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domingo, 1 de setembro de 2013

Com o Reino Unido ainda assombrado pelo Iraque, uma dura lição para Cameron

David Cameron 
Humilhado pelos parlamentares a respeito da Síria, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron parece destinado a ter um papel menor, enfraquecido tanto em casa quanto no exterior por um desastre autoimposto, que também acentuou a relutância de seu país cansado de guerra em se envolver em outro projeto americano no Oriente Médio.

Nenhum primeiro-ministro britânico na memória pediu e não conseguiu apoio de seus parlamentares para uma ação militar, e a derrota de Cameron significa que os Estados Unidos terão que intervir sem seu principal aliado em segurança e inteligência. Em uma reversão da situação no Iraque, pode ser a França, a vizinha e rival do Reino Unido, que dará a cobertura política e militar europeia ao presidente Barack Obama.

No rastro da derrota parlamentar chocante, o principal amigo político de Cameron, o ministro das Finanças, George Osborne, reconheceu que a votação provocaria um período de "autoanálise nacional" sobre o papel do Reino Unido no mundo. Mas ele também alertou contra exagerar o impacto da votação. "Eu espero que isso não se transforme em um momento de darmos as costas a todos os problemas do mundo", disse ele.

O crescente isolamento do Reino Unido também aparece na esfera europeia. Após mais de uma década de envolvimento em conflitos --e sofrendo com uma economia fraca--, a população britânica está cada vez mais cética a respeito de sua participação na União Europeia, cuja moeda única está começando a se recuperar de uma experiência de quase morte.

Alguns dos políticos conservadores mais críticos à União Europeia também parecem ter pouca fé no outro pilar da política externa britânica do pós-guerra --sua "relação especial" com os Estados Unidos.

O líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband, colocou dessa forma à "BBC": "Eu acho que ser aliado dos Estados Unidos e ter um relacionamento especial com os Estados Unidos não pode se resumir a fazer o que o presidente americano deseja que você faça".

Chamando a relutância em fazer uso de força militar no exterior de "uma mudança bem profunda", Malcolm Chalmers, diretor de pesquisa do Instituto Real de Serviços Unidos, em Londres, que é especializado em políticas de defesa e segurança, disse: "Tem a sensação da mudança pós-Vietnã nos Estados Unidos".

Chalmers viu uma "desconexão entre a elite política e o público", acrescentando: "Ela está presente na intervenção militar, certamente está presente na questão da Europa e da imigração. Há uma sensação entre o público britânico de que devemos cuidar de nós mesmos em vez dos outros".

De fato, os eventos que se desdobraram durante a semana foram moldados por um erro de cálculo político prosaico, com os líderes de todos os três principais partidos políticos julgando de modo equivocado o sentimento popular e perdendo o controle de seus partidos. Cameron provavelmente foi encorajado pelo fato de os legisladores britânicos terem apoiado a intervenção militar na Líbia em 2011, e achou que tinha fechado um acordo com Miliband, por exemplo, que descobriu que parte de sua bancada não aceitaria. No final, tanto Cameron quanto o vice-primeiro-ministro Nick Clegg, líder dos liberais democratas, se viram incapazes de manter seus parlamentares na linha, mesmo em uma moção basicamente inútil que não autorizava nada.

Mesmo se, daqui vários meses, os eventos recentes revelarem ter salvo o país de uma intervenção militar imprudente, isso servirá de pouco conforto para Cameron. Nessas circunstâncias, seus adversários políticos poderão colocar ainda mais em dúvida o juízo do primeiro-ministro e alegar que eles --e não ele-- merecem crédito por evitar outro erro na política externa.

A experiência no Iraque paira sobre o debate. Com a discussão pública sobre os pareceres da inteligência, o trabalho dos inspetores de armas da ONU e o caso legal a favor da ação militar, poucos não viram paralelos com a invasão ao Iraque. Aquela guerra arruinou a gestão do ex-primeiro-ministro pelo Partido Trabalhista, Tony Blair, que foi ridicularizado como poodle de Washington e acusado de deturpar a inteligência sobre as supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein.

Mesmo antes da ação militar em 2003, a perspectiva de invadir o Iraque era impopular no Reino Unido, com até 1 milhão de manifestantes marchando em oposição a certa altura. Miliband ainda não foi eleito ao Parlamento e o fato de nunca ter votado a favor da ação militar foi um elemento importante em sua campanha para se tornar líder do partido.

Cameron também estava bem ciente do legado do Iraque. Sua decisão de convocar o Parlamento em meio às férias, e de publicar o argumento legal a favor da ação e o parecer da inteligência, visavam demonstrar transparência e ressaltar a diferença entre ele e Blair.

Inicialmente, Cameron queria uma autorização para ataques militares limitados. Após discussões com Miliband, ele foi forçado a recuar, terminando com uma moção branda que prometia uma segunda votação após a conclusão do trabalho dos inspetores da ONU em Damasco.

Para fúria do gabinete de Cameron, Miliband não cumpriu sua parte diante da hostilidade dos parlamentares trabalhistas. Muitos deles recordavam de terem sido persuadidos contra sua vontade a apoiar Blair no Iraque e, agora na oposição, não estavam dispostos a prestar um favor semelhante a Cameron.

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