Nos próximos dez anos, o PIB dos Brics continuará crescendo em relação ao de países desenvolvidos
Países que integram o bloco em destaque em verde |
Estamos completando dez anos da criação, pelo economista da Goldman Sachs Jim O'Neill, da expressão Bric para definir o grupo de quatro países que ele via como o centro de um novo mundo nas décadas seguintes.
Brasil, Rússia, Índia e China, principalmente pela incorporação de centenas de milhões de novos consumidores em seus mercados, ultrapassariam em poucas décadas os países desenvolvidos. A data mais provável em que esse fenômeno ocorreria seria, ainda segundo ele, na passagem da segunda para a terceira década do novo século.
Tomei conhecimento do fenômeno Bric no início de 2005, quando participava de apresentação sobre a economia brasileira em São Paulo. Paulo Miguel, meu sócio, e eu ficamos espantados com a projeção feita pelos economistas do Credit Suisse na qual, naquele ano, o saldo da balança comercial do Brasil chegaria a US$ 45 bilhões.
De volta à sede da Quest, usamos as premissas do Credit Suisse e projetamos o saldo comercial e outras variáveis econômicas externas do Brasil até o final da década.
Para nossa surpresa, nos deparamos, já em 2009, com um Brasil novo, no qual o saldo das reservas cambiais seria superior ao seu endividamento externo total (setor privado e público). Em outras palavras, depois de várias décadas, o Brasil passava a ser um país credor nas suas relações com o mundo exterior.
Imediatamente chegamos à conclusão de que o real deixaria o grupo de moedas fracas, e sujeitas a crises recorrentes, e seria incorporado ao de moedas emergentes confiáveis e estáveis. E isso mudaria a economia brasileira. O principal fator por trás dessa mudança era o aumento dos preços dos principais produtos primários nos mercados internacionais, fortalecendo os termos de troca da economia brasileira. Pela primeira vez, os preços desses produtos subiam mais do que os dos bens industriais, principalmente devido ao aumento da demanda dos países emergentes.
A partir daí, passei a entender o que O'Neill queria dizer com sua aposta nos Brics. Faz mais de cinco anos que venho sempre manifestando minha crença em uma nova economia no Brasil derivada da nova dinâmica criada pelos Brics.
Quando olhamos com mais cuidado para os dados econômicos desses países entre 2002 e agora, podemos ver de maneira clara o acerto da hipótese de O'Neill.
O quadro à esquerda mostra o que aconteceu na relação entre o PIB (Produto Interno Bruto) dos Brics e o de um grupo de nações desenvolvidas.
A informação mais interessante é a de que o PIB dos Brics, em relação ao dos países desenvolvidos, cresceu a uma velocidade duas vezes maior, tanto no agregado do grupo como individualmente. Ou seja, existe uma homogeneidade de dinâmica econômica entre eles maior do que a grande maioria dos analistas consegue perceber.
Afinal, perguntam-se os mais incrédulos, o que une esses países tão diferentes entre si?
A resposta está clara: o que os une é a dinâmica de crescimento econômico comum, o que faz com que cresçam constantemente acima do mundo desenvolvido.
Olhando para os próximos dez anos, é razoável esperar que esse comportamento dos Brics continue, embora com intensidade menor.
Se o Brasil crescer à taxa média de 3,5% ao ano na próxima década -projeção da equipe de economistas da Quest- e a Alemanha crescer a 2%, a relação entre seus PIBs deve passar dos 65% atuais para algo próximo a 80%.
No caso do PIB conjunto dos Brics e o de Alemanha, Estados Unidos, Japão e França, a relação deve passar dos atuais 46% para algo próximo de 60%. Ou será que vamos novamente nos surpreender com esses números?
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 69, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC)
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