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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Morte de paquistaneses em ataque aéreo americano estremece as relações

As autoridades americanas pressionaram seus pares paquistaneses na quinta-feira (30) para a reabertura de uma rota vital de suprimentos para as forças americanas e da OTAN no Afeganistão, enquanto as relações se deterioravam após o quarto ataque por helicópteros da coalizão na semana ter matado três membros da força de fronteira paquistanesa.

O Paquistão fechou a rota em protesto pelos ataques em seu lado da fronteira, obrigando as autoridades americanas a fazerem uso de reuniões e telefonemas para tentar acalmar as tensões e fazer com que a rota seja reaberta. Ambos os lados indicaram que podem tentar resolver a disputa por meio de uma investigação conjunta.

Mas o fechamento da fronteira e a série excepcional de ataques por aeronaves tripuladas, diferente das aeronaves não-tripuladas, sinalizaram um aumento geral nas tensões entre o Paquistão e os Estados Unidos, aliados já desconfortáveis que possuem interesses conflitantes na guerra afegã.

A CIA realizou uma série recorde de ataques com aeronaves não-tripuladas dentro do Paquistão em setembro, e novos relatos vieram à tona nesta semana de execuções ilegais por parte do exército paquistanês, nas áreas onde reiniciou as operações contra as forças do Taleban que ameaçam o governo.

As ofensivas paquistanesas não se estenderam ao Waziristão do Norte, a principal fortaleza dos insurgentes que se infiltram no Afeganistão, uma crescente fonte de frustração para os oficiais americanos, que enfrentam um prazo neste ano para apresentar progresso na guerra afegã.

“Nós estamos claramente na fase de nosso relacionamento em que estamos tentando dizer para eles que estamos sendo enganados”, disse Teresita C. Schaffer, diretora do programa para Sul da Ásia no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.

Mas ela acrescentou: “Nós estamos tentando há dois anos diminuir nossa dependência logística do Paquistão e só conseguimos reduzi-la de 90% para 80%. Assim, não, nós claramente não temos nenhum outro lugar para ir”.

O fechamento da fronteira foi uma demonstração clara da influência que o Paquistão detém sobre o esforço de guerra americano. Ele coincidiu com a visita previamente agendada do diretor da CIA, Leon E. Panetta, que se encontrou na quinta-feira com o chefe militar paquistanês, o general Ashfaq Parvez Kayani, um dentre uma série de autoridades americanas que vieram alternadamente bajular e pressionar pela cooperação paquistanesa.

Após o fechamento da fronteira na quinta-feira, o senador John Kerry, democrata de Massachusetts que é presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, falou com o primeiro-ministro Yousaf Raza Gilani, tentando acalmar as tensões. Esta conversa transcorreu vários dias após uma conversa por telefone entre o almirante Mike Mullen, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, e Kayani a respeito dos ataques anteriores.

O fechamento da fronteira sinalizou os limites da tolerância paquistanesa com as violações de sua soberania e com a pressão que está disposto a aceitar por parte das autoridades americanas em quaisquer questões, apesar de receber quase US$ 2 bilhões por ano em ajuda militar de Washington.

O governo paquistanês indicou na quinta-feira que os ataques lançados do outro lado da fronteira foram mais do que pode suportar sem protestar.

“Nós teremos que ver se somos aliados ou inimigos”, disse o ministro do interior paquistanês, Rehman Malik.

Ao mesmo tempo, as autoridades paquistanesas tentaram conter os danos causados por um vídeo que chamou a atenção das autoridades americanas recentemente, mostrando a execução de seis homens jovens, amarrados e vendados, por soldados do exército paquistanês.

Respondendo às perguntas das autoridades americanas, as autoridades paquistanesas reconheceram na quinta-feira que o vídeo é verdadeiro, ao contrário do que tinham inicialmente argumentado, e identificaram os soldados e disseram que tomaram as medidas apropriadas, segundo um funcionário americano.

