa decisão se deve a uma sentença emitida pela Suprema Corte em 2008, segundo a qual os detentos têm o direito de contestar a legalidade de sua detenção. E, para fazer valer esse direito, obviamente, eles precisam ter acesso a advogados --não que isso os ajude muito: o Tribunal de Segunda Instância do Distrito de Columbia emitiu uma sentença que impossibilita a obtenção de habeas corpus por parte dos prisioneiros.
Alguns dias depois, quando um advogado tentou fazer com que o Departamento de Defesa cumprisse a decisão de Lamberth --ele havia marcado uma ligação telefônica com um cliente e não queria que os órgãos genitais do prisioneiro fossem revistados--, ele foi informado pelo governo que o Departamento de Defesa simplesmente não cumpriria a ordem. Logo depois, o governo solicitou uma "liminar administrativa" para a sentença de Lamberth. Isso significa que o governo pretendia que o tribunal de segunda instância retardasse a aplicação da sentença do juiz até que pudesse solicitar uma liminar normal. Como de costume, o tribunal de segunda instância fez o que o governo queria.
E assim segue a vida na Baía de Guantánamo. Os advogados que representam os prisioneiros apresentam moção atrás de moção, recurso atrás de recurso. E esses instrumentos legais não os levam a lugar nenhum. Com a exceção daquela única decisão de 2008 da Suprema Corte --que foi sistematicamente minada pelo tribunal de segunda instância--, o sistema judicial dos EUA tem optado por não lidar com o problema que a prisão de Guantánamo representa para o país. Se os prisioneiros um dia terão chance de obter alguma ajuda, essa ajuda terá que vir de outro lugar.
Como já mencionei anteriormente, cerca de 86 dos 166 detidos na Baía de Guantánamo foram "inocentados" por uma comissão constituída por autoridades da área de segurança nacional dos EUA, o que significa que eles poderiam deixar a prisão amanhã sem qualquer ameaça à segurança nacional. Recentemente, o governo enviou cartas a vários advogados para informar que seus clientes seriam chamados em breve por um conselho de revisão que iria determinar se eles poderiam ser incluídos nessa lista. Embora os próprios detentos tenham, em grande parte, perdido as esperanças de um dia saírem da prisão --daí a greve de fome--, um de seus advogados, David Remes, disse: "Eu continuo dizendo a eles que é muito melhor estar no Grupo A do que no Grupo B".
A verdade é que há uma única pessoa capaz de tirá-los da cadeia amanhã --se assim quisesse essa pessoa. Essa mesma pessoa também poderia impedir as forças armadas de alimentar os prisioneiros a força. Eu estou me referindo, naturalmente, ao presidente Barack Obama. Ainda assim, apesar de criticar a prisão de Guantánamo, o presidente se recusou a fazer qualquer coisa além de ficar de braços cruzados e assistir aos militares infligindo dor e sofrimento desnecessários aos presos --e grande parte desses flagelos recaem sobre homens que simplesmente não deveriam estar lá. Na verdade, em muitos dos pareceres legais apresentados em nome dos prisioneiros de Guantánamo, o réu é Barack Obama.
"O Artigo 2º, Seção 2, da Constituição dispõe que '[o] Presidente é o comandante-em-chefe do Exército e da Marinha dos Estados Unidos", escreveu Kessler em seu pesaroso, mas eloquente, parecer.
Ansiamos pelo dia em que o presidente finalmente desempenhará seu papel à altura.
As decisões judiciais começaram a ser emitidas em 8 de julho, quando a juíza Gladys Kessler opinou que a alimentação forçada dos detentos que estavam em greve de fome é "dolorosa, humilhante e degradante" --o que equivale a dizer, precisamente, aquilo que os prisioneiros e seus advogados vem afirmando há meses. Ela desdenhou da argumentação do governo, segundo a qual os detentos estavam recebendo "assistência médica oportuna, compassiva e de qualidade".
Três dias depois, Royce C. Lamberth, juiz que preside o Tribunal Distrital dos EUA no Distrito de Columbia, determinou que os guardas da prisão teriam que parar de tocar os genitais dos prisioneiros como parte dos novos e mais rígidos protocolos de revista. Desde o início deste ano, as reuniões e até mesmo os telefonemas entre os presos e seus advogados tinham que acontecer fora do "acampamento" do prisioneiro. Isso significava que os presos tinham que ser revistados de maneira ofensiva tanto na ida quanto na volta desses encontros com seus advogados. Como muitos detentos apresentavam objeções religiosas em relação às revistas genitais, eles estavam se recusando a falar com seus advogados.
A terceira decisão judicial, emitida em 16 de julho passado pela juíza Rosemary Collyer, do Tribunal Distrital dos EUA, discorda da decisão de Kessler. Collyer escreveu que a alimentação forçada é um tratamento humanitário e que os prisioneiros "não têm o direito de cometer suicídio".
Será que alguma coisa mudou como resultado das opiniões de Kessler e Lamberth? Não.
Apesar de sua óbvia consternação em relação ao tratamento concedido aos prisioneiros, Kessler concluiu que não tem capacidade para fazer nada a respeito da situação, pois, segundo ela, o Judiciário não tem autoridade para intervir nas condições de encarceramento dos presos.
Lamberth, por outro lado, decidiu que tem o direito de intervir. E essa decisão se deve a uma sentença emitida pela Suprema Corte em 2008, segundo a qual os detentos têm o direito de contestar a legalidade de sua detenção. E, para fazer valer esse direito, obviamente, eles precisam ter acesso a advogados --não que isso os ajude muito: o Tribunal de Segunda Instância do Distrito de Columbia emitiu uma sentença que impossibilita a obtenção de habeas corpus por parte dos prisioneiros.
Alguns dias depois, quando um advogado tentou fazer com que o Departamento de Defesa cumprisse a decisão de Lamberth --ele havia marcado uma ligação telefônica com um cliente e não queria que os órgãos genitais do prisioneiro fossem revistados--, ele foi informado pelo governo que o Departamento de Defesa simplesmente não cumpriria a ordem. Logo depois, o governo solicitou uma "liminar administrativa" para a sentença de Lamberth. Isso significa que o governo pretendia que o tribunal de segunda instância retardasse a aplicação da sentença do juiz até que pudesse solicitar uma liminar normal. Como de costume, o tribunal de segunda instância fez o que o governo queria.
E assim segue a vida na Baía de Guantánamo. Os advogados que representam os prisioneiros apresentam moção atrás de moção, recurso atrás de recurso. E esses instrumentos legais não os levam a lugar nenhum. Com a exceção daquela única decisão de 2008 da Suprema Corte --que foi sistematicamente minada pelo tribunal de segunda instância--, o sistema judicial dos EUA tem optado por não lidar com o problema que a prisão de Guantánamo representa para o país. Se os prisioneiros um dia terão chance de obter alguma ajuda, essa ajuda terá que vir de outro lugar.
Como já mencionei anteriormente, cerca de 86 dos 166 detidos na Baía de Guantánamo foram "inocentados" por uma comissão constituída por autoridades da área de segurança nacional dos EUA, o que significa que eles poderiam deixar a prisão amanhã sem qualquer ameaça à segurança nacional. Recentemente, o governo enviou cartas a vários advogados para informar que seus clientes seriam chamados em breve por um conselho de revisão que iria determinar se eles poderiam ser incluídos nessa lista. Embora os próprios detentos tenham, em grande parte, perdido as esperanças de um dia saírem da prisão --daí a greve de fome--, um de seus advogados, David Remes, disse: "Eu continuo dizendo a eles que é muito melhor estar no Grupo A do que no Grupo B".
A verdade é que há uma única pessoa capaz de tirá-los da cadeia amanhã --se assim quisesse essa pessoa. Essa mesma pessoa também poderia impedir as forças armadas de alimentar os prisioneiros a força. Eu estou me referindo, naturalmente, ao presidente Barack Obama. Ainda assim, apesar de criticar a prisão de Guantánamo, o presidente se recusou a fazer qualquer coisa além de ficar de braços cruzados e assistir aos militares infligindo dor e sofrimento desnecessários aos presos --e grande parte desses flagelos recaem sobre homens que simplesmente não deveriam estar lá. Na verdade, em muitos dos pareceres legais apresentados em nome dos prisioneiros de Guantánamo, o réu é Barack Obama.
