A escolha de apresentar Khayrat al-Shater, número dois do movimento, divide a confraria
Khayrat al-Shater |
A decisão foi anunciada no jardim da nova sede da organização, no alto de Mokattam, sul do Cairo, diante de uma plateia de jornalistas espantados. O clima era de excitação. O “guia supremo” Mohammed Badie, vilipendiando a imprensa, que, segundo ele, só prejudica a imagem da Irmandade Muçulmana, a convocou para contar os verdadeiros motivos da confraria.
Segundo ele, foi para conter um “grande perigo” que estaria planando sobre “a revolução e a transição democrática” que esta teria voltado atrás em sua decisão. Ele explica que era urgente para a Irmandade, principal força política no Parlamento, arrumar um “braço legislativo” para conduzir seu programa de reformas. Ele pediu novamente pela demissão do governo atual, nomeado pelo Conselho das Forças Armadas.
Enquanto a Irmandade, que controla 65% das cadeiras da Assembleia Constituinte, parece querer ampliar seu domínio sobre as instituições, Mohammed Moursi, presidente do Partido Liberdade e Justiça, afiliado à confraria, garantiu não querer “tomar o poder”, sob o olhar incrédulo dos jornalistas: “Nós queremos cumprir nossa missão: satisfazer a Deus, guiando o povo para os sublimes valores do islamismo e conduzir grandes reformas para todos os cidadãos”.
A notícia caiu como uma bomba entre muitos jovens membros da Irmandade, que não escondem sua consternação. Na verdade foi o próprio Shater que prometera em abril de 2011 que a Irmandade não apresentaria candidatos às eleições presidenciais.
Shater, um empresário milionário, até então ocupava o posto de adjunto do guia supremo da confraria. Ele passou mais de dez anos atrás das grades sob o regime de Hosni Mubarak por causa de seu papel dentro da organização, da qual ele era o financiador. Libertado após a revolução, ele expulsou sistematicamente aqueles que manifestavam algum desacordo.
“Sejam como a água”
Se hoje ele parece se dobrar à escolha da organização que o designou como candidato, restam poucas dúvidas de que o próprio Khayrat al-Shater persuadiu a confraria sobre a necessidade de sua candidatura. Segundo fontes internas, ele queria a eleição de um presidente que ele pudesse controlar.
Depois de tentar em vão convencer candidatos de fora, ele por fim teria decidido se candidatar para conter a popularidade de Abdel Moneim Aboul Foutouh, um membro da Irmandade Muçulmana expulso no verão de 2011 exatamente por ter anunciado sua candidatura à eleição presidencial para a qual a corrente salafista também teria se candidatado.
“Aboul Foutouh é perigoso demais para a Irmandade”, explica Abderrahmane Ayach, ex-membro. “Ele conhece todos os segredos da confraria e sua inimizade com Shater é muito forte”.
Essa decisão, no entanto, divide profundamente o conselho consultivo da Irmandade Muçulmana, dentro da qual a candidatura de Shater foi aprovada por somente 56 votos contra 52. Diversos membros já protestaram e alguns deles pediram demissão. Para manter unida a confraria, segundo fontes internas, seus dirigentes teriam exigido obediência e submissão a seus membros. “Sejam como a água entre nossas mãos”, eles teriam pedido.
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