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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Der Spiegel: "Temos de abrir negociações imediatamente", diz presidente israelense sobre o conflito entre Israel e Palestina


As Nações Unidas reconheceram o Estado palestino e primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu parece preferir o confronto à negociação. Mas em entrevista à Spiegel, o presidente israelense Shimon Peres disse que não há alternativa a não ser reiniciar as negociações de paz, acrescentando que é hora de esquecer o passado.

Spiegel: Numa votação recente, a ONU essencialmente reconheceu o Estado da Palestina, concedendo-lhe um "status de não membro observador". Você está decepcionado com essa decisão?
Peres: Você pode criticar a resolução da ONU, mas isso não importa. Eu aprendi há muito tempo que há uma coisa na vida que você não pode mudar, essa coisa é o passado. O que aconteceu, aconteceu.

Spiegel: Será que a decisão da ONU tornará as negociações de paz com os palestinos mais difíceis?
Peres: Eu não sei se mais difíceis, mas mais necessárias. Agora, o grande problema será o Tribunal Penal Internacional em Haia, e as duas partes tentarão caçar uma à outra. Se esta é uma previsão para o futuro? Isso é o que viemos fazendo o tempo todo: eles costumavam nos culpar, e nós costumávamos culpá-los. Mas precisamos esquecer o passado.

Spiegel: Ainda assim, ao fazer reivindicações para a Terra Santa,  ambos os lados citam milhares de anos de história.
Peres: Nós não vamos lidar com Abraão, nosso pai e irmão. Acabou.

Spiegel: O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no entanto, refere-se a essa história quase que diariamente.
Peres: A história é necessária para justificar o presente. Mas voltar 2.000 anos? Meu Deus, deixe isso para os historiadores. O que aconteceu 2.000 anos atrás não se repetirá hoje. Minha proposta é: deixar para trás e dizer que o passado foi perdoado; não vamos processar um ao outro. É um desperdício de tempo. Temos de abrir imediatamente as negociações sem condições prévias. E imediatamente significa após as eleições parlamentares de 22 de janeiro.

Spiegel: A Alemanha se absteve na votação recente da ONU sobre a situação palestina. Um elemento que contribui para a posição de Berlim foi a frustração da chanceler Angela Merkel com o fato de Netanyahu ainda não ter entrado em negociações com os palestinos. Você entende a posição?
Peres: Eu gostaria que a Alemanha votasse de forma diferente. Mas e daí? Quando eu analiso mais profundamente e me pergunto o que prefiro, uma Europa alemã ou uma Alemanha europeia, prefiro uma Alemanha europeia. E essa decisão faz parte de a Alemanha ser europeia.

Spiegel:  Há algumas semans, reuniões de alto escalão entre os membros do gabinete israelense e alemão foram realizadas em Berlim. Antes de chegar, o primeiro-ministro Netanyahu reclamou da votação da Alemanha na ONU. O que você acha sobre o estado das relações entre Alemanha e Israel?
Peres: Eu acho que o relacionamento é justo, e acho que a atitude da chanceler Merkel é notável. Ela tem suas posições, e seu pensamento é coerente. Eu a respeito muito. Os laços da Alemanha com Israel são profundos, não são oportunistas. Acontece de discordarmos de vez em quando. Mesmo os céus azuis do Mediterrâneo têm nuvens às vezes. Mas o céu é azul.

Spiegel: A Alemanha não estava sozinha. Com exceção da República Tcheca, todos os países da UE votaram ou a favor dos palestinos ou se abstiveram. Israel está se tornando cada vez mais isolado?
Peres: Eles não votaram em nós por causa da falta de negociações. Assim que começarem as negociações, eles vão nos apoiar.

Spiegel: Mas e se não houver nenhuma negociação?
Peres: Não haver negociações não é uma possibilidade. Temos de negociar. Basicamente, nós já temos uma base para um acordo: dois Estados e blocos de assentamento. Haverá três blocos, e devemos dar aos palestinos uma parte igual de terra. Os assentamentos ocupam talvez 2% a 6% da Cisjordânia. Não é algo insolúvel.