"O Artigo 2º, Seção 2, da Constituição dispõe que '[o] Presidente é o comandante-em-chefe do Exército e da Marinha dos Estados Unidos", escreveu Kessler em seu pesaroso, mas eloquente, parecer.
Ansiamos pelo dia em que o presidente finalmente desempenhará seu papel à altura.
Donos de ateliê onde Picasso criou "Guernica" querem usar espaço em Paris para aluguel
É um desses palacetes cheios de história, muito comuns em Paris, e cujo enorme legado só é denunciado, em parte, por uma discreta placa situada na entrada: "Pablo Picasso viveu neste edifício de 1936 a 1955 e aqui pintou "Guernica" em 1937". Ao se completarem 40 anos da morte do pintor, o futuro do edifício está no ar.
Os proprietários querem reformá-lo e alugá-lo para um novo inquilino. A associação que zelou pela memória do lugar na última década o ocupava de forma gratuita e deve deixá-lo até 26 de julho. Seus representantes denunciam que o futuro do ateliê está em perigo e afirmam ter recorrido a um herdeiro do artista para poder recuperar o lugar. Embora um acordo possa ser anunciado no final deste mês, por enquanto a ordem de despejo continua em vigor.
Picasso instalou-se no sótão do palacete de Savoie em 1936, recomendado por seu inquilino anterior, o ator e diretor de teatro Jean-Louis Barrault. Este viveu ali nos três anos precedentes e criou sua primeira companhia, batizada de Grenier des Grands-Augustins (Celeiro dos Grands-Augustins) devido ao nome da rua em que se encontra. Balzac também situou aqui a ação de uma de suas novelas, "A Obra-Prima Ignorada", que Picasso apreciava especialmente. Um detalhe que acabou de convencê-lo. "Assim, em vez da obra-prima ignorada, pintaria a obra-prima bem conhecida", resumiu em suas "Conversas com Picasso" (1964) o fotógrafo Brassaï.
O poeta Jacques Prévert criou ali seu grupo Outubro, e os surrealistas eram frequentadores habituais. "Era uma República ideal", conta o próprio Barrault no livro "Souvenirs pour Demain" (1972) [Lembranças para amanhã].
A coisa mudou com o despejo de Picasso em 1955. O edifício, propriedade da Câmara dos Oficiais de Justiça de Paris desde 1925, foi mantido para o uso da entidade profissional e o ateliê serviu durante décadas como depósito de papéis. Em 2002 foi assinado um acordo com o Comitê Nacional de Educação Artística (CNEA), associação cultural privada dedicada à divulgação artística, pelo qual lhe cedia o espaço do ateliê em troca de que este o reformasse.
"Estava abandonado e o reformamos totalmente, respeitando seu estado original", explica Alain Casabona, delegado geral do CNEA.
A sala principal conserva o aspecto inicial, com vigas no teto. Em uma delas está pregado o gancho no qual, segundo Picasso (parece que usando muita imaginação), foi pendurado e torturado Ravaillac, o assassino de Henrique 4º, enquanto Luís 13 era entronizado no andar térreo (o rei assumiu efetivamente a coroa a pequena distância do lugar).
Ao lado do ateliê, ao qual se chega por pequenas escadas, o quarto de Picasso abriga hoje um sofá e um pequeno escritório, separado por uma parede construída posteriormente do escritório da associação. Entre fotos e desenhos, originais e cópias, aparecem algumas joias inesperadas, como a bandeira francesa que Ernest Hemingway trouxe das barricadas e presenteou ao pintor espanhol no dia da libertação de Paris, em 1944.
O acordo com o CNEA venceu em 2010, e agora a Câmara de Oficiais de Justiça prevê realizar obras de restauração no valor de 5 milhões de euros. A intenção dos proprietários é alugar mais tarde o conjunto do edifício.
"O ateliê não está em perigo, e a vida da associação não tem nada a ver com a do estúdio", afirma por sua parte Alexandra Romano, do serviço de comunicação da Câmara de Oficiais de Justiça. "É preciso realizar obras de restauração em todo o edifício, e a realidade econômica faz que a Câmara, que durante dez anos cedeu gratuitamente um espaço de 250 m2 a esta associação privada, não pode se permitir manter esse mecenato", explica. "Estão ocupando há anos. Têm que sair."
O CNEA afirma que a Câmara está em negociações com um herdeiro de Picasso, cujo nome não quer revelar para não pôr em risco o acordo. Este estaria disposto a alugar o imóvel em seu conjunto e manter a atividade da associação no ateliê. Enquanto isso, a associação tem a data de despejo marcada para 26 de julho. O subprefeito do 6º distrito de Paris, Jean-Pierre Lecoq, enviou na sexta-feira passada uma carta à ministra da Cultura, Aurélie Filipetti, pedindo a classificação do prédio como "lugar de memória". O presidente François Hollande pediu que a ministra cuide de forma prioritária da sorte do edifício.
Os proprietários querem reformá-lo e alugá-lo para um novo inquilino. A associação que zelou pela memória do lugar na última década o ocupava de forma gratuita e deve deixá-lo até 26 de julho. Seus representantes denunciam que o futuro do ateliê está em perigo e afirmam ter recorrido a um herdeiro do artista para poder recuperar o lugar. Embora um acordo possa ser anunciado no final deste mês, por enquanto a ordem de despejo continua em vigor.
Picasso instalou-se no sótão do palacete de Savoie em 1936, recomendado por seu inquilino anterior, o ator e diretor de teatro Jean-Louis Barrault. Este viveu ali nos três anos precedentes e criou sua primeira companhia, batizada de Grenier des Grands-Augustins (Celeiro dos Grands-Augustins) devido ao nome da rua em que se encontra. Balzac também situou aqui a ação de uma de suas novelas, "A Obra-Prima Ignorada", que Picasso apreciava especialmente. Um detalhe que acabou de convencê-lo. "Assim, em vez da obra-prima ignorada, pintaria a obra-prima bem conhecida", resumiu em suas "Conversas com Picasso" (1964) o fotógrafo Brassaï.
O poeta Jacques Prévert criou ali seu grupo Outubro, e os surrealistas eram frequentadores habituais. "Era uma República ideal", conta o próprio Barrault no livro "Souvenirs pour Demain" (1972) [Lembranças para amanhã].
A coisa mudou com o despejo de Picasso em 1955. O edifício, propriedade da Câmara dos Oficiais de Justiça de Paris desde 1925, foi mantido para o uso da entidade profissional e o ateliê serviu durante décadas como depósito de papéis. Em 2002 foi assinado um acordo com o Comitê Nacional de Educação Artística (CNEA), associação cultural privada dedicada à divulgação artística, pelo qual lhe cedia o espaço do ateliê em troca de que este o reformasse.
"Estava abandonado e o reformamos totalmente, respeitando seu estado original", explica Alain Casabona, delegado geral do CNEA.
A sala principal conserva o aspecto inicial, com vigas no teto. Em uma delas está pregado o gancho no qual, segundo Picasso (parece que usando muita imaginação), foi pendurado e torturado Ravaillac, o assassino de Henrique 4º, enquanto Luís 13 era entronizado no andar térreo (o rei assumiu efetivamente a coroa a pequena distância do lugar).
Ao lado do ateliê, ao qual se chega por pequenas escadas, o quarto de Picasso abriga hoje um sofá e um pequeno escritório, separado por uma parede construída posteriormente do escritório da associação. Entre fotos e desenhos, originais e cópias, aparecem algumas joias inesperadas, como a bandeira francesa que Ernest Hemingway trouxe das barricadas e presenteou ao pintor espanhol no dia da libertação de Paris, em 1944.
O acordo com o CNEA venceu em 2010, e agora a Câmara de Oficiais de Justiça prevê realizar obras de restauração no valor de 5 milhões de euros. A intenção dos proprietários é alugar mais tarde o conjunto do edifício.
"O ateliê não está em perigo, e a vida da associação não tem nada a ver com a do estúdio", afirma por sua parte Alexandra Romano, do serviço de comunicação da Câmara de Oficiais de Justiça. "É preciso realizar obras de restauração em todo o edifício, e a realidade econômica faz que a Câmara, que durante dez anos cedeu gratuitamente um espaço de 250 m2 a esta associação privada, não pode se permitir manter esse mecenato", explica. "Estão ocupando há anos. Têm que sair."
