Bashar Al-Assad, presidente sírio |
A derrota em Tal Al-Harra, uma estação de guerra eletrônica a 50 km ao sul de Damasco, fez com que o governo e as Forças Armadas criassem um grupo especifico da inteligência militar (Shu'bat al-Mukhabarat al-Askariyya) para caçar os 'traidores'. Muitos soldados foram executados por traição injustamente por esses agentes da inteligência militar que queriam mostrar serviço ao ditador sírio.
A névoa de conspiração desencadeada pela deserção secreta do general Mahmoud Abu Araj também ajudou a espalhar a discórdia entre as tropas de Assad e seus aliados iranianos, sem contar que o episódio pode significar o fim da carreira de um dos mais infames chefes de inteligência do Oriente Médio. Me refiro a pessoa do general Rustum Ghazaleh, Chefe da Agência de Inteligência Nacional Síria.
Rebeldes sírios assaltaram a instalação de Tal Al-Harra em 5 de outubro de 2014 e empurraram as tropas de Assad para além de uma montanha próxima, fora do alcance visual.
Essa base em Tal Al-Harra era onde as tropas do regime de Assad, os iranianos e o Hizbollah interceptavam as comunicações israelenses e vigiavam a fronteira com Israel, apenas 12 km a oeste.
Uma vitória rebelde em Tal Al-Harra era improvável, uma vez que as tropas de Assad dominavam a única localidade plana naquela área. A 7ª Divisão do Exército Sírio estava bem implantada e eles tinham superioridade em terra, sem contar a apoio aéreo.
Infográfico sobre a frente sul na Síria (clique na imagem para visualizá-la em tamanho original) |
Tudo isso deveria ser suficiente contra os rebeldes que tiveram que lutar contra outras unidades até chegarem nas montanhas de Tal Al-Harra, as quais bem íngremes e que deixavam os rebeldes expostos a aviação de Assad.
Porém, sem quem as forças de Assad percebessem, um dos seus se bandeou para o lado da rebeldia, afim de derrubar a Dinastia Aluíta.
Ao invés de fugir como a maioria dos oficiais que desertam, o general Mahmoud Abu Araj preferiu correr o risco e se manter em seu posto, trabalhando dentro das Forças Armadas para minar o regime.
O general Mahmoud Abu Araj comandava a 121ª Brigada Mecanizada, subordinada a 7ª Divisão, e estava em contato com os rebeldes em Tal Al-Harra há meses antes do assalto. É um milagre que ele tenha escapado da polícia secreta de Assad, a qual permitiu o clã do mesmo governar aquele país por quase 5 décadas.
Planejando o ataque com os rebeldes, o general Abu Araj contrabandeou o plano detalhado das posições defensivas, força a força, bem como ordens militares, códigos e informações sobre reforços iranianos de seu QG na cidade de Kanakar, a 25 km de Tal Al-Harra.
“O general Mahmoud nos forneceu muita informação. Ele foi fundamental na nossa vitória em Tal Al-Harra”, disse um comandante rebelde envolvido em operações de inteligência na frente sul.
O general Abu Araj foi tão longe que implantou suas tropas da melhor maneira possível para serem derrotadas pelo Exército Livre Sírio.
“Ele era inteligente implantando as forças do regime onde elas fossem facilmente alvejadas pelo ELS e deu ordens para seus soldados recuarem no melhor momento para nós”, disse o comandante rebelde.
Agentes da inteligência do regime, suspeitando de um infiltrado, começaram a apertar o cerco.
Para escapar dos agentes, o general Abu Araj encenou uma emboscada com os rebeldes quando ele estava viajando perto de Sanamayn, 18 km a leste de Tal Al-Harra.
Para não restarem suspeitas sobre o general Abu Araj, uma facção do ELS postou em sua página no Facebook que havia matado o general e ainda por cima postou uma foto de sua carteira de identidade.
Mas na verdade, o general havia cruzado com segurança para a Jordânia em 15 de outubro.
Não se sabe o que ocorreu após esse episódio, mas os rebeldes afirmma que o incidente abriu um precedente para execuções sumarias de militares sírios nos meses seguintes.
O comandante do ELS estima que cerca de 56 oficiais sírios foram executados ao longo dos meses.
