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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Análise: Obama e Al Qaeda têm um inimigo comum na Síria

Os drones dos EUA investem no Paquistão e no Iêmen contra importantes membros da Al Qaeda; por outro lado, os mísseis Tomahawk americanos estão preparados para atingir na Síria o regime de Bashar Assad, por sua vez inimigo dessa organização terrorista.

As autoridades americanas tentam fazer esquecer nestes dias que sua intervenção na Síria as levaria a lutar, pelo menos durante alguns dias, lado a lado com aqueles que perpetraram o 11 de Setembro em 2001 ou que, há um ano, atacaram seu consulado em Benghazi, matando seu embaixador na Líbia, Christopher Stevens.

A mesma contradição aparente aflige as autoridades da França, que há apenas oito meses desencadearam uma ofensiva militar no Mali para desalojar do país o ramo magrebino da Al Qaeda, que, quando tinha outro nome - Grupo Salafista de Pregação e Combate -, cometeu atentados em Paris.

A rebelião contra a ditadura dos Assad irrompeu há dois anos e meio. Se o presidente Obama tivesse tomado a decisão de intervir pouco depois de seu início, provavelmente teria aparentado menos incoerência. Então o Exército Sírio Livre (ESL), um conglomerado de ex-militares e opositores de diversas ideologias, era o principal adversário do regime.

O ESL continua lutando, mas a seu lado surgiram grupos ligados à Al Qaeda, cuja disciplina e determinação lhe conferem destaque em alguns campos de batalha. A Frente Al Nusra se proclamou vassalo da organização dirigida por Ayman al Zawahiri e figura na lista de grupos terroristas do Conselho de Segurança da ONU. Também irrompeu com força na Síria o grupo Estado Islâmico no Iraque e no Levante (Eiil), que é o ramo iraquiano da Al Qaeda. Ambos contariam em suas fileiras com cerca de 6 mil milicianos não sírios.

Todos os lados cometem abusos na Síria, mas os depoimentos e vídeos que circulam sobre a Al Nusra e o Eiil são os mais assustadores. Desde meados de julho os jihadistas tiveram especial empenho em atacar os curdos sírios, inimigos acirrados de Assad, provocando assim uma guerra dentro da guerra. Em um mês e meio, mais de 1 mil pessoas morreram nessa região do país.

Depois da morte em 21 de agosto em Ghuta, um subúrbio da capital, Damasco, de 1.429 civis, segundo a estimativa de Washington, por causa de armas químicas, Abu Mohamed al Jolani, o cabeça da Al Nusra, advertiu: "Os povos alauítas pagarão o preço de cada projétil químico caído sobre nossos irmãos em Damasco". Sua ameaça dá mais uma vez um caráter confessional à disputa: a maioria sunita contra a minoria alauíta dos Assad, um ramo do islã assimilado aos xiitas.

Por que os EUA, apoiados por alguma outra potência ocidental, vão se alinhar, mesmo que por alguns dias, com esses terroristas, atacando juntos Bashar Assad, o qual, entretanto, a intervenção americana não conseguirá derrotar? É provável que se em vez de bombardear por mar ou por ar as posições do exército sírio o Pentágono tivesse enviado soldados em campo, estes teriam enfrentado os jihadistas, afinal.

Diversos fatores o explicam, desde a preservação de sua liderança na região até uma oportunidade de revalorizar sua imagem diante dos países muçulmanos sunitas, passando pelo desejo sincero de administrar um castigo exemplar ao regime que ousou utilizar artefatos tão mortíferos, violando a Convenção Internacional sobre Armas Químicas, que entrou em vigor há 16 anos e que Damasco não ratificou.

Talvez convencida de que não se atreveria a fazê-lo, a Casa Branca deixou claro, em agosto de 2012, que o emprego de armas químicas constituía uma "linha vermelha" que, se Assad transpusesse, acarretaria sanções. Em 13 de abril houve sérios indícios de que tinham sido utilizadas, mas em pequena escala. Washington reiterou sua advertência, mas não chegou a agir. Agora, depois da matança de Ghuta, Obama se vê obrigado a cumprir sua palavra, mesmo que o pior de seus inimigos possa tirar partido disso.

3 comentários:

  1. Acabei de conhecer o site e gostei muito, vocês pegam informações exclusivas para assinantes e divulgam certo? Adorei a ideia.

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    1. Sim, o blog reproduz os melhores textos geopolíticos do mundo, em especial da Der Spiegel, Le Monde, El País, TNW, Herald Tribune,Die Welt, dentre outros.

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    2. Em tempo, as matérias do UOL não são exclusivas, pois elas estão nos sites dos jornais que são parceiros do portal.

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