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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O mundo reage ao vazamento maciço de relatórios diplomáticos dos Estados Unidos

Julian Assange, fundador e editor do site australiano WikiLeaks
O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, retratado como um fútil “party animal” (gíria em inglês para designar pessoas cujas vidas giram em torno de festas agitadas) nos relatórios diplomáticos do Departamento de Estado dos Estados Unidos revelados pelo WikiLeaks no último domingo, “deu uma boa gargalhada” ao saber das revelações. Mas outros não se mostraram tão bem humorados. Um parlamentar norte-americano deseja classificar essa plataforma da Internet como uma organização terrorista.

As mensagens de Roma não foram nada elogiosas. Um relatório de 9 de junho de 2009 descreve o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi como “irresponsável, fútil e ineficiente como líder europeu moderno”. O relatório afirma que Berlusconi possui uma “autoconfiança exagerada” que fez com que ele “perdesse a capacidade de escutar opiniões dissidentes”. Um relatório separado afirma “as noitadas frequentes de Berlusconi e o seu gosto por festas de embalo significam que ele não conta com repouso suficiente”.

As avaliações sobre o chefe de governo italiano emergem de mais de 250 mil relatórios diplomáticos dos Estados Unidos obtidos pelo WikiLeaks, muitos dos quais foram publicados na noite de domingo. Vários órgãos de notícias, incluindo “Der Spiegel” (Alemanha), “The New York Times” (Estados Unidos), “The Guardian” (Reino Unido) e “El País” (Espanha), deram início agora a uma série de reportagens baseadas na análise dessas mensagens.

Vários líderes mundiais foram especialmente criticados, incluindo Berlusconi. Ele é descrito como “física e politicamente fraco” nas mensagens que também deixaram claro que o Departamento de Estado dos Estados Unidos, sob a liderança da secretária de Estado Hillary Clinton, estava ansiosa por descobrir se tinham fundamentos os rumores de que Berlusconi e o seu bom amigo, o presidente russo Vladimir Putin, tinham se aliado para, juntos, beneficiarem os seus negócios privados, algo que ambos negam veementemente.

Mas, segundo um relatório da agência italiana de notícias ANSA no domingo, Berlusconi não ficou particularmente irritado com os relatórios. “Ele deu uma boa gargalhada” em relação aos comunicados, segundo a ANSA, que se baseou em fontes próximas a Berlusconi. Outros membros do seu governo, no entanto, não se mostraram nem um pouco bem humorados. O ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, chamou os vazamentos de “o 11 de setembro do universo diplomático”.

A avaliação de Frattini parece ser compartilhada pelos Estados Unidos. A Casa Branca condenou a divulgação dos documentos pelo WikiLeaks pouco depois de estes terem se tornado públicos, afirmando que “tais vazamentos colocam em risco os nossos diplomatas, profissionais da área de inteligência e pessoas em todo o mundo que procuram os Estados Unidos em busca de assistência para promover a democracia e governos transparentes”. Antes mesmo de os relatórios diplomáticos terem sido divulgados, os Estados Unidos começaram a entrar em contato com governos estrangeiros em uma tentativa de controlar o estrago.

A WikiLeaks seria uma organização terrorista?


O parlamentar norte-americano Peter King, republicano do Estado de Nova York e o novo diretor do Comitê da Câmara para Segurança Interna, solicitou ao governo do presidente Barack Obama que “determine se o WikiLeaks pode ser classificado como uma organização terrorista estrangeira”, segundo o website NNET News. “O WikiLeaks parece atender ao critério legal para isso”, escreveu King em uma carta, enviada a Hillary Clinton, que foi lida pelos repórteres responsáveis pelo website. “O WikiLeaks representa uma ameaça atual e evidente à segurança nacional dos Estados Unidos”.

O senador Joseph Lieberman, que preside o Comitê do Senado de Segurança Interna, também pediu que o WikiLeaks fosse fechado. “Ao disseminar esses materiais, o WikiLeaks está colocando em risco as vidas e a liberdade de incontáveis indivíduos, norte-americanos ou não, em todo o mundo. Essa ação é escandalosa, incauta e repugnante”.

Mas de 1.700 dos recém-divulgados documentos tiveram como origem a Embaixada dos Estados Unidos em Berlim, e muitos deles são tão negativos em relação aos políticos alemães quanto foram em relação a Berlusconi. A chanceler alemã Angela Merkel é descrita como “avessa a riscos e raramente criativa”. Um dos comunicados enviados da embaixada em Berlim afirma também que ela “às vezes parece incerta” nas suas relações com Obama. O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, é descrito em um relatório de 18 de setembro de 2009 como tendo pouco substância e carecendo de seriedade, além de ser fútil, arrogante, crítico em relação aos Estados Unidos e “demasiadamente oportunista para que nele se confie como ministro das Relações Exteriores”. Um dos comunicados diz que ele é “um enigma” que tem pela frente “uma curva de aprendizado de declive acentuado” nas questões de política externa.

O governador bávaro Horst Seehofer, presidente do partido União Social Cristã na Baviera (em alemão, Christlich-Soziale Union in Bayern, ou CSU), partido aliado dos democratas cristãos de Angela Merkel, é considerado um indivíduo com “uma experiência muito superficial em relações exteriores” e “desinformado a respeito de coisas básicas”. Uma mensagem observa que ele possui “instintos naturais para proferir pronunciamentos populistas”.

