Steven Sotloff em Gizé, Egito |
Mas ele não conseguiu escapar dos riscos há um ano, quando foi sequestrado no norte da Síria, enquanto cobria a guerra civil que ainda abala aquele país, o lugar mais perigoso para jornalistas, com mais de 70 mortos e 80 sequestrados desde o início do conflito.
Um embargo virtual das notícias sobre seu destino foi suspenso na terça-feira, quando ele apareceu em um vídeo na internet produzido pelo Estado Islâmico, o grupo extremista que o mantém refém, que mostrava a decapitação de James Foley, um colega freelancer de 40 anos e vítima de sequestro. O vídeo mostrava um militante mascarado vestido de preto de pé ao lado de Sotloff, ajoelhado em um macacão laranja, com a cabeça raspada, enquanto seus captores alertavam que Sotloff seria o próximo a morrer em resposta aos ataques aéreos americanos contra alvos do Estado Islâmico no Iraque.
O vídeo termina com o militante alertando o presidente Barack Obama, em inglês, que o destino de Sotloff "depende de sua próxima decisão".
Na sexta-feira, ainda não se tinha notícia sobre se Sotloff foi morto.
A família de Sotloff buscou desesperadamente manter a notícia de seu sequestro em sigilo, aparentemente temendo que a publicidade poderia colocá-lo ainda mais em risco. Mas a estratégia ruiu quando o mundo soube que Sotloff era um refém do Estado Islâmico. Apesar da família ainda pedir aos amigos de Sotloff que não falem, mais de 8.100 pessoas assinaram uma petição no site da Casa Branca, criada no mesmo dia em que o vídeo do Estado Islâmico foi postado, pedindo a Obama para "agir imediatamente para salvar a vida de Steven por qualquer meio necessário".
Descrito por amigos como abnegado, Sotloff passou grande parte de sua vida na Flórida, exceto quando cursou o internato Kimball Union Academy, em Meriden, New Hampshire, onde aparentemente desenvolveu o gosto por jornalismo e por escrever. Ele coeditava o jornal da escola, "The Kimball Union", se formou em 2002 e cursou a Universidade da Flórida Central, onde jogou rúgbi, trabalhou para o jornal estudantil independente, "Central Florida Future", e expressou profundo interesse em viajar ao Oriente Médio.
Ele partiu após três anos para trabalhar em jornalismo em tempo integral.
"O cara animava a sala. Ele sempre foi um bom amigo nosso, leal e solidário", disse Josh Polsky, que compartilhou uma suíte de dormitório com Sotloff, em uma entrevista por telefone. "Se você precisasse do apoio de alguém para algo, ele largava tudo na hora por você e por qualquer pessoa."
O fascínio de Sotloff pelo Oriente Médio, incitado pelo conflito entre árabes e israelenses e por outros eventos tumultuosos, aparentemente se devia à sua criação judaica. Sua mãe, Shirley, uma professora de pré-escola no Templo Beth Am, no subúrbio de Miami de Pinecrest onde a família vivia, era "apaixonada a respeito da preservação da memória do Holocausto, do qual seus pais eram sobreviventes", segundo uma breve biografia dela publicada pelo templo.
Emerson Lotzia Jr., outro ex-colega de quarto, disse que ele não se deixava deter pelos riscos de fazer reportagem no Oriente Médio.
"Um milhão de pessoas poderiam ter lhe dito que o que estava fazendo era tolice, como parecia para nós que estávamos de fora, mas para ele era o que amava fazer e nada o deteria", disse Lotzia ao "Central Florida Future" na quarta-feira. "Steve disse que ali era assustador. Era perigoso. Não era seguro estar lá. Ele sabia. Mas continuava voltando."
Um ávido usuário das redes sociais até sua última postagem, em 3 de agosto de 2013, quando refletiu sobre o time de basquete Miami Heat, Sotloff se descrevia em sua biografia no Twitter como um "filósofo humorista de Miami".
Ele escrevia artigos sobre os conflitos no Bahrein, Egito, Turquia, Líbia e Síria. Em um artigo para a "Time" sobre a ausência de lei na Líbia, publicado logo após o ataque mortal de 11 de setembro de 2012 ao consulado americano em Benghazi, que se transformou em uma crise para o governo Obama, Sotloff foi profético: "Sem nenhuma organização de segurança para assegurar a ordem e um judiciário ineficaz, incapaz de processar os suspeitos, os líbios temem que seu país esteja lentamente ruindo ao seu redor".
Em uma reportagem para o "World Affairs Journal" sobre o Egito no ano passado, após o golpe militar que derrubou Mohammed Mursi, o líder da Irmandade Muçulmana que foi o primeiro presidente democraticamente eleito do país, Sotloff deu voz aos simpatizantes da Irmandade Muçulmana, que se sentiam privados de seus direitos: "'As pessoas votarem em Mursi', me disse Sa'id Rashwan, um professor de 45 anos. 'Por que alguns poucos agora decidiram que ele não pode governar?'"
Anne Marlowe, uma escritora, disse em sua conta no Twitter que Sotloff viveu no Iêmen por anos, "falava bom árabe, amava profundamente o mundo islâmico (...) e por causa disso ele corre o risco de ser decapitado".
Polsky, um advogado, disse que os conhecidos de faculdade de Sotloff, ao saberem o que aconteceu ao seu amigo, começaram imediatamente a contatar uns aos outros após terem se distanciado.
"Este evento nos uniu de novo", ele disse. "Tão logo soubemos das circunstâncias, nós todos entramos em contato uns com os outros por preocupação pelo bem-estar de Steve e para lembrar das experiências de nossa vida universitária."
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