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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Analistas ainda apontam ameaça de guerra entre Irã e o Ocidente


Em meio às atuais tensões em torno do programa nuclear do Irã, representantes de Teerã e de seis potências globais mantiveram negociações em Istambul no último sábado (14). Apesar do otimismo cauteloso dos diplomatas, analistas alemães advertiram na segunda-feira (16) que o espectro da guerra ainda assombra a região.

Alívio e otimismo cauteloso se seguiram ao diálogo de dez horas entre Teerã e seis potências mundiais. Apesar das grandes diferenças, as conversações de Istambul romperam com um impasse de 15 meses e foram descritas como suficientemente positivas para que as partes envolvidas marcassem uma nova reunião para o dia 23 de maio. Os participantes ocidentais das conversações cuidadosamente monitoradas pelo mundo apreciaram a abertura exibida pelo Irã na discussão das suas atividades nucleares, uma discussão que Teerã vinha bloqueando desde o início do ano passado. Os preços internacionais do petróleo caíram na segunda-feira, já que os mercados receberam bem o resultado da reunião de Istambul.

Mas ainda não se chegou a nenhum acordo concreto, e o risco de guerra persiste após as ameaças feitas por Israel de desfechar “ataques preventivos” caso o Irã não interrompa certas partes do seu programa nuclear.

Apesar dos sinais iniciais de progresso, as partes envolvidas continuam bastante distanciadas nas suas posições. O Irã pediu o fim das sanções e o reconhecimento internacional de que a sua atividade de enriquecimento de urânio é para fins pacíficos. Já os Estados Unidos exigiram provas de que a República Islâmica não está criando um potencial arsenal nuclear. Tanto Washington quanto Israel ameaçaram eliminar à força qualquer arma nuclear que o Irã possa procurar desenvolver.

Os diplomatas advertiram que o tempo está passando, e afirmaram que são necessários acordos sólidos para conter a ameaça de escalada desse conflito. “Embora o clima tenha sido positivo e suficientemente bom para que valesse a pena realizar uma segunda rodada de negociações, nós continuamos a frisar que a janela de oportunidade para uma solução diplomática está se fechando”, disse uma autoridade norte-americana graduada aos repórteres após as negociações.

Passos concretos?
Catherine Ashton, a chefe de política externa da União Europeia, liderou as negociações para as seis potências, os cinco países que têm poder de veto no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) – Rússia, Estados Unidos, China, França e Reino Unido – mais a Alemanha. Ashton disse que as negociações foram “construtivas e úteis”, mas ela frisou: “Nós queremos caminhar rumo a um processo de diálogo sustentável. Esperamos que as reuniões subsequentes conduzam a passos concretos rumo a uma solução negociada abrangente que restaure a confiança internacional na natureza exclusivamente pacífica do programa nuclear iraniano”.

Os negociadores presentes na reunião afirmaram que as negociações foram positivas. A delegação russa descreveu o evento como parecendo “uma reunião de negócios”, e o vice-assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Ben Rhodes, disse que as conversações foram “um primeiro passo positivo”.

No entanto, em Berlim, o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, afirmou: “Uma coisa é clara – o momento para fazer jogos táticos acabou há muito tempo. Nós esperamos que o Irã esteja pronto para sentar-se construtivamente à mesa e conduzir negociações sérias e objetivas sobre todas as questões pendentes”.

Editorialistas de jornais de várias tendências políticas advertiram na segunda-feira que a ameaça de guerra continua a pairar sobre quaisquer pequenos progressos que tenham sido feitos no sábado. Eis as opiniões manifestadas pelos editoriais de alguns jornais alemães:


O conservador “Frankfurter Allgemeine Zeitung”:

“O Irã obrigou o mundo a aceitar a sua estratégia de ganhar tempo. Apesar dos enormes esforços e do apoio pontual dos russos, o Ocidente poderá no máximo atrasar, e não deter, a marcha de Teerã rumo à capacidade de construir uma bomba atômica. O Grupo dos Seis, reunido em Istambul, expressou a sua esperança de que “passos concretos” rumo a um acordo amplo sejam decididos em futuras reuniões com o Irã. Mas nenhum país do Ocidente deveria esperar chegar a um “grande acordo” com o supremo líder iraniano Ali Khamenei que fosse capaz de cicatrizar as feridas provocadas por 33 anos de 'revolução islâmica'. É improvável que Khamenei opte por um novo acordo, segundo um espírito de uma confiança recém-surgida, conforme alegam os emissários. Se tal espírito de confiança de fato existisse, o Irã teria respondido às ofertas de Barack Obama, três anos atrás, em vez de ter expandido secretamente as suas instalações para enriquecimento de urânio. Khamenei poderá concluir, a partir do caso líbio, que a Organização do Tratado do Atlântico Norte jamais teria intervindo na Líbia se Muammar Gaddafi não tivesse acabado com o seu programa nuclear em troca do restabelecimento de relações com o Ocidente. Portanto, enquanto o aiatolá estiver no comando e ele não tomar nenhuma atitude exagerada, as relações com o Irã prosseguirão apenas de forma gradual”.

