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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O Japão é paralisado por suas disputas com a China e a Rússia

Soldados caminham em Pequim
Dificilmente um país anfitrião de uma cúpula regional terá passado por uma situação tão incômoda quanto o Japão, ao receber os membros do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), nos dias 13 e 14 de novembro, em Yokohama. Um Estado que recebe uma conferência internacional geralmente tem uma posição de mediador, mas o governo de Naoto Kan mal parece estar em posição de assumir tal papel, de tão atolado que está em suas disputas territoriais com seus dois grandes vizinhos, a China e a Rússia.

Há dois meses Tóquio está em situação de tensão com Pequim, após um incidente entre um pesqueiro chinês e a guarda costeira japonesa ao largo das Ilhas Senkaku (Diaoyu, em chinês), situadas entre Okinawa e Taiwan, cuja soberania é disputada pelos dois países. E não está em melhores termos com a Rússia, desde a visita recente do presidente Dimitri Medvedev às Ilhas Curilas (norte de Hokkaido), território russo desde sua derrota de 1945, também disputado pelo Japão.

Diversos fatores influem nessa escalada de tensão. Alguns são circunstanciais, como a inexperiência diplomática do governo Kan. Outros denotam uma situação de conflito mais duradoura: ambições regionais chinesas no mar do Sul da China, vontade da Rússia de estar presente no Pacífico, reafirmando sua soberania sobre as Curilas, e a recusa dos japoneses em reconhecer a existência de questões territoriais com esses países.

Enquanto o desacordo territorial entre o Japão e a Rússia é localizado, a reivindicação da China sobre as Senkaku se inclui em uma estratégia chinesa mais ampla: a supremacia no mar do Sul da China, considerada uma “zona de interesse vital” por Pequim, que pretende conquistar ali uma liberdade de movimentação que implica uma revisão do status quo territorial.

Outra diferença: desde meados dos anos 1950 a questão das Curilas está no centro das relações entre o Japão e a Rússia, entravando a assinatura de um tratado de paz entre os dois países. Em compensação, até hoje a questão das Senkaku era uma questão pendente, que deveria ser resolvida, mas sem que pesasse sobre o progresso das relações políticas e econômicas sino-japonesas. Não é mais o caso.

O primeiro fator responsável pela escalada de tensão entre o Japão e a China foi a “inaptidão” do governo Kan, que embarcou em uma crise que poderia ter sido resolvida diplomaticamente, segundo o jornal “Asahi”. Depois de ter prendido o capitão do pesqueiro responsável pelo incidente, Tóquio voltou atrás e o libertou para acalmar Pequim. O erro dos democratas, no poder há um ano, foi terem dado início a uma prova de forças sem ter os meios políticos para levá-la a cabo, e a lamentável debandada à qual se entregaram fez a popularidade do primeiro-ministro cair a 32%.

Essa “derrota diplomática”, que revela uma falta de clarividência do ministro japonês das Relações Exteriores , Seiji Maehara, defensor da firmeza frente à China sem qualquer outro objetivo a longo prazo que não o de reforçar a aliança americana, também se deve à ausência de canais de comunicação direta dos democratas com os dirigentes chineses, bem como a uma falta de confiança entre a administração e o atual governo.

A China reagiu com brutalidade, tomando medidas exageradas de represália econômica. Seus dirigentes parecem ter sido surpreendidos pela rebeldia nipônica. No tempo dos liberais-democratas, Pequim e Tóquio se entendiam para evitar que esse tipo de incidente degringolasse: em 2004, ativistas chineses que desembarcaram nas Senkaku foram detidos, mas enviados imediatamente de volta à China.

Os defensores da firmeza frente à China ressaltam que as medidas tomadas por Tóquio eram apropriadas do ponto de vista legal (o pesqueiro atingiu deliberadamente a embarcação da polícia marítima) e a reação chinesa, que se deu após a libertação do capitão, revelou a “verdadeira” face ameaçadora de Pequim. O caso evidenciou sobretudo a fragilidade da harmonia entre os dois países, reféns de uma animosidade alimentada por uma leitura conflituosa da História.

Depois a Rússia entrou na dança com a visita de Medvedev às Curilas. Pura coincidência de tempo? Talvez não. Em setembro, o presidente russo e seu colega chinês, Hu Jintao, assinaram um comunicado em Pequim declarando o “apoio mútuo à defesa dos interesses vitais dos dois países, que incluem a soberania nacional, a unidade e a integridade territorial”. Poderia o Japão se permitir estar em conflito com a China e com a Rússia ao mesmo tempo? Uma situação dificilmente sustentável, que não passou despercebida pelos dirigentes chinês e russo.

Frente a essa dupla ofensiva, o Japão permanece empacado em sua argumentação sobre a soberania dos territórios disputados. Confortado pela crítica feita por seus aliados à atitude da China, ele parece pouco disposto a reconhecer a existência de desacordos com Pequim e com Moscou, e a iniciar uma negociação. Algo que exigiria uma vontade política que um governo enfraquecido e sem grande visão como esse não consegue ter.

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