Spiegel: Se a solução for realmente tão simples, por que a paz não foi alcançada há muitos anos?
Peres: O verdadeiro problema está em como iniciar as negociações. Você não pode começar as negociações pelo final. Então temos de definir como começar. E acho que temos de começar da seguinte maneira: dizendo que o que aconteceu até agora vai parar e que haverá um perdão do passado. Temos que começar sem condições prévias.

Spiegel: Você teve uma série de reuniões secretas com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, há mais de um ano. Vocês dois tinham chegado perto de um acordo sobre como reiniciar as negociações. Mas nesse ponto, Netanyahu lhe pediu para interromper o contato.
Peres: Olha, esse é o passado novamente. Mas Netanyahu concordou com uma solução de dois Estados.

Spiegel: No papel, talvez. Mas nada aconteceu. E é muito provável que o próximo governo esteja ainda menos dispostos a negociar.
Peres: O futuro governo terá que tomar uma decisão estratégica. E Israel não tem uma escolha melhor do que a solução de dois Estados.

Spiegel: Esta é só a sua opinião? Ou será que o primeiro-ministro Netanyahu também a compartilha? As ações dele parecem indicar que não.
Peres: Esses quatro anos não se repetirão.

Spiegel: O que o faz ter tanta certeza?
Peres: A minha experiência. Essa é a diferença entre os jovens e os mais velhos. Eu sou velho. Eu posso lhe dizer, a realidade afeta os líderes mais do que qualquer líder afeta a realidade. Tenho certeza de Netanyahu não quer um Estado binacional. Um Estado binacional não teria paz – por causa da tensão, das diferenças do território pequeno.

Spiegel: Mas parece mais que Netanyahu quer preservar o status quo.
Peres: No momento, sim, talvez. Mas haverá um outro momento.

Spiegel: Como você mantém o otimismo ao longo de todos esses anos de conflito?
Peres: Eu me lembro do início. Eu vim para um país que não tinha nada, um pequeno pedaço de terra com um pântano no norte e um deserto ao sul. Nós não tínhamos água. Tínhamos dois lagos – um morto, o outro moribundo – e um rio, o Jordão, que tem mais fama do que a água. Em 1948, éramos um grupo pequeno de 650 mil pessoas cercadas por uma hostilidade tremenda, com menos armas, em menor número, sem recursos naturais. Tivemos uma guerra antes de termos um Estado. Tivemos um exército antes de termos um governo. Nós não tínhamos chance – e, ainda assim, veja o que aconteceu.

Spiegel: Isso foi em 1948. Mas se você comparar a situação atual com os tempos esperançosos de Agosto de 1993, quando os acordos de paz de Oslo foram assinados, tem de admitir que as coisas ficaram muito piores.
Peres: Alguns críticos também disseram que nunca faríamos a paz com nenhum país árabe. Nós fizemos a paz com o Egito, fizemos paz com a Jordânia. Nós começamos a fazer a paz com os palestinos. E, de fato, existe uma Autoridade Palestina, e há uma espécie de relação.

Spiegel: Quais são as chances de que você viver para ver negociações bem-sucedidas entre israelenses e palestinos?
Peres: Chances de 100%. Pode demorar um pouco mais do que eu gostaria. Nós temos de ser pacientes, temos que ser constantes e não devemos ouvir os pessimistas. Eles cometem tantos erros quanto os otimistas.

Spiegel: Pode-se também ver o seu otimismo constante como nada mais do que uma folha de parreira para esconder um governo que carece de vontade suficiente para um compromisso.
Peres: Essas acusações são um absurdo. Na minha longa carreira política, participei fazendo coisas inacreditáveis por este país. O que eu fiz são coisas reais – não folhas de parreira, mas uvas, frutos.

Spiegel: Alguns veem o atual mandato de Netanyahu como primeiro-ministro como quatro anos perdidos em termos de reforma e mudanças importantes. Durante o mandato, o clima se tornou mais hostil também em relação aos imigrantes africanos e árabes-israelenses.
Peres: Eu não estou tão certo de que tudo seja tão sombrio. Veja as relações com os árabes em Israel: parece um relacionamento impossível. Mas se você olhar um pouco mais de perto, existem ilhas de paz entre nós. Por exemplo, na saúde. Não há um único hospital em Israel que não tenha enfermeiras, médicos e pacientes árabes e judeus trabalhando juntos sem problemas. É uma paz completa nos hospitais.