O CNEA afirma que a Câmara está em negociações com um herdeiro de Picasso, cujo nome não quer revelar para não pôr em risco o acordo. Este estaria disposto a alugar o imóvel em seu conjunto e manter a atividade da associação no ateliê. Enquanto isso, a associação tem a data de despejo marcada para 26 de julho. O subprefeito do 6º distrito de Paris, Jean-Pierre Lecoq, enviou na sexta-feira passada uma carta à ministra da Cultura, Aurélie Filipetti, pedindo a classificação do prédio como "lugar de memória". O presidente François Hollande pediu que a ministra cuide de forma prioritária da sorte do edifício.
General argentino escolhido por Kirchner tem passado ligado à ditadura
Ainda se lembram no país daquele 24 de março de 2004, quando o presidente Néstor Kirchner ordenou ao tenente general Roberto Bendini que retirasse os retratos dos ditadores Rafael Videla e Reynaldo Bignone, pendurados no Colégio Militar de El Palomar. Naquela manhã, Kirchner declarou de forma solene: "Quero deixar claro que o terrorismo de Estado é uma das formas mais injustificáveis e sangrentas que podem caber a uma sociedade viver".
Sobre essa ideia se desenhou toda uma política de memória e reparo diante das violações dos direitos humanos. Mas o governo se viu agora atacado em seu flanco mais sensível desde 27 de junho passado, quando a presidente Cristina Fernández de Kirchner renovou a cúpula militar e designou para a chefia do exército o general César Gerardo del Corazón de Jesús Milani, acusado de supostos crimes cometidos durante à ditadura.
Pairam sobre Milani duas acusações. Por um lado, o ex-preso político Ramón Alfredo Olivera declarou no relatório da Comissão Provincial de Direitos Humanos da província de La Rioja, elaborado em 1984, que Milani o açoitou durante um interrogatório efetuado na sede judicial em 1977. Acusou-o igualmente de ter invadido seu domicílio para deter seu pai, finalmente desaparecido.
Por outro lado, os familiares do soldado Alberto Ledo, suposto secretário pessoal de Milani, o acusam de ser responsável por seu desaparecimento, ocorrido em 1976 na província de Tucumán, norte do país. A denúncia de Olivera foi arquivada, mas a de Alberto Ledo continua aberta, embora nunca se tenha citado Milani.
O chefe do estado-maior se apresentou por iniciativa própria na quarta-feira, 17 de julho, diante de um tribunal da província de La Rioja e negou todas as acusações. Mas não conseguiu apagar o fogo.
Os grandes aliados do governo na luta contra as violações de direitos humanos não levantaram vozes contra Milani. Nem as Mães, nem as Avós da Praça de Maio, nem o Centro de Estudos Legais e Sociais (Cels), fundação presidida pelo jornalista Horacio Verbitsky, diretor de "Página 12", se opuseram em princípio a sua nomeação.
Mas na manhã de segunda-feira (22), quando o Senado debatia as promoções da nova cúpula militar - passo anterior à votação na Câmara de Deputados no próximo dia 31 -, o Cels apresentou um relatório no qual impugnava a promoção.
O organismo esclareceu que havia continuado suas investigações e pôde reunir informação que vincula Milani a "fatos que serão investigados no âmbito de causas judiciais por crimes de lesa-humanidade".
O Cels não é uma fundação qualquer na Argentina. Nascido em 1979 com o objetivo de denunciar as violações de direitos humanos, seus relatórios são solicitados pelo Congresso argentino e suas conclusões costumam ser levadas muito a sério. A carta que o Cels enviou na segunda-feira fez o bloco de senadores kirchneristas adiar por 24 horas os debates sobre a nomeação de Milani.
Com essa decisão do Senado, o jornalista Jorge Lanata, apresentador e diretor do programa Jornalismo para Todos, voltou a marcar a agenda política do país. Já o fez em abril passado, quando conseguiu que dois arrependidos denunciassem em seu programa a lavagem de dinheiro por parte de Lázaro Báez, empresário amigo de Néstor Kirchner.
No domingo, 14 de julho, voltou a marcar o passo quando dedicou um programa inteiro ao passado de Milani. Além de abordar o tema das duas acusações que pesam sobre o general, o jornalista questionou a forma como o chefe do exército conseguiu seu patrimônio. "As contas de Milani não fecham. O patrimônio de Milani é impossível de justificar. Desde que tinha 19 anos ganha um salário de exército. Nunca teve outra receita. Sua mulher é dona de casa, também não declara renda. Mas Milani tem uma capacidade de poupança invejável...", salientou.
A reportagem indicava que Milani comprou em 2010 uma casa de 1.150 m2 em um exclusivo bairro de Buenos Aires. "Disse que pagou por ela 1,5 milhão de pesos - 200 mil euros -, soma desproporcional à renda do general - 1.943 euros mensais, segundo os números divulgados no programa -, mas uma pechincha se levarmos em conta o valor de mercado da propriedade."
Devido à transmissão do programa, a deputada de oposição Elisa Carrió denunciou Milani por suposto enriquecimento ilícito. "Milani sempre fez parte das Forças Armadas e em 2010 declarou uma fortuna de 1.494.610 pesos, que em 2011 cresceu para 1.785.889, apesar de seu salário ter passado de 14 mil [1.943 euros] em 2010 para 15 mil em 2011", indica a denúncia.
A oposição também criticou Milani quando, ao prestar juramento de seu cargo, expressou a intenção de acompanhar "o projeto nacional", coisa que foi interpretada como o projeto do governo, uma confissão partidária imprópria do comandante em chefe do exército.
O governo, por sua vez, até agora demonstrou um apoio incondicional ao novo chefe do exército. "Esta não é a primeira ascensão de Milani em sua carreira militar. Houve outras três nas quais sua promoção foi aprovada pelo Senado sem que gerasse todo o debate que houve nesta circunstância", indicou na sexta-feira o ministro da Defesa, Agustín Rossi.
"Em 2001 foi promovido a coronel; em 2007 a general de brigada e em 2010 a general de divisão, e em nenhuma dessas instâncias provocou um debate como o que está sendo gerado atualmente", salientou.
terça-feira, 23 de julho de 2013
O elo secreto entre a Alemanha e a NSA que a chanceler diz não conhecer
A chanceler Angela Merkel disse repetidas vezes que não sabia nada sobre as atividades de vigilância americanas na Alemanha. No entanto, documentos vistos pela "Spiegel" mostram que a inteligência alemã coopera estreitamente com a NSA e até usa software de espionagem fornecido pelos Estados Unidos.
Foram dois dias agitados para os especialistas em vigilância da Bundesnachrichtendienst (BND), a agência de inteligência estrangeira da Alemanha. No final de abril, uma equipe de 12 funcionários seniores da BND voaram para os Estados Unidos, onde visitaram o coração do império de vigilância global americano: a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês). O propósito da missão deles pode ser lido em um documento "altamente confidencial" da NSA que foi visto pela "Spiegel" --um dos vários em posse do delator Edward Snowden.
Segundo o documento, o presidente da BND, Gerhard Schindler, expressava repetidamente "ansiedade" em cooperar mais estreitamente com a NSA. Os alemães, diz o documento, estavam à procura de "orientação e conselho".
O desejo deles foi atendido. Altos funcionários do Diretório de Relações Exteriores da NSA foram designados para atender a delegação alemã. Os americanos organizaram uma "conferência de planejamento estratégico" para atualizar seus parceiros alemães. À tarde, após várias apresentações sobre os métodos atuais de aquisição de dados, membros seniores de uma divisão conhecida como Operações de Fontes Especiais, ou SSO (na sigla em inglês), falaram com seus convidados alemães. A SSO, um dos grupos mais secretos da comunidade de inteligência, é a divisão que forma as alianças com as empresas americanas, especialmente no setor de tecnologia da informação (TI), para fins de mineração de dados. Snowden descreve essa unidade de elite como as "joias da coroa" da NSA.
A jornada para Washington não foi a primeira viagem educativa feita por funcionários da inteligência alemã ao outro lado do Atlântico neste ano --nem a última. Documentos de Snowden vistos pela "Spiegel" mostram que a cooperação entre Berlim e Washington na área de vigilância digital e defesa se intensificaram consideravelmente durante o mandato da chanceler Angela Merkel. Segundo um documento, os alemães estão determinados a "fortalecer e expandir a cooperação bilateral".
Totalmente desconhecedor?