É de interesse tanto americano quanto paquistanês a manutenção do relacionamento, disse o funcionário. Os paquistaneses, enfrentando um colapso econômico após as enchentes devastadoras do verão, precisam da ajuda militar americana – cerca de US$ 10 bilhões desde 2001– que poderia ser cortada para as unidades que comentem atrocidades, disse o funcionário.

Os comandantes americanos estão ávidos em dar continuidade aos ataques com as aeronaves não-tripuladas da CIA nas áreas tribais do Paquistão, que têm se concentrado tanto em militantes do Taleban quanto da Al Qaeda que atravessam a fronteira para atacar as tropas da OTAN e americanas. O governo paquistanês concordou com a campanha americana com aeronaves não-tripuladas, mas pode suspender a permissão ou reduzir a área em que os ataques são permitidos.

O país também é uma importante rota de suprimentos para a guerra no Afeganistão, como as autoridades paquistanesas e americanas estão bem cientes. A grande maioria dos suprimentos não letais –água, alimentos, veículos– para as forças da coalizão, no Afeganistão sem acesso ao mar, precisa atravessar o Paquistão, do porto de Karachi, no sul, até a fronteira afegã, uma viagem de centenas de quilômetros.

Ao longo dessa rota, caminhões e transportes de combustível às vezes são tomados ou atacados pelas forças do Taleban. As autoridades paquistanesas fecharam a travessia da fronteira apenas ocasionalmente, geralmente citando preocupações com a segurança.

Mas raramente retiveram os suprimentos americanos e da OTAN em retaliação por ações da OTAN ou americanas. Em 2008, os paquistaneses fecharam a travessia da fronteira por vários dias após uma aeronave americana ter bombardeado um posto paramilitar paquistanês em Mohmand, outra área tribal. Onze paquistaneses morreram no ataque.

Os comandantes americanos no Afeganistão, há muito temerosos de um possível estrangulamento mais permanente por parte do Paquistão da rota de suprimentos, têm buscado caminhos alternativos pela Ásia Central, mas com pouco sucesso.

Na quinta-feira, as autoridades paquistanesas mostraram para eles quão mais difícil elas podem tornar a guerra no Afeganistão. Os caminhões com destino às forças da coalizão estavam parados em um posto de fronteira em Torkham, ao norte de Peshawar, sem nenhuma notícia de quando o posto, uma das duas maiores travessias por terra ao Afeganistão, reabriria, disse um oficial de segurança paquistanês.

Mas as autoridades americanas notaram que o Paquistão fechou apenas uma das várias rotas de suprimentos para o Afeganistão, um sinal de que o governo paquistanês quer minimizar o impacto do episódio.

“Nós temos muitas capacidades, rotas e formas diferentes de obter suprimentos, então não há impacto imediato”, disse o coronel Dave Lapan aos repórteres em Washington.

A rota bloqueada, o Passo de Khyber, liga a cidade de fronteira de Peshawar a Jalalabad, no leste do Afeganistão.

Lapan disse que os oficiais militares americanos também estavam analisando se todos os procedimentos foram seguidos de modo apropriado nos incidentes. O governo paquistanês não fez o mesmo e nem um protesto público semelhante após ataques aéreos anteriores da coalizão, apesar de terem matado cerca de 55 pessoas dentro do Paquistão.

Esses ataques, ocorridos em 24 e 25 de setembro, ocorreram na fronteira que separa a província de Khost, no Afeganistão, do Waziristão do Norte. Helicópteros da coalizão dispararam contra o Paquistão três vezes, com um helicóptero penetrando brevemente no espaço aéreo paquistanês, segundo a major Sunset Belinsky, uma porta-voz da OTAN.

No ataque aéreo de quinta-feira, um helicóptero da OTAN atacou um posto de fronteira em Mandati Kandaw, uma cidade próxima de Parachinar, na área tribal Kurram, disse o oficial de segurança paquistanês. Três soldados do Corpo de Fronteira do Paquistão foram mortos e três ficaram feridos, ele disse.

Outro posto de fronteira, em Kharlachi, também em Kurram, foi atacado poucas horas depois, acrescentou o oficial. Os dois postos ficavam 24 quilômetros separados um do outro e na fronteira com a província de Paktia, no Afeganistão.

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