O “Berliner Zeitung”, um jornal de esquerda:

“Israel aceitará alguma coisa a não ser a total capitulação do Irã? E alguma outra coisa que não seja a posse de uma bomba nuclear iraniana proporcionará aos líderes do Irã uma sensação de segurança? O que se sabe com certeza é que as exigências colocadas sobre a mesa durante as negociações nucleares – a interrupção da produção de urânio e o monitoramento estrito das instalações nucleares em troca da suavização das sanções apenas farão com que se ganhe tempo. Sem que haja um plano de paz restringindo a ação das grandes potências por meio do reconhecimento mútuo, de acordos regionais de paz e garantias de segurança, a questão nuclear no Oriente Médio não poderá ser resolvida. A alternativa será a guerra”.

O “Süddeutsche Zeitung”, de centro-esquerda, afirmou:

“Os pontos de discórdia nesse conflito continuam sendo os mesmos, mesmo que todas as partes presentes nas negociações nucleares tenham se esforçado para superá-los. Se o Irã não estiver preparado para atender às demandas do Conselho de Segurança da ONU relativas ao enriquecimento nuclear e a conceder aos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica o livre acesso às suas instalações suspeitas, não haverá nenhum progresso nas conversações. O desejo por uma solução diplomática não pode significar que o Irã deixe de ceder em relação a questões centrais. A menos que essas condições sejam atendidas, as sanções da ONU não serão suspensas. É por isso que o otimismo é, compreensivelmente, cauteloso. Será necessária muita criatividade diplomática para que se chegue a um denominador comum. O Irã encontra-se em uma posição mais frágil do que se encontrava três anos atrás devido à intensificação das sanções e à situação da Síria. Desta vez, o negociador iraniano, Saeed Jalili, está atuando como 'representante pessoal' do aiatolá Khamenei, que é quem tem a palavra final quanto às decisões importantes no Irã. Mas, na melhor das hipóteses, será apenas durante as negociações do dia 23 de maio, em Bagdá, que ele estará pronto para apresentar algo mais do que concessões táticas”.

O jornal de economia “Handelsblatt”:

“Tudo agora diz respeito a um acordo e acima de tudo ao fato de os dois lados desejarem algo de similar. No passado isso jamais ocorreu. Quando o presidente iraniano reformista Mohammad Khatami interrompeu o enriquecimento de urânio em 2005, o governo Bush não estava pronto para fechar acordos com Teerã. Quando o atual presidente Barack Obama se dispôs a iniciar um diálogo com o líder revolucionário iraniano, aiatolá Ali Khamenei, o norte-americano encontrou uma resistência teimosa. Agora as suas partes desejam algo. O Irã precisa desistir de enriquecer urânio a um teor de 20% e abrir as suas portas inteiramente para os inspetores internacionais. Os Estados Unidos, e acima de tudo os congressistas republicanos, precisam estar preparados para, no meio de uma campanha eleitoral, suspender as sanções e permitir que o Irã mantenha um nível de enriquecimento de urânio menor. Essa é a única forma possível de se chegar a um acordo salvando as aparências. Os dois lados precisam se mostrar dispostos a agir, caso contrário haverá uma guerra que abalará muito mais do que apenas o Oriente Médio. No mínimo, os preços explosivos do petróleo que resultarão de tal guerra nos atingirão.  No entanto, ao levarmos em conta a primeira e encorajante rodada de negociações em Istambul no último fim de semana, existe a esperança de que encontremos uma solução pacífica para o problema”.

O jornal de esquerda “Die Tageszeitung”:

“O problema relativo ao programa nuclear iraniano precisa ser resolvido 'passo a passo', afirmou a diretora de política externa da União Europeia. Mas todos os ingredientes necessários para uma solução gradual por parte dos iranianos e, a seguir, do Ocidente, estão há muito tempo sobre a mesa. Eles foram discutidos detalhadamente em Istambul, bem como em rodadas de negociação anteriores. Mas a dinâmica da campanha eleitoral norte-americana, bem como as relações entre Estados Unidos, Israel e Irã, impede que qualquer acordo seja possível antes da possível reeleição de Obama no início de novembro. Até lá, a região enfrenta o perigo de mergulhar em uma guerra”.

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