Essa é uma notícia incômoda para Merkel, que está disputando a reeleição como líder da União Democrata Cristã (CDU), de centro-direita. A campanha alemã seguiu relativamente tediosa até recentemente, mas agora uma nova questão parece ter surgido: a cobiça dos americanos por dados. Políticos de oposição intensificaram seus ataques nos últimos dias. Primeiro Peer Steinbrück, o candidato do Partido Social Democrata (SPD) à chancelaria, acusou Merkel de violar seu juramento de posse ao não proteger os direitos básicos dos alemães. Não muito depois, o presidente do SPD, Sigmar Gabriel, se referiu a Merkel como uma "manipuladora que está tentando aplacar a população". Segundo Gabriel, já foi provado que o governo alemão sabia sobre as atividades da NSA.
Mas os ataques do SPD não são a maior preocupação; a verdadeira ameaça vem de dentro. No início, Merkel insistiu que seu governo era totalmente desconhecedor das atividades da NSA. Foi uma posição que ela reiterou antes de dar início às suas férias na última sexta-feira.
Ela agora será julgada com base nessas declarações. Internamente, os assessores de Merkel argumentam que ela não teve escolha, a não ser tomar uma posição clara. Afinal, tanto o chefe da BND quanto o presidente do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV), a agência de inteligência doméstica da Alemanha, disseram que não tinham conhecimento do programa de vigilância Prisma e da extensão da coleta de dados pelos americanos. Com que base Merkel poderia contradizê-los?
Mas a cada dia crescem os temores na chancelaria de que pode surgir um documento que mostre claramente que as atividades da NSA eram de conhecimento do governo.
Mas isso realmente importa? O que é pior? Ser governado por um gabinete que esconde dos cidadãos a sua conivência? Ou ter uma chanceler e ministros cujas agências de inteligência existem em um mundo paralelo, além da supervisão do governo e do Parlamento? Documentos internos da NSA mostram que as agências de inteligência americanas e alemãs estão cooperando mais estreitamente do que se sabia. As repetidas afirmações pelo governo e pelas agências de inteligência nas últimas semanas, de que não estavam cientes do que os especialistas americanos em vigilância estavam fazendo, parecem extremamente dissimuladas diante dos documentos vistos pela "Spiegel" entre os obtidos por Snowden.
'Parceiros-chave'
Segundo esses documentos, a BND, o BfV e o Escritório Federal para Segurança da Informação (BSI), com sede em Bonn, tiveram todos um papel central no intercâmbio de informação entre as agências de inteligência. A NSA refere-se a eles como "parceiros-chave".
Os americanos forneceram ao BfV uma de suas ferramentas de espionagem mais produtivas, um sistema chamado "XKeyscore". Ele é um programa de vigilância que a NSA usa para capturar grande parte dos até 500 milhões de conjuntos de dados da Alemanha aos quais ela tem acesso a cada mês, segundo documentos internos vistos e noticiados pela "Spiegel" no início deste mês.
Os documentos também revelam o quanto as agências e os políticos alemães estão dispostos a ir para desenvolver um relacionamento ainda mais estreito com os americanos. Isso se aplica especialmente à lei G-10, que estabelece as condições sob as quais a vigilância de cidadãos alemães é permitida. Em um documento confidencial --sob uma seção intitulada "Histórias de Sucesso"-- é dito: "O governo alemão modifica sua interpretação da lei de privacidade G-10 (...) para conceder à BND mais flexibilidade no compartilhamento de informação protegida com parceiros estrangeiros".
Os americanos estão extremamente satisfeitos com os alemães. Por décadas, Washington ridicularizava os escrupulosos espiões alemães, que sempre tinham à mão uma lei para justificar por que, lamentavelmente, não podiam participar de alguma operação especialmente delicada. Isso era fonte de incômodo para os americanos, mas no final eles não tinham escolha, a não ser aceitar.
Mais recentemente, entretanto, isso mudou, como indicam os documentos de Snowden: os burocratas alemães se tornaram verdadeiros espiões.
Ao longo de 2012, em particular, os alemães demonstraram grande "disposição e desejo" de melhorar suas capacidades de vigilância e até mesmo "correr riscos e buscar novas oportunidades de cooperação com os Estados Unidos", segundo documentos da NSA aos quais a "Spiegel" teve acesso.
Um elo estreito
Uma mudança para uma política de segurança alemã mais ofensiva teve início em 2007, quando os conservadores de Merkel estavam no poder em uma coalizão com o SPD, a chamada "Grande Coalizão". Com base nas informações passadas pela NSA para o BfV, as autoridades alemãs descobriram um grupo de islamitas liderado pelo convertido Fritz Gelowicz, conhecido como célula de Sauerland. Gelowicz e vários de seus amigos planejavam detonar bombas na Alemanha. Até hoje o governo alemão é grato aos americanos pelo aviso.
Segundo o documento da NSA, a operação bem-sucedida criou "um nível significativo de confiança" entra a NSA e o BfV. Desde então, diz o documento, há "intercâmbios analíticos regulares entre americanos e alemães e uma cooperação mais estreita no rastreamento de alvos extremistas tanto alemães quanto não alemães". Os documentos mostram que a NSA também forneceu várias sessões de treinamento para agentes do BfV. A meta era "melhorar a capacidade do BfV de explorar, filtrar e processar dados domésticos". A esperança era criar interfaces para que os dados pudessem ser trocados em uma escala maior --uma cooperação que "poderia beneficiar tanto a Alemanha quanto os Estados Unidos", diz o documento.
O pacto também se intensificou em solo alemão. Um analista da NSA, acreditado como diplomata na embaixada americana em Berlim, utiliza uma vez por semana um escritório no BfV. Segundo o documento, o trabalho da analista é "nutrir" o relacionamento florescente com o BfV. O agente também "facilita as exigências americanas". Além disso, os alemães criaram um "link de comunicações" com a NSA para melhorar os laços entre as agências.
Os relacionamentos pessoais também se intensificaram. Apenas em maio, apenas poucas semanas antes de terem início as revelações de Snowden, o presidente do BfV, Hans-Georg Maassen, o ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich, e a delegação de 12 membros da BND fizeram uma visita ao quartel-general da NSA. No mesmo mês, o diretor geral da NSA, o general Keith Alexander, viajou para Berlim, onde fez uma parada na chancelaria, que supervisiona a BND.
A cooperação foi além de visitas de alto nível. Segundo documentos de posse de Snowden vistos pela "Spiegel", a NSA forneceu para o BfV o XKeyscore, e as autoridades da BND também estavam bem familiarizadas com a ferramenta, dado que seu trabalho era instruir seus pares da inteligência doméstica alemã sobre como usar o programa de espionagem. O principal motivo para o BfV receber o XKeyscore foi "expandir sua capacidade de apoiar a NSA ao processarmos conjuntamente os alvos de CT (contraterrorismo)".
Uma apresentação "altamente confidencial", datada de 25 de fevereiro de 2008, que quase parecia uma peça de propaganda (os espiões americanos estão, aparentemente, muito orgulhosos do sistema), revela tudo o que o XKeyscore já foi capaz de fazer em cinco anos.
Parte 2: NSA satisfeita com a disposição alemã
Segundo a apresentação, o sistema é fácil de usar e permite a vigilância do tráfego bruto de dados "como nenhum outro sistema".
Uma transparência da NSA intitulada "O que é o XKeyscore?" descreve uma memória buffer que permite que o programa absorva uma carga completa de dados não filtrados por vários dias. Em outras palavras, o XKeyscore não apenas monitora os dados de conexões de chamada, mas também pode capturar o conteúdo da comunicação, ao menos em parte.
Além disso, o sistema possibilita ver retroativamente que palavras-chave os indivíduos visados digitaram em ferramentas de busca na internet e que locais eles pesquisaram no Google Maps.
O programa, para o qual há várias expansões conhecidas como plug-ins, aparentemente conta com ainda mais capacidades. Por exemplo, a "atividade do usuário" pode ser monitorada praticamente em tempo real e "eventos anômalos" rastreados no tráfego da internet. Se isso for verdade, isso significa que o XKeyscore possibilita uma vigilância digital quase total.
Do ponto de vista alemão, isso é especialmente perturbador. Dos cerca de 500 milhões de conjuntos de dados da Alemanha aos quais a NSA tem acesso a cada mês, o XKeyscore capturou cerca de 180 milhões em dezembro de 2012.