Spiegel: Muitos em Israel veem a Primavera Árabe como um "inverno árabe". Você compartilha desse ponto de vista?
Peres: Eu vejo isso como uma "primavera mundial" ao invés de uma primavera árabe. O clima de mudança é global, e não nacional. E você não pode chegar a uma primavera mundial vestido para o inverno.

Spiegel: Em que medida as revoluções no mundo árabe influenciaram o que acontece em Israel?
Peres: Nem tudo o que acontece no Oriente Médio está ligado a Israel. O derramamento de sangue na Síria não está ligado a Israel. O Egito não tem nada a ver com Israel. E o mesmo vale para a Tunísia e o Iêmen. Há alguns fanáticos que tentam introduzir o conflito entre nós e os palestinos como uma desculpa para o seu extremismo, mas fazem parte da minoria. Então, acho que temos de nos desconectar deste período de transição no Oriente Médio.

Spiegel: Você falou sobre um "novo Oriente Médio" durante décadas. O Oriente Médio está tomando a tomar forma que você imaginava?
Peres: Ainda não existe um novo Oriente Médio. Há um divórcio entre o antigo Oriente Médio, mas ainda não existe um novo Oriente Médio. Estamos num período de transição. Mas eles estão construindo governos, o processo começou. A nova geração já conquistou alguma coisa. Antes de mais nada, eles se livraram de seus ditadores. Eles empurraram seus países para as eleições. Eles não sabiam como ganhar eleições, mas introduziram eleições.

Spiegel: Há quatro meses, pouco antes de seu aniversário de 89 anos, você advertiu publicamente os israelenses contra lançar um ataque unilateral sobre o Irã. O que preocupava tanto a ponto de decidir se pronunciar?
Peres: O problema do Irã é um problema global. Israel não deve monopolizá-lo.

Spiegel: Isso significa que você não confia que os atuais líderes do seu país tomem a decisão certa?
Peres: Eu respeito os líderes, mas também respeito as realidades. E prefiro estar do lado de uma coalizão liderada pelos Estados Unidos. O presidente Barack Obama, em minha opinião, é um líder sério e coerente. Ele é contra os iranianos terem uma bomba porque é um perigo para o mundo.

Spiegel: Você reclamou recentemente sobre perder o sono por estar muito preocupado. Devemos nos preocupar também?
Peres: Claro, eu estou preocupado... Portanto expressei minhas opiniões. Até o presidente russo, Vladimir Putin, disse-me que não pode suportar uma bomba nuclear nas mãos dos iranianos. Então por que ficar sozinho? Eu não entendo isso.

Spiegel: Suas posições sobre este e outros temas são contrárias àquelas do atual governo e do primeiro-ministro Netanyahu. Por que você não é mais crítico de forma aberta?
Peres: Eu prefiro expressar aquilo que defendo, e não o que sou contra.

Spiegel: Muitos israelenses estavam esperando para vê-lo como o chefe da oposição nas próximas eleições. Por que você acabou decidindo não concorrer?
Peres: Eu fui eleito presidente por sete anos. Quero cumprir o compromisso que eu assumi. Não me faltam oportunidades. Não sinto que estou ocioso. Acho que tenho de contar a história do meu país e para onde estamos indo.

Spiegel: Você chegou a considerar concorrer?
Peres: Sinto que posso influenciar tanto com boa vontade, quanto com o poder administrativo. Acho que eu tenho, de certa forma, uma responsabilidade educacional de dizer aos jovens para onde estamos indo. Espero que eu não esteja exagerando, mas espero que as pessoas estejam me ouvindo com atenção.

Um comentário:

  1. Estão kerendo enganar a quem?..Esses eSSes caras ñ kerem a paz.E Td de bom p td ,q fikemos td milionários em 2013. Sds.

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