Os líderes árabes condenaram vigorosamente o EI, e alguns, como o presidente egípcio, Abdel-Fattah el-Sissi, reagiram prometendo restaurar a moderação no discurso e no pensamento religiosos. Mas as denúncias dos autocratas e monarcas da região raramente foram acompanhadas de uma autocrítica mais profunda sobre o papel desempenhado pelas políticas do Estado na promoção do radicalismo, segundo analistas.
A Arábia Saudita é apenas um dos modelos desacreditados mas resistentes da região, "uma estranha mistura de repressão autoritária e legitimação religiosa que reforça grupos como o EI", disse Omar Ashour, palestrante sênior em estudos de segurança na Universidade de Exeter e membro da Chatham House, no Reino Unido.
A conferência foi realizada no quartel-general da Liga Mundial Muçulmana, um grupo guarda-chuva de organizações beneficentes que foi fundado pela monarquia saudita nos anos 1960 para contrabalançar as ideologias de esquerda que então invadiam a região. A liga é considerada uma pedra de toque do esforço saudita para disseminar a versão sunita do islamismo e reivindicar a liderança como benfeitor caridoso do mundo muçulmano.
A natureza da conferência amplificou o caráter da doutrina saudita. Ela se realizou em Meca, cidade onde os não muçulmanos são proibidos de entrar, e não havia uma única mulher entre as centenas de participantes. Os muçulmanos da linha xiita, que formam mais de 15% da população saudita, também foram excluídos, reforçando as críticas de uma perspectiva limitada e sectária. Mesmo entre os participantes que partilhavam opiniões conservadoras e elogiavam a ideia da reunião, houve questões sobre sua utilidade. "Quando se fazem tais eventos em Meca, fecham-se portas", disse Omar Shahin, advogado e líder religioso que vive nos Estados Unidos. "Isolar-nos de outras comunidades não ajuda. Precisamos ouvir as opiniões dos outros." "Até agora, não vi qualquer elemento de ação", acrescentou ele. "Falamos, falamos, falamos..."
Não há dúvida de que os líderes regionais foram abalados pelo crescimento do Estado Islâmico, especialmente o governo do Egito, que lutou para conter uma rebelião militante na península do Sinai. Autoridades de segurança sauditas dizem que mais de 2.000 cidadãos do país se uniram a grupos radicais na Síria nos últimos quatro anos e que centenas de militantes voltaram para casa. Nos últimos meses, combatentes do EI no Iraque atacaram postos de controle na fronteira saudita. "O maior desafio para o reino é o terrorismo", disse o major-general Mansour Turki, porta-voz do Ministério do Interior saudita. "Somos um dos principais alvos."
O acadêmico Ashour disse que as autoridades sauditas haviam confiado em uma abordagem semelhante à ameaça do extremismo durante mais de uma década, incluindo um programa de "reabilitação" para jihadistas condenados ou suspeitos e apoio às iniciativas antiterroristas da ONU. Enquanto dependiam do que Ashour chamou de "abordagem de segurança centralizada e firme do contraterrorismo", pouco se falou em reformar a rígida ideologia religiosa, um pilar da legitimidade da monarquia. Essa ideologia tem sido cada vez mais criticada: defensores dos direitos humanos citaram uma onda de decapitações e outras execuções este ano na Arábia Saudita por crimes como tráfico de drogas e assassinato, como evidência de práticas quase indistinguíveis das dos militantes.
"Sua ideia de uma abordagem branda é mais religião; mais religião com interpretações específicas apoiadas pelo Estado", disse Ashour. "A ideia de reformar o Estado mediante menos religião não está sequer no radar."
Falando nos bastidores da conferência, o estudioso marroquino Mohamed Abdulwahid al-Assri disse que a conferência evitou vários temas cruciais, como o problema da ditadura na região e a falta de "justiça social". Não há dúvida de que os anfitriões sauditas da conferência veem o EI como um verdadeiro perigo, disse ele. "Minha crítica é que isso não basta", acrescentou, olhando ao redor na sala de conferências.
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