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terça-feira, 28 de junho de 2011

New York Times: A morte da diplomacia

Nova York Richard Holbrooke, um grande diplomata dos EUA cujo avanço em pôr fim às guerras dos Bálcãs em Dayton, em 1995, levou paz ao continente europeu, morreu recentemente. Ele era amigo meu, tenho pensado muito sobre ele, e uma conclusão na qual cheguei é que seu falecimento se deu ao mesmo tempo em que a diplomacia, no sentido convencional, também morreu. Não estou sugerindo que o serviço diplomático dos EUA deva ser desativado amanhã. Como comprovou o site WikiLeaks, ele é repleto de pessoas inteligentes, bem informadas e éticas. Elas ainda são necessárias. Mas a diplomacia, conforme foi concebida ao longo dos séculos -negociações entre Estados hierárquicos, com fronteiras definidas, que levaram a grandes acordos e tratados que mudaram o rumo da história- quase certamente já chegou ao fim.

A razão principal desta mudança se encontra em alguns números que me foram dados outro dia por Jared Cohen, que trabalhou para o Departamento de Estado dos EUA antes de entrar para o Google. Ele me disse que existem mais de 5 bilhões de telefones no mundo, comparados com 907 milhões em 2000. No mesmo período, o número de usuários da internet aumentou de 361 milhões para mais de 2 bilhões. Hoje, há mais de 100 milhões de usuários de telefones celulares apenas no Paquistão, contra 300 mil uma década atrás.

O impacto dessa conectividade irrefreável é, nas palavras de Cohen, "completamente perturbadora para cada Estado". Telegramas diplomáticos são superados por redes que não respeitam fronteiras ou hierarquias. Adeus a Potsdam, Yalta, Xangai, Dayton e tudo isso.

A distinção entre os mundos real e virtual -que as pessoas com mais de 40 anos insistem em traçar- é simplesmente inexistente para os 52% das pessoas do mundo que têm menos de 30 anos. Elas transitam sem dificuldades entre os dois mundos. Qualquer tentativa de separar uma coisa da outra parece simplesmente pitoresca e antiquada.

Quando as pessoas vivem livremente on-line, não querem viver confinadas no interior de fronteiras físicas. Essa é a primeira grande lição a tirar da Primavera Árabe. A sofisticação on-line da juventude tunisiana, vivendo perto da Europa, mas longe das liberdades políticas dela, tornou-se incompatível com a ditadura desse país, cujos esforços para reprimir a revolta mostraram-se tão desajeitados quanto a resistência era ágil. A segunda grande lição vem sendo que conectividade é igual a organização que avança em velocidades que aparelho de Estado nenhum consegue igualar.

A ideia mais revolucionária de nossa era é que tecnologia equivale a empoderamento. Esse empoderamento pode ser utilizado positivamente ou negativamente. Ele pode capacitar as pessoas a superar a repressão, buscar justiça, encontrar atendimento médico, conseguir crédito ou até mesmo encontrar o amor de que necessitam. Ele também pode ser usado por terroristas para recrutamento e por Estados brutais para rastrear seus inimigos. Tanto o Irã quanto a Síria vêm fazendo esforços enormes para controlar a internet e limitar a conectividade. Sua ação implacável é tanto física quanto virtual.

Os esforços de Jared Cohen, que chefia uma unidade nova chamada Google Ideas, visam assegurar que a tecnologia tenha resultados predominantemente positivos.

A ideia básica por trás do Google Ideas é que, se reunirmos pessoas que entendem as ferramentas de nossa era e pessoas que compreendem os desafios de nossa era, os benefícios serão grandes. Isso, para mim, soa persuasivo. Também está claro que os diplomatas estão muito atrasados em termos de compreender como poderiam aproveitar as redes sociais.

Se o empoderamento está se universalizando, se uma visão hierárquica dos assuntos internacionais, estruturada em torno das relações entre Estados, está fora de contato com a maneira como a maioria das pessoas no mundo se relaciona, então uma das perguntas mais urgentes para o Departamento de Estado e outros serviços diplomáticos deve ser: "Como podemos adaptar nossos esforços de modo a moldar essas forças em direções favoráveis?".

Em uma cerimônia memorial promovida em Berlim em homenagem a Holbrooke, o ex-embaixador dos EUA na Alemanha John Kornblum disse: "Estamos ingressando em um novo tipo de mundo. Um mundo em que as redes serão mais importantes do que os tratados. Um novo tipo de diplomacia se fará necessária."

Definir essa nova diplomacia é o trabalho da próxima década. Holbrooke não seria um mau exemplo. Ele nunca deixou de olhar para frente. E gostava de comparar a diplomacia ao jazz -uma improvisação constante sobre um tema, com uma procura constante por novas harmonias.

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