Muito antes de o Sudão do Sul conquistar sua independência, em 2011, a ONU já estava presente na região, alimentando os famintos, levando médicos e guiando a região para o rumo da autonomia.
Mas, em vez de se caracterizar pela civilidade mútua, o relacionamento entre as Nações Unidas e o jovem país vem sendo marcado por desconfianças crescentes de ambas as partes. O Sudão do Sul se converteu em um dos teatros operacionais mais perigosos para as Nações Unidas.
A situação ganhou ainda mais urgência pelo fato de choques étnicos terem alimentado uma crise crescente no turbulento Estado de Jonglei. Em abril, sete funcionários da ONU e cinco membros indianos da missão de paz foram mortos numa emboscada em Jonglei por homens armados identificados pelos sudaneses do sul como rebeldes antigoverno.
Em dezembro passado, as forças armadas do Sudão do Sul abateram um helicóptero das Nações Unidas, matando os quatro tripulantes russos. Mais tarde, autoridades locais disseram que o incidente foi causado por um erro de comunicação.
Em junho, um relatório do secretário-geral das Nações Unidas informou que, desde março, tinham ocorrido sete casos de prisão e de detenção, uma agressão e uma apreensão ilegal de bens envolvendo membros da parte administrativa da missão de paz.
"Até janeiro de 2012, o governo de Juba enxergava a ONU como sua aliada", comentou um assessor tanto da ONU quanto do Sudão do Sul. "Não é mais o caso."
Muitas agências da ONU operam no Sudão do Sul ajudando a combater o analfabetismo e promovendo a saúde e o acesso a estradas. Mas, segundo o assessor, é a relação do Sudão do Sul com a missão de manutenção de paz da ONU que vem ficando mais e mais tensa. A dúvida agora é se os incidentes foram simplesmente resultantes da operação em um país instável e fortemente armado ou se são sinais de algo mais volátil.
As autoridades sudanesas do sul questionam cada vez mais se a ONU está do seu lado, na medida em que o apoio inicial da ONU deu lugar a críticas da atuação do jovem governo em relação a direitos humanos e ao confronto contínuo com o vizinho Sudão, do qual o Sudão do Sul se separou.
Após décadas de guerra civil e descaso por parte do governo do Sudão, o Sudão do Sul, que não tem saída para o mar, possui poucas estradas pavimentadas e poucas indústrias. O país, em grande medida rural, tem uma população muito jovem e pobre estimada em cerca de 11 milhões de habitantes, que se dividem em mais de 12 grupos étnicos.
O Sudão e o Sudão do Sul se acusam mutuamente de armar grupos rebeldes para travar uma guerra "por procuração".
"Os combates põem em risco a vida de pessoas comuns e reduzem a capacidade das organizações humanitárias de prestar a ajuda que se faz necessária com urgência", disse recentemente Valerie Amos, subsecretária-geral das ONU para questões humanitárias. Ela pediu a todas as partes envolvidas que "criem o ambiente de segurança necessário para propiciar a entrega de ajuda".
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