Para dar maior clima de suspense a esse fato, um mês depois que o general Abu Araj estava na Jordânia, surgiu boatos de sua morte. Nesse meio tempo sua saúde veio a se deteriorar e ele então retornou à Síria e algum tempo depois morreu de causas naturais aos 52 anos de idade.
A derrota em Tal Al-Harra foi um golpe significativo para as forças Assad, que tinha vindo a perder terreno no sul e continuou perdendo em novembro e dezembro do ano passado.
Isso fez com que o Irã designasse o general Qassem Suleimani, comandante da Força Al-Quds, para controlar diretamente as operações na frente sul.
No inicio de janeiro, milhares de milicianos xiitas cruzaram as fronteiras do Líbano, Iraque e Irã para dar inicio a uma contra-ofensiva e retomar Tal Al-Harra. Intensos combates acontecem no sul na Síria desde então.
Os militares sírios não ficaram felizes com a autoridade do Irã em seu próprio país.
Fontes sírias no Líbano bem relacionadas com os círculos políticos da segurança em Damasco, dizem que general Rustum Ghazaleh não ficou feliz de receber ordens dos iranianos. As fontes relatam profunda raiva de Ghazaleh, que não esconde que só irá receber ordens de Assad.
Natural da província de Daraa, o general Ghazaleh tem 62 anos e como eu disse, é Chefe da Agência de Inteligência Nacional Síria. O caudilho é acusado pela ONU de ter matado o também caudilho Rafik Hariri, ex-primeiro ministro do Líbano.
Os rebeldes continuaram avançando, até que em dezembro de 2014, o palácio de Ghazaleh, em Qurfa, a 20 km ao norte de Daraa, foi tomado e implodido. O vídeo foi postado com exclusividade por esse blogueiro. O regime disse que fora o Movimento de Resistência Nacional, uma organização secreta do regime sírio, que havia implodido o palácio.
À época se supôs que o regime tinha ordenado a implosão do palácio de Qurfa para que o mesmo não caísse nas mãos dos rebeldes. Mas Qurfa não caiu e segue nas mãos de Assad.
Então, em fevereiro, um mês depois do Irã assumir o comando da frente sul, um jornalista de oposição afirmou que Ghazaleh havia perdido o posto de Chefe da Agência de Inteligência Nacional Síria. Ademais, o mesmo só havia sido ferido em um ataque rebelde.
A Al-Jazeera, sensacionalista que é, afirmou que Ghazaleh tinha sofrido uma tentativa de assassinato por parte de um esquadrão iraniano. O argumento usado é que Ghazaleh sabia muitos segredos do regime e assim teria se convertido em uma figura perigosa. Ainda afirmou que Ghazaleh havia planejado um golpe de estado.
Um canal de oposição também chegou a afirmar em 8 de março que Ghazaleh havia sido deposto de seu cargo, que havia sido torturado e estaria preso em um hospital de Damasco.
A MTV do Líbano, no mesmo dia disse que o gerente do escritório de Ghazaleh, o major-general Rafik Shehadeh, foi suspenso depois de agredir Ghazaleh por disputas políticas. A pisa em Ghazaleh foi tão grande, que Ghazaleh havia sido internado.
“Nós ouvimos todos tipos de teorias de conspiração sobre Ghazaleh: que ele foi ferido por rebeldes ou que foi torturado porque tinha desentendimentos com os iranianos. Outras pessoas estão dizendo que sua casa foi incendiada porque os iranianos queriam captura-lo e ele se recusou deixa-la. Na Síria é difícil saber a verdade. Talvez nada disso seja verdade ou talvez tudo isso seja verdade. Nunca vamos saber”, disse a fonte no Líbano ligada ao Partido Baath.
Um general que traiu seu país assim tem que ser executado sem piedade.
ResponderExcluirMídia ocidental coloca assad como já estando no mesmo caminho q sadan não muito longe de perder tudo e ser enforcado,mas Michel vc que dedica mais tempo ao assunto, quais são as reais chances de assad sair pelo menos vivo da situação que esta mesmo com ajuda dos Iranianos, e esse gasto econômico e de vidas tanto do Ira qd do hezbollah vale ou vai valer a pena, grato desde já.
ResponderExcluirCH
Não vou me delongar, mas há gente no círculo dele que quer a morte dele. Qualquer ele pode ser assassinado.
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