Isso levanta várias questões. Isso significa que a NSA não tem apenas acesso a centenas de milhões de conjuntos de dados da Alemanha, mas também --ao menos por períodos de dias-- da chamada carga completa, o que significa o conteúdo da comunicação na Alemanha. Será que a BND e o BfV podem ter acesso aos bancos de dados da NSA com suas versões do XKeyscore, o que lhes daria acesso aos dados dos cidadãos alemães armazenados nesses bancos de dados?
Se for o caso, o governo não poderia alegar que não tinha conhecimento das atividades vigorosas de aquisição de dados pelos americanos.
'Disposição' alemã é 'bem-vinda'
A "Spiegel" fez essas perguntas a ambas as agências e à chancelaria, mas não obteve nenhuma resposta sobre o uso do sistema. A BND apenas fez uma breve declaração, dizendo que lamentavelmente não podia comentar publicamente sobre detalhes de atividades de inteligência.
A NSA e a Casa Branca foram igualmente secas em suas respostas às perguntas da "Spiegel", notando apenas que não tinham nada a acrescentar aos comentários feitos pelo presidente Barack Obama durante sua recente visita a Berlim.
As novas revelações também apontam os holofotes para os presidentes da BND e do BfV, Gerhard Schindler e Hans-Georg Maassen. Ambos são relativamente novos em suas posições. Mas Schindler, o presidente da BND, no cargo desde janeiro de 2012, já deixou sua marca. Ele personifica a nova abordagem mais ofensiva adotada pela agência de inteligência estrangeira, que é expressamente elogiada pela NSA. A "disposição" de Schindler, segundo documentos da NSA, já era "bem-vinda" em 2012.
Quando ele assumiu o cargo, o presidente sem rodeios da BND demonstrou a nova disposição de correr riscos. Internamente, pediu a cada departamento da BND que apresentasse três propostas para operações conjuntas com as agências de inteligência americanas.
É claro, também há aspectos positivos nessa cooperação mais estreita com os americanos. Uma das responsabilidades da BND é proteger os soldados alemães e impedir ataques terroristas. Fazê-lo adequadamente é impossível sem a ajuda dos americanos. Por sua vez, a reputação da BND melhorou entre as agências de inteligência americanas, especialmente após ela ter provado ser de ajuda na região de Kunduz, no norte do Afeganistão, onde as forças armadas alemãs, a Bundeswehr, estão posicionadas. A BND já é a terceira maior coletora de informações lá.
Ela não compartilha sua informação apenas com a NSA, mas também com 13 outros países ocidentais. Há algum tempo, a agência atualizou seu equipamento no Afeganistão ao que há de mais moderno. Os resultados passaram a ser especialmente bons desde então e a NSA está satisfeita.
Nos últimos anos, a BND passou a ter capacidade de ouvir conversas telefônicas em grande escala no norte do Afeganistão, auxiliando nas prisões de mais de 20 importantes membros do Talebã –incluindo o mulá Rahman, antes o governador paralelo de Kunduz.
Interpretação relaxada das leis de privacidade
Segundo um documento da NSA, datado de 9 de abril, a Alemanha, como parte da coalizão de vigilância no Afeganistão, se transformou na "parceira mais prolífica" da agência. Os alemães são igualmente bem-sucedidos no Norte da África, onde eles também contam com capacidades técnicas especiais de interesse da NSA. O mesmo se aplica no Iraque.
Mas, segundo os documentos, a agência de inteligência estrangeira alemã foi mais além em seu esforço para agradar os americanos. "A BND está trabalhando para influenciar o governo alemão a relaxar a interpretação das leis de privacidade para fornecer oportunidades ainda maiores de compartilhamento de inteligência", notaram com satisfação os agentes da NSA em janeiro.
De fato, quando Schindler assumiu o cargo, os funcionários da BND estavam divididos sobre se era legal passar informação para agências de inteligência parceiras que foram obtidas de acordo com a lei G-10 alemã. Schindler decidiu que era, e os Estados Unidos ficaram satisfeitos.
A base de vigilância em Bad Aibling, um conhecido posto de escuta americano no sul da Alemanha, também mostra quão estreitos são os laços entre a BND e a NSA. Ela foi um símbolo da espionagem técnica durante a Guerra Fria. Mais recentemente, a NSA se referiu ao posto de escuta pelo codinome "alho". Apesar das últimas partes da base terem sido oficialmente entregues para a BND em maio de 2012, funcionários da NSA ainda vêm e vão.
O chefe da NSA para a Alemanha ainda se encontra posicionado no quartel Mangfall local. Aproximadamente 18 americanos ainda trabalhavam na estação de vigilância no início do ano, 12 da NSA e seis trabalhando para prestadores de serviço privados. A previsão é de que o escritório seja reduzido ao longo do ano, com os planos prevendo que apenas seis funcionários da NSA permaneçam na base. Segundo os documentos de Snowden, o trabalho deles será "cultivar novas oportunidades de cooperação com a Alemanha".
Certamente, a cooperação intensa nas atividades de contraterrorismo faz parte do centro da missão da agência de inteligência estrangeira da Alemanha. Mas os parlamentares sabem da amplitude da cooperação com os americanos? E se sabiam, desde quando?
Para piorar as coisas
Até o momento, a BND conseguiu contar com o apoio da chancelaria para sua nova abordagem. Mas as coisas parecem estar mudando. O escândalo de vigilância tem o potencial de abalar a confiança da população no governo alemão e na chanceler Merkel --e pode afetar negativamente suas chances de reeleição.
As atividades da NSA, é claro, não estão levando a população alemã em grande número às ruas. Todavia, as revelações da extensão da vigilância americana no exterior estão arranhando a imagem de Merkel de gestora confiável do governo. Aproximadamente 69% dos alemães estão insatisfeitos com seus esforços para esclarecer o assunto, um número que alarmou a chancelaria. Até o final da semana passada, Merkel tentou se distanciar do assunto, emitindo apenas declarações esparsas. Em vez de Merkel, Friedrich, o ministro do Interior, deveria cuidar do assunto delicado.
Mas Friedrich apenas piorou as coisas, voltando em grande parte de mãos vazias de sua viagem a Washington. Em vez disso, ele parecia extremamente orgulhoso do fato de ter podido conversar com o vice-presidente americano, Joe Biden.
Para piorar ainda mais, Friedrich mal tinha voltado à Alemanha antes de fazer o comentário de que a "segurança" era "Supergrundrecht", um novo conceito que deixa implícito que a segurança está acima dos direitos civis. Um ministro encarregado de defender a Constituição que repentinamente inventa uma interpretação da Constituição alemã adequada aos propósitos da NSA? Naquele momento, Merkel deve ter percebido que não poderia deixar as coisas inteiramente aos cuidados de seu ministro do Interior.
Na última sexta-feira, pouco antes de sair de férias, Merkel apresentou um plano de oito pontos visando fornecer mais segurança aos dados. Mas a maioria dos pontos mais se parecia com placebos. Por exemplo, as agências de inteligência europeias concordariam em diretrizes comuns de privacidade de dados quando agentes britânicos e franceses já riem da obsessão dos alemães com a privacidade de dados?
Em um beco sem saída
Merkel está em um beco sem saída. Por um lado, ela não quer dar a impressão de que não está fazendo nada a respeito da cobiça americana por informação. Por outro lado, isso também deixa o escândalo mais próximo da chanceler. No final, tudo dependerá de quanto o governo sabia sobre as atividades de vigilância dos americanos. Na última sexta-feira, a BND insistiu novamente que não tinha conhecimento do "nome, amplitude e extensão do projeto 'Prisma' da NSA que está sendo discutido".
Mas mesmo que isso seja verdade, o Prisma era apenas parte do sistema de vigilância da NSA, e os novos documentos mostram que a Alemanha estava familiarizada com a capacidade abrangente de espionagem da agência. Ela se beneficiou com isso e queria mais.
Mas Merkel alega que não sabia nada sobre o software de vigilância dos americanos. "Eu tomei conhecimento de programas como o Prisma por meio do noticiário atual", disse ela ao semanário de esquerda "Die Zeit", na semana passada. Segundo o gabinete de Merkel, ao usar essa linguagem ela se apoia nas declarações feitas pelos chefes da inteligência alemã.
Mas o que isso significa? O governo alemão ainda tem suas agências de inteligência sob controle? Ou elas se tornaram uma espécie de Estado dentro do Estado?
E quem exatamente fiscaliza se as agências, em seu zelo de aplicar a "Supergrundrecht" da segurança, já não foram longe demais?
