Angela Merkel |
À primeira vista, a agenda da chanceler alemã Angela Merkel para os primeiros dias de volta das férias de verão parece bastante tranquila. Ela se reúne com seu gabinete nesta quarta-feira (15) e depois parte para o Canadá, para uma visita de dois dias para discutir as relações entre os dois países com o primeiro-ministro Stephen Harper. No final de semana, a chancelaria será aberta à visitação pelos cidadãos. “Estou ansiosa em conhecê-los”, escreveu Merkel em uma declaração de boas vindas para a ocasião.
Mas a situação não está tão tranquila quanto parece. Há muitos sinais sugerindo que a política conservadora terá que enfrentar meses decisivos em sua chancelaria quando voltar. Apesar das próximas eleições federais só ocorrerem no outono de 2013, Merkel precisa começar agora a fazer campanha pelo seu Partido Cristão Democrata, além de lidar com uma série de outros problemas.
Primeiro
As questões em torno do euro estão se tornando cada vez mais inconfortáveis para Merkel. Enquanto a chanceler fazia caminhadas pela região do Tirol, no Sul da Itália, céticos de sua própria coalizão de governo criticaram a Grécia, o caso problemático e altamente endividado da União Europeia. A saída da Grécia do euro “há muito deixou de ser um horror”, disse o ministro da economia Philipp Rösler, líder do partido júnior da coalizão, o Partido Democrático Livre (FDP). Depois, Markus Söder, membro do partido associado ao CDU na Baviera, a União Social Cristã (CSU), e ministro das finanças do Estado, disse que “a Grécia deve se tornar um exemplo”. Qualquer ajuda adicional ao país seria como “jogar água no deserto”, acrescentou. Considerando como são altos os riscos para a sobrevivência do euro, esse é exatamente o tipo de inquietação que Merkel não precisa.
Ela também está esperando uma decisão da Corte Constitucional Federal, no dia 12 de setembro, que dirá se o fundo de resgate permanente do euro, o Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM), é compatível com a lei alemã. Uma decisão não favorável da corte em Karlsruhe geraria consequências imprevisíveis; a aprovação, por sua vez, não asseguraria a sobrevivência do euro.
Segundo
Na política interna, Merkel terá que lidar com sua transição lenta para a energia renovável, além do conflito em torno dos subsídios para creches e agora uma briga sobre se os casais homossexuais deveriam ter o direito aos mesmos benefícios fiscais. Membros da coalizão do FDP falaram em favor da extensão dos benefícios fornecidos para quem faz declaração conjunta para aqueles que vivem em união civil, mas o ministro das finanças conservador, Wolfgang Schäuble, disse que não acha isso necessário. Acrescentando lenha à fogueira, o ministro de defesa, o também conservador Thomas de Maizière, criticou seus 13 colegas de partido que assinaram uma declaração em apoio aos direitos iguais. A coalizão de governo está com problemas quando parlamentares individuais têm iniciativas unilaterais, disse ao jornal “Der Tagesspiegel” no domingo (12). “A oposição vai rir até dizer chega”, acrescentou.
Terceiro
O fraco desempenho eleitoral do FDP pode forçar Merkel a se virar sem o partido em uma futura coalizão. A popularidade do partido amigável às empresas caiu para 4%, de acordo com uma pesquisa conduzida pelo centro de pesquisas de opinião pública Emnid, para o jornal “Bild am Sonntag”. O partido terá que melhorar sua posição até mesmo para atingir ao limite inferior de 5% necessário para ingressar no parlamento. Mas, aparentemente, o ambiente entre os membros do FDP está envenenado por disputas por poder. O “Spiegel” soube que, se o partido não melhorar significativamente seus resultados nas eleições estaduais da Baixa Saxônia em janeiro, membros do alto escalão dos Democratas Livres planejam derrubar o líder do partido, Philipp Rösler.
Quarto
Declarações populistas do outro parceiro de coalizão de Merkel, o CSU da Baviera, também estão tornando as coisas inconfortáveis para a chanceler. O governador da Baviera e líder do CSU, Horst Seehofer, já está preocupado com os resultados das eleições estaduais do ano que vem, que geraram um tom populista por parte de membros do partido, direcionados particularmente contra uma nova ajuda para a Grécia. “Em certa altura, todo mundo tem que se afastar da mãe. Para a Grécia, chegou a hora”, disse o ministro das finanças, Söder, na semana passada.
Seehofer até ameaçou romper com a coalizão no início de julho, por críticas às políticas de crise do euro de Merkel. Mas membros do CDU também estão questionando as táticas de resgate do euro da chanceler, diz-se. Alguns até estariam descontentes com o fato de o partido ter pavimentado o caminho para a eliminação de energia nuclear e para o fim do serviço militar obrigatório. Membros ultraconservadores temem pelos valores do partido e planejam apresentar um manifesto conservador em breve.
Quinto
Em seus últimos esforços de resgate do euro, Merkel pôde contar com os Sociais Democratas, de centro-esquerda, e com os Verdes, mas é possível que deixem de oferecer esse apoio. Os dois partidos votaram a favor da liberação de verbas de assistência à Grécia e à Espanha. De fato, foi a única forma de Merkel garantir a maioria dos votos, devido à presença de rebeldes em sua própria coalizão. Mas Merkel não pode mais depender do SPD sem fazer algumas concessões, disse o parlamentar e ex-ministro das finanças Peer Steinbrück ao “Süddeutsche Zeitung”. É improvável que obtenha a maioria dos votos em favor de um terceiro pacote de resgate para a Grécia “sem uma saída estrutural para a crise do país em questão”, disse ele. Steinbrück também expressou apoio à ideia do presidente do SPD, Sigmar Gabriel, para a coletivização da dívida na Europa –uma abordagem rejeitada por Merkel.
As férias da chanceler acabaram. A campanha começou.
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