Yuval Diskin |
Há menos de duas semanas, Yuval Diskin, o recém-aposentado chefe da agência de segurança interna de Israel, lançou um forte ataque verbal contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu ministro da Defesa, Ehud Barak, questionando o julgamento deles na forma de lidar com o que consideram como sendo a ameaça nuclear iraniana e os acusando de tomar decisões “baseadas em sentimentos messiânicos”. Na terça-feira, quando Netanyahu apareceu lado a lado com Shaul Mofaz, um ex-ministro da Defesa e chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e atualmente líder do partido centrista Kadima, dando-lhe as boas-vindas à coalizão do governo, foi como se o primeiro-ministro estivesse oferecendo uma resposta, especialmente para um público israelense nervoso, em geral contrário à ideia de um ataque solitário israelense contra as instalações nucleares do Irã.
Enquanto Netanyahu e Barak apresentam uma posição agressiva contra o Irã, Mofaz é considerado uma voz mais moderada, que é contrário a qualquer ação militar apressada. Após se tornar líder da oposição em março, ele disse em uma entrevista na televisão que um ataque preventivo contra o Irã poderia ser “desastroso” e obter “resultados limitados”.
Condenando o que via como uma política do governo centralizada no Irã, em detrimento do processo de paz com os palestinos, Mofaz, que é nascido no Irã, também disse, em uma entrevista em abril, que “a maior ameaça ao Estado de Israel não é um Irã nuclear”. Ao ser perguntado em uma coletiva de imprensa na terça-feira (8) sobre suas divergências em relação ao Irã, Netanyahu, falando para seu público doméstico em hebraico, disse que as discussões deles “são sérias, e serão sérias e responsáveis”. Referindo-se frequentemente a si mesmo e Mofaz como sendo pessoas judiciosas, ele falou com ar de seriedade.
Muitos políticos e analistas disseram que, longe de sinalizar alguma mudança na política israelense em relação ao Irã, a inclusão de Mofaz e do Kadima na coalizão fortaleceria a posição de Netanyahu.
Yisrael Katz, o ministro dos Transportes, disse para a “Rádio Israel” que, se ele fosse o presidente Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, ficaria preocupado, “porque a partir de agora o Estado de Israel estará mais unido, tanto em sua capacidade de dissuasão como também, se necessário, em sua capacidade de agir”.
Ayoob Kara, o vice-ministro do Partido Likud, disse que um governo forte era necessário para lidar com o Irã. “Se estivermos em consenso em Israel”, ele disse, “isso nos dará mais poder”.
Einat Wilf, uma legisladora da pequena facção Independência, liderada por Barak, disse que é essencial manter a ameaça de ação militar na mesa e que, com um maior consenso israelense, “a credibilidade é maior”.
Apesar de o Irã insistir que seu programa de enriquecimento de urânio é para fins civis, autoridades israelenses, americanas e europeias dizem acreditar que os iranianos estão trabalhando para obter capacidade de produzir armas nucleares.
Netanyahu, ao expandir sua coalizão e assim evitar eleições antecipadas, ganhou mais tempo e estabilidade para o governo. Como a facção de Barak pode não conquistar nenhuma cadeira no próximo Parlamento, a ampliação é a forma mais certa de Netanyahu manter seu ministro da Defesa.
“Eu acho que isso permite que ele mantenha o Irã na linha de frente”, disse David Makovsky, diretor do Projeto para o Processo de Paz do Oriente Médio do Instituto Washington para Políticas do Oriente Próximo, em uma entrevista por telefone.
“Isso de repente lhe compra tranquilidade por um ano e meio”, ele disse, acrescentando que “ele pode unir o país mais facilmente em relação ao curso de ação caso incorpore seu principal partido de oposição”.
Mas, com as pesquisas apontando que o Kadima de Mofaz poderia perder mais da metade de suas 28 cadeiras parlamentares em uma eleição antecipada, sua influência no governo provavelmente será restrita.
“Essa fragilidade”, disse Meir Javedanfar, um professor sobre políticas iranianas no Centro Interdisciplinar em Herzliya, “significa que seu impacto sobre as políticas e narrativa do governo em relação ao Irã provavelmente será limitado”.
Apesar de Netanyahu ter recentemente usado quase toda plataforma para alertar sobre os supostos riscos para Israel e para o mundo de um Irã nuclear, nem ele e nem Mofaz trataram diretamente do assunto na terça-feira, enquanto apresentavam sua parceria em uma coletiva de imprensa no prédio do Parlamento.
Mofaz também não fez menção ao Irã em sua reunião com os parlamentares do Kadima sobre seu acordo surpresa com Netanyahu, disse Nachman Shai, um legislador que participou. Mas, ele acrescentou, “está sempre lá, em algum lugar no horizonte”.
Wilf, da facção de Barak, disse que ataques pessoais e diferenças de linguagem à parte, há um amplo acordo em Israel sobre o que é necessário ser feito em relação ao Irã, que já é alvo de sanções internacionais.
“Todo mundo diz preferir que as sanções funcionem”, apoiadas pela ameaça de uma opção militar crível, ela disse. Apenas se tudo mais fracassar, ela disse, Israel deveria agir por conta própria. “Todo mundo está dizendo a mesma coisa”, disse Wilf, “apesar de poder haver uma diferença de tom”.
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