O local onde as atividades das agências de inteligência doméstica e estrangeira devem ser debatidas é no Painel de Controle Parlamentar, no Bundestag alemão. Pela lei, o governo deve informar de modo regular e abrangente os 11 membros do painel, que se reúne em segredo, sobre o trabalho da BND e do BfV, além de explicar "procedimentos de importância especial".
Foco em Merkel
Ao longo dos anos, o painel se transformou em um palco para grandes egos e não é mais particularmente secreto. O problema é que muitos membros do painel não possuem tempo ou conhecimento suficiente para realmente entender as atividades nas quais as agências de inteligência estão envolvidas. É uma situação perfeita para os espiões alemães: quanto menos o público souber sobre suas atividades, mais eles podem realizar seu trabalho sem serem perturbados.
"O monitoramento das agências é puramente teórico", diz Hans-Christian Ströbele, um representante do Partido Verde no painel. "Nós não sabemos sobre as questões realmente explosivas até serem expostas pela mídia." Isso não causa surpresa, dado o quanto os estatutos são vagos a respeito da supervisão das agências de inteligência.
As agências desfrutam de "liberdade completa", diz o advogado Wolfgang Neškovi, que já passou muitos anos no painel pelo Partido de Esquerda. A CDU, seu partido irmão bávaro, a União Social Cristã (CSU) e o Partido Democrático Livre (FDP) já concordaram em estabelecer um órgão para monitorar as agências de inteligência. Mas, diante dos eventos recentes, o especialista em políticas domésticas da CDU, Clemens Binninger, diz acreditar que uma "grande solução" é necessária. Ele defende a ideia de uma autoridade parlamentar de inteligência que disponha de seus próprios poderes e funcionários.
Também há uma crescente desconfiança das agências de inteligência dentro do governo Merkel, uma situação que levou a uma cena memorável na coletiva de imprensa federal na última quarta-feira. Segundo um documento da OTAN que circulava antes da coletiva, os militares alemães estavam de fato cientes da existência do Prisma. O porta-voz do governo, Steffen Seibert, declarou que foi uma avaliação da BND de que o programa em questão não tinha nada a ver com o software de espionagem da NSA. Mas ele buscou se distanciar da avaliação da agência de inteligência. Posteriormente, o Ministério da Defesa emitiu uma declaração própria, na qual contradizia a declaração da BND.
É uma situação desajeitada para Merkel. No meio de uma campanha eleitoral, seu governo repentinamente parece caracterizado pelo caos. É claro, se for provado que as agências de inteligência a enganaram, ela poderia limpar a casa. Schindler, o chefe da BND, parece ser o principal candidato a demissão, com Ronald Pofalla, o chefe de Gabinete de Merkel e encarregado pelo monitoramento das agências de inteligência, não muito atrás.
Mas os funcionários da chancelaria não têm ilusões. O SPD e o Partido Verde continuarão colocando Merkel e a NSA em foco, independentemente do que aconteça. "A chanceler está mais interessada em defender os interesses das agências de inteligência americanas na Alemanha do que os interesses alemães nos Estados Unidos", diz Gabriel, o presidente do SPD.
Parece improvável que a oposição descansará entre agora e o dia da eleição, em 22 de setembro.
Foram dois dias agitados para os especialistas em vigilância da Bundesnachrichtendienst (BND), a agência de inteligência estrangeira da Alemanha. No final de abril, uma equipe de 12 funcionários seniores da BND voaram para os Estados Unidos, onde visitaram o coração do império de vigilância global americano: a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês). O propósito da missão deles pode ser lido em um documento "altamente confidencial" da NSA que foi visto pela "Spiegel" --um dos vários em posse do delator Edward Snowden.
Segundo o documento, o presidente da BND, Gerhard Schindler, expressava repetidamente "ansiedade" em cooperar mais estreitamente com a NSA. Os alemães, diz o documento, estavam à procura de "orientação e conselho".
O desejo deles foi atendido. Altos funcionários do Diretório de Relações Exteriores da NSA foram designados para atender a delegação alemã. Os americanos organizaram uma "conferência de planejamento estratégico" para atualizar seus parceiros alemães. À tarde, após várias apresentações sobre os métodos atuais de aquisição de dados, membros seniores de uma divisão conhecida como Operações de Fontes Especiais, ou SSO (na sigla em inglês), falaram com seus convidados alemães. A SSO, um dos grupos mais secretos da comunidade de inteligência, é a divisão que forma as alianças com as empresas americanas, especialmente no setor de tecnologia da informação (TI), para fins de mineração de dados. Snowden descreve essa unidade de elite como as "joias da coroa" da NSA.
A jornada para Washington não foi a primeira viagem educativa feita por funcionários da inteligência alemã ao outro lado do Atlântico neste ano --nem a última. Documentos de Snowden vistos pela "Spiegel" mostram que a cooperação entre Berlim e Washington na área de vigilância digital e defesa se intensificaram consideravelmente durante o mandato da chanceler Angela Merkel. Segundo um documento, os alemães estão determinados a "fortalecer e expandir a cooperação bilateral".
Totalmente desconhecedor?
Essa é uma notícia incômoda para Merkel, que está disputando a reeleição como líder da União Democrata Cristã (CDU), de centro-direita. A campanha alemã seguiu relativamente tediosa até recentemente, mas agora uma nova questão parece ter surgido: a cobiça dos americanos por dados. Políticos de oposição intensificaram seus ataques nos últimos dias. Primeiro Peer Steinbrück, o candidato do Partido Social Democrata (SPD) à chancelaria, acusou Merkel de violar seu juramento de posse ao não proteger os direitos básicos dos alemães. Não muito depois, o presidente do SPD, Sigmar Gabriel, se referiu a Merkel como uma "manipuladora que está tentando aplacar a população". Segundo Gabriel, já foi provado que o governo alemão sabia sobre as atividades da NSA.
Mas os ataques do SPD não são a maior preocupação; a verdadeira ameaça vem de dentro. No início, Merkel insistiu que seu governo era totalmente desconhecedor das atividades da NSA. Foi uma posição que ela reiterou antes de dar início às suas férias na última sexta-feira.
Ela agora será julgada com base nessas declarações. Internamente, os assessores de Merkel argumentam que ela não teve escolha, a não ser tomar uma posição clara. Afinal, tanto o chefe da BND quanto o presidente do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV), a agência de inteligência doméstica da Alemanha, disseram que não tinham conhecimento do programa de vigilância Prisma e da extensão da coleta de dados pelos americanos. Com que base Merkel poderia contradizê-los?
Mas a cada dia crescem os temores na chancelaria de que pode surgir um documento que mostre claramente que as atividades da NSA eram de conhecimento do governo.
Mas isso realmente importa? O que é pior? Ser governado por um gabinete que esconde dos cidadãos a sua conivência? Ou ter uma chanceler e ministros cujas agências de inteligência existem em um mundo paralelo, além da supervisão do governo e do Parlamento? Documentos internos da NSA mostram que as agências de inteligência americanas e alemãs estão cooperando mais estreitamente do que se sabia. As repetidas afirmações pelo governo e pelas agências de inteligência nas últimas semanas, de que não estavam cientes do que os especialistas americanos em vigilância estavam fazendo, parecem extremamente dissimuladas diante dos documentos vistos pela "Spiegel" entre os obtidos por Snowden.
'Parceiros-chave'
Segundo esses documentos, a BND, o BfV e o Escritório Federal para Segurança da Informação (BSI), com sede em Bonn, tiveram todos um papel central no intercâmbio de informação entre as agências de inteligência. A NSA refere-se a eles como "parceiros-chave".
Os americanos forneceram ao BfV uma de suas ferramentas de espionagem mais produtivas, um sistema chamado "XKeyscore". Ele é um programa de vigilância que a NSA usa para capturar grande parte dos até 500 milhões de conjuntos de dados da Alemanha aos quais ela tem acesso a cada mês, segundo documentos internos vistos e noticiados pela "Spiegel" no início deste mês.
Os documentos também revelam o quanto as agências e os políticos alemães estão dispostos a ir para desenvolver um relacionamento ainda mais estreito com os americanos. Isso se aplica especialmente à lei G-10, que estabelece as condições sob as quais a vigilância de cidadãos alemães é permitida. Em um documento confidencial --sob uma seção intitulada "Histórias de Sucesso"-- é dito: "O governo alemão modifica sua interpretação da lei de privacidade G-10 (...) para conceder à BND mais flexibilidade no compartilhamento de informação protegida com parceiros estrangeiros".
