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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Gibraltar tem exército treinado, experiente e independente

Considera-se desde tempos imemoriais que Gibraltar não tem exército e nem lhe faz falta, pois basta e sobra reclamar a presença da todo-poderosa armada britânica, se for necessário. Visto o Rochedo como colônia e base militar, os "llanitos" [como são conhecidos os moradores e o dialeto locais] pareciam se dedicar a seus negócios (alguns tão criticados na Espanha) e delegar a terceiros os detalhes de sua defesa e seus assuntos exteriores. Era, ou deveria ser, uma das vantagens de ser britânico. Entretanto, Gibraltar tem forças armadas e, além disso, elas fazem manobras com tropas marroquinas.

Gibraltar tem um regimento formado majoritariamente por gibraltarenhos e cuja missão principal é a defesa do Rochedo, o que não impede que tenha alguns de seus efetivos no Afeganistão ou que participe da instrução de tropas africanas: há algumas semanas estiveram treinando tropas de Gâmbia para uma eventual intervenção em Mali, que finalmente não ocorreu.

E, para contradizer o estereótipo, acontece também que o grosso do regimento se encontra agora em manobras em lugares desérticos limítrofes com o Saara, a não muitos quilômetros de Marrakech (Marrocos). Ali praticam atos de combate e testam novo armamento durante um mês, em colaboração com tropas marroquinas.

"Permite nos formarmos em terrenos áridos e com temperaturas extremas, e ao mesmo tempo é um motivo para estreitar relações diplomáticas com o Marrocos", diz seu chefe, o tenente-coronel Ivor Lopez. Das operações participam soldados llanitos com paraquedistas marroquinos e apoio de helicópteros.

Para certos patriotas espanhóis, seria o pior pesadelo, manobras conjuntas entre marroquinos e llanitos. Pois aí estão: realizam-se uma vez por ano desde 2000. A foto de Fabian Picardo, o ministro principal, inspecionando as tropas ou praticando com um fuzil de franco-atirador causaram mais de um atrito do outro lado da Cerca [limite com território espanhol].

Portanto, toda suposição de que o regimento de Gibraltar é um desses exércitos de brinquedo, treinados para desfiles e atos protocolares, próprios de territórios pequenos com estatutos privilegiados, com uniformes para o papel cuchê, não é verdade. E não são as vizinhanças do Saara o único cenário onde se exercita.

Tropas de Gibraltar intervieram na guerra do Iraque, nos Bálcãs, na Irlanda do Norte e em Serra Leoa, e intervirão durante mais um ano no Afeganistão. Colaboraram em trabalhos de instrução na Nigéria e em Gâmbia. Fazem parte do exército britânico, mas sua função primordial é a defesa de Gibraltar, sobre a qual têm competências exclusivas desde 1990, quando se retiraram todas as unidades exteriores do Rochedo.

Talvez a milícia seja uma parte do sentimento britânico dos gibraltarenhos. Diante do que possa parecer, aceitar sua própria defesa não é uma conquista que os aproxima da independência, nem um gesto de autodeterminação. Em Gibraltar se entende como um ato de integração: receber o título "real" (desde 1999 denomina-se Regimento Real de Gibraltar) ou fazer a guarda do Palácio de Buckingham, de Saint James ou na Torre de Londres (em abril e maio de 2012) estão entre as atuações militares que mais causam orgulho entre a população de Gibraltar. Na última quinta-feira, uma salva de artilharia comemorou os 65 anos do príncipe de Gales.

Porque o passado militar dos llanitos é quase tão antigo quanto seu próprio passado (completam-se 300 anos do Tratado de Utrecht), desde que os primeiros voluntários se apresentaram para defender o Rochedo do assédio de espanhóis e franceses por volta de 1755 e criaram um corpo local conhecido como "guarda genovesa".

Já houve llanitos, até uma centena, nas campanhas britânicas pelo Egito e o Sudão, encarregados do transporte e por isso conhecidos como os carreteiros do rei. Aqueles carreteiros compravam os burros em Málaga, fato que motivou uma queixa do governador civil da cidade pelo mau estado em que estavam deixando a estrada, com tanto transporte de animais. Daquela campanha (1884-86) vêm as primeiras condecorações recebidas por gibraltarenhos.