“Simplesmente Ridículo”

E o ministro alemão do Desenvolvimento, Dirk Niebel, do pró-empresariado Partido Democrático Liberal (em alemão, Freie Demokratische Partei, ou FDP), outra agremiação que faz parte da coalizão de governo de Angela Merkel, é chamado de uma “escolha improvável” para o cargo. Segundo o relatório diplomático ele “não é considerado um especialista em assistência para desenvolvimento”.

Na verdade, o FDP, partido de Niebel e do ministro das Relações Exteriores, Westerwelle, talvez seja o que mais tem a temer em relação aos vazamentos do WikiLeaks. Mensagens diplomáticas enviadas da embaixada norte-americana em Berlim logo após as eleições parlamentares de 2009 na Alemanha deixam claro que o embaixador dos Estados Unidos, Philip Murphy, foi mantido bem informado a respeito das negociações em andamento para a formação de um governo de coalizão entre a União Democrata-Cristã (em alemão, Christlich-Demokratische Union, ou CDU) e o FDP de Westerwelle. O informante dos norte-americanos teria tomado notas para o FDP durante as negociações – notas que ele a seguir repassou aos norte-americanos enquanto as discussões continuavam.

Na noite de domingo, Niebel disse: “Eu considero essas acusações simplesmente ridículas”. Niebel foi o convidado em um programa de entrevistas da rede de televisão pública alemã ARD. “Eu nego que haja um informante”. Ele disse também que não acha que as relações entre Estados Unidos e Alemanha serão prejudicadas pela publicação dos comunicados diplomáticos. No entanto, Niebel acrescentou: “Daqui por diante é preciso pensar bastante a respeito do quão abertamente devemos falar e com quem”.

O ex-embaixador dos Estados Unidos na Alemanha, John Kornblum, diz que “um dos motivos pelos quais os diplomatas gostam de trabalhar na Alemanha é o fato de os alemães serem bastante comunicativos. É de fato possível descobrirmos o que quisermos. Basta apenas se um pouco amigável”.

Westerwelle também manifestou dúvidas quanto à existência de um informante do FDP que tenha passado ao embaixador dos Estados Unidos informações sobre as negociações para a formação da coalizão alemã. “Eu não acredito nessa história do jeito que ela está sendo apresentada”, disse ele a jornalistas na segunda-feira (29/11). “Apenas porque isso foi dito não quer dizer que a informação seja verdadeira”. Westerwelle disse também que não considera “fofocas e boatos” sobre políticos europeus uma questão particularmente relevante. Ele afirma que está mais preocupado com os perigos potenciais para a segurança provocados pela publicação dos documentos.

Israel poderia beneficiar-se dos vazamentos


Ruprecht Polenz, um membro da CDU de Angela Merkel e presidente do Comitê de Assuntos Externos do parlamento federal alemão, afirmou: “Eu não creio que o estrago seja considerável”. Segundo ele, os Estados Unidos precisam agora tomar medidas no sentido de garantir aos seus aliados que é possível ter confiança nos norte-americanos. “Caso contrário, os parceiros poderão não continuar sendo transparentes com eles”.

Mas o porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert, vê as coisas de outra forma. Ele afirma que nada mudará nas relações entre os Estados Unidos e a Alemanha – a amizade é “robusta e forte”, declarou ele na segunda-feira. O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble – que, segundo as mensagens diplomáticas deixaram claro, é bastante respeitado entre os diplomatas norte-americanos – afirmou que a publicação dos relatórios foi “ruim e insípida”.

Vários outros países reagiram aos vazamentos na segunda-feira. Os ministro iraquiano das Relações Exteriores, Hoshyar Zebari, classificou-os de “contraproducentes e divulgados em má hora”. O ministro das Relações Exteriores do Paquistão declarou em um comunicado: “Nós condenamos o vazamento irresponsável de documentos oficiais sensíveis”. Já a Rússia declarou que prefere examinar os documentos antes de se manifestar.

Um dos poucos países que poderá se beneficiar com as revelações do WikiLeaks parece ser Israel. Inumeráveis documentos indicam que diversos países do Oriente Médio estão bem mais preocupados com a obtenção de armas nucleares pelo Irã do que deixaram transparecer em público. Um dos relatórios diplomáticos revela que a Arábia Saudita pediu que os Estados Unidos “cortassem a cabeça da serpente” atacando o Irã, um sentimento que é compartilhado por outros países da região. Os relatórios revelam também que a Coreia do Norte pode ter fornecido ao Irã mísseis com capacidade para atingir alvos na Europa.

“Esses vazamentos não prejudicam Israel – talvez o oposto seja verdade”, declarou a uma rádio israelense, segundo a “Associated Press”, Giora Eiland, ex-assessora de Segurança Nacional dos ex-primeiros-ministros Ariel Sharon e Ehud Olmert. “Se existe algo em relação à questão iraniana que, na minha opinião, acaba ajudando Israel, é o fato de esses vazamentos demonstrarem que países árabes como a Arábia Saudita estão bem mais interessados no Irã do que no conflito entre israelenses e palestinos”.

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