Missão humanitária de resgate de reféns das Farc na Colômbia |
"No início, a guerrilha era sólida e eficiente. Por isso fomos feitos prisioneiros", explicou o tenente de polícia Cesar Augusto Lasso. "Hoje, quando os guerrilheiros ouvem um avião chegando, é um pânico total". E resume: "A guerrilha está enfraquecida, mas não derrotada".
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, extrema esquerda), com 50 anos de existência, resistiram, com dificuldades, à ofensiva conduzida pelo exército desde 2002. Os guerrilheiros ainda são em 9 mil (contra 17 mil em 2002), segundo números oficiais. Obrigados a recuar para longe das grandes cidades, as Farc souberam se adaptar para sobreviver. E assediar o exército. Reorganizados em pequenas unidades móveis, os guerrilheiros passaram a fazer emboscadas e atentados, evitando o combate.
"Espada de Honra"
Os militares, por sua vez, tiveram de ajustar sua estratégia. Lançado há seis meses, o novo plano -chamado de "Espada de Honra"- vem sendo lentamente aplicado. Ele prevê a criação de onze forças-tarefa regionais, bem informadas e com grande mobilidade (para concentrar a ofensiva nas regiões onde as Farc são ativas), e o reforço das atividades de inteligência.
A colaboração voluntária dos cidadãos deve ser estimulada, o pagamento de recompensas aos informantes deve ser mantido e as campanhas de incentivo à deserção dos combatentes, reforçadas. Como parte do novo plano, o ministro da Defesa da Colômbia, Juan Carlos Pinzón, anunciou o recrutamento de 5 mil soldados e de 20 mil policiais. E mencionou a compra de aviões não tripulados: para as Farc, a verdadeira ameaça vem da aviação. Em março, o bombardeio de dois acampamentos rebeldes causou a morte de 69 guerrilheiros.
O objetivo proclamado é visar os "líderes médios" das Farc, e não mais os grandes chefes. O exército eliminou vários membros do "Secretariado", a direção da guerrilha por muito tempo intocada: Raúl Reyes, o número 2 da Farc, foi morto em 2008, Mono Jojoy, grande estrategista, em 2010, e Alfonso Cano, que havia sucedido Manuel Marulanda, o líder histórico da guerrilha, em 2011. Mas nessa organização hierarquizada das Farc, os chefes mortos são imediatamente substituídos. Os militares querem hoje atingir os pequenos chefes locais para tentar desestruturar a guerrilha.
O discurso oficial mudou. Para o presidente Juan Manuel Santos, o objetivo não é mais aniquilar as Farc, mas sim enfraquecê-las para obrigá-las a negociar. "As Farc sempre disseram que elas queriam negociar, mas nunca mostraram a menor intenção de se desmilitarizar", acredita Roman Ortiz, especialista em questões de segurança. Santos comemorou a libertação dos últimos reféns "políticos", mas considerou o gesto insuficiente para iniciar as negociações de paz.
Para o exército, o desafio é ainda maior pelo fato de que o boom das indústrias extrativistas poderá modificar a geopolítica do conflito colombiano. "O exército está se vangloriando, com razão, de ter expulsado a guerrilha para longe das cidades. O problema é que os guerrilheiros agora estão perto dos poços de petróleo e das minas", resume Ariel Avila, autor de diversos estudos sobre as Farc.
Garantir a proteção das empresas multinacionais exigirá muita verba. Só que os efetivos da força pública (exército e polícia) já chegaram ao número de 457 mil ("ou seja, 1% da população do país", observa Avila) e os gastos militares a 4,8% do produto interno bruto. A guerra custa caro.
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