Foi por motivo da Primeira Guerra Mundial que se formou o primeiro corpo de voluntários de Gibraltar, que se ofereceu ao Reino Unido para combater e ficou encarregado da defesa do Rochedo. Depois chegaria com a seguinte guerra mundial a Força de Defesa de Gibraltar (GDF), destinada a trabalhos de artilharia antiaérea, antecedente do Regimento de Gibraltar (1958), formado integralmente por reservistas até 1971, ano em que acabou o serviço militar. Em 1991 o regimento passou a ser um corpo de infantaria, dedicado à defesa de Gibraltar.

Conta atualmente com cerca de 400 homens, dos quais 225 são militares profissionais e 167, reservistas ou militares em tempo parcial.
Tito Vallejo (Ernest Vallejo Smith é seu nome completo) foi um dos últimos carreteiros do rei e hoje, aos 65 anos, é um estudioso da história desse regimento, depois de passar meia vida como militar em suas fileiras. Seus dois avós foram militares, o espanhol como marinheiro no encouraçado Alfonso 12 e o inglês no exército britânico, com as tropas de Montgomery na campanha da África.

"Os llanitos sempre sentimos que a defesa de nosso território devia ser algo nosso, que não tínhamos que depender de que viesse um soldado da Escócia para nos defender, mas também quisemos participar da defesa do império. Para as pessoas da minha geração, era um orgulho fazer o serviço militar neste regimento." Vallejo viveu a mudança de tarefas, quando se transformou em uma força de infantaria e ficaram sós na defesa de sua terra. "Soldados llanitos estiveram em muitos lugares, mas creio que não nos mandaram nunca à Irlanda do Norte, por nosso caráter latino. Teríamos respondido às agressões", diz.

No comando do regimento desde 21 de setembro passado está o tenente-coronel Ivor Lopez, homem com mais de 1,90 metro de altura, um oficial amável no trato e com aspecto de boa pessoa. Seu currículo mostra que esteve em zonas de conflito como Irlanda do Norte e Afeganistão, onde esteve formando oficiais do exército afegão. Prestou serviço no Canadá, Chipre, Quênia, Kuwait, Senegal e Gâmbia, além do Marrocos. Teve de ir à Irlanda do Norte dois dias depois de se casar, e por isso teve de adiar alguns assuntos mundanos. Tem dois filhos, Julian (9) e Grace (5). Julian torce para o Liverpool, embora seu pai seja do Tottenham. E mal fala castelhano, como ocorre cada vez mais em muitas famílias gibraltarenhas.

Entre as tarefas encomendadas, Lopez destaca a Força de Reação Rápida, uma unidade de dez homens que deve estar pronta para a ação em qualquer lugar do território e com todo o armamento disponível em um tempo máximo de uma hora. Outra unidade de 20 homens deve estar capacitada para fazê-lo em no máximo quatro horas. Suas tropas também têm competências especiais em assuntos antiterroristas, sobretudo em desativação de explosivos, tanto em Gibraltar como em qualquer outra área: é uma das singularidades desta unidade.

"Devemos estar preparados para ajudar as autoridades civis se o requisitarem", argumenta Lopez. O regimento não só serve para socorrer em qualquer desastre como também para intervir em casos de ordem pública e inclusive para prestar serviços em certas greves. E nestes casos sob as ordens do governo. Gibraltar tem seu exército, portanto. E não é de brinquedo.

Um comentário:

  1. Excelente y revelador artículo. Si cualquier país de la OTAN tuviera en su territorio una unidad militar extranjera de élite en su territorio, habría una guerra entre ambos.
    Además esta fuerza militar, se ejercita en el territorio de un país que tiene territorios en litigio con España. Si no le importa voy a publicar en mi blog un extracto de su artículo. Si desea que lo retire hágamelo saber.
    Muchas gracias, y saludos. Excelente blog

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