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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Historiador argentino questiona o poder da Argentina sobre as Malvinas


Luis Alberto Romero (nascido em Buenos Aires em 1944) é um dos historiadores mais prestigiosos da Argentina, mas é tachado de antipatriótico por causa de um recente artigo intitulado "As Malvinas são realmente nossas?". Romero faz parte de uma minoria de intelectuais que questionam a esmagadora maioria que não duvida de que as Malvinas são argentinas.

El País: São argentinas ou não?
Luis Alberto Romero: O contrato político une os indivíduos. Cada um em algum momento diz sim, quero ser argentino. Os habitantes das Malvinas nunca disseram "sim, quero", e estão lá desde 1833. A concepção territorial nacionalista, que eu critico, é a mais arraigada. É parte da ideia de uma nação preexistente que reside em sua tradição, cultura e território. Outra concepção é a dos que pensam que uma nação é gente que faz um acordo político. Finalmente, os que vivem nas Malvinas são os donos de sua decisão.

El País: Por que esse sentimento nacionalista é tão forte?
Romero: A naturalização do território é supor que o território argentino sempre esteve aí, antes que existisse a Argentina. O território concede nacionalidade. Por isso é tão essencial um fragmento. Não possuir esse fragmento faz tremer todo o edifício da nacionalidade. Estou convencido de que há umas Malvinas reais, que muito poucos conhecem, e umas Malvinas ideais, que são as que os argentinos que passaram pela escola têm no coração, que é a que completa nosso território. A questão das Malvinas entra muito mais nesse terreno do imaginário.

El País: Fracasso da ditadura?
Romero: Depois da rendição houve uma enorme mobilização contra a ditadura e a guerra. Minha tese é que ninguém se pôs a perguntar se os militares tinham feito mal perdendo a guerra ou indo à guerra. Decidimos que queríamos nos livrar dos militares e que era melhor não perguntar coisas incômodas. Mas me parece que o que houve foi indignação pelo fracasso. Se tivessem ganhado, os teriam felicitado. A possibilidade de que um general, com a guerra ganha, embarcasse nesse sentimento nacionalista e populista e encontrasse uma saída para a ditadura militar não é descartável.

El País: Por que é tão difícil discordar sobre as Malvinas?
Romero: Indica um problema sério. Gente normal, quando surge o tema das Malvinas, fica fora de si e perde o controle. Nós tivemos um regeneracionismo argentino semelhante ao espanhol de 1898: estamos afundados, mas se recuperarmos as ilhas começaremos a ser felizes.

El País: A reivindicação argentina é lida em chave interna?
Romero: As Malvinas sempre foram um problema interno. Além disso, se as ganharmos, nos sentiremos muito mal, os nacionalistas ficarão frustrados e buscarão outro território reclamado. O território reclamado é essencial para um nacionalismo meio traumático como o nosso. É preciso queixar-se, sentir falta de algo para poder descarregar frustrações e culpas. Minha hipótese é que depois viria o Uruguai. O nacionalismo em sua versão marxista anti-imperialista incorpora a ideia de balcanização, de que o imperialismo dividiu o vice-reinado em uma série de Estados para evitar que a Argentina fosse uma potência. A Argentina também reclama uma parte da Antártida.

A Antártida será o próximo murro contra a parede dos argentinos. Todas as crianças são educadas na ideia de que essa Antártida é argentina, e as crianças chilenas têm o mesmo desenho em seu mapa com uma diferença de 2 graus.

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