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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Irã começa a "degelar" no cenário internacional

Chegou a hora do Irã. Os primeiros sinais do degelo foram notados em Nova York, por ocasião da viagem do novo presidente, Hassan Rohani, para participar da Assembleia Geral da ONU. Mas os primeiros passos acabam de ser dados em Genebra, onde seu ministro das Relações Exteriores, Mohammad Zarif, apresentou uma primeira agenda de negociação sólida e verossímil.


O Irã quer jogar no cenário internacional. Sua demografia, sua história, seu peso econômico e geopolítico conduzem os dirigentes do país persa a uma reflexão melancólica sobre o lugar limitado que ocupam hoje no mundo. Justamente quando muitos países emergem do subdesenvolvimento com vocação de protagonismo global, a República Islâmica do Irã não levanta a cabeça devido a suas mais de três décadas de inimizade com os EUA e, sobretudo, às sanções que estão golpeando sua economia como castigo a seu programa de enriquecimento de urânio.

Como ocorreu com a União Soviética nos tempos de Gorbachev ou com a China depois da morte de Mao Tse-tung, há no Irã um impulso reformista que vem de muito dentro e que é capaz de encontrar adesões inclusive no coração ideológico do regime, na medida em que se consiga modernizar o país sem renunciar aos princípios e inclusive à estrutura do poder islâmico. Sua explicação tem a ver meramente com os reflexos de sobrevivência, estimulados pelo péssimo estado da economia.

O aiatolá Khamenei soube encontrar a fórmula para essa abertura para o Ocidente. Inspirando-se na tradição do xiismo duodecimano, sinalizou a ideia de flexibilidade heroica, que é a que corresponde às concessões táticas que os lutadores fazem diante do adversário para tirar vantagens estratégicas. Cada momento exige sua virtude para o intérprete máximo da lei islâmica. Hassan, neto de Maomé e segundo dos 12 imames sagrados do xiismo, que fez a paz com o califa omeia, é quem exemplifica a virtude xiita que deverá desenvolver o atual presidente Hassan Rohani. Assim como seu irmão, o terceiro imame e mártir venerado do xiismo, Hussein, exemplifica a resistência heroica que caracterizou a presidência anterior de Mahmud Ahmadinejad.

O atual degelo, além do anseio interno de normalização, surge de um duplo êxito: o de Teerã com seu programa de enriquecimento de urânio e o de Washington e da ONU com o severo regime de sanções econômicas impostas exatamente como castigo pelo projeto nuclear. O regime iraniano conseguiu com seus progressos na fabricação de urânio o nível de invulnerabilidade que Saddam Hussein nunca teve a seu alcance; e as sanções tornaram visível para o regime que outra vida era possível e desejável, inclusive para sua estabilidade e seu futuro.

O resultado é que Teerã desta vez não está blefando. Seus novos dirigentes querem resultados e logo. Estão dispostos a fazer concessões substanciais, mas precisam de contrapartidas econômicas imediatas e que reflitam na população. A equipe negociadora deu todos os sinais de que a flexibilidade heroica já é efetiva de sua parte. Em troca, quer obter para seu país as vantagens da globalização econômica, seu reconhecimento como potência regional e uma indústria nuclear civil do nível que lhe corresponde. Como é natural, deve desaparecer do horizonte a ideia de mudança de regime defendida com frequência pelo Ocidente.

Uma vez mostrada a carta iraniana, a mão difícil nesta partida cabe à Casa Branca, que deverá contar com a opinião hostil de seus aliados e amigos. Em primeiro lugar, Benjamin Netanyahu, que não faz diferenças entre Rohani e Ahmadinejad e só confiará na paralisação total do programa nuclear. Depois, um grupo de nove senadores democratas e republicanos que escreveram a Obama com a generosa oferta de não impor mais sanções em troca de que ponha fim ao enriquecimento de urânio: sua proposta nos adverte sobre as dificuldades que terá a Casa Branca para que o Congresso as suspenda. Em terceiro lugar, a Arábia Saudita, monarquia hostil por definição a modificar o "status quo" e temerosa de uma abertura iraniana que transforme o inimigo xiita em um parceiro estratégico dos EUA, como ocorreu com a China depois de Deng Xiaoping. Todos eles preferem manter as sanções e não retirar as ameaças de represálias armadas. Quer dizer, que as negociações de Genebra naufraguem. Agora, será Obama e não Rohani quem deverá dar mostras da flexibilidade heroica pedida pelo aiatolá Khamenei.

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