Os americanos estão extremamente satisfeitos com os alemães. Por décadas, Washington ridicularizava os escrupulosos espiões alemães, que sempre tinham à mão uma lei para justificar por que, lamentavelmente, não podiam participar de alguma operação especialmente delicada. Isso era fonte de incômodo para os americanos, mas no final eles não tinham escolha, a não ser aceitar.
Mais recentemente, entretanto, isso mudou, como indicam os documentos de Snowden: os burocratas alemães se tornaram verdadeiros espiões.
Ao longo de 2012, em particular, os alemães demonstraram grande "disposição e desejo" de melhorar suas capacidades de vigilância e até mesmo "correr riscos e buscar novas oportunidades de cooperação com os Estados Unidos", segundo documentos da NSA aos quais a "Spiegel" teve acesso.
Um elo estreito
Uma mudança para uma política de segurança alemã mais ofensiva teve início em 2007, quando os conservadores de Merkel estavam no poder em uma coalizão com o SPD, a chamada "Grande Coalizão". Com base nas informações passadas pela NSA para o BfV, as autoridades alemãs descobriram um grupo de islamitas liderado pelo convertido Fritz Gelowicz, conhecido como célula de Sauerland. Gelowicz e vários de seus amigos planejavam detonar bombas na Alemanha. Até hoje o governo alemão é grato aos americanos pelo aviso.
Segundo o documento da NSA, a operação bem-sucedida criou "um nível significativo de confiança" entra a NSA e o BfV. Desde então, diz o documento, há "intercâmbios analíticos regulares entre americanos e alemães e uma cooperação mais estreita no rastreamento de alvos extremistas tanto alemães quanto não alemães". Os documentos mostram que a NSA também forneceu várias sessões de treinamento para agentes do BfV. A meta era "melhorar a capacidade do BfV de explorar, filtrar e processar dados domésticos". A esperança era criar interfaces para que os dados pudessem ser trocados em uma escala maior --uma cooperação que "poderia beneficiar tanto a Alemanha quanto os Estados Unidos", diz o documento.
O pacto também se intensificou em solo alemão. Um analista da NSA, acreditado como diplomata na embaixada americana em Berlim, utiliza uma vez por semana um escritório no BfV. Segundo o documento, o trabalho da analista é "nutrir" o relacionamento florescente com o BfV. O agente também "facilita as exigências americanas". Além disso, os alemães criaram um "link de comunicações" com a NSA para melhorar os laços entre as agências.
Os relacionamentos pessoais também se intensificaram. Apenas em maio, apenas poucas semanas antes de terem início as revelações de Snowden, o presidente do BfV, Hans-Georg Maassen, o ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich, e a delegação de 12 membros da BND fizeram uma visita ao quartel-general da NSA. No mesmo mês, o diretor geral da NSA, o general Keith Alexander, viajou para Berlim, onde fez uma parada na chancelaria, que supervisiona a BND.
A cooperação foi além de visitas de alto nível. Segundo documentos de posse de Snowden vistos pela "Spiegel", a NSA forneceu para o BfV o XKeyscore, e as autoridades da BND também estavam bem familiarizadas com a ferramenta, dado que seu trabalho era instruir seus pares da inteligência doméstica alemã sobre como usar o programa de espionagem. O principal motivo para o BfV receber o XKeyscore foi "expandir sua capacidade de apoiar a NSA ao processarmos conjuntamente os alvos de CT (contraterrorismo)".
Uma apresentação "altamente confidencial", datada de 25 de fevereiro de 2008, que quase parecia uma peça de propaganda (os espiões americanos estão, aparentemente, muito orgulhosos do sistema), revela tudo o que o XKeyscore já foi capaz de fazer em cinco anos.
Parte 2: NSA satisfeita com a disposição alemã
Segundo a apresentação, o sistema é fácil de usar e permite a vigilância do tráfego bruto de dados "como nenhum outro sistema".
Uma transparência da NSA intitulada "O que é o XKeyscore?" descreve uma memória buffer que permite que o programa absorva uma carga completa de dados não filtrados por vários dias. Em outras palavras, o XKeyscore não apenas monitora os dados de conexões de chamada, mas também pode capturar o conteúdo da comunicação, ao menos em parte.
Além disso, o sistema possibilita ver retroativamente que palavras-chave os indivíduos visados digitaram em ferramentas de busca na internet e que locais eles pesquisaram no Google Maps.
O programa, para o qual há várias expansões conhecidas como plug-ins, aparentemente conta com ainda mais capacidades. Por exemplo, a "atividade do usuário" pode ser monitorada praticamente em tempo real e "eventos anômalos" rastreados no tráfego da internet. Se isso for verdade, isso significa que o XKeyscore possibilita uma vigilância digital quase total.
Do ponto de vista alemão, isso é especialmente perturbador. Dos cerca de 500 milhões de conjuntos de dados da Alemanha aos quais a NSA tem acesso a cada mês, o XKeyscore capturou cerca de 180 milhões em dezembro de 2012.
Isso levanta várias questões. Isso significa que a NSA não tem apenas acesso a centenas de milhões de conjuntos de dados da Alemanha, mas também --ao menos por períodos de dias-- da chamada carga completa, o que significa o conteúdo da comunicação na Alemanha. Será que a BND e o BfV podem ter acesso aos bancos de dados da NSA com suas versões do XKeyscore, o que lhes daria acesso aos dados dos cidadãos alemães armazenados nesses bancos de dados?
Se for o caso, o governo não poderia alegar que não tinha conhecimento das atividades vigorosas de aquisição de dados pelos americanos.
'Disposição' alemã é 'bem-vinda'
A "Spiegel" fez essas perguntas a ambas as agências e à chancelaria, mas não obteve nenhuma resposta sobre o uso do sistema. A BND apenas fez uma breve declaração, dizendo que lamentavelmente não podia comentar publicamente sobre detalhes de atividades de inteligência.
A NSA e a Casa Branca foram igualmente secas em suas respostas às perguntas da "Spiegel", notando apenas que não tinham nada a acrescentar aos comentários feitos pelo presidente Barack Obama durante sua recente visita a Berlim.
As novas revelações também apontam os holofotes para os presidentes da BND e do BfV, Gerhard Schindler e Hans-Georg Maassen. Ambos são relativamente novos em suas posições. Mas Schindler, o presidente da BND, no cargo desde janeiro de 2012, já deixou sua marca. Ele personifica a nova abordagem mais ofensiva adotada pela agência de inteligência estrangeira, que é expressamente elogiada pela NSA. A "disposição" de Schindler, segundo documentos da NSA, já era "bem-vinda" em 2012.
Quando ele assumiu o cargo, o presidente sem rodeios da BND demonstrou a nova disposição de correr riscos. Internamente, pediu a cada departamento da BND que apresentasse três propostas para operações conjuntas com as agências de inteligência americanas.
É claro, também há aspectos positivos nessa cooperação mais estreita com os americanos. Uma das responsabilidades da BND é proteger os soldados alemães e impedir ataques terroristas. Fazê-lo adequadamente é impossível sem a ajuda dos americanos. Por sua vez, a reputação da BND melhorou entre as agências de inteligência americanas, especialmente após ela ter provado ser de ajuda na região de Kunduz, no norte do Afeganistão, onde as forças armadas alemãs, a Bundeswehr, estão posicionadas. A BND já é a terceira maior coletora de informações lá.
Ela não compartilha sua informação apenas com a NSA, mas também com 13 outros países ocidentais. Há algum tempo, a agência atualizou seu equipamento no Afeganistão ao que há de mais moderno. Os resultados passaram a ser especialmente bons desde então e a NSA está satisfeita.
Nos últimos anos, a BND passou a ter capacidade de ouvir conversas telefônicas em grande escala no norte do Afeganistão, auxiliando nas prisões de mais de 20 importantes membros do Talebã –incluindo o mulá Rahman, antes o governador paralelo de Kunduz.
Interpretação relaxada das leis de privacidade
Segundo um documento da NSA, datado de 9 de abril, a Alemanha, como parte da coalizão de vigilância no Afeganistão, se transformou na "parceira mais prolífica" da agência. Os alemães são igualmente bem-sucedidos no Norte da África, onde eles também contam com capacidades técnicas especiais de interesse da NSA. O mesmo se aplica no Iraque.
