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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Israel e Palestina vetam manual que reúne as duas versões do conflito

Sami Adwan vira as páginas de um livro de história em seu escritório na Faculdade de Educação da Universidade de Belém. É um manual maldito, que as autoridades israelenses e palestinas proíbem ensinar em seus respectivos cursos. Não gostam dele porque inclui duas versões opostas da história recente do Oriente Médio, que os dois lados tentam escrever à sua medida. Professores israelenses e palestinos, aos quais se somou um grupo de alunos, decidiram brigar para que os deixem aprender o que o inimigo pensa.

Adwan, coautor de "Aprendendo a Narrativa Histórica do Outro", acredita que "ocultar os argumentos do lado oposto ou representá-lo com estereótipos negativos só serve para perpetuar o conflito". Ele acredita que a proibição, assim como o alvoroço posterior na mídia, é reflexo de um clima de falta de comunicação e desconhecimento entre palestinos e israelenses.

As páginas desse manual para estudantes escolares estão divididas em três colunas horizontais. Em uma, a versão israelense de um fato histórico como "a guerra de independência" de 1948. Em outra, o mesmo fato segundo a interpretação palestina, sob a epígrafe "An Nakba, a catástrofe, 1948". E no meio um espaço para que o aluno escreva suas impressões. Assim se procede com toda a história recente da região.

Até algumas semanas atrás, cerca de 20 professores palestinos e israelenses o utilizavam em seus cursos de forma semiclandestina. Mas a visita de uma delegação de prefeitos suecos dispostos a assinar um convênio com os ministérios da Educação palestino e israelense transferiu o assunto para as primeiras páginas dos jornais. O passo seguinte foi chamar a atenção dos professores rebeldes.

Michal Wasser ensina história em Sha'ar Hanegev, uma escola no sul de Israel, transformada nos últimos dias em centro de contestação. Representantes do ministério pediram que o diretor da escola dispensasse o texto. Os alunos de Wasser pediram audiência no ministério para protestar contra a decisão.

Ele explica que os estudantes em Israel "não sabem quase nada dos palestinos. A única coisa que aprendem é a narrativa sionista". Para ela, a maior virtude do manual da discórdia é que "os alunos aprendem a escutar a outra parte. Não se trata de acreditar no que dizem os palestinos. Trata-se de compreender os argumentos do contrário como primeiro passo para solucionar um conflito". Acrescenta que seus alunos, como o resto dos israelenses, devem servir o exército a partir dos 18 anos "sem saber nada sobre as pessoas com as quais vão se confrontar".

No Ministério da Educação israelense explicam que só é possível utilizar livros com aprovação oficial, e este não a tem. A porta-voz acrescentou que os autores nem sequer pediram autorização. É muito pouco provável que tivesse obtido a aprovação ministerial, a julgar pelo que escreveu Zvi Zameret, do departamento de pedagogia do ministério, no jornal "Haaretz". Ele considera o livro "falacioso" e "repleto de distorções".

A iniciativa também não convence a Autoridade Palestina. Embora esta tivesse concordado com os suecos em utilizar o manual em algumas escolas como projeto piloto, depois de pensar duas vezes decidiu afastá-lo das classes. "Não o aprovamos nem temos planos de aprová-lo", indica Gassan Khatib, porta-voz da Autoridade Palestina.

Adwan, o professor de Belém, diz que a mudança de atitude dos palestinos obedece a uma onda de protestos de sindicatos, acadêmicos e políticos, que acreditam que ensinar aos estudantes os argumentos israelenses "pode prejudicar a causa palestina".

O livro, escrito por 12 professores israelenses e palestinos a partir do final dos anos 1990 em árabe e em hebraico, foi traduzido para vários idiomas, incluindo o espanhol.

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