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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Alemanha emerge como liderança da Europa


Premiê polonês, Donald Tusk, cumprimenta a chanceler alemã, Angela Merkel


Se Vladimir Putin e Viktor Orban acham que estão sendo maltratados pela imprensa ocidental, eles deveriam dar uma voltinha pela Grécia. Os gregos, em meio à sua desgraça, encontraram um alvo perfeito para exprimir sua fúria, um pouco como se faz com bonecas de vodu: Angela Merkel. A chanceler alemã passou por ali de todas as maneiras possíveis, de preferência escoltada por guardas com uniformes nazistas e, na ocasião, usando um bigodinho preto. Para além da chanceler, a desonra se estende para todos seus compatriotas, os “ocupantes” alemães, e à culpa histórica que eles nunca deixaram de expiar. A União Europeia é o “Quarto Reich”. Horst Reichenbach, o chefe da missão europeia de 45 especialistas encarregada de ajudar a Grécia a restabelecer suas finanças, raramente aparece nos jornais sem seu chicote e seu uniforme da SS. Esse austero oficial europeu contou um dia à revista “Der Spiegel” que ele provavelmente havia subestimado o desafio de sua germanitude no atual clima ateniense.

Acontece que os alemães, como costuma acontecer com os gigantes desajeitados, não fazem ideia do peso que eles representam. Como quando seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, propôs, no fim de janeiro, colocar a Grécia sob tutela orçamentária e nomear um comissário europeu especial para Atenas, que teria o poder de veto sobre os gastos dos gregos. Merkel logo quis mandar pelos ares essa ideia tão radical, e estremecemos só de pensar que o posto poderia ter sido confiado, por algum acaso de Bruxelas, a um segundo Reichenbach. Mas o fato de que ela tenha conseguido germinar em um espírito alemão neste momento diz muito sobre a psicologia de nossos amigos germânicos.

Os alemães se encontram na estranha posição de serem respeitados, e até admirados, no resto do mundo - nada impressiona mais os chineses ou os cingapurianos que a eficácia alemã! - mas sempre obrigados a fingir humildade junto a seus vizinhos e parceiros de Europa. Esse desconforto é ainda  mais paradoxal pelo fato de que a Alemanha realmente emergiu da crise do euro como a líder da Europa. Não somente em razão do tamanho de sua população e de seu PIB, mas também porque sua economia é mais bem gerida que a dos outros. E porque a situação é tão grave, estão todos tão enfraquecidos, que estão buscando um líder, desesperadamente.

Então, a Alemanha tem desempenhado esse papel cada vez mais, voluntariamente ou não. Quando Merkel vai a Pequim para pedir à China que invista na Europa, ela se apresenta de fato como a líder da Europa. Quando ela se oferece para apoiar a campanha de Nicolas Sarkozy, sem imaginar que esse apoio é uma faca de dois gumes, é ela que se sente forte. Quando ela expressa sua visão sobre a Europa, “união política”, a seis jornais europeus ou na abertura do Fórum de Davos, essa visão tem peso porque emana da número um alemã. Foi, afinal, em Berlim, e não em Paris nem em Londres, que o ministro polonês das Relações Exteriores, Radek Sikorski, decidiu pronunciar seu discurso de fim de presidência polonesa da UE, no final de novembro. Mais de um alemão e mais de um polonês teriam ficado surpresos em ouvir um chefe da diplomacia polonesa proclamar: “Tenho menos medo do poder alemão do que da passividade da Alemanha!”

E eis o dilema alemão. Agir e se expor às caricaturas, ou não agir e ficar sujeito a críticas? Isso às vezes incita a um tanto de esquizofrenia. O mesmo dirigente alemão se superou em modéstia diante dos interlocutores franceses, aos quais explicou que Berlim sobretudo não queria uma “Europa alemã”, mas, pelo contrário, uma “Alemanha europeia”, ao passo que ele pareceu aos americanos muito seguro do papel de seu país, encarnando uma Alemanha descomplexada, assim como certos diplomatas alemães nos Estados Unidos. Podemos encontrar essa imagem em uma entrevista do ministro alemão da Defesa, Thomas de Maizière, no final de dezembro, a respeito da retirada do contingente da Otan do Afeganistão: o envio de tropas alemãs para essa força, ele explicou ao “Spiegel”, “transformou tanto a Bundeswehr [forças armadas] quanto a Alemanha. Antes dessa missão, a maior parte de nossos parceiros  não acreditavam nem que os soldados alemães eram capazes de lutar, nem que seus chefes eram capazes de lhes dar ordens. Nós nos livramos de nossa imagem de padioleiros e de observadores eleitorais. Nós agora somos um verdadeiro exército, respeitado por nossos parceiros”.

A imprensa alemã se encontra igualmente dividida. Se a Alemanha precisa pagar a conta da Europa, por que ela deveria se calar? Para o “Süddeutsche Zeitung”, “a Alemanha hoje se encontra em uma posição na qual ela nunca quis estar após 1945: a potência dominante no meio da Europa. Mas na crise do euro, não devemos confundir firmeza com arrogância. Isso porque nosso poder é real, e ele dá medo”. “Liderança se aprende”, diz o “Frankfurter Allgemeine Zeitung”. “Isso não consiste somente em dar ordens, mas tampouco equivale a se sacrificar e a distribuir indenizações”.

Nessa nova globalização, existe uma outra potência involuntária: a China. Assim como para a Alemanha, seu peso econômico inevitavelmente fez a balança política e diplomática pender para seu lado mais rápido do que ela esperava. Ela se vê coberta de responsabilidades que não havia previsto, solicitada, apressada, criticada. Obrigada a organizar a evacuação de 35 mil trabalhadores chineses na Líbia, negociar a libertação de compatriotas pegos como reféns no Sudão, no Sinai. Os chineses vão para o espaço? Eles também devem garantir a proteção de seu abastecimento em energia e matérias primas em terra, para alimentar seu formidável crescimento.

Mas diante desses porta-aviões que estão construindo, desse orçamento militar que estão aumentando, desses ditadores que estão protegendo, os vizinhos estão ficando com medo. A China, a quem pedem para que se comporte como potência responsável no cenário internacional, assusta toda vez que se mexe - porque seus desígnios não são claros. O que quer a Alemanha? Bancar a potência emergente ou a líder de uma Europa unida? O que quer a China? A hiperpotência ou uma multipolaridade responsável? Diante dessas escolhas, Pequim, assim como Berlim, parece ainda hesitar.

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