Mas, segundo os documentos, a agência de inteligência estrangeira alemã foi mais além em seu esforço para agradar os americanos. "A BND está trabalhando para influenciar o governo alemão a relaxar a interpretação das leis de privacidade para fornecer oportunidades ainda maiores de compartilhamento de inteligência", notaram com satisfação os agentes da NSA em janeiro.
De fato, quando Schindler assumiu o cargo, os funcionários da BND estavam divididos sobre se era legal passar informação para agências de inteligência parceiras que foram obtidas de acordo com a lei G-10 alemã. Schindler decidiu que era, e os Estados Unidos ficaram satisfeitos.
A base de vigilância em Bad Aibling, um conhecido posto de escuta americano no sul da Alemanha, também mostra quão estreitos são os laços entre a BND e a NSA. Ela foi um símbolo da espionagem técnica durante a Guerra Fria. Mais recentemente, a NSA se referiu ao posto de escuta pelo codinome "alho". Apesar das últimas partes da base terem sido oficialmente entregues para a BND em maio de 2012, funcionários da NSA ainda vêm e vão.
O chefe da NSA para a Alemanha ainda se encontra posicionado no quartel Mangfall local. Aproximadamente 18 americanos ainda trabalhavam na estação de vigilância no início do ano, 12 da NSA e seis trabalhando para prestadores de serviço privados. A previsão é de que o escritório seja reduzido ao longo do ano, com os planos prevendo que apenas seis funcionários da NSA permaneçam na base. Segundo os documentos de Snowden, o trabalho deles será "cultivar novas oportunidades de cooperação com a Alemanha".
Certamente, a cooperação intensa nas atividades de contraterrorismo faz parte do centro da missão da agência de inteligência estrangeira da Alemanha. Mas os parlamentares sabem da amplitude da cooperação com os americanos? E se sabiam, desde quando?
Para piorar as coisas
Até o momento, a BND conseguiu contar com o apoio da chancelaria para sua nova abordagem. Mas as coisas parecem estar mudando. O escândalo de vigilância tem o potencial de abalar a confiança da população no governo alemão e na chanceler Merkel --e pode afetar negativamente suas chances de reeleição.
As atividades da NSA, é claro, não estão levando a população alemã em grande número às ruas. Todavia, as revelações da extensão da vigilância americana no exterior estão arranhando a imagem de Merkel de gestora confiável do governo. Aproximadamente 69% dos alemães estão insatisfeitos com seus esforços para esclarecer o assunto, um número que alarmou a chancelaria. Até o final da semana passada, Merkel tentou se distanciar do assunto, emitindo apenas declarações esparsas. Em vez de Merkel, Friedrich, o ministro do Interior, deveria cuidar do assunto delicado.
Mas Friedrich apenas piorou as coisas, voltando em grande parte de mãos vazias de sua viagem a Washington. Em vez disso, ele parecia extremamente orgulhoso do fato de ter podido conversar com o vice-presidente americano, Joe Biden.
Para piorar ainda mais, Friedrich mal tinha voltado à Alemanha antes de fazer o comentário de que a "segurança" era "Supergrundrecht", um novo conceito que deixa implícito que a segurança está acima dos direitos civis. Um ministro encarregado de defender a Constituição que repentinamente inventa uma interpretação da Constituição alemã adequada aos propósitos da NSA? Naquele momento, Merkel deve ter percebido que não poderia deixar as coisas inteiramente aos cuidados de seu ministro do Interior.
Na última sexta-feira, pouco antes de sair de férias, Merkel apresentou um plano de oito pontos visando fornecer mais segurança aos dados. Mas a maioria dos pontos mais se parecia com placebos. Por exemplo, as agências de inteligência europeias concordariam em diretrizes comuns de privacidade de dados quando agentes britânicos e franceses já riem da obsessão dos alemães com a privacidade de dados?
Em um beco sem saída
Merkel está em um beco sem saída. Por um lado, ela não quer dar a impressão de que não está fazendo nada a respeito da cobiça americana por informação. Por outro lado, isso também deixa o escândalo mais próximo da chanceler. No final, tudo dependerá de quanto o governo sabia sobre as atividades de vigilância dos americanos. Na última sexta-feira, a BND insistiu novamente que não tinha conhecimento do "nome, amplitude e extensão do projeto 'Prisma' da NSA que está sendo discutido".
Mas mesmo que isso seja verdade, o Prisma era apenas parte do sistema de vigilância da NSA, e os novos documentos mostram que a Alemanha estava familiarizada com a capacidade abrangente de espionagem da agência. Ela se beneficiou com isso e queria mais.
Mas Merkel alega que não sabia nada sobre o software de vigilância dos americanos. "Eu tomei conhecimento de programas como o Prisma por meio do noticiário atual", disse ela ao semanário de esquerda "Die Zeit", na semana passada. Segundo o gabinete de Merkel, ao usar essa linguagem ela se apoia nas declarações feitas pelos chefes da inteligência alemã.
Mas o que isso significa? O governo alemão ainda tem suas agências de inteligência sob controle? Ou elas se tornaram uma espécie de Estado dentro do Estado?
E quem exatamente fiscaliza se as agências, em seu zelo de aplicar a "Supergrundrecht" da segurança, já não foram longe demais?
O local onde as atividades das agências de inteligência doméstica e estrangeira devem ser debatidas é no Painel de Controle Parlamentar, no Bundestag alemão. Pela lei, o governo deve informar de modo regular e abrangente os 11 membros do painel, que se reúne em segredo, sobre o trabalho da BND e do BfV, além de explicar "procedimentos de importância especial".
Foco em Merkel
Ao longo dos anos, o painel se transformou em um palco para grandes egos e não é mais particularmente secreto. O problema é que muitos membros do painel não possuem tempo ou conhecimento suficiente para realmente entender as atividades nas quais as agências de inteligência estão envolvidas. É uma situação perfeita para os espiões alemães: quanto menos o público souber sobre suas atividades, mais eles podem realizar seu trabalho sem serem perturbados.
"O monitoramento das agências é puramente teórico", diz Hans-Christian Ströbele, um representante do Partido Verde no painel. "Nós não sabemos sobre as questões realmente explosivas até serem expostas pela mídia." Isso não causa surpresa, dado o quanto os estatutos são vagos a respeito da supervisão das agências de inteligência.
As agências desfrutam de "liberdade completa", diz o advogado Wolfgang Neškovi, que já passou muitos anos no painel pelo Partido de Esquerda. A CDU, seu partido irmão bávaro, a União Social Cristã (CSU) e o Partido Democrático Livre (FDP) já concordaram em estabelecer um órgão para monitorar as agências de inteligência. Mas, diante dos eventos recentes, o especialista em políticas domésticas da CDU, Clemens Binninger, diz acreditar que uma "grande solução" é necessária. Ele defende a ideia de uma autoridade parlamentar de inteligência que disponha de seus próprios poderes e funcionários.
Também há uma crescente desconfiança das agências de inteligência dentro do governo Merkel, uma situação que levou a uma cena memorável na coletiva de imprensa federal na última quarta-feira. Segundo um documento da OTAN que circulava antes da coletiva, os militares alemães estavam de fato cientes da existência do Prisma. O porta-voz do governo, Steffen Seibert, declarou que foi uma avaliação da BND de que o programa em questão não tinha nada a ver com o software de espionagem da NSA. Mas ele buscou se distanciar da avaliação da agência de inteligência. Posteriormente, o Ministério da Defesa emitiu uma declaração própria, na qual contradizia a declaração da BND.
É uma situação desajeitada para Merkel. No meio de uma campanha eleitoral, seu governo repentinamente parece caracterizado pelo caos. É claro, se for provado que as agências de inteligência a enganaram, ela poderia limpar a casa. Schindler, o chefe da BND, parece ser o principal candidato a demissão, com Ronald Pofalla, o chefe de Gabinete de Merkel e encarregado pelo monitoramento das agências de inteligência, não muito atrás.
Mas os funcionários da chancelaria não têm ilusões. O SPD e o Partido Verde continuarão colocando Merkel e a NSA em foco, independentemente do que aconteça. "A chanceler está mais interessada em defender os interesses das agências de inteligência americanas na Alemanha do que os interesses alemães nos Estados Unidos", diz Gabriel, o presidente do SPD.
Parece improvável que a oposição descansará entre agora e o dia da eleição, em 22 de setembro.